Capítulo 08

Josué Monteiro

Precisei retornar para a capital durante uma semana inteira para resolver negócios pendentes. Alexandra insistiu que o melhor era levar Luara Arantes ao tribunal pra tentar recuperar meu filho, mas não era simplesmente tirar o filho dela que resolveria tudo. Ela o amava tanto. Decidido a continuar com o plano anterior, retornei depois de uma semana. Para minha surpresa, algumas coisas mudaram, a moça era realmente determinada, pois tinha conseguido um trabalho em um restaurante, como garçonete. Esperava que aquele homem que tentou agredi-la fisicamente não estivesse importunando sua vida. Quando recordava que ele quase a espancou no meio da rua, sentia vontade de espancá-lo até perder a consciência. Ele era um homem covarde que agredia mulheres indefesas, contudo, naquele dia ele não contava com minha presença, muito menos que ela fosse ter alguém para defendê-la assim como fiz.

Tirei meu óculos escuro, prendendo ele na camiseta listrada. Talvez ela gostasse de listras e uma calça jeans justa, pensei um pouco antes de adentrar o restaurante. Ela usava uma tiara branca, que destacou ainda mais seus lindos cachos. O uniforme simples a deixou tão sexy, era um vestidinho um pouco acima dos joelhos, de mangas curtas. Não me importei nenhum pouco de encará-la. Quando ela percebeu minha presença saiu correndo em direção à cozinha, supus.

Escolhi uma das mesas vazias e assentei na cadeira de madeira. Era o horário de almoço e eu queria muito vê-la, a partir daquele dia a veria todos os dias. No entanto, quem veio me atender foi outra moça e não ela. Confesso que fiquei decepcionado. Após fazer o pedido a vi novamente, mas passou bem distante da minha mesa.

— Ela está me evitando... — murmurei, batendo as pontadas dos dedos impaciente em cima da mesa.

Quando meu pedido chegou até a mesa, acabei cometendo um pequeno deslize. Do que estou falando? Deixei que os talhes caíssem no chão! Sabe o que me distraiu naquele momento? Foi ver Luara inclinada sobre uma das mesas. Eu vi mais coisa do que deveria ter visto e ela tinha percebido isso, pois logo veio até minha mesa. Ela conseguia me deixar nervoso com apenas um olhar.

— Josué, sabia que é feio ficar encarando alguém assim? O que você quer? Pensei que nunca mais fosse vê-lo outra vez!

Ela sabia como deixar um homem sem palavras. Tentei tocar sua mão, todavia, foi em vão.

— Senti saudades de você. Não esqueça que sou um homem tímido! — foi tudo que consegui dizer. Olhei para o nada, apenas para não olhar em seus olhos.

Aquele personagem que criei precisava ser mais convincente. Mais como fingir uma timidez inexistente? Queria muito descobrir!

— Não sei a razão de você está jogando comigo, no entanto, saiba que isso não vai funcionar. Josué, esqueceu que ficou dias me seguindo? Eu sei que você não é assim, digo, todo diferentão! Esse não é o seu estilo de roupas e muito menos você é tímido, sei que não tem timidez alguma!

Eu não esperava que ela fosse tão esperta assim e observadora. Não sabia o que responder, ainda mais porque ela repousou sua mão no meu ombro esquerdo. Fitei seus olhos e engoli em seco. 

— E-eu preciso, ir ao banheiro... — gaguejei, sentindo uma fraqueza nas pernas. Tudo que precisava naquele momento era sair daquela situação. Quando levantei da cadeira bati o pé na outra cadeira, arrancando gargalhadas dela. Saí correndo querendo muito que tudo não passasse de um pesadelo. Nunca fui um homem atrapalhado, porém, ela causava esse efeito em mim.

Já no banheiro peguei o telefone e resolvi pedir socorro. Logo a chamada de vídeo foi atendida pela Alexandra, expliquei a situação toda, enquanto caminhava pelo banheiro.

— Você tem que contar a verdade, Josué. Ela não é nenhuma trouxa, alias, adorei ela por isso.

— Ei, não foi pra isso que te chamei! — resmunguei. Minha prima sorriu sarcástica.

— Nunca te vi assim, é hilário! O que foi meu primo? Não consegue lidar com uma novinha? Não era você que vivia se gabando que era irresistível?

Ela sabia como me deixar sem argumentos.

— Não brinque com isso! Agora Luara deve ter certeza que não sou um rapaz tímido! — berrei, frustrado.

— Rapaz tímido? Você é um coroa de meia idade, querido primo!

Certo, minha prima talvez estivesse passando dos limites com suas zombarias.

— Vou resolver isso sozinho. Tchau, Alexandra!

Desliguei a chamada de vídeo. Aproximei-me do espelho e lavei o rosto com água da torneira. O melhor era sair daquele restaurante sem voltar a bater de frente com Luara. Após sair do banheiro, paguei o almoço que sequer toquei e saí antes que ela me visse.

Já dentro do carro, me sentindo seguro, pensei na bobagem que havia cometido.

— Agora ela vai ter certeza que sou um fingido! — resmunguei, batendo com força no volante. Liguei o carro e saí sem saber ao certo para onde ir.

Quis muito telefonar para os meus pais, porém, sabia que não seria atendido. Meus pais não aceitaram muito bem o fato de ter perdido o neto da forma que perderam. Eu não contei de maneira alguma que tinha localizado meu filho, pois sabia que isso acabaria muito mal. Eles queriam a guarda do neto por me achar incapaz de cuidar dele sozinho.

Eu era filho único e ainda assim, eles não falavam comigo há anos. Sentia saudades da minha família toda reunida aos finais de semana. Queria fazer parte da vida do meu filho sem que precisasse entrar na justiça pra tentar ter direitos. Por que a senhorita Arantes estava ferrando com tudo? O que custava ela ser menos desconfiada? Seria tão mais simples se fossemos uma família de verdade.

Meu medo de lhe contar toda a verdade e ela sumir com o garoto só aumentava. Mas até quando conseguiria esconder meu segredo? Ela não era nenhuma idiota. Eu precisava de um novo plano que não fosse prejudicar meus objetivos. Ela era apenas uma jovem que mal tinha começado a vida. Talvez, conseguisse encantá-la com alguma coisa, precisava descobrir mais sobre a mãe do meu filho. 

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