CAPÍTULO 2 - CAIN WELLER

CAIN WELLER tivera a pior vida que alguém poderia sonhar ou imaginar, havia sido abandonado em um orfanato ainda bebê, nunca soube quem eram seus pais e desde criança a única forma que conhecia de sobreviver era tomando as coisas de quem as tinha, porém, onde ele morava ninguém tinha absolutamente nada para ser tirado.

Tudo o que Cain sabia sobre a vida era que ela não era justa, se existia um Deus, só poderia ser um tirano, se tivesse ainda pais, eram os piores que alguém poderia ter no mundo, ou seja, num mundo criado e governado por um Deus cristão, seu deus era o próprio satanás.

Na escola, foi expulso diversas vezes até que os diretores do orfanato simplesmente deixaram de matriculá-lo, pois ele não conseguia se adaptar à vida em coletividade, era um lobo solitário sendo obrigado a ter uma experiência de vida coletiva, ele não era uma pessoa má, só era uma pessoa para se envolver com poucas pessoas, quiçá nenhuma, nem mesmo com ele próprio.

Sua vida de crimes começou quando fez quinze anos de idade e furtava casas de senhoras idosas, em uma dessas situações, foi surpreendido por uma jovem coroa na casa de seus cinquenta anos, mas que tinha um corpo de vinte.

— Porque está fazendo isso, garoto?

Ele ficou envergonhado de falar a verdade diante de uma mulher tão linda e atraente.

— Vem aqui... – disse ela o chamando para perto dela – prometo não te fazer mal...

Nem se ela quisesse poderia fazer mal a ele, pois ele era o próprio mal na vida das pessoas...

Cain olhou para ela e não sabia explicar, era a primeira vez que alguém não olhava para ele com desprezo, raiva ou medo, era como se ele tivesse a incrível capacidade de fluir tudo o que havia de mal dentro das pessoas, ele não tinha nada e obstante a isso lhe tiravam até mesmo o desejo de sorrir.

— Todo mundo diz isso.

— Eu não sou todo mundo, querido.

Ele não sabia explicar porque, mas gostou pela primeira vez na vida ter alguém para abraçar... Ele sentiu os seios fartos da mulher que lhe remeteu imediatamente a uma visível ereção.

— Alguém pelo jeito gostou de um carinho, não é mesmo?

Ele assentiu enquanto sorria timidamente, ele não sabia o que tinha acontecido, era um desejo diferente do que havia encontrado na rua quando foi violentado diversas vezes por homens em situação igual ou pior do que a dele.

— Então está na hora de você retribuir a gentileza com gentileza, querido.

— Eu... eu não sei como fazer isso.

Ela passou a mão carinhosamente pela sua face e disse com o sorriso mais doce do mundo.

— Sempre tem uma primeira vez, querido.

CAIN NÃO ESTAVA ACREDITANDO no que havia acontecido, apesar de ser um adolescente, ainda não tinha descoberto o que era sexo casual, prazer ou qualquer coisa parecida, a vida só tinha ensinado o que era dor, e as poucas pessoas que tentavam fazer qualquer bem a ele eram sempre reprimidas com mais dor e maldade, ninguém tinha lhe explicado isso até conhecer Alice.

Por pouco tempo ele descobriu o que era o paraíso, e como todo paraíso, sempre haveria uma serpente para mostrar a verdade e expulsá-los de lá.

ALICE GANHOU muito dinheiro com a vida mundana, usara seu corpo para pagar a faculdade e viu que ganhava muito mais do que sua profissão formal lhe garantia, aos trinta e cinco já tinha uma aposentadoria tranquila e estava na hora de conhecer alguém e constituir uma família, mas sempre acabava contando a verdade sobre seu passado e a pessoa fugia, até conhecer o jovem Cain.

Alice se enveredou por muitos caminhos sexuais, fora prostituta até o dia que teve um cliente peculiar, um astro do mundo pornográfico que viu que ela aguentava firme seu pênis de quase trinta centímetros, então lhe fez o convite que mudaria a sua vida para sempre:

— O que acha de gravar um filme, poderia ganhar muito dinheiro com seu corpo, você transa muito bem para ganhar reles trocados.

Alice percebeu que não tinha nada a perder e aceitou o convite.

Seu primeiro filme ganhou a mídia, se chamava Garganta de ouro, contando a história de uma cantora que para as portas do estrelato se abrirem tinha que abrir as pernas.

Logo no primeiro filme já ganhou três prêmios AVN – Adult Video News – o Oscar dos filmes de entretenimento adulto, depois daquilo o céu parecia o limite para ela, recebeu convite para todo tipo de cena e por incrível que pareça, quanto mais hardcore, mais ela gostava, pois mais ela ganhava dinheiro.

Mas ela sabia que naquele ramo não poderia viver para sempre, o corpo não aguentava a rotina e dieta e fez um planejamento e a cumpriu fielmente, quando a indústria pornô parecia ter se enjoado dela, montou seu site em que disponibilizava as cenas dos filmes, sessões de fotos e conteúdo exclusivos, os saudosistas inundaram seu site de visitas e os novos consumidores sempre apareciam para saber se haveria algo novo.

Em sua biografia relatou todas as suas experiências e chamou muito a atenção da mídia, fazendo-a inda mais rica do que já era, então decidiu abandonar de vez, apenas colher os frutos de tudo o que tinha plantado.

CAIN NÃO LIGAVA para o que ela tinha feito na vida antes de conhecê-lo, afinal, ele mesmo nunca teve alguém para cuidar dele, alguém que demonstrasse um mínimo de afeto, que fizesse algo de bom, ensinar as coisas que Alice lhe ensinava.

A amizade entre os dois era algo que transcendia a amizade convencional e da mesma forma não era nada voltado apenas a sexo, era como se eles tivessem evoluído a um nível em que fazer sexo era uma necessidade tão básica quanto comer, faziam porque seus corpos pediam para fazer, não era nada romanceado, era puramente selvagem e instintivo, o que foi também uma novidade para Alice.

Até que a vida lhe ensinou uma dura lição.

CAIN CHEGOU EM CASA e Alice estava morta em sua cama, a cena em si não causava nele o menor temor, já tinha visto pessoas mortas nas ruas antes, mas ver alguém que amava morta era algo que ele jamais iria esquecer.

Não Deus... porque? Tudo menos ela... é a pessoa mais bondosa que já existiu na face da Terra...

Ele nasceu para viver no inferno e nenhum paraíso abria as portas para um demônio como ele...

— Levante as mãos, garoto, é a polícia, você está preso pelo assassinato de Alice Weller.

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