Capítulo 07

Como o esperado em menos de duas horas, todos da minha família já sabiam tudo que tinha acontecido, envolvendo Yago, eu e Josué. Dona Regina entrou no meu quarto feito um relâmpago e trazia com ela um dos seus sapatos de salto baixo em mãos. Eu não fiquei nenhum pouco surpresa com sua atitude. Guardei o livro que lia e respirei fundo até que ela soltasse seu veneno.

— Você quer envergonhar mais ainda nossa família? — questionou, sacolejando meu braço esquerdo. — Todos estão falando na rua inteira que você causou uma confusão em público! Por que envolveu o filho de Marieta nisso? Ele é um bom rapaz, agora todos estão falando dele! Não pode esconder seu gosto péssimo pra homens? Tem que esfregar um branco na cara de todos? As pessoas estão falando!

— Yago, não é nenhum santo, dona Regina! — disse desvencilhando-me de sua mão pesada. — O homem branco tem um nome, sabia? Josué! A senhora não sabe de nada e muito menos, esse povo fofoqueiro! Acha mesmo que alguém se importa tanto assim com essa família ferrada?

— Luara, por que você não é como sua irmã? Isabela tem um caráter exemplar e sempre faz o que os pais querem e....

Gargalhei propositalmente para que ela parasse com aquela conversa idiota. Minha irmã desde cedo demonstrou ser um fantoche na mão dos nossos pais, porém, pelas costas era outra pessoa, uma irreconhecível.

— Alguma vez entrou no quarto da sua filha amada? — desdenhei, recordando das bitucas de cigarro que Isabela fumava. Não era somente o vício em cigarro que ela escondia entre quatro paredes em seu quarto. Havia também sua coleção bizarra de fotos de quase todos os homens bonitos da cidade, inclusive os casados.

— Ela merece privacidade. — explicou-se gesticulando com as mãos. — Sua irmã merece total minha confiança, nunca fez nada errado.

— Será mesmo que ela merece essa confiança toda? Deveria ser mais presente, mamãe. Sua filha favorita tem muitos segredos.

Não era errado colocar uma pulga atrás da orelha da nossa mãe. Ela precisava conhecer de fato quem era Isa, que nunca foi nenhuma santa. Dona Regina saiu do quarto bufando.

Após buscar meu filho na escola, saímos para almoçar fora. Foi a melhor escolha que poderia ter feito, pois estar naquele ambiente tão familiar, além de acalmar meus nervos, vi uma oportunidade e tanto. Uma vaga de emprego surgiu e não perderia a chance de trabalhar. Depois de conversar um pouco com a gerente do restaurante, ela disse que eu poderia tentar, uma experiência como garçonete. Concordei e agarrei aquela oportunidade de independência.

Quando saímos do restaurante mal conseguia conter toda minha euforia.

— Lucas, sua mãe está tão feliz. — comentei, alegremente, bagunçando seus cabelos loiros. — Logo vamos poder nos mudar. Vamos ter nossa casa de novo, filho.

Eu sabia que seria difícil com o dinheiro de garçonete, mas não era impossível. Minha esperança era maior que qualquer dificuldade que pudéssemos passar, superaríamos juntos tudo.

— Te amo, mamãe! — proferiu docemente, dando-me um abraço em seguida.

— Também te amo muito, meu bebê! — beijei o topo de sua cabeça com ternura.

Meu menino levado era meu amuleto da sorte. Seus olhinhos eram um dos seus atributos que admirava. Juntos caminhávamos, em direção a casa dos meus pais, e eu sabia que com ele nunca estaria sozinha. No momento que passamos pelo portão, Isabela veio feito um furacão pra cima de mim.

— O que você disse pra nossa mãe? — esbravejou, empurrando-me para trás. — Ela entrou no meu quarto, caralho! Sem aviso nenhum! Ela me viu fumando e ficou chocada com tudo que viu. Não acredito Luara que você fez isso comigo!

Dona Regina não perdeu tempo, pensei. Isabela não deveria dizer palavrão na frente do meu filho. Segurei firmemente seu braço, puxando-a para o canto.

— Para de agir como uma garotinha, Isa! Você tem dezoito anos agora! Seja responsável. Seja uma mulher de verdade...

— Mulher de verdade feito você? — zombou, olhando em direção ao Lucas. — Vai ter volta, maninha. Mamãe agora pensa que sou uma perdida como você!

Uma ameaça vinda da minha irmã era algo para ter cuidado, não eram palavras da boca para fora. Isabela era vingativa e nunca gostou de mim.

— Se eu soubesse que você seria assim, nunca teria pedido tanto para nossa mãe me dar um irmão ou uma irmã. O que veio para mim foi um castigo. Sinceramente, você nunca foi a irmã que pensei que pudesse ser.

Desabafei algo que guardei durante anos. Nossa mãe não queria ter mais filhos e de tanto insistir ela engravidou. E quando soube que era uma menina, meu coração se encheu de felicidade, pensei que seríamos melhores amigas, mas as coisas não aconteceram assim.

— O único castigo é ter você como irmã, Luara! Que exemplo você é? Uma irmã mais velha mãe solteira! Sempre senti vergonha de você, por ser uma fraca ingênua! Eu te odeio!

Isabela berrou, esbarrando no meu ombro e indo embora. Senti vontade de chorar, no entanto, engoli o choro, pra não assustar meu filho. Eu não odiava minha irmã, apenas ela não era o que esperava ter.

— Sua tia, está um pouco nervosa, não foi nada viu? — disse me aproximando do meu menino. — Desculpe, meu amor, não queria te trazer pra essa confusão.

Lucas simplesmente abraçou minha cintura com força.

— Não fica triste, mamãe.

Sim, ele tinha percebido que eu não estava nada bem. Respirei fundo soltando o ar pela boca. Ele era somente um garotinho, não queria envolvê-lo em toda a bagunça familiar.

— Vai ficar tudo bem. — afirmei, acariciando suas costas. — Vamos entrar porque hoje quero ler um dos meus livros favoritos pra você.

Gostava de incentivar a leitura e mostrar pra ele o mundo incrível da literatura.

— Tem dragão, mamãe? Não é uma história de princesa né? Elas são tão sem graça, mamãe. Prefiro os dragões!

Ele era sincero e uma graça!

— Hoje não tem nem princesa e nem dragão, mas você vai gostar.

— Não sei. — respondeu fazendo carinha de bravo.

— Hum, acho que alguém quer chamar atenção. — brinquei, fazendo cócegas nele. — Meu pequeno, menino homem. O que não faço por você, hein?

O riso dele melhorou meu humor. Eu não tinha o amor da minha irmã, mas tinha o mais puro amor, o do meu filho.

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