Laços Proibidos
Laços Proibidos
Por: Sara Aster
Prólogo

" Todos os problemas se tornariam menores se, ao invés de fugir, os enfrentássemos."

Sara Aster.

Minha mãe se casara de novo, e com isso teríamos que nos mudar para a casa de meu padrasto. Não gostava do fato de abandonar meu mundo, onde minha vida acontecia, onde eu tinha aprendido a superar os problemas, e onde eu tinha que compartilhar a casa com apenas uma pessoa. Mas a felicidade da minha mãe me impedia de manifestar qualquer vontade. Sua alegria me contagiava e eu percebia que não podia acabar com ela por causa de um capricho meu. Então decidi esconder minha infelicidade dela.

– Pense positivo. - falava a mim mesma enquanto colocava minhas coisas dentro das caixas de papelão – O que pode dar errado? – Tudo. – Vai ser legal! – tentei me animar.

– Claro que vai ser legal, vai ser ótimo! – disse minha mãe entrando no quarto. Me perguntei até onde ela tinha ouvido e se tinha percebido meu desânimo. Parece que não.

– Nossa, mãe, há muito tempo eu não te vejo tão animada assim. – comentei um pouco desanimada.

– Pois é. Isso prova que milagres existem. – brincou, sentando em minha cama.

– Mãe, posso te perguntar uma coisa?

– Mas é claro, amore. – dava pra perceber de longe a alegria em sua voz.

– Como vai ficar a escola? São minhas férias de inverno. Daqui a alguns dias as aulas vão começar. Vai ser um pouco complicado pra pegar a matéria. - por que eu estava falando aquilo? Eu achava realmente que aquele pretexto faria com que ela mudasse de ideia?

– Eu sei que vai ser um pouco complicado, mas você consegue! Elisa, você é uma Loren, e os Lorens são os melhores em tudo o que fazem! – Essa era a mesma desculpa de sempre. Será que ela não percebia que talvez, só talvez, alguém nessa família de duas pessoas não fosse boa em tudo o que fazia?

– Eu sei, mãe, mas é melhor prevenir do que remediar. Nunca se sabe o que pode acontecer. Até os Lorens podem ser surpreendidos. – fui ignorada.

Os últimos dias estavam monótonos. Só arrumando as coisas de um lado e bagunçando do outro. Eu não queria uma vida nova, nunca quis. Eu não precisava de um padrasto, eu não precisava de uma casa maior, eu não precisava ir para um lugar que eu não conhecia. Por vezes tentei convencer minha mãe a me deixar naquela casa, eu saberia me virar. Mas o “não” vinha antes mesmo que eu finalizasse a frase.

– Então, já terminou com essa caixa?

– Já sim. Pode levar. Enquanto isso vou ver se busco mais caixas. Acho que as que estavam na sala acabaram.

– Elisa, você pretende levar a casa toda? Já te expliquei que é só o necessário. Já devo ter colocado pilhas de coisas suas no caminhão da mudança!

– Mãe, a culpa não é minha se noventa por cento das coisas deste recinto são necessárias. E não jogue a culpa pra cima de mim, porque eu tenho certeza de que metade daquelas caixas devem ser suas!

– Amore, entenda, precisamos ir o quanto antes. Preciso ir para o aeroporto depois de te deixar em casa. Me casei esta semana e ainda não tive lua de mel por causa desta mudança! – aquela bagunça em casa já estava estressando-a. Ela não aguentava mais tropeçar em caixas, quebrar objetos, ver as coisas fora do lugar. Não via a hora de ir embora. E eu não aguentava toda aquela pressa.

– Tudo bem. Deixe-me pelo menos me despedir da Ana. - disse tentando não transparecer a tristeza em minha voz.

– Volte antes das três. Pretendo ir às cinco horas em ponto.

– Certo. – falei, dando um beijo rápido em sua bochecha.

Enquanto caminhava até a casa de Ana, pensava no que diria. Ela já sabia que eu me mudaria, mas não que seria naquele dia. Na verdade, nem eu sabia. Nós duas fomos pegas de surpresa. As coisas estavam programadas para acontecer duas semanas depois do casamento, e mal se passaram três dias. Não queria dizer adeus. Ana era minha melhor amiga desde que eu me entendia por gente. Nós sabíamos tudo uma sobre a outra, ela era a única pessoa da face da Terra que me entendia. Sempre estava lá pra me aconselhar quando eu precisava. E dizer adeus não era nada fácil.

Parei em frente à porta de sua casa. Respirei fundo e toquei a campainha. Ana atendeu.

– Amiga! – ela me abraçou com força, quase me tirando o ar – Acabei de pensar em você!

– Que bom. – tentei parecer feliz. – Ana, preciso falar com você.

– O que houve? Algum problema? – ela parecia muito preocupada, sua expressão me fazia querer chorar.

– Amiga - respirei fundo e comecei a falar tudo de uma vez de forma que ninguém pudesse me interromper. – Minha mudança foi adiantada. Estou indo embora hoje. Queria poder ficar aqui com você, mas não posso. Preciso ir, não tenho escolha. Me perdoe por te dizer isso em cima da hora, mas eu também fui pega de surpresa. Eu sinto muito.

Ana ficou estática e cabisbaixa. Depois de alguns instantes ela levantou o rosto e sorriu pra mim da forma mais gentil possível e me abraçou.

– Não se preocupe. Isso não é o fim do mundo. Nossa amizade é mais forte que a distância, não é mesmo? Fique tranquila. Te ligarei todos os dias e nós acharemos um jeito de nos falarmos. Nem que seja por carta!

Algumas lágrimas teimosas acabaram caindo, e em instantes estávamos as duas chorando. Não queria chorar, porque se chorasse estaria me rendendo à tristeza. E não queria ficar triste, muito menos deprimida. Decidi que não choraria mais, então acabei com aquela cena de despedida.

– Ana, tem uma última coisa que queria fazer antes de ir embora.

– O quê? – perguntou enquanto secava as lágrimas que rolavam em seu rosto.

– Vamos jogar Twister Dance uma última vez. – começamos a rir.

– Sério, Elisa?

– Seríssimo! Quero ganhar de você uma última vez.

Jogamos por uma hora mais ou menos. Ríamos de cinco em cinco minutos. Caíamos, cantávamos enquanto dançávamos, estávamos nos divertindo. A hora passou mais rápido do que eu poderia pensar. Quando me toquei já estava atrasada.

– Amiga, acho melhor eu ir. Minha mãe disse que cinco horas em ponto ela estaria saindo de casa, e do jeito que a conheço é bem capaz de não me esperar. – o silêncio pairou. – Te ligo quando estiver no carro. - joguei-lhe um beijo e retornei a minha casa.

Demorei um pouco mais no banho, olhava cada fresta do banheiro para que não me esquecesse dele. Me arrumei com calma. Coloquei uma saia rodada preta com uma blusa de manga azul clara e uma sapatilha preta com detalhes prata. Não estava com pressa de ir. Já minha mãe, não podia dizer o mesmo. Mais desesperada impossível. Não sabia o que fazer. Andava de um lado pro outro que nem maluca.

Não sei como, mas às quatro e cinquenta e cinco já estávamos prontas pra partir. E enquanto minha mãe ligava o carro e começava a dirigir eu olhava uma última vez para o lugar que poderia chamar agora de antigo lar.

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