2. Acordo

Ethanael encostou a porta do grêmio para que não fosse interrompido enquanto falasse com Eulalie e Layla.

— Estou desapontado com as duas, especialmente com você, Eulalie… Tem noção do papel ao qual se prestaram hoje, do quanto foram ridículas?

Layla abaixou a cabeça, envergonhada.

— Como foi que chegaram a isso? — Perguntou Ethanael.

— Foi ela quem começou! — Falou Eulalie.

— Mentirosa! Foi você quem começou! Só me defendi… — Falou Layla.

— Quem esbarrou em quem? — Eulalie arqueou uma sobrancelha.

— Foi um acidente… E foi você quem meteu a mão na minha cara. — Layla disse.

— Quem mandou você colocar a SUA cara na frente da MINHA mão? — Eulalie sorriu com escárnio.

— Mas é mesmo uma infeliz… — Layla balançou a cabeça, irritada.

— PAREM! — Ethanael esmurrou a mesa.

As garotas se encolheram, assustadas.

— Vá para a sala, Eulalie? Conversamos depois. — Disse Ethanael.

— Mas… — Eulalie tentou argumentar.

— AGORA! — Ethanael não quis saber.

Eulalie levantou-se e saiu resmungando, batendo a porta ao passar. Ethanael encarou Layla.

— Vai me contar agora o que houve? — Ele disse.

Ela assentiu com a cabeça e contou a ele exatamente como tudo acontecera. Ethanael a ouviu sem interrompê-la.

— O que vai fazer? Por favor? Não conte nada a minha mãe. Eu imploro! Faço o que quiser! — Disse Layla, nervosa.

— Sou apenas o representante do grêmio estudantil… É a diretora quem vai decidir o que fazer quando informar a ela o que aconteceu. — Falou Ethanael.

— Não. Por favor? Não conte a ela? Prometo que isso nunca mais se repetirá. — Pediu Layla, desesperada.

— Isso é contra as regras… Sinto muito. — Disse Ethanael.

— Ah, entendo… — Layla virou o rosto, chateada.

Estava ferrada. Sua mãe não queria deixá-la estudar naquele colégio porque preferia educá-la em casa, mas Layla insistira porque sua irmã estudara ali, antes de… Bem… Antes de elas se separarem. Layla prometera à irmã que nunca a esqueceria e tentava mantê-la viva em sua memória a todo custo, mais que isso… Era como se tentasse ser a própria irmã. Lawrence só precisava de um motivo para tirá-la de Barstow School e agora, teria esse motivo. Layla chorou com raiva.

— Ei? Também não é para tanto. — Falou Ethanael com pena dela. — Você vai levar no máximo uma suspensão.

— Não… Minha mãe não queria que eu estudasse aqui. Tive de insistir. Quando ela souber o que houve, voltarei a estudar em casa. — Layla disse.

— Não é tão ruim estudar em casa… — Ethanael disse.

— O está fazendo aqui então? — Falou Layla.

— Meus pais estudaram aqui e, antes deles, meus avôs… É uma tradição. Não tenho escolha. — Falou Ethanael. — Mas e você? Por que faz tanta questão de estudar aqui?

— Minha irmã mais velha estudou aqui antes de morrer. — Layla suspirou. — Pode parecer besteira, mas… Sinto que essa é uma forma de não esquecê-la. Por isso é tão importante para mim, estar aqui.

Ethanael a encarou em silêncio por um tempo, absorto em seus pensamentos. Layla abaixou a cabeça, incomodada. O representante a surpreendeu ao apertar sua mão.

— Se concordar em fazer o que eu pedir, a diretora não precisa saber o que houve. — Ele propôs.

— Jura? — Layla sorriu, contente.

— Sim. Não me agrada nenhum pouco quebrar as regras, mas se é por uma boa causa… — Ele sorriu.

— Muito obrigada. Eu prometo que não vai se arrepender. — Falou Layla.

— Me encontre aqui na hora do intervalo? Vou pensar em alguma coisa. — Disse Ethanael.

Layla assentiu, movendo a cabeça e agradeceu mais uma vez, antes de ir para a aula de literatura. No almoço, se encontrou com Jonathan no refeitório e os dois se sentaram juntos.

— Tem certeza de que não está encrencada por minha causa? Posso falar com Ethanael e explicar o que houve. Tenho certeza de que ele entenderá. — Disse Jonathan.

— A culpa não foi sua, John. Fui eu que me atraquei com aquela infeliz e, não, você. — Layla disse.

— Mas se eu não tivesse esbarrado nela… — Jonathan disse.

— Você pediu desculpas e ela não aceitou. Deus que me perdoe, mas ela mereceu os tapas que dei nela. Apanhei, mas também bati. — Layla disse.

— Você foi incrível! — Jonathan elogiou.

— Sério? Obrigada, eu acho. — Ela sorriu e deu um beijo no rosto dele.

                                           † † †

No intervalo, Layla guardou seus livros em seu armário e foi até o grêmio como havia combinado com Ethanael. Chegando lá, encontrou Eulalie sentada cheia de pose, lixando as unhas. 

— Chegou quem faltava! — Ethanael esfregou as mãos, ansioso.

— Ainda não entendo o que estamos fazendo aqui… E o que ELA faz aqui? — Disse Eulalie de mau humor.

— Se lembra que concordei em não contar o que houve aos nossos pais se aceitasse qualquer castigo que lhe impusesse?   — Ethanael refrescou a memória de Eulalie.

— E daí? — Eulalie deu de ombros. — Continuo sem entender.

— É simples… Layla e você ajudarão Barstow School como puderem. — Falou Ethanael.

— Está falando em trabalho comunitário? Eu tenho uma reputação a zelar! Não posso ser vista por aí, varrendo o colégio ou ajudando na cantina. Você só pode estar louco se pensa que vou concordar com esse absurdo! — Falou Eulalie.

— Devia ter pensado nisso, antes de se atracar com alguém. — Falou Ethanael.

— O que tenho de fazer? É só falar e eu faço. — Disse Layla.

Ethanael sorriu, satisfeito por Layla não reclamar. Então, pegou uma folha em uma pasta que estava na mesa e a entregou a ela, dizendo-lhe:

— Aqui está.. Essa é a lista de ausências de Elliot Holmes. Convença-o a assinar? Devo dizer-lhe que não será fácil, devido ao comportamento rebelde dele, mas, esse será seu desafio.

— Desculpe perguntar, mas quem é Elliot? — Layla tentava associar o nome a um rosto, mas, ainda, não conhecia ninguém além de Ethanael e Jonathan.

— É um loiro, que sempre usa jaqueta de couro, e que tem aulas de História com a gente… O viu mais cedo, creio. Não será difícil encontrá-lo. Todo mundo por aqui conhece ele, é só perguntar a qualquer um. — Falou Ethanael. — Quero que me entregue isso no máximo até sexta. Ok?

Layla assentiu, movendo a cabeça.

— Bem, por enquanto, é só isso. Pode ir, agora. — Ele disse e se voltou a Eulalie. — Quanto a você… Sei bem o que vai fazer.

                                         † † †

Layla deixou o grêmio e caminhou pelo corredor, desanimada. Foi quando reconheceu o garoto que filmara a briga mais cedo. Ela se aproximou dele e perguntou-lhe:

— Você sabe onde está Elliot Holmes? Tenho uma coisa para ele.

— Não teria uma coisa pra mim também, docinho? — Disse Kirby, rindo, malicioso.

Layla o encarou, séria.

— É… No pátio… Ele está no pátio. — Respondeu Kirby sem graça.

— Obrigada. — Ela se afastou dele.

— Não por isso… — Kirby disse.

Layla foi até o pátio e encontrou Elliot deitado no banco, fumando, tranquilamente, enquanto ouvia música. Ela se aproximou dele. Ele a olhou de baixo para cima, pausando por um instante, na cintura dela, com um sorriso malicioso e se sentou, tirando os fones.

— Qual é gatinha? Procurando encrenca? — Ele disse.

— Será que você pode fazer algo por mim, bonitão? — Perguntou Layla.

— O que você quiser… — Disse ele.

— Pode… Assinar isso para mim? — Ela se aproximou dele, caminhando de forma sexy.

— Me deixe ver isso? — Elliot pegou a folha e deu uma olhada, antes de devolver a ela. — Só que não vai rolar, gata… Não mesmo, mas valeu a tentativa. Diga a aquele engomadinho para enfiar isso no… BOLSO. Não assino essa droga nem ferrando!

— Ah, não faz assim, gato. Vai? Por mim? — Ela disse sentando-se no colo dele.

— E o que ganho com isso? — Perguntou ele, aproximando seu rosto do dela.

— O que você quer? — Perguntou ela.

— O que quero? — Repetiu ele a encarando.

Ela sorriu, nervosa. Já estava se arrependendo de ter bancado a femme fatalle, mas também o que ele poderia pedir, além de um beijo?

— Vai me dar o que eu quiser? — Ele perguntou.

— Aí, depende do que você tem em mente… — Ela virou o rosto e quando quis se levantar, ele a segurou.

— Ei? Vem cá? Tá fugindo por quê? — Ele riu, divertindo-se. Ah, ele estava adorando aquele jogo. — Acho que já sei o que vou pedir.

— E o que vai pedir? — Perguntou ela com a respiração ofegante.

Ele riu, alto.

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