NÃO SE META COM MINHA SOBRINHA

-Damian Dracul, ressurgindo das cinzas para me encher! - Constança se virou e viu o mesmo rosto de 16 anos atrás, bonito e arrogante, riu sacudindo a cabeça.

-O que você disse para ela? - Ele se aproximou com raiva.

-Há muitos anos eu fiz uma proposta para ela, em um bar, lembra? Ela lembra, e eu a refiz hoje. - o encarou com todo seu deboche.

-Eu não estou brincando Constança, o que você disse para ela?

-Você faz ideia do quanto é antiquado, sem falar no ridículo é claro, vir atrás da terrível ex perguntando o que ela disse para a atual? Se você acha que eu disse alguma coisa errada, ou mentirosa, pergunte a sua esposa, nada melhor do que o diálogo em um casamento, é o que dizem ao menos.

-Por que impedir o casamento de dois jovens que se amam? Só porque você não casou com o homem que amava, que não casou com ninguém, porque ficou incapaz de amar, não significa que todas como você são assim. - Ele também atingia muito bem quando queria.

Ela riu, sacudiu a cabeça em uma negativa, como quem se controla. Por fim, o segurou pelos cabelos o jogando contra o carro, apertando ele ali, rosnou com toda a sua raiva.

-Não ouse se vingar de mim usando minha sobrinha para suas merdas de casamentos arranjados, ou acabo com você Damian! - Aumentou a pressão, ficou momentaneamente fora de si.

-Ah… eu me lembro de quando ficávamos próximos assim, era menos violento, mas você tinha exatamente essa força. - Levou a cabeça para frente, quase a beijando, enquanto se transformava. - Me solte, ou você quer lutar aqui, a luz do dia?

-Não me importo se é dia ou noite, acabaria com você em qualquer hora. Quero que você e a Mina parem com essa palhaçada, ele não vai ameaçar a Lis, não obrigue ela a ser como vocês, entendeu? - Apertou com um pouco mais de força, e então o soltou com um tranco. - Saia do meu caminho, agora!

-Você confia mesmo nele, como isso pode ser possível? Você sabe quem ele é, como é. Que fim levou você, Connie? - Ele ajeitou o casaco a olhando com o que pareceu decepção, e quando começou a andar, ouviu a voz divertida atrás dele.

-Sabe Damian, não é comigo que você tem que se preocupar, se insistir com essa palhaçada com minha sobrinha. Lucius adoraria ter uma conversa especial com você, tenho certeza, Angelina não gostou muito da ideia da filha se tornando mais fraca, ela não costuma perdoar esse tipo de ameaças. É a garotinha deles, e você e seu filhinho estão passando dos limites.

Ele parou para ouvir, mas não se virou, apenas continuou andando quando ela terminou, Connie entrou em seu carro e saiu cantando pneus. Chegou em seu escritório e encontrou a irmã e a sobrinha com expressões carregadas, ergueu as sobrancelhas e fez um sinal com a cabeça.

-Vamos?

As duas apenas levantaram e entraram no carro de Constança, suas coisas iriam em outro carro com motorista, mas elas quiseram fazer aquela viagem juntas, e já que Connie não gostava que ninguém dirigisse para ela, repetindo sempre que essa coisa de motoristas era bizarra e um símbolo da burguesia, elas resolveram ir no confortável Impala vermelho junto de sua proprietária anarquista.

Quando pararam para abastecer, depois de algumas horas da viagem mais silenciosa que já fizeram, Connie pegou o celular e viu algumas mensagens do trabalho, mas nenhuma de Samael, era um recorde. Guardava o telefone quando Angelina parou ao seu lado parecendo cansada.

-Eu não estou apaixonada por outra pessoa, está bem?

-Mas está dormindo com essa pessoa, não está? - Connie a olhou deixando as chaves com o frentista e a chamando para longe das bombas, acendeu um cigarro e apertou os olhos como se tentasse decifrar a irmã. - Por que dormir com alguém se você não está apaixonada? Quer dizer, a pergunta não é bem essa, eu sei porque. Mas você é casada Angie, com um homem lindo e que adora você, não faz sentido.

-Eu apenas saio, me divirto um pouco com algumas amigas, e às vezes, fico com algumas pessoas, não são casos, são aventuras!

-Então fala com o Lucius e abre a porra desse casamento! 

-Não é tão simples, e eu faço isso desde que ele… - Revirou os olhos.

-Ele traiu você!?

-Saiu com uma jovem loba, igual a você, só não era uma das furiosas, mas de resto, até os cabelos eram iguais aos seus.

-Ah mas que merda! Angie, eu ... não sei oque dizer, como dizer, mas eu…

-Não tem culpa. Eu sei que não tem irmã, juro, só estava brava porque você não me contou sobre a Lis. Me desculpe. 

-E o que você disse para ela?

-Que sairia do castigo em que a colocarei apenas depois de completar 40 anos. - Angelina riu. - Ela mentiu, estava escondendo muitas coisas, não é certo, e mesmo sendo quem é, precisa me obedecer. Mas verdade seja dita, eu vejo você quando ela começa a falar com toda aquela rebeldia.

-Ah, é mesmo? E você se lembra de você nessa idade? - Constança apertou os olhos fazendo uma careta.

-Não era como você, todos sabem disso. - Viu a irmã pegar novamente o telefone assim que o aparelho vibrou recebendo uma mensagem. - O que está acontecendo?

-Briguei com o Samael ontem, quebrei algumas relíquias dele, ele me mandou largar o trabalho, eu mandei ele se fuder, e sai batendo a porta.

-E agora ele não entra em contato, mas você quer falar com ele. - Angelina sorriu de lado. - Pega a droga desse telefone e liga Connie! Vocês não são mais crianças, aliás, se tem uma coisa que ele não é, é uma criança.

-Não, mas normalmente ele liga assim que eu dobro a esquina, e dessa vez já fazem muitas horas, não mandou nenhuma mensagem. Só achei estranho, mas não vou ligar, e ele sabia de um evento da família, deve estar me dando o mesmo gelo que estou dando nele. - Piscou um olho e jogou o cigarro em uma lixeira depois de apagá-lo. - Tá com fome?

-Na verdade sim, não comi hoje ainda, e passei a noite, você sabe.

-Sua alfa má! - Riu e passou o braço no ombro da irmã, fazendo sinal para a sobrinha, que saia do banheiro do posto de gasolina. - Lis, leva o carro até o estacionamento, e depois entra pra comer.

-Vai me deixar dirigir ela?

-Vou deixar você manobrá-la, com cuidado, lentamente, e se você fizer mal a ela, eu penduro você pelos calcanhares menina! - Riu e entraram. - Vou dar uma viagem para ela, junto com o bracelete de diamantes da mãe, mas posso remarcar para daqui 30 e poucos anos, quando sair do castigo.

-Não precisa, é o presente dela. - A olhou curiosa. - Você vai dar o bracelete de diamantes negros rarissimos para sua sobrinha de 16 anos? Enlouqueceu?

-Ela é cuidadosa, e eu vou explicar que era o preferido da avó dela, você pode deixar ela usar na festa, e depois guarda até que tenha responsabilidade para usar.

-A mamãe queria que ficasse com você, disse que era a sua cara.

-Ele não combina comigo, e eu não acho que sou - Encolheu os ombros como se buscasse as palavras. - não sou digna, para usar ele.

-Connie! - Angelina se interrompeu quando a filha voltou entregando as chaves do carro para a tia. 

-Tudo bem, eu já me decidi.

-Decidiu o que, tia?

-Que vou comer um hambúrguer mal passado, cheio de bacon! - Riu piscando um olho.

Comeram e conversaram finalmente, sobre amenidades apenas, mas já era alguma coisa, Lisbeth era rebelde mas não era insuportável, não mais do que qualquer adolescente da mesma idade, a todo momento mexendo em seu celular, mandando mensagens, tirando fotos e rindo.

Retomaram a estrada, chegando em 3 horas a casa da família, a casa de Katarina e Ariana. Era uma fazenda, mas sem criações e plantações, apenas vegetação nativa, muitas árvores na floresta das Alfas, no meio da imensidão verde, estava o local da iniciação, onde as jovens eram apresentadas às deusas protetoras das Alfas. Esse ritual deveria se realizar na sexta apenas. 

Entraram na casa imensa onde nasceram e cresceram, era uma residência imponente, com portas duplas de madeira grossa, pintadas de vermelho, todo o resto da construção era branca, com janelas e demais portas pretas, o bom gosto de Ariana fez com que tudo ficasse mais bonito e moderno, ela mudou as cores e decoração com o passar do tempo, exceto pela porta da frente, está deveria se manter pintada de vermelho, em homenagem a mãe delas. Era a cor favorita de Lisbeth.

Desceram do carro falando alto e se abraçando, Katarina e Ariana abriram a porta quando ouviram o barulho característico do carro de Constança, as sobrinhas - três meninas com idades de 5, 10 e 13 anos - saíram correndo para abraçar as tias e a prima. 

Era sempre uma festa quando se reuniam, as antigas dores e culpas ficaram para trás, a grande responsável por isso foi, sem sombra de dúvidas, Ariana e seu jeito prático de resolver as coisas, ela fez as irmãs conversarem e colocarem tudo a limpo, e depois baixou um “decreto”, qualquer problema seria resolvido na hora, com diálogo e sem ataques e rancores. Isso melhorou tudo, porque agora elas já não perdiam mais seu tempo com o que não falaram, ou o que não fizeram, nas situações de conflitos.

Se acomodaram em seus antigos quartos, as meninas foram conversar e jogar vídeo game, e as adultas sentaram na varanda confortável ligando a lareira ecológica que consistia em um grande caldeirão cheio de pedras vulcânicas e com chamas quentinhas. A noite estava fria, mas elas queriam ficar ali, era aconchegante, Ariana comprou um jogo de poltronas que mais pareciam nuvens, tamanho seu conforto, se embrulharam em mantas e bebiam conversando sobre tudo.

-E como vai a vida no “submundo” Connie?

-Você sabe que eu não vivo no submundo Kat. - Riu bebendo quase todo o conteúdo de seu copo.

-Eu sei, você vive em um castelo nos arredores da cidade, nunca pensei que fosse se afastar daquele apartamento minúsculo e gelado, mas já fazem o quê? 15 anos?

-Quase quinze, sim. Eu também não pensava que conseguiria, sabe como é, viver ao lado de alguém. Mas é divertido na maior parte do tempo.

-E na outra parte? - Ariana a conhecia muito bem.

-Na outra parte, eu destruo vasos da dinastia Ming, e esculturas de Michelangelo e alguns de seus contemporâneos, quando Samael me tira do sério. - Riu fazendo uma careta.

-Você é terrível, mas talvez ele mereça. - Katarina riu se escorando na esposa e segurando sua mão. - E você Angie, como está?

-Vivendo o sonho! - Revirou os olhos. - Bem, os negócios vão bem, e sua sobrinha resolveu que quer casar com um dragão, com apoio de Mina.

-O que? - Katarina sentou virando um pouco do conteúdo de seu copo nas mãos. - Como assim?

-Mina e Damian pai farão uma proposta para nós, para que minha filha se case com aquele dragãozinho lânguido, filho dele!

-Como isso aconteceu?

Constança ia começar a falar mas seu telefone tocou, ela o silenciou deixando cair na caixa de mensagens, mas ele voltou a tocar logo em seguida.

-E por falar nele, eu vou atender, pode ser algum trabalho. - Levantou indo até a sala. - O que você quer?

-Olá tudo bem meu amor? Como você está? Eu estou bem, obrigado por perguntar.

-O que foi? Se arrependeu de ser o maior dos machos escrotos da terra e do submundo?

-Não quero brigar agora, temos uma missão, você pode fazer a gentileza de me acompanhar?

-Eu preciso mesmo ir? Estou com minha família agora. - Uma das filhas de Katarina chegou gritando para ela, e apontando para a rua. - Só um pouquinho amor, a titia está no telefone, já falo com você. - voltou a colocar o telefone no ouvido. - Onde eu tenho que ir?

-Na porta da frente, por favor.

Constança sentiu tudo em câmera lenta, fechou os olhos e desligou o telefone, fazendo um sinal para Angelina, como a alertando.

-Tia! Tiaaa! - Tainá gritava puxando sua blusa.

-O que meu amor?

-A Lis pediu pra avisar que nosso tio está ali na frente, e você tem que ir lá.

-Onde a Lis está? - Falou devagar, porque não conseguia formular frases com clareza.

-Lá na frente da casa, ele não quis entrar, então ela ficou fazendo companhia a ele com a Tatiana e a Tânia..

Constança correu até a frente da casa, escancarando a porta e andando decidida até a limusine onde Samael estava escorado conversando com as duas meninas mais velhas de Katarina, e também com Lisbeth.

-Meninas, entrem agora! Porque você não me ligou antes?

-Pensei em tocar a campainha e conhecer nossas sobrinhas, meu bem, mas elas me viram e vieram me receber.

Constança o olhava com um misto de raiva e medo, Katarina se aproximava com Ariana e Angelina, a mãe de Lisbeth andou até a filha e fez um sinal com a cabeça para que a menina entrasse, mas ela fingiu não ver, e continuou ali.

-Samael! Como vai? - Katarina esticou a mão para apertar a dele, sorrindo com simpatia, ela e Ariana eram as únicas com aquele sentimento ali, além das crianças claro. - Que bom que você veio, quer entrar?

-Não, ele não quer, temos algumas coisas para resolver. - Constança o olhou feio.

-Ah tudo bem, mas venha se juntar a nos na celebração do sábado, ficaremos o dia inteiro festejando nossa linda Alfa. - Katarina passou um braço sobre os ombros de Lisbeth sorrindo.

-Será um prazer. - Ele sorriu com toda a sua elegância, e depois olhou Constança piscando um olho. - Vamos?

Constança acenou, depois olhou a irmã como se quisesse trucidar ela, mas não teve coragem de encarar Angelina. Entrou na limusine depois dele, fazendo um sinal para que não segurasse a porta.

 -Por que você veio aqui?

-Qual o problema de eu vir até a casa de sua família? Normalmente, quando se mora junto de alguém por 15 anos, frequentamos a casa de sua família.

-Você vai me levar até a casa da sua por acaso? - Acendeu um cigarro, o olhando com raiva.

-Não nos damos muito bem, mas talvez, se você quiser. - Ele sorriu, estava aproveitando o fato de ela estar evitando a conversa sobre a sobrinha. - São lindas meninas, parecidas com vocês todas, com você em especial, mas isso você já sabia.

Ela segurou seu colarinho com força, atirando o corpo contra o dele, contendo a duras penas a transformação.

-Você não ouse se meter com elas, nenhuma delas entendeu?

-Você quer me contar alguma coisa sobre essa raiva, e medo que está sentindo agora Connie? - Ele não se alterou muito, teve medo que ela se transformasse ali é claro, seria quase impossível se salvar, mas aproximou seu rosto do dela. - Você ainda não confia em mim, não é? Seja o que for que Mina enfiou em sua cabeça há tantos anos, você absorveu, se convenceu que eu sou o mal do mundo.

-Por que você foi até lá, por que estava conversando com ela? Ela é só uma criança, não ouse…

-O que? Cooptar uma adolescente para trabalhar para mim? Ou você ainda teme que eu queira fazer filhos em Alfas? Como você ousa, Constança, como ousa?

-Você não é exatamente um santo Samael, ou preciso lembrá-lo de homens explodindo e toda aquela merda de ameaçar minha família para me convencer a ficar ao seu lado.

-E eu, devo lembrá-la de quando digo que a amo, e que é você quem eu quero? - Abriu o vidro que separava a parte de trás onde estavam, do motorista. - Por favor pare aqui sim, eu seguirei e você a leva para casa.

-Não! - Ela o olhou feio, ele desceu e ela foi atrás. - Como assim? Não era importante o que faríamos essa noite? 

-Fiz esse tipo de coisas por muito tempo sozinho, queria sua companhia, porque quero você e passei as piores 16 horas de minha vida, sem falar com você ou ter notícias suas, mas eu já disse uma vez, e repito, você não tem obrigação de me acompanhar, ou ficar a meu lado. Viva sua vida, e não se preocupe com a menina, nem mesmo eu seria capaz de fazer o que quer que fosse para ela.

-Não desapareça Samael! - Ela segurou seu braço com força. - Vamos resolver esse assunto, e depois conversamos, por favor. 

-E porque? Você já sabe tudo que deve pensar a meu respeito, não é mesmo? Sua irmã, mãe da menina, já me olha como se eu estivesse seduzindo a filha dela. Vocês já tiraram suas conclusões, para que prolongar essa bobagem de trabalho e depois uma conversa que não adiantará nada para você? Não a fará mudar de ideia?

-Não é verdade, e se você sumir agora, eu vou saber que você não me quer mais por perto, isso sim, me faria mudar de ideia a seu respeito, me fazendo pensar que você vai pegar a menina agora, não daqui alguns anos. - O olhava com toda sinceridade. - Vamos?

Ele acenou, segurou seu braço e desapareceram, a limusine seria mesmo apenas por um tempo, sua missão era mais distante do que os arredores da cidade pequena e bonita das Alfas.

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