Capítulo 05

Josué Monteiro

Deixei tudo para buscar meu filho após localizá-lo, entretanto, não consegui nem sequer me aproximar. Ele era feliz aparentemente com sua mãe adotiva. Eu não era um monstro para separar a mãe de um filho, ela o amava muito. Quase um mês observando de longe os dois. Senti que era o momento de um contato direto, mas não queria assustá-los. A mãe biológica do meu filho fez questão de se livrar dele no momento em que terminei nosso noivado. Me arrependi de não ter terminado só depois do nascimento do bebê, por causa dessa escolha ruim ela sumiu grávida e quando apareceu não estava mais com o bebê. Foram cinco longos anos sofrendo sem saber onde estava meu filho.

Precisei da ajuda de Alexandra para poder me ausentar do escritório. Minha prima era responsável e muito competente, sabia que tinha deixado em boas mãos. A fábrica de produtos alimentícios era um negócio de família há anos. Luara Arantes não parecia ser o tipo de mulher que conhecia, confesso que sentia um pouco de medo dela. Buscava uma forma de aproximação sem que ela fugisse com o meu filho. Tudo que queria era estar na vida dele e ser o pai que ele merecia ter.

Era domingo à noite e novamente vi uma oportunidade para tentar uma conversa com a senhorita, Arantes. Ela tinha acabado de adentrar a sorveteria sozinha. Eu era um pai desesperado. Nunca pensei que ficaria obcecado daquele jeito, estava perseguindo os dois na cara de pau durante dias. Tirei a gravata e guardei no bolso decidido a falar com a jovem. A cada passo meu coração ficava mais aflito. Ela parecia distraída no momento em que cheguei em sua mesa.

— Posso sentar? — perguntei, chamando sua atenção. Fiquei receoso que ela dissesse não. O que eu podia esperar dela? Pelo tempo em que passei observando-a notei o quanto ela era brava.

— O que você quer com o meu filho? — rebateu diretamente. A baixinha estava tentando me intimidar. Arquei as sobrancelhas com tamanha ousadia de sua parte.

— Sou tímido e por isso não me aproximei antes. — comecei a falar, sentando em seguida na cadeira vazia em sua frente. — Gosto de crianças e você parece ser uma mãe muito amorosa. E eu queria te conhecer melhor, pois te achei muito linda.

Conhecê-la melhor foi tudo que consegui pensar. Não era uma mentira, não totalmente, ela realmente era uma mulher muito bonita. Uma negra linda e usava uma calça jeans azul e um moletom branco de capuz. Preferia vê-la sorrindo como tinha visto todas as vezes em que esteve com o nosso filho. Sim, nosso, ela era a mãe mesmo não sendo a biológica e eu era o pai.

— De qual hospício tu saiu? — insultou-me chutando-me por debaixo da mesa e continuou. — Eu vejo o jeito que tem olhado pro meu filho. Pensou que se aproximando de mim ia chegar até ele? Não sou uma emocionada, querido!

Emocionada? Não tinha entendido nada. Ela tinha me achado feio? Isso era possível? Eu normalmente causava suspiros e não repulsa nas mulheres.

— Por favor, senhorita. — disse tentando forçar uma timidez que nunca tive. — Tenho dificuldade em me expressar. Você poderia me dar uma oportunidade de nos conhecermos melhor? Posso provar que não sou nenhum psicopata.

Ela parecia estar pensando, e no momento que pensei que tinha a convencido, tive uma surpresinha desagradável.

— Sério? Que você tá usando uma desculpa dessas pra cima de mim? Não é porque tenho um filho branco que eu goste de branquelos como você! E alias, metido ainda por cima! Ninguém usa esse tipo de roupa em uma cidade como essa. Não sei por qual motivo veio parar aqui, mas saiba que comigo não vai rolar nada, nadinha, nunca!

Ela simplesmente levantou-se e saiu me deixando para trás. Como eu ia conquistar a confiança de uma mulher como ela? Era algo que precisava descobrir e tentar. Talvez eu devesse usar roupas mais comuns, que não esbanjassem dinheiro. Saí da sorveteria com muitos pensamentos.

Na segunda-feira logo após o café da manhã no hotel em que estava hospedado decidi fazer compras. Eu precisava de ajuda e a única opção que encontrei foi fazer uma chamada de vídeo com minha prima enquanto experimentava algumas peças de roupas.

— Josué, pelo amor de Deus! Desde quando você monta cavalo? — desdenhou rindo. Alexandra era uma mulher de trinta e cinco anos, no entanto, seu humor era de uma garotinha de treze.

— Ela talvez goste, não acha? — brinquei dando um giro. A expressão da minha prima era de reprovação. Eu estava usando uma camisa xadrez e uma calça jeans justa com um cinto grande e botas.

— Melhor fazer bronzeamento artificial, branquelo! — zombou girando em sua poltrona.

Eu precisei contar tudo para ela do que tinha ocorrido na sorveteria. Não pensei que ela fosse usar isso contra mim.

— Não duvide que vou domar aquela mocinha brava. — disse seguro que conseguiria esse feito. — As mulheres nunca resistiram, com ela não será diferente.

Adentrei novamente o provador e troquei de look. Coloquei uma camiseta estampada e uma bermuda e tênis. Pensei ter acertado no visual e saí confiante do provador.

— Faltou o boné. Onde é o baile funk? Seus músculos estão tão expostos, primo.

Ela também não tinha gostado daquele visual. Mulheres, consegue entender? Porque eu não!

— Talvez ela goste dessa vez. Preciso apenas fazer umas tatuagens, não acha? — brinquei sorridente.

— Sinto pena dela. — proferiu, balançando a cabeça e continuou. — Pensou nas consequências quando ela descobrir tudo? Você deveria falar que é o pai do garoto logo de uma vez, mas não quer! Por que iludir a pobre moça? Ela pode acabar se apaixonando por você.

— Eu também posso me apaixonar por ela. Por que não? Seríamos uma família completa...

— Você passou nove anos em um relacionamento, Josué. Nove! Nunca foi apaixonado pela sua noiva. E fidelidade? Nenhuma! Primo, você usou a desculpa da gravidez da Vitória pra cair fora da relação.

Nem mesmo eu sei porque fiquei durante anos com aquela mulher. Alexandra tinha razão, em parte, nunca amei Vitória por isso tive algumas amantes. Eu não era de ferro e não era impossível um dia eu cair de quatro por uma mulher, certo? Acreditava seriamente nisso.

— Uma vez te disse, e vou repetir, a mulher que me conquistar vou casar com ela em menos de um ano. O amor um dia chega e não podemos deixá-lo escapar entre os dedos. Luara, a mãe adotiva do meu filho é uma jovem bonita e ama muito ele. Quem sabe nós dois não possamos nos apaixonar?

— Saiba que não apoio essa loucura. Você tem um tijolo no lugar do coração, Josué. Esperar que você se apaixone de verdade um dia, é tempo perdido. Não use-a para ficar perto do seu filho, nenhuma mulher merece ser usada dessa forma.

Alexandra ficou emocionada com tudo que disse, talvez tivesse recordado do seu ex marido que a trocou por uma mulher mais nova.

— Não se preocupe, prometo que no momento em que eu ver que tudo está saindo fora de controle, me afasto dela. Eu prefiro que as coisas aconteçam assim, não quero que ela leve meu filho para longe. Pode confiar em mim? Vou tentar não machucá-la.

Estava sendo sincero, minha intenção não era magoar ninguém.

— Tenha cuidado, está bem? Não sabemos como isso pode acabar.

— Tudo acabará bem, vou dobrar a senhorita, Arantes. — disse dando uma piscadela.

Luara Arantes logo se apaixonaria por mim, o moço tímido e romântico que seria para ela. Sairia apenas daquela loja quando tivesse várias peças de roupas novas para usar. Apesar da minha idade, aparentava ter menos. Eu era um homem de trinta e seis anos, mas aparentava ter no máximo vinte nove. Usaria do meu charme e cavalheirismo para conquistá-la, o plano sairia conforme o planejado.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados