Contos de uma Fada 2 - A Nascente das Montanhas
Contos de uma Fada 2 - A Nascente das Montanhas
Por: Letícia Black
Capítulo Um: O retorno

Capítulo Um

O retorno

Estava na floresta, colhendo água para beber. Havia um coelho próximo, pulando entre a área verde e sem árvores que demarcava o entorno do lago. Eu podia ouvir um cavalo, provavelmente Princesa, trotando muito próximo. Na água, o rosto de Guilherme estava onde deveria refletir o meu, sorrindo de um jeito mágico que sabia que ele só reservava a mim.

Eu estava feliz. Sorri para a imagem de Guilherme no lago e meneei a cabeça, vendo-a se transformar.

Que coisa estranha! Pensei.

E, então, a água toda ficou preta e o rosto de Ed se formou no lugar de Guilherme. Senti meu coração disparar, estava em perigo. O que iria fazer agora?

Acordei em um salto, sentando-me na cama, só para então berrar de dor com o osso da minha coxa. Com todo o cuidado que pude, voltei a deitar, a respiração acelerada, mas bem mais calma ao notar que fora apenas um sonho ruim.

Analisei meu quarto, tudo parecia do jeito que eu deixara. Lil estava dormindo, cansada, deitada na cabeceira da minha cama de um jeito que imaginei que ela estivesse tentando se manter acordada para me vigiar, mas tinha rendido-se ao cansaço.

Levei a mão à minha perna e encontrei-a presa entre pedaços de madeira, me imobilizando. Isso só podia significar que Kieran ainda não tinha vindo até mim ou não tivera sucesso. Aquilo era trabalho de alguma amarela. Sentiria menos dor se Kieran ao menos tivesse encostado em mim.

Deixei-me afundar na cama, mas aprumei os ouvidos, ouvindo uma movimentação no corredor. Logo em seguida, a porta de meu quarto de abriu e vi os cabelos dourados de meu irmão surgirem por ela.

— Ei! – cumprimentou-me.

— Ei – murmurei.

Ele caminhou até a minha cama e sentou-se ao meu lado. Disfarcei que o balanço da cama me incomodara, mas Kieran estava encarando minha perna como se estivesse entendendo.

— Estávamos todos preocupados – disse. Passou os dedos pelos meus cabelos, quase como se quisesse acreditar que era real, que estava ali. – Siena te viu com os etorns naquele troço da água que ela faz. Saiu berrando atrás da nossa mãe. Você tem que ver o quão nervosa ela está até agora.

Sorri, imaginando. Siena exagerava as coisas e não era de se espantar que continuasse nervosa. Só ia se acalmar quando me visse. Ou não, já que eu tinha aquela droga de perna que, provavelmente, a deixaria mais nervosa ainda.

— Por que elas não estão aqui também? – perguntei.

Ele sorriu, provavelmente com o meu tom infantil de ei, estou doente. Por que não estão me dando atenção?

— Estão proibidas de ver você – explicou. – Nem eu acho que poderia estar aqui, mas estava no corredor e a Sayana disse que você queria me ver – deu um sorriso de lado. – Acho que sei o porquê.

Concordei com a cabeça.

— Acho que preciso de ajuda com essa perna – murmurei. – Achei que te chamariam assim que eu chegasse.

Ele pôs a mão sobre a minha perna e logo senti o calor da cura pelo fogo. Infelizmente a dor não passou. Amenizou, mas ainda estava ali.

— E aí? – Perguntou-me.

Tentei mover minha perna, mas acabei fechando os olhos pela dor.

— Não muito melhor – confessei.

Eu me mexi de leve e Kieran passou as mãos pelos meus cabelos e sentou-se ao meu lado na cama, puxando meu corpo para que encostasse minha cabeça em seu peito.

— A gente tenta mais um pouco mais tarde – sussurrou. – É um osso, deve ser mais difícil pra melhorar e eu não sou muito bom nisso.

Sorri e deixei-me abraçar por Kieran, feliz por estar por perto. O calor da magia dele ainda estava em minha perna, acariciando e adormecendo um pouco a dor que sentia antes.

Nessa hora, enquanto Kieran se ajeitava para que nós dois ficássemos acordados, Lil acordou. Ela coçou seus olhinhos, chamando minha atenção para olhá-la e, quando finalmente me viu acordada, voou direto para meus cabelos e abraçou uma mecha, como se estivesse me abraçando inteira.

— Olá, Lil – disse, acariciando sua cabecinha com meu dedo indicador.

Ela afundou ainda mais em meus cabelos, parecendo bastante feliz por me ter de volta. Eu ri um bocado.

— Ah, a pequenina acordou – Kieran disse. – Ei. Não ganho abraço também?

Lil deu-lhe língua e achei que toda a guerrinha deles iria começar, mas os dois riram e ela voou até ele e deitou-se sobre sua cabeça. Os dois começaram a rir por motivo algum, até que percebi que eu deveria estar fazendo uma cara de espanto muito divertida mesmo.

— Saudade – Lil disse, olhando pra mim.

— Também senti saudades, Lil – sorri-lhe. – Mas sabe do que eu senti mais falta? – os dois me encararam, esperando. – Comida de verdade. Alguém me arruma alguma coisa?

Kieran e Lil gargalharam. Ele se levantou, ela ainda posicionada em sua cabeça, e foi para a cozinha, ver se encontrava algo decente para que eu comesse. Com sorte, achou um pouco de carne de coelho que parecia ter sido colocada ali há pouco tempo, talvez uma das cozinheiras que gostava de mim, preocupada se havia comido bem durante a minha breve passagem pela floresta e pela ilha dos infirmados.

Ele me entregou o prato e teve a decência de nada comentar sobre os meus modos um pouco vorazes na comida. Lil, por outro lado, me encarava com sua melhor feição de desagrado.

— Dois dias na floresta e você fica desesperada por comida – foi o que Kieran disse.

Eu levantei os olhos, admirada. Por alguns segundos, a informação pareceu mais importante que o buraco no meu estomago.

— Não pareceram dois dias – contrariei-o. – Pareceu uma eternidade.

Ele riu ao ver que eu voltara a me distrair com a comida. Eu deveria me importar, mas era Kieran e ele ria de tudo.

— Eu passei três anos na floresta – relembrou. – Caçava minha própria comida e não me esfomeava assim.

Revirei os olhos. Finalmente acabei de roer o resto que havia de carne no osso e abandonei o prato na cabeceira. Lil voou até a cozinha e trouxe-me um guardanapo, o que claramente me dizia que estava suja. Ocupei-me de me limpar antes de me dar o trabalho de responder.

— E eu cacei um coelho – não totalmente verdade. – Mas eu fui quase morta e esgotei toda a minha magia, então dá pra você ser só um irmão legal e me deixar em paz com a minha fome?

Ao invés de rir, como esperava que ele fizesse, Kieran fechou a cara. Só então notei que a primeira pergunta que deveria ser feita não fora e achei que ele estava evitando o assunto dos etorns. Agradeci mentalmente por isso, mas imaginei que teria que contar a mesma história várias vezes antes que me deixassem em paz.

— Foi muito ruim? – perguntou.

Era a pergunta que ele se deixaria fazer. A menos direta e que eu poderia responder sem entrar muito a fundo no assunto. Achei que eu poderia fazer melhor e abordar algo que seria do interesse dele.

— Bom, serviu pra alguma coisa – respondi. Kieran olhou para a minha perna e franziu a testa, achando que estava falando dela. – Não disso. Eu a quebrei por causa de uma magia que eu fiz...

Ele virou o rosto rapidamente para mim, a antes feição preocupada e cautelosa com assunto, agora parecia quase deliciado.

— O quê? – perguntou-me, animado. – Como assim?

Sorri-lhe, imaginando o quanto daquilo ele também poderia fazer e nunca tentara porque nunca precisara ou nunca estivera longe dos olhos observadores que esperavam um deslize para decretar nossa morte.

— Eu sou muito mais poderosa do que eu pensava. E muito mais do que nos disseram que eu seria – contei-lhe. – Você, provavelmente, a mesma coisa.

Kieran se sentou na cama sobre os joelhos, quase uma criança me implorando por uma história.

— O que você fez? – exigiu saber.

Ele estava curioso demais para se conter e embora estivesse tentada a fazê-lo sofrer por causa da zoação com a comida, achei que essa era uma coisa que precisava dividir com ele o mais rápido possível.

— Bom... Primeiro eu... botei fogo em uma pessoa porque estava com raiva. – Kieran arregalou os olhos e estava pronto para me surpreender quando meus olhos lhe disseram que não era exatamente uma pessoa. – Então eu estava presa em uma caverna no ar e fiz dois tornados pra tentar explodi-la e aí eu fiz a água voltar, não entrar na caverna.

Kieran franziu as sobrancelhas e fez sinal para que esperasse. Soube que ele não estava entendendo muito bem, então esperei sua pergunta.

— Te prenderam em uma caverna com água? – questionou.

Concordei e respirei fundo. Eu tinha que falar isso o mais normalmente que conseguisse para não assustar muito o meu irmão.

— Me prenderam em uma caverna no mar – elucidei-o. – Era para o nível do mar subir e me matar afogada. – E essa foi a maneira mais sutil que encontrei e, obviamente, o fez arregalar os olhos. – E eu fiz a água se retrair. Depois, quando a água estava tomando o lugar, eu fiz um tornado embaixo da água para conseguir respirar. Então as iaras me tiraram de lá e ainda me tirei da água e derrubei uma pessoa nela.

Kieran achou divertido a parte de derrubar uma pessoa na água, mas não entramos em detalhes. De alguma maneira que não entendia muito bem, estávamos nos comunicando por olhares e algumas palavras não precisavam ser ditas para que ele precisasse saber que não fora tão fácil assim como fazia parecer ser.

— E em qual parte disso você quebrou a perna? – riu, provavelmente pronto para fazer chacota e aliviar o assunto.

Eu sabia que a resposta ia soar demente, mas na hora era a única opção que tinha. Revirei os olhos.

— Eu me joguei do mar nas pedras de uma ilha.

Kieran gargalhou, deu tapinhas na cama e em meu braço enquanto tentava se controlar. Cheguei a sorrir, mas acabei revirando os olhos mais uma vez e soprei uma mecha de cabelo para o alto. O que me derrotou mesmo foi perceber que Lil também estava soltando risadinhas pela minha demência.

— Não passou pela sua cabeça que você... Poderia quebrar a perna? – questionou, ainda rindo.

Se não fosse Kieran a me perguntar, teria respondido que não tivera tempo de pensar nisso quando eu estava quase indo de encontro às pedras e à morte. Mas eu ainda pensava que poderia protegê-lo da verdade por mais algum tempo.

— Não – respondi. – Eu estava... ocupada.

A risada cessou-se imediatamente e ele me encarou, sério. Corei ligeiramente por tê-lo deixado perceber algo e abaixei a cabeça, culpada. Achei que ele me questionaria direto.

— Você mesmo assim não vai desistir, vai? – mudou de assunto, surpreendendo-me.

Levantei o olhar para encará-lo e neguei com a cabeça, sorrindo-lhe de leve. Kieran suspirou.

— Você sabe que não, Kie – disse. – Eu queria que você entendesse o quão importante isso é pra mim.

Ali, perto da morte, entendia mais sobre o que andara tentando fazer. Tudo aquilo que eu estava me propondo a fazer para ver Guilherme era apenas para poder enterrá-lo e aceitar que minha vida continuaria sem ele. Eu precisava, não para dar-lhe justificativas e me despedir porque ele estava sofrendo, mas para dizer adeus a toda a vida que sonhara com ele.

Sabia que só assim poderia ser uma pessoa melhor para toda aquela gente que contava comigo para governá-las.

Kieran concordou com a cabeça e veio deitar-se ao meu lado, com um suspiro cansado.

— Eu posso não entender – disse. – Mas eu vejo. Sei que é importante pelas coisas que você fez e ainda pretende fazer por ele.

Ele olhou-me de rabo de olho e virei o rosto na direção dele, sorrindo-lhe tristemente. Naquele momento, foi o segundo que parei para pensar que minha viagem teria que ser adiada por mais algum tempo, mais tempo do que gostaria de ter o luxo de fazê-lo. Senti-me sem chão.

— Tudo que eu queria era estar a caminho da Terra agora — confessei. Era muito antes do que tinha planejado em minha semana de fuga, mas era um desejo real e válido.

Kieran balançou a cabeça e o vi revirar os olhos. No segundo seguinte, ele passou o braço pelos meus ombros e se ajeitou na cama para que ficássemos ambos juntos e confortáveis. Lil, ciumenta, veio se deitar no espaço da cama entre nós dois.

— Só espero que, dessa vez, você não coma cocô e ache uma boa ideia me deixar uma carta avisando do que fez – reclamou. Olhei-lhe para ver o sorriso que eu sabia que estava em seus lábios. – Eu e Lil estávamos prontos para seguir seu rastro quando Siena te viu nos etorns. – disse-me. – Aproveite essa informação e não permita que eu pique tantas maçãs sozinho – Lil e eu rimos. – Se você não deixar que eu vá com você, vou atrás de você.

Neguei com a cabeça. Tudo o que menos queria era vê-lo envolvido na minha confusão. Se Kieran fosse pego pelos etorns também, não sabia o que teria feito.

— Não, Kieran – neguei. – Acho lindo você querer me ajudar, mas é muito, muito perigoso.

Riu. Instantaneamente, havia um tom de esperteza nele que era raro de se ver.

— Pense assim.É mais perigoso que eu esteja com você nessa ou sozinho na floresta atrás de você?

Revirei os olhos. Meu único pensamento era amarrá-lo em algum lugar para não permitir que me seguisse.

— Que seja, Kieran – resmunguei. – Não vou poder ir a lugar algum com essa perna, mesmo.

Ele riu e cutucou-me.

— Mas quando for, lembre-se. Se você fez todas essas coisas legais com magia sozinha... Não seria legal ver o que nós podemos fazer juntos?

Olhei-o, curiosa. Nós dois sorrimos com a perspectiva. Estava pensando em botar a baía dos exilados em chamas, Kieran devia sonhar em criar uma própria floresta com seus poderes.

Bocejei. Talvez a minha existente exaustão mágica estivesse falando algo contra minha ideia de magia vingativa.

Kieran beijou o topo da minha cabeça, como se estivesse satisfeito pela minha reação não muito negativa a ele ir comigo. Eu, na verdade, estava apenas sentindo o que deveria ter dormido e não dormi.

Pela primeira vez desde que acordei, olhei para minha janela. Era noite. Dormira o dia todo e continuava exausta.

Antes que resolvesse tentar dormir, a memória do meu último sonho me assolou e mudei de ideia rapidamente. Kieran olhou-me, notando minha repentina mudança, mas ambos fomos distraídos pela porta do meu quarto se abrindo.

Kathelynn entrou, cuidadosa, esperando me encontrar dormindo. Quando encarou a mim e a Kieran abraçados e totalmente despertos, franziu a testa. Mesmo assim, pareceu não se abalar e veio se sentar ao meu lado na cama.

— Como você está, querida? – perguntou-me.

— Exausta.

Fui o mais sincera que podia. Confesso que ainda estava meio mexida pela maneira materna que me tratara na carruagem, embora não tivesse amenizado a decepção que era pra mim.

Ela acariciou meu cabelo e fechei os olhos, querendo que seu toque fizesse com que eu dormisse, como antes.

— Eu queria que você me contasse o que aconteceu na ilha – pediu, de forma doce, para me convencer.

Eu não me sentiria bem contando, mas sabia que isso iria acontecer. Encarei Kieran porque a minha única preocupação era assustá-lo, mas ele estava com aquela expressão adulta, de quem já havia vivido muito, parecendo estar assim para me dar forças. Sorri, orgulhosa dele e deixei-me falar.

Kathelynn ouviu atenciosamente cada acontecimento. Falei, inclusive, de como havia achado que eles eram inocentes e que o único que parecia fundamentalmente mau era Ed. Contei sobre o corredor de bebês, evitando falar sobre o bebê élfico que me lembrara Kieran. Falei que eles queriam me coroar. Tentei amenizar a situação do fogo, mas ela franziu a testa para a situação, do mesmo jeito. Talvez preocupada de ter sido um descontrole, então voltei para falar que queria ver a mulher longe de mim para que eu conseguisse fugir e o fogo respondeu, fazendo queimar as mãos dela, que encostavam em mim. Isso pareceu menos acidental (e bem amenizado sobre o que aconteceu realmente) e pareceu deixá-la menos preocupada, então contei sobre a caverna, sobre as iaras e sobre a última batalha contra Ed, na água e como quebrara a perna contra as pedras.

Kieran ouviu atenciosamente cada palavra sem mudar sua expressão. Em alguns momentos, ouvi-o murmurar em preocupação pelo risco que eu correra, mas podia entender que era apenas um recado para que não tentasse fazer isso sozinha novamente.

— E então elas me levaram para a costa quando ele subia de volta para a ilha – terminei. – Foi tudo o que aconteceu por lá.

Kathelynn concordou com a cabeça, parecendo pensativa. Acariciou minha cabeça e continuei encarando-a, esperando pelo momento em que me decepcionaria de novo, desconfiada demais para deixar-me levar pela sua atenção.

— Acho que devemos agradecer por você estar aqui viva – murmurou. – Foi muita sorte que as iaras estivessem à disposição.

Kieran gelou com a declaração dela e quis esganá-la por tê-lo assustado. Ela não tinha ideia de como era frágil porque não se dava o trabalho de nos conhecer.

Por outro lado, embora agradecesse a ajuda das iaras, nada teria adiantado se eu não tivesse me mantendo respirando embaixo d’água e se não tivesse afastado Ed. Sorte não tinha sido tão abrangente em meu caso.

— É, Mi, foi muita sorte – Kieran disse. Sorri, notando sua ironia.

Kathelynn, por outro lado, não notou nossa cumplicidade e sorriu, como se estivesse feliz que Kieran concordasse que era perigoso. Como se isso fosse o ponto que precisava para me convencer de que eu não deveria fazer mais isso.

Eu tinha pena do quão iludida era.

— Bom... – Soltou. Antes que ela dissesse, sabia que já estava indo. – Michelle, você está suspensa das aulas porque não temos como locomover você e correr o risco de sua perna não curar como deveria – declarou. – Não estou permitindo que venham lhe visitar para evitar perguntas que possam lhe chatear ou constranger. Agora que eu sei a história, poderei reproduzir o suficiente para evitar que você passe por isso quando melhorar – franzi as sobrancelhas pela preocupação, mas, mesmo assim, concordei com a cabeça, agradecendo. Ela levantou-se. – Eu preciso ir. Descanse – beijou minha cabeça carinhosamente. – Kieran, vá para o seu quarto e deixe sua irmã dormir.

Ela saiu e Kieran estava se movimentando para segui-la. Eu encarei, esperando ver alguma diferença em seu comportamento pela história que contara, mas, aparentemente, devia ter imaginado coisas piores porque parecia quase aliviado.

Quando levantou-se, senti medo de ficar sozinha. De dormir e ter outro pesadelo. De etorns invadirem o castelo e sequestrarem Kieran para ser seu rei, já que não era digna de ser sua rainha.

Peguei-me segurando-o pelo braço, tão instintivamente que só notei o que havia feito quando ele me encarou, parecendo bastante admirado com a minha atitude.

Mordi meu lábio e soltei-o, mas ele ficou esperando minha reação seguinte.

— O que foi, Mi? – perguntou-me, finalmente. – O que você tem?

Queria pedir-lhe para dormir comigo aquela noite, mas podia imaginar o quão infantil ia soar se lhe dissesse meus motivos. Poderia dar-lhe seus próprios pesadelos se me arriscasse a contar que ele também poderia se tornar vitimas dos etorns, se descobrissem que ele também era um híbrido.

Porém, sem escolha, acabei soltando:

— Dorme comigo essa noite?

Kieran sorriu docemente à pergunta. Como esperado, não se negou. Deitou-se na cama ao meu lado e abraçou-me da melhor maneira que Lil permitiu que ele fizesse.

Dormir era um pouco mais fácil, sabendo que ele estava em segurança.

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