Capítulo 2: O frio também queima

A casa da jovem era normal. Sem luxos e exuberância. Aquela família nunca quis chamar muita atenção à vizinhança, por isso comprou várias casas na zona urbana. Ao bater a porta de casa, Peter aguardava que a mãe de Chloé ou um de seus irmãos abrisse. No entanto, quem abre é a sua amada. Para sua surpresa, ela estava em casa e de toalha. Acabava de tomar um banho bem refrescante. Mas ela parecia não querer que Peter entrasse:

— Oi amor! Tudo bem? O que fazes aqui? 

— Oi! O que fazes tu aqui? – pergunta o jovem desconfiado.

— O que queres dizer com isso?! – pergunta a jovem confusa.

— Eu decidi não ir à escola hoje, só isso! 

— Só isso? Estás doente? – pergunta Peter cético.

— Não! Apenas tinha coisas mais importantes a fazer! – responde Chloé. 

— Coisas a fazer? Ok! – diz o jovem irritado.

— Procurei por ti na tua escola e afinal estás aqui. Quem está aí? – pergunta o jovem tentando entrar. 

— Amor, eu não quero que me vejas nua... – diz a jovem.

— Relaxa, tu estás de toalha e sabes que respeito a tua virgindade! – responde o rapaz. 

— Quem está em casa?

— Ninguém meu amor... Podes vir mais tarde, por favor? – pergunta Chloé, já nervosa.

— Não, não posso! O que estás a fazer em casa? Devias estar na escola! – responde o rapaz.

— Eu já expliquei amor! Podemos falar depois, por favor? – pergunta a jovem tocando no peito do jovem. 

— Hey, o que tens nas mãos? 

— Iria fazer uma surpresa pra ti e... – vai explicando o jovem, até que é interrompido por uma voz.

— Amor, quem está aí? Estás a demorar muito, a água está fria!

— Quem é esse? – pergunta Peter empurrando Chloé.

— Amor é o meu... – tenta responder a jovem.

Peter atira o buquê de flores e chocolates nos braços da jovem e entra disparadamente em direção à casa de banho. Posto lá, encontra um rapaz completamente nú, com um preservativo na mão.

— Quem és tu? – pergunta o rapaz assustado.

— Quem és tu? Seu filho da... – responde Peter, entrando na casa de banho bruscamente. 

Então, ambos desencadearam uma confusão enorme. Rebolam no chão e Peter enche o jovem de socos, deixando seu rosto completamente inflamado. Chloé, não sabia o que fazer. Apenas esperar que parassem de lutar, gritando bastante. Foi esse o dia que Peter descobriu o tipo de namorada que tinha. Traidora e hipócrita. Era o que estava fixo na sua mente. Enquanto ela dizia guardar o seu corpo para ele, na verdade entregava-o a outros. Na verdade, ela não tinha apenas um amante mas vários. Isso fez o rapaz ter um trauma sem explicação possível. Enquanto ele se dedicava inteiramente a uma paixão, sua amada apaixonava-se pelo sexo. E assim terminou tudo. Não havia perdão para o que ela fez. Peter nunca mais ligou e nunca mais atendeu Chloé. O tempo passou, as feridas secaram e foram curadas. 

Dois anos se passaram e numa certa manhã, Peter acorda com um bilhete de seus pais:

— Filho, esperamos que esteja tudo bem contigo. Hoje teremos de viajar para os Emirados Árabes Unidos, pois nos foi informado que um grande investidor está interessado em comprar uma das nossas empresas. As chaves de casa estão na tua pasta e deixamos algum dinheiro lá também, pois vamos demorar algum tempo. Cuida-te. Beijos.

Peter já estava acostumado com esse tipo de viagens e reagiu normalmente como em qualquer outra. Afinal, ele raramente conversava com os seus pais pois ambos estavam sempre ocupados. Então, ele faz a sua habitual rotina matinal e prepara-se para ir para a escola. O seu motorista, Richard, continuava em serviço, apesar de seus pais estarem ausentes. 

— Bom dia, senhor Peter! - saudou o motorista — Como está?

— Estou bem Richard! Agradeço que hoje simplesmente me leves para passear. Não me apetece nada assistir às aulas. 

— Porquê?! - perguntou admirado o motorista.

—Simplesmente leve-me! Eu preciso de me distrair um pouco. 

— Está bem senhor! Será que poderia levá-lo a um local a meu critério?

— Apenas me faça sentir melhor...

Então Richard, leva Peter até um dos subúrbios do distrito de Salford. Era sexta-feira, uma manhã muito cinzenta e fazia um frio intenso de rachar. O motorista pára o carro e pergunta:

— O senhor alguma vez já esteve aqui?

— Não, parece um sítio muito triste e isolado...- disse Peter, com toda a sua sinceridade. 

— Pois senhor, é aqui que eu nasci. Não é o lugar mais lindo do mundo mas é o lugar que eu encontro paz e consigo me sentir confortável. 

— Ora Richard, porquê me trouxeste para aqui? Tem tantos lugares com paisagens lindas que ainda não visitei em Manchester. 

— Senhor... deixe-me explicar-lhe! Eu trouxe-o para cá pois queria que o senhor visse o quão simples a vida pode ser para as pessoas, mesmo que elas não tenham tudo! 

— O que queres dizer com isso? Achas que eu tenho tudo?! - perguntou Peter irritado. 

— Não senhor... não disse isso! 

— Richard, tu não sabes de nada! Os meus pais dão-me tudo mas não dão o que preciso. Por favor, leva-me daqui agora!

— Está bem senhor! Mas senhor, será que pode pelo menos deixar-me apresentar a minha família?

— Faça isso rápido pois não estou a gostar nada de estar aqui. 

Então, Richard e Peter caminham em direção a uma casa considerada "boa" para o motorista, porém péssima para Peter. Logo perto de casa, eles deparam-se com uma mulher velha sentada num banco. Tratava-se da mãe do motorista, Yara, descendente de brasileiros. A mãe do motorista sofria de Alzheimer, por isso por vezes nem se lembrava do filho. Os dois saúdam a pobre senhora mas sem resposta. Ela olhou para ambos com uma cara de desprezo e continuou a admirar o céu. 

Então, ambos meio que envergonhados, entram para a humilde casa de Richard. Deparando-se com móveis velhos e sem ver alguma televisão, Peter questiona:

— Porque não tens nenhuma televisão em casa Richard? 

— Não tenho televisão porque a minha mãe partiu as últimas três! - respondeu Richard com um tom de voz engraçado. 

— Ora, porquê? 

— Ela diz que a televisão está repleta de coisas que não ajudam em nada. 

— Ok! - responde Peter com uma cara surpresa

— Então, acho que podes apresentar-me à tua família, preciso de aproveitar melhor este dia. 

— Está bem senhor! 

Então, Richard chama sua mulher e filhos para a sala, para que pudessem conhecer Peter. O motorista tinha 4 filhos biológicos, todos fruto de um relacionamento com Hera, sua esposa. Bryan, Ortiz, Frankie e John apresentaram-se para Peter, todos com uma idade superior ao adolescente. Hera, a esposa, preparou um chá para Peter, enquanto este último conversava com os 4 irmãos:

— Então, menino Peter, o que faz da vida? - perguntou Bryan. 

— Eu sou apenas um adolescente, limito-me a estudar para que um dia tenha um emprego bom e seja tão bem sucedido como meus pais. - responde Peter com um tom de voz sério. 

— Bem, e o Peter tem namorada? - pergunta John com um sorriso no rosto. 

— Não... - responde Peter envergonhado.

— Na verdade eu nunca pensei nisso!

Os irmãos estavam surpresos com a resposta. Pois era raro ver alguém daquela idade, nos nossos dias, sem ter se apaixonado alguma vez. A verdade é que a paixão tinha cegado os olhos do rapaz e agora ele queria ficar cego para qualquer estória de amor.

A conversa ia fluindo e, de repente, alguém bate à porta. A esposa de Richard apressa-se a ir atender e ao abrir a porta lá estava uma jovem negra, com um brilho intenso nos olhos, bem apresentada e com um perfume suave. Tratava-se da filha adoptiva de Richard e Hera. Seu nome é Zuleika.


Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo