Capítulo 06

Luara Arantes 

Eu queria esquecer, esquecer o quanto foi extremamente constrangedor meu suposto encontro na sorveteria. Andressa talvez tivesse razão o tempo inteiro, o senhor esquisitão deixou claro suas intenções comigo. Mas algo no meu coração dizia que não era apenas isso, existia algo a mais. Meu pequeno Lucas era quem realmente chamava atenção dele. Depois de fugir da sorveteria não quis saber de mais nada que não fosse retornar para casa e ficar com meu filho.

No dia seguinte acordei com uma dor de cabeça intensa, mesmo assim levantei logo cedo e deixei meu garotinho na escola. Enquanto voltava pra casa caminhando, algo inusitado aconteceu. Vi aquele homem novamente, ele colocou-se na minha frente, impedindo que eu passasse. O sorriso dele talvez fosse um dos seus pontos fortes. Todos aqueles músculos destacados, começaram a me deixar desconcertada.

— Josué. E você? — abriu a boca estendendo sua mão direita. Aguardava uma reação minha. Qual foi a minha reação? Revirei os olhos com seu atrevimento, claro! Cruzei os braços deixando claro que não me apresentaria.

— Não te interessa! Dá pra parar de me perseguir? Vejo que está mais palhaço que ontem! — desdenhei, fitando-o nos olhos. — Por acaso está voltando de uma festa a fantasia? Branquelo, você não combina com essas roupas!

Quis ofendê-lo e criticar suas roupas foi o que consegui fazer. Mesmo que ele estivesse usando um vestido continuaria um galã, quer dizer, um galã meio gay, mas, galã. Ele era irritantemente perfeitinho demais. Nenhum fio de cabelo fora do lugar. Barba ralinha bem desenhada na simetria do seu rosto. Tinha algo nos seus olhos que parecia familiar, entretanto, não sabia o porquê. Não nos conhecíamos antes, disso não tinha dúvida alguma.

— Sou tímido, moça! — afirmou, quebrando o silêncio, enquanto franzia os lábios finos. Bufei tentando passar por ele, sem sucesso algum. — Por que não me diz seu nome? Poderíamos tomar um café ou...

Enfiei o dedo no meio do seu peito, interrompendo-o.

— Você é louco! Não pode chegar em alguém assim! Entendeu? Branquelo de merda! Ou você me deixa passar, ou vou encher essa tua cara de uns tabefes!

Se era baixaria desnecessária? Pra mim era necessária sim!

— Tem certeza que quer fazer isso? — questionou, segurando meu pulso, sem machucá-lo. — Você é tão linda que fico todo sem jeito...

Desvencilhei-me do seu toque. Nunca estive com tanta raiva como fiquei por causa dele.

— Para com isso, cara! Tá ridículo! — berrei, empurrando-o de leve. — Não quero te ver na minha frente, nem nas minhas costas como um encosto! Pode ter certeza que da próxima vez, não vai ser aviso que vou te dar! Espero que tenha entendido, espigão!

Saí pisando duro e rezando mentalmente para o maníaco não estar me seguindo. O tal Josué estragou minha manhã. Distante o bastante olhei para trás e respirei aliviada por não ter sido seguida por ele. Parecia que ele tinha desistido de me abordar.

— Procurando por mim, Luara? — aquela voz grosseira veio seguida por um puxão brusco. — Eu te vi, sabia? Com aquele cara. Não sente vergonha? Ser vista no meio da rua com um como ele?

Yago apertava com força meu braço enquanto ansiava por uma resposta. Até mesmo seu cheiro de rampeiro causava-me repugnância.

— Vergonha deveria ter você, por estar me seguindo! — esbravejei, puxando meu braço. — O que faço ou deixo de fazer só diz respeito a mim, entendeu? Não me toque nunca mais!

Não esperava uma reação no momento em que fui na sua direção, prestes a estapear seu rosto, no entanto, em um movimento rápido, ele conseguiu segurar meu pulso.

— Muito corajosa, hein? — provocou, puxando-me contra seu peitoral. — Tenho certeza que sente falta do meu toque. Das nossas carícias debaixo dos lençóis. Não precisa fazer esse tipo de coisa se quer tanto chamar minha atenção.

Engoli em seco, sentindo sua respiração quente no meu pescoço. Eu não queria ser vista com ele. O homem que foi minha ruína. Meus olhos ficaram embaçados com lembranças do passado.

— Não é divertido tirar a inocência de uma garota ingênua. — resmunguei, empurrando-o. — Yago, pensei que fossemos amigos. Acreditei durante anos que a qualquer momento fossemos assumir para todos que estávamos juntos. Você não tem coração e muito menos compaixão!

As lágrimas desceram por todo meu rosto. Yago cerrou os punhos, dando um passo à frente. Fechei os olhos. Ele estava prestes a marcar meu rosto para todos saberem. Outra vez ele me machucaria, mas desta vez a marca seria visível para todos. Senti o vento do seu punho na minha direção, entretanto, não senti um toque seu sequer. Abri os olhos momentaneamente.

— Josué! — gritei, assustada, recuando.

Com meu coração disparado e sendo difícil demais para respirar, não conseguia acreditar. De onde ele havia saído? Ele tinha parado o soco que acertaria em cheio meu rosto. Tanto Yago como Josué trocaram olhares raivosos.

— Por que não briga com alguém do seu tamanho? — Josué disse rosnando. — Ela não é um saco de pancadas!

Pulei para trás ao ver Yago ser acertado por um soco no estômago. Ele era um covarde, pois após o soco saiu cambaleando para longe de nós dois. Limpei minhas lágrimas e decidi não ser uma orgulhosa, caso Josué não tivesse aparecido meu rosto estaria arrebentado.

— Eu me chamo Luara, Josué. — disse com a voz embargada, estendendo a mão pra cumprimentá-lo e continuei. — Obrigada por ter me salvado de sair com o rosto quebrado.

A mão quente de Josué me fez sentir um frio na espinha. Não queria ser vista naquela situação, mas não era apenas ele que tinha presenciado todo o ocorrido. Em algum momento a fofoca chegaria aos ouvidos da minha família.

— Luara, quer ir até a delegacia? — perguntou, parecendo preocupado. — Posso ser sua testemunha do que aquele cara queria fazer com você.

Soltei sua mão e gargalhei de nervosismo.

— Para com isso! Não foi pra tanto! Pode deixar que com Yago me resolvo depois. — afirmei, limpando uma sujeira imaginária do seu ombro esquerdo. — Agradeço por ter me resgatado como uma princesa em apuros, mas esse assunto não tem nada a ver com você.

Ele ainda era um desconhecido que me causava muitas desconfianças. Ter sido salva por Josué não mudou o fato dele ser um possível maníaco de criancinhas.

— Você que sabe. — essa foi sua resposta seca e direta. Franzi a testa sem entender nada. Talvez eu esperasse outra reação sua e não aquela inesperada.

O espigão simplesmente me virou as costas e foi embora, isso mesmo ele não insistiu para que fossemos até a delegacia, muito menos tentou me confortar.

— Esquisitão... — resmunguei, observando-o cada vez mais distante.

Quem realmente era aquele homem? Uma curiosidade foi implantada em mim. Talvez fosse uma boa investigar mais sobre o senhor espigão. Era algo apenas por segurança, sabe? Não tinha nenhum outro interesse no branquelo, claro que não tinha!

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