5

"Alô" Sussurrei subindo as escadas correndo.

"Olá, Eloíse." A voz sombria e estranhamente sensual, um arrepio percorreu todo o meu ser e eu estremeci.

Era ele.

Julian.

Eu não soube como reagir aquilo, será que eu ainda dormia e sonhava que Julian estava me ligando? E como ele tinha o número da minha avó... Mas é claro, eu havia esquecido meu celular no carro dele.

"Hhn... Julian?" Ele não estava ali pessoalmente, mas senti meu corpo e minhas bochechas esquentarem.

"Muito bem, já reconhece minha voz." respondeu ele.

"O que você quer? Quer dizer, porque está me ligando? E como conseguiu o número da minha avó?" Perguntei com cuidado para não parecer ignorante com minhas perguntas. Tentei fingir que não sabia que meu celular havia ficado dentro do carro dele.

"Seu telefone ficou no meu carro. Me atrevi a mexer nele para procurar o número de algum responsável seu, como não vi papai nem mamãe, só tinha um, que era vovó com um coração na frente, então deduzi que nesse número eu poderia entrar em contato com você e devolver o seu telefone." Explicou ele.

"É verdade, eu fui procurar e não achei. Pensei que tivesse perdido na rua. Onde posso te encontrar para pegar?" Perguntei com a palma da mão soando.

"Posso levar na sua casa." Disse ele e deu uma pausa, continuei em silêncio percebendo que ele ia falar algo mais. "Na realidade, já estou aqui. Pode vir pegar." Meu coração acelerou. Olhei pela janela do meu quarto e lá estava ele do outro lado da rua, do lado de fora do carro e encostado no mesmo.

A roupa que ele estava era diferente da de mais cedo. Ele deveria ser um homem muito rico, o carro também já era outro, suas vestes eram tão elegantes dignas de modelos de passarela. Meu corpo aqueceu-se ainda mais apenas por olha-lo de longe. Merda, eu estava ferrada.

"Estou descendo." Respondi apenas e desliguei.

Desci as escadas de pontinha de pé para não acordar dona Florence, não seria bom dar explicações naquele momento em que eu já estava tremendo de nervoso. Calcei meu chinelo e fui andando com passos rápidos para onde ele estava, a chuva havia se acalmado e só o vento forte soprava no meu rosto.

Me aproximei sem olhar para ele, eu não queria que ele visse meu nervosismo. Mas não pude evitar sentir o aroma amadeirado maravilhoso que ele exalava.

"Oi." Disse ele estendendo a mão pra mim, naquele momento eu não tive outra opção a não ser estender minha mão e cumprimentá-lo.

Ao estender minha mão para ele, ele pegou e levou até os lábios depositando um beijo nas costas da minha mão. Flutuei com aquele simples gesto. Seus lábios estavam tão quentes que parecia ter queimado minha pele, macios e gentis... Olhei para o rosto dele de uma vez por todas e seus olhos estavam de um brilho estranho e sombrio, um sorriso de canto tão lindo como ele.

"Oi..." Respondi baixinho. Percebi que ele me olhava de cima a baixo, olhei para mim mesma e me dei conta de que eu vestia apenas uma calça larga e um moletom velho. Fiquei com muita vergonha por ele ter me visto toda largada.

"Gostei da roupa." Disse ele com olhar zombeteiro.

"Não precisa ser sarcástico, eu sei que é horrível. Mas é assim que eu gosto de ficar quando estou em casa, e me sinto bem." Dei de ombros revirando os olhos. Ele deu uma risada baixa.

"Revirou os olhos para mim, mocinha?" Perguntou ele fingindo ter ficado ofendido.

"O que?! Não..." Respondi entrando na dele.

"Melhor assim." Disse ele ficando sério e eu percebi que sorria demais, olhei para seu rosto e o olhar dele estava na direção da minha boca, não sei se era os meus lábios ou o meu sorriso que ele olhava.

De repente me senti mal por ser tão mal educada. Minha avó me ensinou educação e eu deveria sempre convidar para entrar alguém que me ajudasse e eu que visse que fosse de confiança, e eu sentia isso em Julian. Aliás, minha avó também queria conhecê-lo por me ajudar me trazendo para casa.

"Você..." Piguarreei "Você, quer entrar?" Perguntei tímida.

"Seria um prazer." Respondeu ele com um pequeno sorriso no rosto.

"Então tá... Eu acabei de fazer um café e minha avó gostaria de conhecer a pessoa que me trouxe pra casa." Disse a ele.

"Você falou de mim pra ela?" Tive quase certeza de que vi preocupação em sua expressão.

"Falei sim, não escondo nada dela." Dei de ombros.

"Tudo bem. Mas hoje eu não vou entrar, tenho um compromisso agora. Passei somente para devolver seu celular, nas faz meu tipo ficar com coisas que não são minhas." Claro isso explicava sua roupa elegante e perfume cheiroso. E pra que mais ele me ligaria, se não para me devolver meu celular?

"Isso explica o por que de estar assim tão arrumado e cheiroso." Sussurrei mas meu coração quase saiu pela boca quando percebi que havia dito em voz alta. Meu rosto queimou de vergonha, então baixei o olhar na mesma hora.

"Por que? Acha que estou bonito, e cheiroso?" Com um sorriso de canto ele me perguntou. Corei novamente como uma idiota.

"Ora, mas é claro. Você sabe que sim." Respondi com sinceridade.

"Gosto de sua sinceridade. Mas saiba, Eloíse, que preferia estar vestido assim, como você confortável e em casa." Então o compromisso que ele tinha era obrigatório.

"Você que perde, por que não quer entrar. Mas quando quiser aparecer, fique a vontade." Disse eu tentando não parecer desesperada por mais da atenção dele.

"Quem disse que não quero? Eu não posso, é diferente." Respondeu ele e se  aproximou de mim, com cuidado ele ergueu uma das mãos e passou no meu cabelo. Fechei os olhos ao sentir aquele toque tão bom, estremeci por inteira quando ele depositou um beijo na minha testa. "Agora tenho que ir, deu minha hora."

"Certo. Obrigada Julian." Disse somente e sem querer meu tom saiu chateado. Ele tirou meu celular do bolso e me entregou, peguei o celular e guardei no bolso da minha calça velha. Imediatamente ele tocou, olhei no visor e era João.

Acenei para Julian, que entrou em seu carro e foi embora. Imediatamente senti aquela sensação estranha de vazio. O toque do meu celular me trouxe de volta e eu atendi entrando em casa correndo.

"Oi amigo que falta aula e não avisa."

"Depois explico. Espinoza! Tenho que te contar uma novidade."

"Lá vem. O que é?"

"Olívia perdeu a virgindade! Por isso não foi pra escola, está toda assada."

"Meu deus João! Porque você está me contando? Ela quem deveria contar, seu bisbilhoteiro."

"Ela pediu pra eu falar por que está com vergonha. Foi com o Matheus."

"Acho que eu desconfiei, ele é o namorado dela né João. E cadê essa menina? A Olívia acha pode abandonar os amigos assim? Vocês são muito abandonantes!"

"Ela está na casa do Matheus, vai ficar lá o final de semana inteiro. Não levou o celular para não ser incomodada, se é que você me entende."

"Entendo. Entendo sim."

"E você? Como você está, ferrugem?"

"Estou bem. Também tenho novidades para contar." Contei a ele tudo sobre Julian e como me senti perto dele.

"Você e sua mania de se apaixonar por homens mais velhos e impossíveis." Respondeu ele.

"Você como meu amigo deveria me apoiar, seu falso."

"Eu te apoio meu amor. Mas você se apaixonar pelo Jensen Ackles é complicado. Agora esse tal de Julian eu ainda não vi, quero conhecer."

"Não começa com seu fogo em João! Ele é o meu amor platônico."

"Amor? Você conheceu o homem hoje. Queria aprender uma matéria na escola com a mesma rapidez na qual você se apaixona." Ele gargalhou alto.

"Eu não disse que estou apaixonada por ninguém, seu traste. Eu só disse que é impossível, um homem daqueles deve ser casado e ter uma família já."

"Não desista dos seus sonhos." Disse ele debochado. "Agora tenho que ir. Minha mãe está me chamando."

"Tá bom. Tchau."

"Tchau pintadinha." João e seus trilhões de apelidos que ele colocou em mim.

Desliguei a chamada e fui até a cozinha pegar mais uma xícara de café. Tomei meu café e subi para o quarto. Alguns minutos depois minha avó me chamou.

"Filha."

"Oi vovó." Abri a porta.

"Me ajude a preparar o jantar, não estou me sentindo muito bem."

"Claro. Mas o que a senhora tem?"

"Minha cabeça está doendo, acho que terei que tomar um remédio pra dormir essa noite."

"Poxa, espero que melhore." Dei um abraço nela.

Descemos até a cozinha e preparamos o jantar juntas. Sempre fazíamos bem pouco para não sobrar muito. Após o jantar comemos e nos sentamos na sala para uma xícara de café e ver TV. Não estava passando nada de bom, então passaram quase uma hora e eu subi para o meu quarto. Não sem antes pegar o remédio de dormir da vovó e entregar a ela, eu gostava de cuidar de quem tanto cuidou de mim.

Dona Florence subiu para o quarto e eu dei uma olhada nela antes de entrar para o meu. Ela dormia feito pedra. Conferi se estava tudo trancado em casa direitinho e fui para o meu quarto.  Meu celular acabou descarregando, coloquei para carregar e deitei na cama.

No meio da madrugada acordei assustada com alguém batendo na janela do meu quarto, sorte que eu tinha um sono muito leve. Me levantei com medo, poderia ser o maníaco? Oh deus. Com o coração acelerado eu olhei pela fresta da cortina.

Eu não acreditara. O que ele estava fazendo ali? Julian, ele estava com vários machucados no rosto e parecia cansado e muito mal. Com pressa e aliviada por ser ele e não o maníaco, abri a janela para ele entrar. Ele quase caiu encima de mim, mas eu o ajudei a se sentar no sofá que ficava no canto do quarto.

"Céus Julian, você me assustou. O que está fazendo aqui a essa hora? E o que aconteceu com você?" Sussurrei para minha avó não ouvir.

"Os outros estão bem pior do que eu, pode ter certeza." Disse ele e deu uma risada. "E você disse que quando eu quisesse vim, eu poderia." Respondeu baixinho com um das mãos limpando sangue em seu rosto.

Senhor, o que eu iria fazer?

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