CAPÍTULO 1 - MAISIE SHEPARD

MAISIE CONHECEU Michael Vane durante as aulas, no final do ensino médio. Era como aqueles romances clichês dos livros de adolescentes, ele, um bad boy metido a riquinho (ou seja, um imbecil com mente de noz que se vangloriava merecidamente devido a sua aparência exuberante), mas nunca teve nada além da sua beleza, já que não tinha onde cair morto e ela a nerd da sala, que era linda, discreta e de uma família tradicional.

Era basicamente impossível qualquer tipo de relacionamento entre eles, a menos que fosse para que ele pudesse colar nas provas e se dar bem de alguma forma.

***

DEZ ANOS APÓS O TÉRMINO da escola, os colegas de sala resolveram marcar uma reunião, para celebrar as conquistas que haviam alcançado desde a última vez que se viram.

Maisie se tornou uma mulher linda, sua carreira em administração havia começado a despontar e já atuava em uma Multinacional de sucesso, o que deixaria muita gente com inveja.

E ela estava adorando isso...

***

MAISIE ERA A GAROTA MAIS ALTA da sua turma, o que de certa forma a deslocava de todos, conseguiu uma vaga na turma de vôlei, mas algumas pessoas mais próximas insistiam que ela fosse modelo, tinha uma boa postura, cabelos extremamente lisos que chegavam na cintura, se não fosse pelos óculos, muitos a teriam como a garota mais linda da escola.

Maisie era totalmente desprovida de ego, não dava a mínima em ser a garota mais linda, popular ou inteligente da escola, seu grande sonho era daqueles mais simples possíveis, uma boa casa para morar, filhos e um marido que a amasse e respeitasse, ou seja, a americana média, nem nota dez nem nota quatro, uma simples nota sete e meio.

***

MAISIE SE SENTOU em uma mesa afastada da churrasqueira, quieta com sua cerveja sem álcool, desfrutava de seu momento de glória pessoal, cada um deles tinha uma história, ela sabia que alguns contavam vantagem sobre suas próprias vidas e fracassos, outros, como ela, evitavam falar qualquer coisa para não chamar a atenção de forma desnecessária.

Ela estava ali porque queria confrontar seus próprios demônios, era enfim uma vencedora e isso ninguém ali poderia provar o contrário, estava no panteão daqueles que venceram seus medos, seus fracassos, seus demônios e acima de tudo, venceu a própria vida destinada a ela.

COMO ERA DE SE ESPERAR, para se mostrar, Michael levou a estatueta do Oscar que ganhou ao interpretar a história do Presidente dos Estados Unidos, ela em si é uma pequena estatueta de trinta e cinto centímetros de altura pesando quase quatro quilos, feita de estanho folheado a ouro de catorze quilates, em forma de um cavaleiro sobre um pedestal no formato de um rolo de filme, com uma espada de cruzado atravessada verticalmente ao peito.

Seu valor real é de cerca de quinhentos dólares, mas seu valor simbólico é incomensurável, pelo prestígio profissional e popular que concede ao premiado e pelo faturamento que pode dar a um filme.

Concebida em 1929 pelo diretor de arte Cedric Gibbons e pelo escultor George Stanley, não sofreu mudanças significativas até hoje, nos mais de 90 anos em que já foi entregue. Apenas durante a Segunda Guerra Mundial foi confeccionada em gesso pintado com tinta dourada, devido ao esforço de guerra americano na época, que procurava racionar todos os tipos de metal. Após o conflito, os agraciados com estes Oscars tiveram seus prêmios trocados pela estatueta original.

A versão mais popular e conhecida para o nome dado ao careca dourado é a que concede sua autoria à secretária-executiva da Academia, Alice Herrick, que ao vê-lo comentou que a pequena estátua parecia muito com seu tio Oscar, comparação ouvida por um jornalista presente no momento, que a publicou em seu jornal. Outra versão dá conta que a atriz Bette Davis o teria apelidado assim, dado a semelhança da estatueta com seu primeiro marido, Harmon Oscar Nelson.

De qualquer modo o apelido pegou de tal maneira que hoje – e há muitos anos – é o nome pelo qual o Prêmio da Academia é conhecido mundialmente.

MAISIE SENTIA QUE ESTAVA sendo constantemente observada, mas não conseguia identificar de onde vinha o olhar. Na cabeça dela, era mais fácil falar na frente de mil colaboradores ater que encarar pessoas que a intimidavam com sua fluidez durante toda a sua adolescência.

Maisie sabia que estava num patamar diferente, era uma estrela no mundo corporativo, tinha saído em diversas capas de revistas, incluindo de moda, realizava palestras sobre liderança e motivação, vendia algo muito maior que os produtos de alguma empresa, ela vendia para a alma das pessoas sedentas por algo a mais na vida.

Eu já venci o mundo, é fácil vencer esses caipiras...

Ela cresceu e venceu a vida, mas na frente daquelas pessoas se sentia ainda uma adolescente frágil e indecisa sobre si mesmo e o mundo que ainda estava descobrindo diante de si, pois mais que já tivesse vencido muitos desafios na vida, ainda estava se descobrindo e sabia que agora poderia estar no topo do mundo.

Ela fechou os olhos e se viu na primeira vez que havia vencido na vida sem ter que dividir seu mérito com outras pessoas, ela estava ali na frente de uma grande plateia a aplaudindo, era a melhor vendedora do país e recebeu um prêmio que havia transformado a sua vida para sempre...

Mas uma voz do passado a havia despertado em seu presente...

— Não acredito que é você.

Maisie levantou seu olhar aos poucos, acompanhando as curvas que a roupa fazia no corpo escultural daquele homem, parado a frente dela. Obviamente ela sabia quem ele era, seu primeiro e único amor, o homem que mudou toda a sua existência, alguém cuja a voz reconheceria entre bilhões de pessoas.

— Michael... Michael Vane... – disse com um nítido sarcasmo no ar – o famoso astro do cinema... quanto tempo, hein...

Ele estava com uma calça preta de vinil colada, uma camiseta preta aberta os quatro botões de cima e uma jaqueta de couro, cabelos desarrumados, mas em um corte jovial. Se não fosse moreno, ela podia jurar que era o Jon Bon Jovi quando novo. Ainda sem palavras, continuou a encarar aquela pessoa, quase desejando que fossem apenas os dois.

— Parece que o tempo não passa para você, não é mesmo?

— Mas ele passou para nós...

— Por isso que eu disse que parece...

— Você também parecia um idiota, depois eu vi que não era só aparência.

Michael adorava uma piada com humor negro e caiu na risada.

Eles se conheciam tão bem, tinham vivido juntos tantas experiências inusitadas para um jovem casal, mas naquele momento não passavam de estranhos um para o outro, ela sabia que ele era o homem que amava, sempre o amou, mas também era o homem que a havia abandonado grávida e transformado a sua vida num verdadeiro inferno, e por isso Maisie jurou vingança, pois ela passou pelo Hades completamente sozinha, não tinha uma mão para segurar e se sentir segura durante aquela tempestade, mas ele havia sumido de sua vida para sempre...

Até aquele momento...

— Eu sabia que você ia se tornar uma mulher linda e fabulosa, apostei todas as minhas fichas em você e venci mais uma vez, mas conseguiu superar as minhas expectativas, hein.

— Michael... Tudo bem?

— Estaria bem melhor se estivesse sozinho com você agora...

— Esse é um sonho que não sei se você realmente gostaria de sonhar se soubesse o final que teria... afinal, sonhos podem se tornar pesadelos...

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