Capítulo Quatro: A Festa

Capítulo Quatro

A Festa

Kieran foi escoltado para seu quarto contra sua vontade, enquanto Lorena e um grupo de azuis me deixou à porta da escada que levava até os aposentos privados de minha mãe, na torre da quebra. Não muito contente em subir toda aquela escadaria, forcei-me a ignorar a dor nas costas e segui adiante, com uma pequena pausa para admirar a sacada que eu tanto gostava. Alcancei os aposentos de minha mãe e bati na porta.

Fiquei esperando que ela me pedisse para entrar e deixei meu queixo cair quando a porta se abriu de supetão e ela abriu o maior dos sorrisos ao me ver.

— Filha — soprou, parecendo feliz em me ver. Antes que eu pudesse pará-la, ela me puxou para um abraço e se afastou em um pulo quando não aguentei a dor e gritei. — Oh! Eu sinto muito. Está muito ruim?

Ela deu a volta em mim para avaliar minhas asas. Ouvi sua exclamação quando finalmente reparou em como tinham nascido diferentes. Com cuidado, encostou um pouco acima da base, empurrando-a contra minhas costas e se abaixou para olhar de mais perto.

— Está bem ruim — confessei, metade de mim emocionada, metade impressionada com sua atenção. — Mas eu não sou de reclamar.

Ela soltou-me e voltou à minha frente com um sorriso.

— Ah, eu sei, querida, você é bem durona — elogiou. — Venha, venha se sentar. Depois vou pedir para sua conselheira amarela lhe ajudar com isso. Seu pai não conseguiu?

Acompanhei-a com um sorriso, negando com a cabeça. Os meses que eu passara longe tinham feito muito bem para minha mãe. Fosse pelo susto do meu sumiço ou a convivência que Kieran alegava ter com ela, estava mais parecida com o que sonhei do que com a mulher distante que fora durante minha primeira estadia em Castelo Alado.

— Magia não vai funcionar com isso — respondi, sentando-me à frente da mesa dela.

Minha mãe sentou-se em sua poltrona e olhou-me, parecendo me avaliar.

— Entendo — respondeu. Ela suspirou e continuou. — Estou muito feliz em te ver. Eu... — ela se interrompeu, escolhendo as palavras. — Seu pai me contou o que houve assim que deixou você ir. Era a escolha mais acertada, eu admito, visto o nosso passado. Você nem pediu por muito, foi bem...

— Eu gosto daqui — cortei-a, explicando. — Não queria deixar vocês, nem esse mundo... eu também amo tudo aqui. Mas precisava deixar Guilherme ir; foi tudo muito rápido e tumultuado quando ganhei minhas asas, ele ficou com a impressão errada e nós dois estávamos sofrendo. Não queria que ele convivesse com a dúvida e o abandono e eu não queria ter que conviver com a culpa — respirei fundo porque, apesar de me sentir melhor, ainda sentia aquele aperto no coração, no espaço que sempre pertenceria a Guilherme. — Eu tive mais tempo do que poderia sonhar, resolvi todas as pendências que poderia ter com Guilherme e estou pronta agora.

Por cima da mesa minha mãe estendeu a mão para mim, pegando a minha com um aperto, os olhos brilhando em minha direção.

— Você é uma mulher incrível, filha — disse. — Sinto por você não ter confiado em mim pra contar sobre o seu amado. Eu ficaria feliz em ajudar — abaixei meu olhar, um pouco envergonhada com toda a sua atenção, não estava acostumada. — Eu entendo que a culpa é minha. Eu... não tive tempo de aprender a como ser mãe — confessou. — Eu mandei vocês dois para longe antes de conseguir entender. Tenho aprendido muito com seu irmão e espero que ainda tenha tempo de me corrigir com você — meu coração estava acelerado e eu estava fazendo força para não deixar as lágrimas caírem dos meus olhos. — Se possível, gostaria de começar a consertar agora. Por que não me conta sobre o seu amor?

Soltei um suspiro de alívio e deixei meus lábios formarem um sorriso aberto e caloroso para minha mãe. Ainda tinha minhas ressalvas, mas era bom vê-la tentar. Prometi que iria me esforçar também, deixando as mágoas no passado e permitindo deixá-la tentar ser, finalmente, minha mãe.

— Eu posso te mostrar? — sugeri.

Kathelynn demorou apenas dois segundos para entender o que eu estava propondo e abriu um sorriso, concordando com a cabeça. Enquanto eu tirava meu colar de línguas, ela se levantou e trouxe uma bacia de pedra para a mesa. Estava vazia, mas fez as gotículas de água do mar entrarem pela janela e encherem a bacia.

— Detamíen argue stab Guilherme — sussurrei, de pé, enfiando minha mão na água.

Quando a imagem ondulou, Kathelynn levantou o olhar para mim por um momento, admirada, tal como Siena, quando me mostrara a magia pela primeira vez. Conseguia convocar Guilherme com meu próprio coração, porque era dele.

A imagem se formou e Guilherme estava belíssimo, vestido com um conjunto de terno completo, conversando com outros advogados no que parecia ser um dos fóruns que ele costumava ter que representar. A conversa era irrisória e cheia de termos do direito que eu não compreendia muito bem, nem minha mãe, que estava franzindo a testa.

— Ele está trabalhando — eu lhe expliquei. E continuei, tentando explicar da mesma forma que fizera com meu pai: — Ele trabalha ajudando a justiça. Então, eles se vestem mais formais e falam palavras complicadas.

Ela sorriu e concordou com a cabeça em um aceno gracioso.

— Quase como nós — disse. Acabei rindo. — Ele é muito bonito.

Voltei a olhar para ele e deixei-me sorrir a saudade que estava sentindo.

— Ele é uma pessoa incrível — contei-lhe. — Vou sentir saudades — deixei minha mão se movimentar pela água, como se quisesse acariciar seu rosto. Minha desatenção fez a visão de dissipar e suspirei. — Mas estou tranquila agora — prometi. — Fiz tudo o que poderia ter feito para que ele saiba que eu o amo e o amarei para sempre. Sei que ele vai ficar bem também. Ele continua trabalhando... — continuei, para me convencer. — Da outra vez, tinha largado tudo.

Minha mãe abaixou o olhar e a maneira com que seus ombros caíram me informou que estava pensando sobre meu pai e o que havia entre eles. Voltei a me sentar, dando-lhe alguns segundos de privacidade para seus pensamentos, mas ela levantou o olhar assim que me acomodei.

— Não quero tomar muito seu tempo agora, creio que há outras pessoas que queiram te ver e que você queira ver, também — sorriu para mim. — Mas depois prometo que irei lhe visitar para saber mais. Por agora... preciso ser sua rainha por alguns momentos.

Engoli a seco com o aviso e concordei com a cabeça, compreendendo a forma com que ela estava lidando com nossa relação. Tinha se dividido em duas, mãe e rainha, para tentar se aproximar. Se tinha funcionado com Kieran, iria funcionar para mim, também.

— Você teve um início turbulento aqui em Castelo Alado, Michelle — começou. Até mesmo seu tom de voz tinha mudado para algo mais grave e poderoso. — Entendo hoje o motivo, mas isso não facilitou as coisas para nós. Você fez amizades e conquistou a admiração de algumas pessoas, mas também criou inimizades, principalmente dentre fadas de mais idade. Sua primeira fuga e sua ida para o retiro élfico — ela fez uma pausa, enquanto eu concordava com a cabeça, dizendo que estava ciente do plano. — Também não ajudaram; houveram boatos que sua fidelidade está mais vinculada aos elfos que a nós; sua nova... Coloração também vai te atrapalhar. Você teve o que queria. Você realizou seus desejos e caprichos da juventude e agora... agora não pode falhar — seu olhar era firme em cima de mim e eu não tinha escolha alguma além de concordar com a cabeça. — Preciso que controle seu gênio, que seja impecável, estudiosa, harmoniosa e que impressione seus professores. Evite passar muitas horas em seu quarto, deixe ser vista, transite pelos castelos, pelo jardim, vá até as vilas mais próximas. Você vai precisar conquistar o apoio de todos. Como estão seus conhecimentos élficos?

A pergunta me pegou desprevenida no meio da ligeira bronca e demorei alguns segundos antes de me reunir para responder:

— Já terminei a leitura do que meu pai me passou — contei-lhe. — Estou terminando a segunda leitura. Consigo fazer algumas coisas novas... posso mostrar, se quiser. Mas meu pai pediu que eu não fizesse.

Kathelynn franziu as sobrancelhas e parte da máscara de rainha se dissipou, voltando a suavidade do olhar que tinha antes, mas com um resquício de ciúmes. Ela sabia que o tempo em que estivera distante tinha feito com que eu desenvolvesse minha relação com meu pai muito rapidamente.

— Por quê? — perguntou, confusa.

Tharlion nada tinha dito sobre o que fazer com a minha mãe, apenas pediu que confiasse em Kieran e Lorena, mas, por algum motivo, não tive dúvidas que poderia confiar nela e, com um assombro, percebi que era a intuição do fogo.

— Ele disse que eu sou muito mais poderosa do que ele achava — confessei, minha voz mais baixa, com medo que alguém pudesse ouvir. — Que as pessoas podem ficar com medo se virem o que eu posso fazer. Eu não... eu não sabia. Sabia que era poderosa. Quando fugi, percebi que tinha mais poder do que achava, mas não sabia que era... tão diferente — dei de ombros. — Meu pai pediu pra não mostrar.

Kathelynn estava indecisa entre a preocupação e me tranquilizar. Ela concordou com a cabeça e arriscou um sorriso.

— Pode me mostrar, Michelle? — pediu.

Mordi o lábio e concordei com a cabeça. Pensei um pouco no que meu pai me disse, de evitar usar terra e fogo nas fadas, mas minha decisão foi pelo elemento que teria mais facilidade em demonstrar ali, não por cuidado.

— Vento — chamei. — Minha mãe quer saber o quanto podemos fazer juntos. Por favor, seja gentil, não estou em perigo.

Fechei os olhos e deixei-o preencher o escritório, levantando meus cabelos. Ouvi barulhos e abri-os para ver o vento levantar papéis, derrubar livros e objetos mais leves. Para minha surpresa, minha mãe tinha um sorriso no rosto.

— É o vento, o seu elemento? — gritou em minha direção, sob a confusão.

Com um aceno, pedi que o vento cessasse. O escritório estava ainda mais bagunçado que o normal e minha mãe estava radiante com a demonstração. Neguei com a cabeça, sob o seu olhar admirado. Com um pouco de culpa, admiti:

— O fogo é mais forte, como em meu pai — confessei. Seu olhar de admiração não cessou, mas havia um leve resquício de ciúmes. — Mas o vento vem logo depois. Eu não sou muito boa com a terra, mas depois de começar a ler o livro, eu tentei usar e meu pai disse que foi demais. Ele disse que, por eu ser do fogo, não deveria conseguir fazer tanto com a terra; ele chegou a achar que a terra era meu elemento. Disse que não é comum alguém ter controle tão alto dos dois elementos.

— E você tem dos quatro — Kathelynn murmurou. E continuou, de supetão — Como a água te responde?

Água era o elemento que ela mais tinha intimidade, então era normal que tivesse a curiosidade.

— Bem — respondi a verdade. — Muito bem, mas ar e fogo me respondem melhor — para completar, continuei. — Kieran é melhor com a água que eu e acho que ele ainda nem chegou na sua maturidade — ela concordou. — As últimas vezes que usei a água, pedi que ela atendesse Kieran. Nós fizemos uma tempestade, uma vez.

— Uma tempestade? — parecia impressionada. — Aquela da noite em que fugiram? — concordei com a cabeça. — Foi uma baita tempestade, completamente fora de época, mas nunca imaginei que pudesse ser mágica...

— Fomos nós — sorri, orgulhosa. — Nos escondemos atrás de uma queda de uma cachoeira e sugeri que a gente tentasse. Eu chamei o vento, Kieran a água, e deu certo.

Kathelynn ainda me encarava com uma expressão de total admiração e demorou longos segundos de silêncio até que ela se desmanchasse, deixando a rainha retornar a conversa.

— Tharlion tem razão — disse, por fim. — É perigoso que saibam que você tem tantos poderes, tão fortes. Ainda mais quando estão pensando se vão confiar em você ou não, então tome cuidado — ela tentou recolher alguns papeis que tinham se espalhado pela mesa e um, em específico, que afundara na bacia de água. — Vou marcar mais sessões pessoais comigo, não só para política, mas para cuidarmos dos seus poderes. Seu pai lhe deu algo para trabalhar com o fogo?

Concordei com a cabeça e, percebendo que minha mãe gostava de demonstrações, tentei:

— Luz — chamei. Era a segunda vez que fazia, mas não me saí muito melhor que a primeira. O fogo de luz foi maior e menos compacto que a que ele me demonstrou. — Ele disse que isso era o suficiente pra manter o fogo em controle até ele poder me treinar — a bola de luz era mais instável e difícil de controlar, também, mas deixei-a seguir em direção à minha mãe e, com um desajeito, desmanchou-se em sua testa. — Desculpe. Ainda estou aprendendo a controlar.

Ao invés de se zangar, ela sorriu.

— Está tudo bem, filha — disse, demonstrando que minha mãe estava de volta. Eu ia demorar um pouco para me acostumar com aquela montanha russa. — Faça o que eu disse, sim? Se esforce nas suas aulas, conquiste o respeito delas. Suas conselheiras estão todas subindo de cargos, conquistando novas responsabilidades e eu quero que você faça isso mais rápido que elas. Você acha que consegue?

Demorei um pouco para ceder, ainda acostumada a me sentir intimidada e indesejada em sua presença, mas a suavidade em seu olhar e a demonstração desajeitada de afeto, seu esforço em pelo menos tentar ser minha mãe, foi o que me fez sorrir e concordar com a cabeça.

— Consigo, sim.

Com despedidas sutis, minha mãe me liberou para ir ao meu quarto, me dizendo que tinha uma surpresa para mim; realmente tinha. Minhas amigas estavam reunidas em meu quarto e gritaram ao me ver chegar. Kieran já estava lá, à uma distância segura, investigando a comida, mas tinha se dado o trabalho em avisar para não encostarem em minhas costas.

— Que saudade! — Siena pulou por cima de mim, abraçando-me pelos ombros, mas foi arrancada por Lorena logo a seguir — Oh, desculpe — riu-se. — Por favor, me conte tudo!

— Sem monopolizar, borboleta — Lorena avisou. Se aproximou e me abraçou pela cintura. — Sei que já nos vimos, mas eu estava de serviço.

Soltei uma risada.

— Eu percebi, vossa alteza, o que é isso? — perguntei, divertida.

— Foram ordens da rainha — Ellen empurrou as duas de leve para chegar até mim. — Está tudo bem?

— Agora está — respondi, aceitando o beijo em minha bochecha. — Olá, Sophia — cumprimentei-a.

— Oi — respondeu-me. Surpreendendo, se aproximou e também me abraçou de leve.

Haviam mesas e cadeiras colocadas em meu quarto, além de quitutes e algumas bebidas que ainda não tinha provado e foi com surpresa que percebi Siena um pouco bêbada meia hora mais tarde — não pareciam conter álcool. Com calma, contei a história toda novamente, mas algumas delas estavam ouvindo a história de Guilherme pela primeira vez. Perdi a atenção de Siena e Kieran em algum momento e, franzi a testa vendo os dois saindo juntos do quarto, sendo que Kieran mal conseguira me dizer como ela estava antes. Pegando meu olhar, Lorena fez sinal com as duas mãos, fingindo que estavam se beijando e eu deixei meu queixo cair.

A nossa pequena festa foi até metade da noite, com comidas, papos em dia e um pouco de bebida. Até mesmo Sophia deixou-se relaxar e conversou um pouco; a verde tinha melhorado bastante sua timidez (ou podia ser por causa da bebida). Ellen contou sobre o seu estudo e eu aproveitei para pedir para ela tentar alguma coisa com minhas asas no dia seguinte e ela ficou bastante feliz em encontrar uma cobaia. Lorena relatou sobre o período que ela treinou com os elfos e também acabou falando do pequeno affair que Siena e Kieran estavam tendo.

— Ah, sei lá quando começou — contou, assim que eu a encurralei.

— Foi ano passado — Sophia respondeu, me surpreendendo. — Quando a mãe dela descobriu que ela fugia pra Estamina e disse que ela era muito nova para ver humanos.

— Ah, é verdade — Lorena concordou, observando Ellen dançar sozinha, desengonçada e com um copo de bebida na mão. — Ela só fazia chorar e só o pequeno elfo tinha paciência pra ela.

Sophia balançou a cabeça, como se precisasse de um pouco de paciência para lidar com as ironias práticas de Lorena.

— Não sei quando começou, mas foi por aí — Sophia continuou, vendo que Lorena não estava ajudando muito com a minha curiosidade. — Mas eles não se dão muito bem, vivem brigados. Não sei dizer o motivo.

— Ela ainda gosta do humano dela — Lorena resmungou, ciumenta. Percebi que, embora não nutrisse os sentimentos amorosos que o jovem Kieran desejava, antes da minha jornada para Terra, era bastante protetora e muito amiga. — E fica usando ele como tapa buraco quando ela está triste. Ele estava querendo assumir que eles estavam juntos, mas a borboleta ficou com medo da mãe, das pessoas, do tal do humano querer voltar com ela — Lorena estava com raiva e percebi que não deveria ter sido fácil para Kieran lidar com a sua segunda rejeição e por isso pouco me contara sobre a rosa.

— Pobre Kieran — Sophia disse as palavras que eu queria dizer. — Ele é tão gentil e é bonito. As meninas da turma nova vivem suspirando por ele.

— Meninas novas? — perguntei.

Houve uma pequena confusão enquanto Sophia e Lorena estavam tentando me contar coisas diferentes ao mesmo tempo, complicações que aconteciam quando se ausenta por muito tempo.

— Chegou um grupo depois que você foi para Terra, três rosas, uma azul e uma amarela. Elas têm a idade dele — Sophia me explicou.

— Pois vamos dizer que depois dessa palhaçada da borboleta, ela não é mais a única garota da jogada — Lorena contou.

Abri e fechei a boca algumas vezes, mas preferi dar atenção à história confusa do meu irmão porque ele era mais importante que um grupo de fadas novas.

— Oh, então Kieran está se divertindo? — perguntei, rindo. Eu tinha reparado que o tempo havia feito muito bem para o meu irmão, tinha crescido, se assemelhara ainda mais ao nosso pai, com seus lindos cabelos dourados e olhos verdes como os meus e os de nossa mãe. Não era surpresa que isso tivesse quebrado o gelo que as fadas poderiam ter dele, pelo menos com as mais jovens.

— Sim, graças aos céus — Lorena resmungou. — Mas, quer saber? Ele ainda tem uma queda por ela e ela fica fazendo joguinhos com ele, tá deixando ele meio biruta das ideias — deu de ombros. — Quando viu que ele estava conversando com outras garotas, começou todo esse inferno de novo e ele nem liga, né? — riu. — De bobo não tem nada.

Deixei-me rir e guardei uma nota mental para perturbar ele mais tarde. Kieran acabou retornando para nossa festa quase uma hora mais tarde, de bochechas coradas. Sentou-se ao meu lado quando Sophia se retirou para seus aposentos, alegando estar com sono e um pouco tonta e Lorena resolveu se juntar à Ellen na dança imaginária. Ele tinha recolhido alguns quitudes na mesa antes de se sentar e empurrei-o com o ombro, olhando para ele de rabo de olho.

— O que foi? — perguntou, já se acusando.

— Eu não falei nada — fiz-me de inocente. — Mas já me contaram tudo e eu acho que você é um safado.

Kieran entortou a cara e me deu língua. Aproveitei para roubar três bolinhos de carne de coelho.

— Não fala nada não, vai — pediu.

Sabia que Lorena já devia comer ele na língua por conta daquilo e estava contente que ela tivesse ocupado meu lugar em minha ausência, mas eu estava de volta e falar nada não era uma opção para mim em quase nenhum dos momentos. Com um pouco de esforço e levemente anestesiada pela quantidade de bebida que tinha ingerido, passei meu braço pelos seus ombros.

— Ah, eu me lembro como era ter dezessete — contei, como se muitos anos tivessem passado, mas fora há apenas quatro. — Já estava com o Gui, na verdade — embolei-me, lembrando que Guilherme e eu começamos a namorar quando eu estava com dezesseis. — Mas antes disso... Ah...

Kieran começou a rir do nada. Afastou-se do meu abraço e beijou meu nariz.

 — Acho que você deveria ir dormir, vai ser melhor — divertiu-se às minhas custas.

E como um grande estraga festas, levou minhas amigas embora e me obrigou a ir deitar.

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