7

No dia seguinte eu acordei um pouco assustada, me sentei na cama rapidamente com um possível pesadelo, mas eu não me lembrava de nada, a única coisa que eu me lembrava era de ter dormido e não sonhado com nada, também de Julian ter vindo ao meu quarto de madrugada.

Olhei para o lado e ele estava lá, ainda dormindo. Senti uma sensação de alívio ao saber que não havia sido frutos da minha imaginação, ele realmente estava ali. Corri para olhar no celular que horas eram, cinco da manhã, daqui a pouco eu teria que me arrumar para ir a escola e minha avó iria acordar, Julian tinha que ir. Com o coração apertado balancei ele de leve, na mesma hora ele abriu os olhos, parecia um pouco assustado.

"Shh... Sou eu..." Sussurrei pra ele.

"Já é de manhã?" Perguntou ele baixinho passando as mãos no rosto.

"Sim, cinco da manhã, minha avó levanta a seis para caminhar e volta seis e vinte para me acordar." Falei baixinho. "Dormiu bem?" Perguntei ansiosa pela resposta.

"Eu nunca dormi tão bem em toda a minha vida. Obrigado." Disse ele se levantando e vestindo o colete juntamente com o terno em seguida. Meus olhos arderam levemente com lágrimas de emoção, meu coração igual manteiga entrava em ação, mas segurei.

"Sempre que eu puder ajudar, estarei aqui." Respondi lhe dando um sorriso. Algo dentro de mim queimava, era um frio na barriga, o coração parecia que iria sair pela boca e minha voz querendo falhar ao falar qualquer palavra com ele.

Ele puxou-me pela mão com cuidado e levou meu corpo para bem próximo ao seu, novamente o calor subiu dentro do meu corpo, minha respiração ficou pesada e meu rosto quente. Bem de frente para ele, se encontrava o meu corpo imóvel. Meu rosto batia em seu peito, com uma de suas mãos ele levantou o meu rosto para olha-lo nos olhos, com a outra mão ele passeou os dedos no meu braço e logo em seguida no meu cabelo, puxando uma mecha e inalando o cheiro com os olhos fechados.

"Perfeita." Disse passeando o olhar por todo o meu corpo. "Linda, doce..." Falou baixinho enquanto encostava os lábios na minha testa, eu estremeci e soltei um suspiro que tentava segurar. "Você é um ser humano ou um anjo?" Sussurrou para si mesmo. "Não posso estragar você, não posso ficar me aproximando assim, você é boa, é luz... Muito obrigado por tudo, estou indo embora. Não ousarei te incomodar mais." A cada palavra era um choque a mais em seu ser.

Com aquelas palavras meu coração doeu, não havia motivos para doer e eu sentir o que senti quando ele se despediu de mim, mas eu não queria que ele fosse, não queria que ele tirasse as mãos de mim, queria ouvir mais de sua voz, queria sentir que ele iria me procurar de novo. Me sentindo estranhamente abandonada eu não consegui evitar.

"Não vai voltar mais?" Perguntei com a voz falhada e coração disparado.

"Você quer que eu volte, Eloíse?" Perguntou dando-me um sorriso de lado.

"Sim Julian, eu quero." Respondi e fechei meus olhos quando ele tocou o meu rosto. Seu toque me aqueceu.

"Eu não posso." Sussurrou. "Perdoe-me." Disse e se afastou de mim. "Até." Falou e saiu pela janela, pelo mesmo lugar onde entrou.

"Adeus, Julian..." Sussurrei para ele que já não estava mais lá. Senti um estranho vazio e uma tristeza que eu não podia controlar em sentir.

Talvez eu tenha ficado alguns minutos ali parada, com meus pés grudados ao chão, onde Julian tinha passado as mãos em mim e me dito aquelas palavras que me confundiram. Conseguindo respirar normalmente de novo, eu caminhei até a janela e não tinha mais rastros dele, nem ele e nem seu carro estavam mais lá.

Na janela do meu quarto, tinha uma pequena sacada, ao lado era o quarto da minha avó que também continha uma sacada, no meio das duas havia uma escada coberta por folhas, eu supunha que Julian tivesse subido por lá.

Peguei o meu celular e mandei uma mensagem para João: "Preciso desabafar!" Alguns segundos ele respondeu.

"Você não dorme não? Hoje passo na sua casa e te levo pra escola :)"

"Obrigadaa... Bjos." Respondi e caminhei para o banheiro.

Tomei um longo banho quente, aquele seria um dia bastante frio. Pela manhã já notava-se neblinas formando-se em volta das montanhas. Abri o box e puxei a toalha que estava pendurada ao lado do espelho, me enrolei na toalha e vi a toalha que eu emprestara a Julian estendida na porta, instantâneamente me aproximei e senti o cheiro dele grudado na toalha, cheirei como aquelas empregadas de filmes que se apaixonam pelo patrão, cheiram as camisas deles.

Voltei de meus pensamentos quando ouvi minha avó bater na porta. Sai enrolada na toalha e abri, não era a minha avó, era João.

"Vamos, Eloíse, estou esperando a dez minutos." Como? Quanto tempo eu ficara no banheiro?

"Oh, desculpe João, eu perdi a noção do tempo." Envergonhada fechei a porta na cara de João e me arrumei correndo, coloquei a roupa de escola e penteei os cabelos rápido. Peguei minha mochila e desci, lá embaixo estavam minha avó e João tomando café na mesa.

"Bom dia, o que houve filha? Não ouviu eu te chamar mais cedo?" Minha avó perguntou. Não, eu não havia ouvido, que droga estava acontecendo com minha cabeça?

"Desculpe vovó, eu estava distraída. Mas já estou pronta, vamos?" Falei olhando para meu amigo que me olhava com as sobrancelhas arqueadas.

"Come alguma coisa primeiro, magrela." João disse comendo um pedaço de bolo. Não discuti, apenas me sentei na mesa e comi um pão e bebi uma xícara de café.

No café da manhã minha avó e João conversavam como dois melhores amigos, eles se davam tão bem quanto minha avó e Olívia.

"Vocês ficaram sabendo do maníaco a solta?" João perguntou se empanturrando com o bolo de cenoura. Meu coração acelerou novamente, estranho.

"Não vi passar mais nada, mas ainda ontem descobriram o nome e sobre sobrenome. Julian Vicenzo." Ela respondeu.

"Espero que o encontrem rápido, não podemos correr perigo com nossas meninas por aí, falo pela Eloíse e pela Olívia." João falou em tom sério.

"Olha a hora, vamos nos atrasar." Me levantei e coloquei minha mochila nas costas, dei um beijo na minha avó. "Até mais tarde vovó. Te amo." João se levantou em seguida e se despediu dela também.

Saímos de casa sentindo pingos leve de chuva caindo. João em silêncio abriu a porta do carro pra mim e eu sentei, em seguida ele também entrou e deu partida.

"Agora pronto Eloíse. Me fala, o que está acontecendo com você?" Perguntou sério.

"Sem os apelidos dessa vez?" Perguntei achando estranho ele não se referir a mim com os apelidos que me deu.

"Estou preocupado com você." Deu de ombros.

"Tá legal, preciso falar pra alguém se não vou explodir e como você é o meu melhor amigo." Dei uma pausa tentando refletir no que eu iria falar. "Acho que estou apaixonada. Tá eu sei, só vi ele três vezes em um dia e isso parece ser idiota, mas eu não consigo evitar sentir algo diferente, não consigo parar de pensar nele, sei que é rápido e tudo mais, é loucura! Mas eu precisava dizer isso pra alguém." Dei um suspiro recuperando meu fôlego perdido ao falar muito rápido. "Que alívio." Me sentia verdadeiramente aliviada em dizer aquilo. João freou o carro subitamente.

"Olha pra mim garota." Disse ele pegando em meu rosto e olhando dentro dos meus olhos. "A única coisa que posso te dizer no momento, é que o tempo é a melhor resposta para tudo o que você estiver sentindo. Está muito recente sim, mas um sentimento de verdade não tem hora e nem lugar para acontecer, entende. Não existe data, você pode sim estar apaixonada, foi paixão a primeira vista e isso acontece sim. Só espera acontecer, não quero que se machuque e mesmo que aconteça, terá meu ombro para chorar." João me deu um beijo na bochecha.

Ele era um amigo tão bom pra mim, tanto quanto sua irmã Olívia, eram meus únicos e melhores amigos, eu não precisava de mais nada, tendo eles e o amor da minha avó. Não, até conhecer Julian, o homem lindo e enigmático. Mas eu estava disposta a seguir minha vida, foi só um dia, com certeza eu iria superar aquilo.

"Obrigada João... Não tenho palavras para dizer o quanto você é o melhor amigo do universo! Amo você." Disse emocionada por suas palavras.

"Tudo bem, disso eu sei." Deu de ombros e sorriu. "Agora já chega, vamos logo doce de abóbora, não quero que a senhora Wanda coma o meu fígado hoje." Falou e eu percebi que ele estava feliz por mim. Lá estava de volta os apelidos.

Chegamos na escola às sete horas em ponto. O coordenador Lauro já estava nos apressando, corremos e entramos em nossa sala. Percebi que havia um aluno novo em nossa sala, logo a professora Grace o chamou lá na frente para se apresentar a turma.

"Olá a todos, me chamo Harry Barriere, tenho 20 anos e ainda estou no terceiro ano do ensino médio pois nunca fiz questão de estudar direito, apenas cumprindo ordem dos meus pais." Disse e deu um sorriso malicioso.

"Ok, muito obrigada pela apresentação Sr. Barriere." Professora Grace disse e o rapaz se sentou em seu lugar, era a última cadeira da sala. "Muito bom, agora em nossa turma temos numero par de alunos, hoje iniciaremos um trabalho em dupla, as duplas serão sorteadas para trabalhar na comunicação de vocês." Explicou ela e começou a escrever sobre o trabalho no quadro.

Oh céus, tudo que eu mais queria era que meu nome caísse com o João ou a Olívia.

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