Capítulo Três: O plano

Capítulo Três

O plano

Tharlion partiu no fim de semana seguinte, após alguns dias tentando me conhecer melhor e matar a saudade de Kieran. Kathelynn lhe dera um quarto bem afastado de nós, mas ele passara todas as noites em meu quarto, ao menos até me fazer dormi e, quando partiu, afirmando que já tinha ofendido minha mãe o suficiente para ela odiá-lo pelo resto da eternidade, deixou-me um lenço amarelo, do tom correto de seus olhos, dizendo que esperava que isso me fizesse continuar a dormir bem.

O lenço não era tão efetivo quanto sua presença, mas me conectava com ele, permitindo que os pesadelos não atacassem meu sono.

Kathelynn não ficou feliz em ser ofuscada pelo carisma de Tharlion, principalmente com a conexão que ele tivera instantaneamente por mim, nem com a adoração de Kieran tinha por ele. Ela tentou se fazer presente, forçar sua participação em alguns de nossos jogos em meu confinamento, mas nenhuma de suas incursões fora bem-sucedida, normalmente terminava em alguém chateado ou magoado e com todos se sentindo meio fora de lugar.

Pude sentir seu alívio quando meu pai foi embora para Alvorada. E, tão logo ele partiu, Kathelynn nos deixou de lado. Se Tharlion não estava por perto, seu território estava seguro e ela não precisava mais se fazer presente.

 Quão enganada estava.

— Fique bem sabendo que eu estou avisado que você não pode sair daqui sem mim – Kieran soltou, sem nenhuma cerimônia, enquanto eu admirava a janela do meu quarto, agarrada ao meu lenço dourado, imaginando quando e como meu pai me mandaria a mensagem que me permitiria sair dali.

Eu olhei-o, já achando graça, sentado na minha cama, arremessando um bolinho para o alto e o pegando, apenas por diversão. Nós dois andávamos muito entediados esses dias. Eu ainda não conquistara minha permissão de sair e Kieran se recusava a participar das aulas sem minha companhia. Até mesmo Lil não conseguia ficar muito tempo conosco e Kieran relatara que ela andava coando atrás de Siena por aí.

— Que bom, Kie – ironizei, revirando os olhos.

Por mais que meu pai achasse necessário Kieran nos acompanhar, eu não o queria em uma aventura na floresta. A minha última não tinha terminado muito bem e não sabia como reagiria se Kieran estivesse nas mãos do etorns. Ou pior, se Kieran acabasse sozinho com eles.

Kieran cerrou os olhos para mim e, embora soubesse que teria problemas em sair sem ele, ainda esperava que ele se mantivesse apenas na suspeita que eu planejava alguma coisa.

— Tô falando sério, Mi – avisou. – Papai falou que é pra irmos juntos, que é muito perigoso você andar sozinha por aí de novo.

Suspirei e achei que era melhor deixá-lo acreditar que o chamaria quando estivesse saindo. Caminhei até a cama, capturei o bolinho com o vento e peguei-o, mordendo.

— Eu sei, Kie – cortei-o. – Não vou fazer isso de novo, está bem?

Kieran tentou pegar o bolinho das minhas mãos, mas me afastei da cama, rindo.

— Não vai mais fugir ou pegar o meu bolinho? – perguntou-me.

Revirei os olhos.

— Esse é o meu bolinho – reclamei – Você comeu o seu no seu quarto e veio aqui fingindo que era pra me acordar quando na verdade só queria comer meu café da manhã.

Ele riu. Tenho certeza que aquele fora mesmo seu plano, porém pareceu não se importar. Tinha outro bolinho na minha bandeja. Deixei-o me vencer.

Era segunda-feira de manhã e estava na expectativa de ser liberada do meu cárcere privado para poder ver as meninas. Durante toda a semana, minha mãe dissera que eu estava sob observação, mas minha perna estava totalmente recuperada desde que meu pai encostara nela. Mesmo assim, aceitei. Era mais cômodo me manter em meu quarto com a companhia fácil de Kieran e Tharlion, mas agora meu pai se fora e meu cárcere estava entediante demais.

Foi com um suspiro de alívio que vi Violeta botar a cabeça para dentro do meu quarto com um sorriso de quem sabia o que eu estava sentindo.

— Pra aula, crianças – anunciou simplesmente, antes de sumir.

Encarei Kieran só por um segundo, antes de abrirmos sorrisos idênticos e catarmos nossos cadernos. Tivemos uma pequena guerra sobre quem ia sair primeiro pela porta, apenas pela diversão, enquanto as duas fadas azuis que estavam de guarda no meu quarto, uma responsável por mim e outra por Kieran, riam deliberadamente.

E aí começou a surpresa. Quando demos cinco passos no corredor, ao invés delas ficarem às portas dos nossos quartos ou seguirem para suas outras atividades, elas nos seguiram. Encarei Kieran, suspeitando, mas ele apenas deu de ombros, não entendendo nada também.

Então, por detrás de uma porta, no fim do corredor, estava Siena, que nos assustou e pulou sobre mim sem esperar que eu fosse quase morrer do coração com a surpresa.

— Ah! – gritou, antes de passar os braços pelo meu pescoço, me puxando em um abraço muito estranho que correspondi com um pouco de cuidado. – Michelle! Você está bem? O que há de errado com você? Eles arrancaram seu cabelo? – e, dizendo isso, ela inspecionava cada parte do meu corpo que não havia sido coberto pelos panos do vestido branco que vestia, um dos que meu pai tivera a gentileza de me ceder.

É claro, aquilo era apenas uma conspiração para Kathelynn ficar com raiva, mas nenhum de nós falou uma palavra sobre. Era um trato mudo e muito bem compreendido, pois Kieran também estava usando branco.

— Eu estou bem, Si – acalmei-a. – Olhe – dei um giro ao redor de mim mesma. – Inteira.

Pensei no pânico que Siena causaria se me visse antes da minha perna estar curada.

— Ah, eu tive tanto medo quando vi você com eles! – chorou. – Eles estavam falando coisas horríveis como comer cérebros e você estava lá com uma cara tão assustada. Achei que eles iam comer você!

Estava prestes a narrar para Siena uma versão mais simples e menos medonha da noite que passara com os etorns quando a fada azul que estava fazendo a minha guarda pigarreou. Olhei para ela, sem entender.

— Quais são as ordens da rainha Kathelynn, princesa? – perguntou-me, antes que tivesse a oportunidade.

Siena estava me encarando, sem entender nada. Preferi que continuasse assim.

— Não foi nada demais – confirmei. – Estou bem, viu?

Kieran passou o braço pelo meu ombro e fez o favor de me sacudir.

— Nenhum barulho – caçoou. – Inteira.

Cerrei meus olhos em sua direção antes de me deixar acompanhar a gargalhada que ele e Siena estavam dando.

Foi desconfortável me acostumar com os olhares novamente. Depois de alguns meses, a maioria dos curiosos e temerosos olhares tinham se dissipado, só para se multiplicar após minha aventura na floresta. Senti olhares de medo e suspeita, mas tentei fingir que não eram comigo.

Ver todas as meninas foi ótimo. Siera era um show a parte, ocupando parte do dia com suas conversas bobas e seus medos por mim. Lorena ainda estava sem jeito, mas sorriu e acenou para mim à distância enquanto Ellen me bombardeava com perguntas que não pude responder. Sua curiosidade, sempre tão latente, acabou nublando suainteligência emocional, fazendo com que demorasse a perceber o motivo das minhas respostas evasivas. Assim que compreendeu que eu estava seguindo ordens, se calou com um sorriso triste e passou a mão pelos meus cabelos em um carinho afetuso.

Sophia, porém, foi quem me surpreendeu. Assim que me viu, soltou uma expressão de emoção digna de Siena, correu até mim e me deu um abraço. No instante seguinte, corou e me evitou pelo resto do dia, o que apenas me fez rir.

Assim passou-se a semana, lidando com os olhares, matando as saudades e tentando responder algumas perguntas de Ellen sobre os etorns da maneira mais escondida que conseguíamos.

Não surpreendi-me ao ver que a aula de quarta-feira, com a minha mãe, havia sido cancelada. Sexta, porém, quando estava em meu quarto na tarde livre, pronta para sair e tentar ver Guilherme no lago, ela irrompeu em meu quarto e deixei meu queixo cair.

— Aonde você vai? – questionou.

Não entendi a pergunta até perceber que estava com minhas botas de caça e minha mochila jogada em cima da cama, com algumas coisas que achei que poderia precisar na floresta.

— Caçar – respondi, de forma inocente. – Kie e eu pensamos que poderíamos tentar fazer algo de útil na floresta hoje.

Não era bem verdade. Eu estava saindo para ver Guilherme e Kieran estava revirando os olhos para isso, mas tinha decidido me acompanhar apenas para prevenir que não fugiria sem ele.

— Sim – Kathelynn aliviou-se, quase como se repreendesse a si mesma pela pergunta. – É o que vocês fazem nas sextas à tarde. Esqueci-me.

Nem parecia que, duas semanas atrás, naquele mesmo horário, Kieran e eu estivemos atrás de cestas de colheita para estudar plantas. Tanta coisa havia mudado desde então...

— É – respondi. – A gente sai por aí e Kieran me mostra umas plantas mortas. Nada muito excitante.

Eu estava ajeitando o lugar onde colocaria a minha faca de caça. Havia aprendido que era melhor mantê-la comigo que dentro da mochila. Kathelynn pareceu ignorar que estivesse me preparando para sair e sentou-se em uma cama, admirando-me.

— Eu estive com medo de que você saísse e jamais voltasse – confessou. Parei de apertar o case para faca ao lado do meu bolso para encará-la. – Agora acho que, na primeira oportunidade, você irá sair daqui para encontro do seu pai.

Cerrei meus olhos para ela. Estava achando que aquilo era um jogo para me amolecer, para evitar que eu tomasse a decisão que todo mundo sabia qual seria.

— Você não parece se importar muito com isso – rosnei, cruel. Pude vê-la torcer os lábios e percebi que tinha magoado seus sentimentos. – Você não demonstra muita preocupação, só territorialismo. Eu não pertenço a você para você governar minha vida de longe – senti o fogo dentro de mim e suspirei, controlando-o. – Eu não sou um objeto.

— Seu pai me disse isso uma vez – sussurrou. – Disse que não podia ser controlado.

devia estar com o fogo brilhando em meus olhos, enquanto tentava controlá-lo.

— Será que é por isso que vocês não estão mais juntos? – questionei. – Por que você não conseguiu usá-lo como uma de suas peças de quebra-cabeça?

Ela se levantou e segurou meu braço antes que pudesse sair pela porta, batendo os pés com a raiva que sentia por seu desleixi. Senti o fogo queimar, pedir para me proteger, mas ela era a minha mãe e pedi que retrocedesse. Além de tudo, Tharlion havia pedido para que eu não usasse o fogo enquanto ele não pudesse me ensinar.

Eu não estava usando, mas desde que o havia descoberto, ele estava por ali, tentando a todo custo ser útil.

— Michelle – chamou. – O que houve comigo e com seu pai não é nada parecido com o que há entre nós duas. Eu queria que fôssemos amigas.

Fechei os olhos, ainda tentando me controlar. Resolvi ser sincera.

— Se você não me soltar agora, posso acabar queimando todo o quarto – soltou-me assustada. – Sou a bomba relógio que todo mundo sempre disseram – passei minhas mãos em meu rosto e deixei-me sentar na cama. – Meu pai disse que, em alguns anos, poderei ir à Alvorada e aprender a controlar. Mas estou sempre tão propensa a... – Grunhi.

Kathelynn suspirou e sentou-se ao meu lado. Com cuidado, passou os braços ao meu redor e puxou-me para seu colo. Todos os sentimentos de decepção, raiva e tristeza que tinha por ela, não me permitiram ceder e abraçá-la de volta. De alguma maneira, ainda achava que aquilo não era real. Que tinha algo por trás.

— Eu sei – murmurou. – Eu sinto muito, mas você não pode ir ainda. Tenho todo um plano para você e Kieran e preciso que vocês façam o que eu peço, quando peço. Tenho trabalhado dia e noite para que vocês tenham a oportunidade que não tive.

“Quando eu era mais nova, eu queria mudar o mundo. Tudo parecia cruel e errado, ao meu ver.” Ela riu, tristemente. “E ainda é. Mas tudo era tão rústico, as regras tão apertadas. Minha mãe quase pereceu de tristeza quando teve que m****r matar o bebê de uma de suas conselheiras.” Soltou o abraço para me encarar. “E, então, tinha o seu pai. Ele já era líder dos elfos há alguns anos quando me transformei. Sempre muito bonito, educado, cativante... Não era difícil gostar dele. A surpresa foi... Que ele me correspondia.”

“Nos encontramos por todo o meu treinamento. Poucas vezes ao ano, não era o suficiente, mas era o possível. Foram vinte anos, antes que minha mãe achasse que eu estava pronta e fosse para transição. Dez anos antes do previsto. Eu não estava pronta.” Ela sorriu-me, tristemente e eu estava encantada com a história que me contava. Eu sentia sua sinceridade e isso me assombrava. “Ficou um pouco mais complicado para o seu pai e eu. Como era mais nova que o previsto, haviam muitas fadas do Conselho da Fadas atrás de mim, querendo que eu fizesse a coisa certa... Era muito mais complicado do que podia imaginar e acreditei que eu não era a pessoa certa. Ficamos uns anos sem nos ver, seu pai e eu. Nos vimos, finalmente, na reunião dos governantes. Mas fui um pouco descuidada e... Soraya, a mãe de Lorena, acabou nos ouvindo conversar. E foi assim que começou a rebelião. Algumas só queriam uma desculpa para não precisar me seguir, para ver uma azul governar... Soraya tentou convencer Violeta a se juntar a elas e foi assim que descobrimos. Foi uma grande confusão, banir todas aquelas fadas e eu tenho certeza que ainda há um bocado delas por aí, esperando uma faísca para fazer uma nova rebelião. E é possível que isso aconteça quando você for coroada.” Ela olhou em meus olhos e sorriu, levando a mão ao meu rosto. “Tharlion e eu decidimos tomar mais cuidado, mas você foi gerada na reunião dos governantes seguinte. Foi perigoso, esconder a gravidez, mas,assim que minha barriga começou a crescer, eu disse que precisava fazer uma viagem. Violeta e eu. Até que você nasceu e era o bebê mais lindo de todo o mundo. Seu pai ficou tão animado. Queria criar você. Eu invejei essa possibilidade na hora. Fui egoísta. Eu não podia cuidar de você, então disse-lhe que era mais seguro você crescer na Terra. Era, sim, mas eu sabia que ele seria extremamente cuidadoso com você, se ele o criasse. Eu o convenci. Nós fizemos todos os feitiços de proteção que conseguíamos e mandamos você para lá, na esperança de que fosse bem cuidada.”

“Kieran não era para acontecer. Nós sabíamos que era perigoso demais, mas, mesmo assim, acabou acontecendo. Dessa vez, não consegui mentir sobre uma viagem, então fingi a gravidez de um humano qualquer e, quando Kieran nasceu, eu estava pronta para enviá-lo à Terra, junto a você. Tudo preparado, um barco à noite e escondido de todos. Foi quando seu pai apareceu e levou-o. Tivemos uma discussão e ele o levou. Nunca o perdoei por tê-lo tirado de mim.”

Ela parou de falar e não me contive.

— Você ainda o ama – sussurrei, percebendo pela sua maneira de falar.

Ela concordou com a cabeça e percebi que seus olhos estavam molhados de lágrimas que escondera por muito tempo.

— Ele não é difícil de amoar. Vou amá-lo por todo o tempo em que eu viver – confessou. – Desejei, por todos esses anos, que quando vocês estivessem juntos, você e Kieran, talvez nós dois pudéssemos tentar novamente. Mas não posso me dar esse luxo, seria arriscar vocês dois, acima de qualquer coisa. Há coisas mais importantes do que meus sentimentos agora – sorriu-me. – Como acabar com todo o preconceito que há por vocês dois serem diferentes, antes que você assuma o seu reinado.

Orgulho. Era isso que havia arruinado o relacionamento dos meus pais. Medo. Insegurança. E era ela continuava cometendo os mesmos erros com seus próprios filhos.

Conseguia entender melhor agora o porquê era tão distante. Kieran parecia demais com Tharlion para se ignorar. Ele tinha sua aparência, sua gentileza e inteligência; com o tempo e a maturidade, sem dúvidas acabaria herdando o carisma também. Já eu era a figura da parte selvagem de nosso pai, a coragem, a ousadia, a incapacidade de aceitar as injustiças... Deveria doer que trouxéssemos tantas lembranças boas para ela.

— E valeu a pena? – perguntei-lhe. – Fingir que não há mais nada?

Ela abaixou a cabeça e balançou-a, afirmativamente.

— Quando você for rainha de Lammertia, Michelle, espero que seu pai me acompanhe na transição, deixando seu lugar para Kieran – sorriu, docemente. – E nós teremos todo o tempo do mundo. Enquanto isso, vou moldando tudo para vocês. – cautelosamente, segurou minha mão, acompanhando para ver se eu não reagiria de forma negativa. – Quando você for rainha, poderá mudar tudo que está errado agora. Você é maravilhosa, tem tudo que é de melhor de mim e tudo que é de melhor nele. Você vai ser a melhor de todas as que já passaram por nós, eu tenho certeza. – segurou em meu queixo. – Só preciso que você tenha um pouco mais de paciência. Que seja um pouco mais água que fogo, por hora. 

Abaixei o olhar, envergonhada, mas concordei com a cabeça, sem querer desmentir suas palavras. Minha herança fádica era o ar, não a água, que era a dela.

Ela abraçou-me e correspondi, meio sem jeito. Não sentia por ela nem metade do afeto que meu pai despertara em mim em tão poucos dias. Por sorte, a batida na porta fez com que aquela demonstração de afeto logo findasse.

Violeta entrou, parecendo estranhar a presença de Kathelynn ali, mas nada disse.

— Chegou um mensageiro de Alvorada e ele está se recusando a entregar a mensagem a qualquer um que não seja a princesa das fadas e dos elfos – fez aspas com as mãos, demonstrando um pouco de ironia, que me fez rir.

O mensageiro entrou logo atrás dela, os cabelos eram negros e curtos, deixando suas orelhas pontudas amostra. Os olhos dourados, me avaliaram por um momento, antes que fizesse uma reverência.

Kathelynn se levantou e passou a mão pelos meus cabelos.

— Pense no que lhe disse – pediu.

E, com isso, ela e Violeta saíram do quarto. O elfo desfez sua reverência e caminhou até mim. Achei que estava sendo um pouco mal-educada e levantei-me.

— É um prazer conhece-la, princesa – disse.

Reverenciou-me novamente e estendeu-me a carta que segurava. Estava prestes a pedir que ele mesmo lesse a carta para mim quando consegui entender o endereçamento. Para minha filha, Michelle Aureat Lammert.

— Obrigada – agradeci. – Também é um prazer lhe conhecer.

Ele voltou a ficar ereto e, sem eu lhe dizer mais nada, retirou-se. Pensei em lhe perguntar seu nome, mas, antes que eu pudesse, já havia ido.

Abri a carta.

Filha,

Pedi que meu amigo mago enfeitiçasse essa carta para que ela não precisasse ser reproduzida a você em voz alta. Tudo precisa ser o mais silencioso possível para que você consiga o que quer.

Estou partindo de Mandraca nesse momento, acredito que você receberá essa carta quando eu estiver chegando à Grandpelo. Não me demorarei, por isso peço que saia imediatamente.

Não carregue muitas coisas, não haverá de ser necessário. Nosso castelo, em Alvorada, terá tudo que precisar. Leve um pouco de comida, água e um agasalho. Não haverá necessidade de um mapa. Kieran e Princesa saberão o caminho melhor que qualquer pedaço de papel.

Seja cautelosa. Não saia sem seu irmão. Não tome nenhuma atitude precipitada.

Escreva uma carta para sua mãe. Há um pergaminho em branco junto com essa carta para que ela consiga entender o que escrever. Diga-lhe que precisou de ajuda com o fogo, que você não estava mais conseguindo se conter. Ela sabe que isso é perigoso o suficiente para não se meter por alguns dias. Quando você partir para a Terra, eu lhe contarei a verdade. Tenho certeza que ela se deixará entender.

Espero chegar a Alvorada antes de você, mas se chegar primeiro, esteja preparada para sair imediatamente. E preciso que você seja cordial com todos os elfos que encontrar, por mais hostis que eles possam ser. Cative-os, mostre a eles a pessoa maravilhosa que é. Por mais que seja por pouco tempo, já será um caminho andado para o futuro.

Espero que tudo dê certo para nós.

Com amor,

Tharlion Aureat.

Fechei a carta com o maior sorriso que poderia encontrar em mim. Estava na hora de tudo começar a funcionar.

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