CAPÍTULO 3 - MAISIE SHEPARD

MAISIE SHEPARD TINHA apenas dezessete anos de idade quando todo o turbilhão de emoções e sensações aconteceu em sua vida, até então perfeita para qualquer adolescente.

Tinha pais maravilhosos, um irmão chato, uma melhor amiga a quem poderia confidenciar sobre qualquer assunto, chamada Hannah, um cachorro que a acompanhava desde criança em suas pequenas aventuras no quintal de sua casa e uma vida muito boa que o emprego de seu pai proporcionava a toda a sua família, ou seja, tudo o que alguém na idade dela poderia sonhar.

Maisie era o epíteto do que era a classe média americana, ia uma vez por ano à Disney World, jantava fora uma vez por semana com toda a sua família em algum restaurante, ia uma vez por semana ao shopping e não precisava fazer trabalhos extras de férias de verão ou inverno para ajudar no orçamento de casa ou até mesmo nos afazeres gerais da casa.

Ela simplesmente nunca teve qualquer problema na vida, não precisava arrumar sua cama, lavar louça, fazer comida, passar roupa ou qualquer outro trabalho doméstico, seus empregados faziam absolutamente tudo, sua única preocupação na vida era cuidar de seu cachorro, jogar conversa fora com a sua amiga e estudar, mas neste último ela não se sentia muito na obrigação de fazer.

Maisie era o mais puro exemplo de adolescente moderno que se poderia imaginar, detestava treinar a fundo quaisquer esportes (mesmo sendo uma atleta de vôlei de destaque na escola devido a sua altura), ajudar nas tarefas de casa, reclamava de tudo, estava sempre emburrada com seu irmão e achava seus pais sinônimo de atraso e cafonisse, sua única alegria naquela casa malfadada era seu cachorro, Jim, que ganhou quando tinha cinco anos de idade, agora já era um senhorzinho que só guardava suas forças para subir e descer as escadas em sua companhia, para comer e fazer suas necessidades durante seus passeios matinais e noturnos acompanhado da única pessoa a quem parecia a presença lhe alegrar.

— O que seria da minha vida sem você, não é mesmo, garotão?

Ela sentia que o cachorro a entendia perfeitamente, pois sempre que usava a palavrinha mágica garotão, recebia uma enxurrada de lambidas, o que fazia seu irmão tecer severas críticas ao animal e à sua higiene pessoal.

— Cara, isso é nojento, sabia? – Dizia o irmão com cara enojada ao ver o cachorro a enchendo de linguadas de alegria ao vê-la.

— Isso é amor... um idiota como você jamais entenderia isso.

Se é amor, é um amor nojento...

— O amor dele poderia ser mais limpo, não acha?

— Amor é amor, mas um idiota sempre vai achar idiotice o que não conhece.

Kevin, como todo irmão mais velho, e mais idiota, fazia uma careta e continuava a fazer qualquer coisa sem graça que ela achasse importante dentro de seu mundo completamente sem importância alguma.

A VIDA DE MAISIE era a mesma coisa desde que ela se conhecia por gente, quase como a história grega de Eco que foi amaldiçoado por Hera a repetir tudo o que os outros falavam por toda a eternidade.

Seu pai deu duas batidas na porta e ficou ali encostado no batente esperando a ordem para entrar no quarto da filha.

— Está tudo bem, filha? Posso entrar?

Era até estranho seu pai perguntar aquilo para ela, na verdade, era estranho qualquer interação de qualquer pessoa naquela casa, a não ser de seu irmão pentelho que insistentemente lhe enchia o saco.

— Claro, pai... por enquanto tudo certo.

— Só queria dizer que sinto muito orgulho de você, é a melhor filha que alguém poderia sonhar em ter.

Maisie abraçou o pai, ela não entendia porque estava vivendo aquilo, mas aquele momento se mostrou a última boa lembrança que tinha da família antes daquele fatídico acidente em que ela perdeu tudo e todos.

Era como sempre falavam, antes do amanhecer, é a hora mais escura do dia, e ela estava prestes a entrar numa escuridão que demorou muito tempo para sair.

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