2

Fascinada com aquele homem, não percebi que eu devia ter ficado olhando para ele mais do que deveria, minhas bochechas pareciam o inferno de tão quente. Só consegui voltar da minha viagem de pensamentos impuros que me deixaram muito envergonhada, quando o homem estalou os dedos na minha frente.

"Algum problema?" Perguntou ele suprimindo um sorriso descaradamente. Fiquei brava.

"Sim. Olha o que você fez comigo!" Respondi apontando para o meu corpo todo sujo e molhado. Ele me estudou de cima a baixo por um segundo. Por um breve momento pensei ter visto um olhar malicioso em seu rosto. Mas ignorei, certamente era coisa da minha cabeça.

"Ah, então era você a mocinha boca suja?" Perguntou ele com olhar divertido.

"Eu não quis ter xingado." Disse me sentindo mal de verdade por ter xingado a mãe dele.  "Mas fiquei muito brava, olha o que você fez. Tinha uma rua enorme para você passar com o seu carro, mas você preferiu passar por cima de uma poça de lama na minha frente, difícil entender que tenha sido sem querer." Falei sem respirar, tão rápido que até eu mesma me surpreendi quando parei e tive que respirar para ganhar fôlego.

"E o que você pretende, mocinha?" Perguntou-me me encarando.

"Eu queria que você ao menos parasse e se desculpasse, por que é isso que pessoas educadas fazem!" Falei em meio tom.

"Eu não sou uma pessoa educada, querida." Disse ele e eu estupidamente estremeci de leve ao ouvi-lo me chamar de querida.

"Argh!" Rangi os dentes furiosa e virei as costas continuando meu caminho pra casa. Seria inútil conversar com uma pessoa que pelo que eu pude notar, era um idiota.

"Para onde está indo?" Ele me perguntou seguindo-me com o carro em baixa velocidade.

"Para minha casa!" Respondi automaticamente. "E também, não é da sua conta." Eu estava verdadeiramente irritada com o pouco caso que ele me tratara a pouco.

"Deixe-me redimir com você. Eu te levo para sua casa." Disse ele.

"Claro que não. Muito obrigada. Além do mais, não quero sujar seu belo carro." Dei de ombros e respondi sem parar de andar.

"Vamos, moça. Entre nesse carro, não sou do tipo paciente." Continuou insistindo.

"Talvez, você não tenha ouvido direito. Eu vou andando!" Apressei os meus passos tentando fugir dele. Certamente em vão, pois ele estava com o seu carro e poderia me alcançar com facilidade.

"Porque?" Perguntou-me calmamente.

"Por que, a minha avó me ensinou a nunca aceitar carona de estranhos. Aliás, a nunca nem falar com estranhos." Falei lembrando-me dos ensinamentos de minha avó para a minha própria segurança. Mas havia algo naquele homem que me chamava, eu estranhamente estava gostando dele estar me seguindo e insistindo para me dar carona.

"Tenho certeza que sua avó iria preferir que alguém te levasse para casa em segurança, do que um maníaco a solta pegar sua linda netinha e fazê-la dela uma próxima vítima." Naquele mesmo momento eu congelei. Era verdade, o maníaco a solta que estava passando nos jornais. Engoli em seco com um medo incomum começando me percorrer. Olhei para ele e ele estava me encarando com o carro já parado.

"É verdade..." Sussurrei baixinho para que ele não me ouvisse.

"Então, vamos?" Ele saiu do carro e estendeu sua mão para mim.

O olhando de perto, e de pé, notei que ele era bem alto comparado a mim, minha cabeça bateria em seu peito. Ele estava vestindo roupas elegantes, um terno cinza com um colete branco de giz. Ele parado com uma das mãos no bolso da calça e a outra estendida para mim, era a visão mais bela que eu vira em tempos. Cabelos muito escuro e olhos azuis como o céu. Ele poderia muito bem ser um modelo masculino, sua beleza era fora do normal para mim. Eu não entendia o porque me sentia tão atraída por aquele homem estranho que me sujara toda de lama. Mas eu me senti, eu queria estar perto dele, eu sabia que mal o conhecia, mas era um território totalmente novo para mim, eu nunca havia sentido nada igual.

"Tudo bem. Mas somente por que eu prefiro ser levada por um estranho que me sujou do que ser atacada por um maníaco, não quer dizer que você seja uma pessoa legal." Dei de ombros e fui em direção a porta do carro ignorando sua mão entendia. Tinha certeza de que se eu segurasse aquela mão, eu não iria querer solta-la.

"E eu não sou mesmo." Disse ele com um sorriso de lado e olhar divertido. Como ele era bonito. Céus!

"Não é educado. Não é legal. Você é um monstro!" Brinquei tentando parecer séria, mas não resisti e soltei um sorriso. Ao olhar para seu rosto ele parecia iluminado olhando para mim, eu estava iludida por pensar aquilo, eu sabia. Mas eu não podia deixar de notar aquilo.

"Sim. Isso eu sou mesmo." Respondeu ele tentando manter um tom de brincadeira com um sorriso no rosto, mas no fundo eu senti um leve tom de verdade em suas palavras. Mas não importava, eu estava encantada demais para ficar pensando coisas.

"Espera, seu carro vai ficar todo sujo." Olhei para o meu corpo completamente sujo. Mesmo ele sendo o culpado, eu não queria sujar o carro dele.

Eu sempre fui assim, mesmo quando me faziam o mau, eu não conseguia pagar com a mesma moeda. Consciência limpa para mim sempre foi o mais importante.

"Surpreende-me que você não queira sujar o meu carro, mesmo após eu ter sujado você." Ele deu uma pausa me estudando de cima a baixo e continuou: "De propósito."

"Ah então foi de propósito mesmo! Eu sabia! Porque? O que você ganhou com isso?" Perguntei chateada e furiosa.

"O prazer de você vir até mim tirar satisfações. E eu ter o prazer novamente de levá-la em casa." Respondeu como se fosse a coisa mais normal do mundo sujar as pessoas só para levá-las em casa após isso.

"Seu!" Gritei buscando a palavra certa. Eu não tinha o costume de xingar, então para mim era difícil. "Seu... Seu idiota!" Quando olhei ele estava parado bem a minha frente, muito próximo a mim.

"Não me importo de ser xingado, querida." Disse ele em tom suave. "Tome." Falou a parte de cima do seu terno e colocando sobre meus ombros. Naquele momento eu inalei o seu cheiro peculiar, mas muito, muito agradável. Sem perceber eu tinha fechado os meus olhos e imediatamente senti minhas bochechas queimarem. Eu odiava o fato de estar corando tão facilmente na frente dele. "Assim não precisará se preocupar em sujar o meu carro."

"Obrigada." Respondi morrendo meu lábio inferior, eu tinha a mania de fazer isso quando estava nervosa.

"Agora, vamos." Ordenou. Abriu a porta do carro pra mim e eu entrei. Ele deu a volta e entrou também se sentando e dando partida.

Dentro do carro, ficamos em silêncio durante alguns minutos. Eu não ousava se quer me virar para olha-lo, eu estava como uma estátua sem me mexer, o frio que eu sentia antes, havia passado com o abraço de seu terno cheiroso e quente sobre o meu corpo.

"Tudo bem para mim se você respirar, ou se quiser piscar os olhos, não sei, talvez relaxar aí nesse banco." Queimei de vergonha ao saber que ele percebeu o meu nervosismo ao estar dentro daquele carro com ele. Instantâneamente relaxei um pouco, encostando minha cabeça no banco. "Qual seu endereço?"

"Dallas. Rua Outlander N° 12." Respondi.

"Bem perto daqui." Disse ele sem tirar os olhos da estrada. Em seguida ele me entregou um lenço, imaginei que era para eu secar o rosto. Peguei da mão dele e sequei meu rosto.

"Você é daqui?" Perguntei curiosa por ele saber que meu endereço era perto.

"Sou sim. Estive um tempo fora, mas cresci aqui, na cidade ao lado." Explicou-me.

"Legal." Falei apenas.

"Como você se chama, moça?" Perguntou baixinho.

"Eloíse Espinoza. E você?" Ele pareceu um pouco surpreso ao ouvir meu nome, ou o meu sobrenome. Tive essa leve impressão no momento.

"Eloíse..." Sussurrou como se estivesse analisando e admirando o meu nome. "Julian. Me chame de Julian." Em seguida respondeu ele em meio tom enquanto trocava a marcha do carro e virava numa esquina.

Eu não parava de morder minha bochecha por dentro da boca, eu tinha aquele mal costume quando eu me sentia nervosa. E que merda, por que aquele homem infernal de bonito tinha que me deixara tão. Tão... Sem palavras.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo