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Observo meus irmãos brincarem no quintal de casa enquanto prendo pela terceira vez na coleira, nosso cãozinho, um vira lata pequeno, seu nome é Crowley. Hoje o meu pai recebeu duas visitas, eram dois homens e Crowley tem certa aversão por pessoas do sexo masculino que não sejam meus irmãos ou meu pai, e por carros de cor escura, pelo fato de ter ficado muito agitado ele acabou quebrando a corrente duas vezes, meu medo é que ele vá para a rua e acabe sendo atropelado.

É sexta-feira e meu chefe, Sr Stark deu-me esse dia de folga, o que foi um milagre pois ele sempre costuma me dar folga apenas na quarta-feira, o que para mim não é nada proveitoso pois tenho que fazer muita coisa em casa, como por exemplo dar atenção aos meus irmãos, que não são poucos. As vezes Melinda precisa de conselhos amorosos, com seus quinze anos ela já está sofrendo por um garoto. Thomas com seu vício em jogos no computador não faz nada além de dar bronca nos meninos e os expulsarem do seu quarto. Sobrando para mim ouvir o choro deles e distraí-los.

Meus pais andam muito estranhos ultimamente, estou quase mudando meu conceito sobre eles serem pais carinhosos e atenciosos quando a última vez que os vi brincando com as crianças foi semana passada. Minha mãe, Fiorella Delphinne, mudou de um jeito inexplicável, não sorri mais e se quer lembra que tem filhos pequenos que precisam de carinho e atenção, meu pai Emílio Antonelli sai pouquíssimas vezes daquele maldito escritório e não brinca mais como antes, por incrível que pareça, até em meu quarto dar-me boa noite ele ia todos os dias, sinto falta dos meus pais, da minha família unida.

Termino de arrumar a nova coleira de Crowley quando vejo Teodoro abrir o portão de madeira rústica que cerca nossa casa das demais.

"Ei! Ei! Não pode sair sem permissão, lembra?" O advirto andando até ele para fechá-lo de volta.

"Mas meu avião caiu lá fora." Ele responde fazendo biquinho.

"Mas o que nós combinamos? Quando cair alguma coisa lá fora você deve pedir aos mais velhos que peguem, como eu, a Melinda, o Thomas ou a mamãe e o papai." Falo firme para que ele não repita outra vez, Teodoro e Enrico são gêmeos e tem seis anos de idade, são bem agitados mas são quem alegram minhas horas vagas.

"Tudo bem, desculpe Mili, você pode pegar meu avião, por favor?" Ele pede com os olhos brilhando.

"Claro, espere aqui." Faço um cafuné em seu cabo loiro e saio para fora em busca do avião perdido. Quando de repente ouço o latido do cachorro e vejo o vulto dele passar correndo no meio das minhas pernas. "Oh! Não! Crowley!" Exclamo.

Mas aqueles pestinhas me tapearam! Ouço ao fundo cochichos e risadas da parte dos dois. Furiosa eu corro atrás do pequeno cão que parece um maratonista de tão rápido que corre, estranhamente ele parece ter farejado algo, pois ele correu exatamente para um lugar, ao longe ouço latidos frenéticos, merda, ele encontrou uma vítima, por sorte sua pequena estatura não amedronta ninguém.

"Ei! Crowley!" Grito ao avistar a criaturinha latindo furiosamente em volta dos pés de um homem alto parado perto da igreja da esquina.

Me aproximo correndo sem ter coragem de olhar para o homem que com certeza deve estar com muita raiva, sinto-me horrorizada por Crowley ter escolhido logo esse homem, com esse terno imaculado aparentemente com o custo de milhões de dólares, com esses sapatos pretos que quase posso ver meu reflexo de tão brilhantes.

"Senhor, eu sinto muito... Por favor não se mova." Peço gentilmente enquanto corro em volta dos pés dele afim de capturar o mini cão. Quando finalmente o tenho em meus braços sinto-me tão envergonhada que meu rosto esquenta como o inferno. "Desculpe por isso, é sério... Ele mordeu você?" Pergunto-lhe preocupada.

Quando finalmente olho seu rosto, é impossível não notar sua beleza, um tanto intimidada pelo seu tamanho que ultrapassa com certeza 1,80m de altura, tento desviar meu olhar mas sinto uma estranha compulsão em olhá-lo, esse pensamento deixa-me envergonhada e sinto minhas bochechas corarem.

"Não, ele não mordeu." Ele diz apenas, sua voz, sua voz é bonita e encatadora.

"Ainda bem! Ele tem dentes afiados e tem alguns maus costumes, as vezes... Enrico! Teodoro!" Grito com os olhos em busca dos meus irmãos, preciso colocar minha atenção em qualquer outro lugar que não seja o bonitão a minha frente com lábios desenhados e cara de malvado.

"São seus filhos?" Pergunta o homem arrancando uma risada minha.

"Não! São meus irmãos." Respondo franzindo o cenho. Onde já se viu? Eu, mãe de dois marmanjos de seis anos.

"Mili! Venha nos pegar!" Os dois gritam e então eu avisto as cabeças loiras atrás de alguns arbustos.

"Com licença... Tenho que ir." Falo acariciando a cabeça de Crowley, quando levanto meu olhar, encontro os olhos castanhos desse homem, neles contém um brilho estranho, o qual faz meu coração acelerar.

"Por favor, será que você pode me informar onde eu posso encontrar o Senhor Antonelli?" Pisco várias vezes com a pergunta e de repente um calafrio percorre minha espinha.

"Emílio Antonelli?" Indago.

"Sim." Ele responde prontamente.

"É o meu pai, você trabalha com ele?" Por favor, espero do fundo do coração que Crowley não tenha estragado os negócios do meu pai. Mas quando olho o homem tem uma expressão de surpresa em seu belo rosto másculo.

"Sim, mas falo com ele outra hora. Obrigado, querida." Ele fala e da um meio sorriso, que droga de sorriso.

Balanço a cabeça lentamente e viro-me em direção a minha casa, tenho que tomar cuidado para não tropeçar, considerando minhas pernas moles pelo impacto que tive ao olhar os olhos desse estranho. Continuo meu caminho de volta para casa, quero muito olhar para trás e me certificar de que ele ainda está lá, me olhando, porém não faço isso.

Ofegante e tensa eu entro no portão de casa que até mesmo esqueço da bronca que iria dar em meus irmãos, não entendo o porquê de eu estar assim tão perturbada, ou o porquê de eu estar desejando vê-lo de novo em minha vida. A imagem do rosto bronzeado do estranho surge em minha mente, sinto o mesmo impacto novamente, que aqueles olhos escuros e aquele corpo forte causaram em mim.

Mas e daí? Nunca mais verei-o novamente, e além de tudo, um homem desses só querem mulheres para sexo, para se divertirem por uma noite e após isso caem fora. Sempre tive dentro de mim a convicção que se um dia em me entregar para alguém, quero que seja por amor, não quero apenas ser usada como um objeto e depois sentir-me vazia e solitária.

Porém sou humana e mulher, tenho que admitir que aquele homem era de tirar o fôlego. Claro que não faz meu tipo, ele parece ser arrogante demais e muito cheio de si. Tudo bem, chega de pensar bobagens! Sinto meu celular vibrar no bolso da calça, é uma mensagem, abro e leio: "Hoje, faremos uma festa surpresa para o Rocco e para a Jéssica, você está convocada a comparecer! :)" Malvina.

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