SEMPRE ESSA BOBAGEM

Fechou os olhos quando se lembrou, já fazia muito tempo, riu acenando como se fosse mesmo divertido. Então ele realmente se casou com ela!

Não costumava pensar muito em Damian, mas sabia algumas coisas de sua vida, como seu casamento com um outro vampiro, e logo depois o casamento deles com uma vampira, recebeu os dois convites, mas obviamente não foi a nenhuma das festas. Pegou o telefone e pediu para que a tal Sattine entrasse, levantou e indicou a cadeira em frente a sua mesa, de forma cordial.

-Sattine, por favor, fique a vontade, você bebe alguma coisa?

-Não, obrigada, minha visita não será muito longa. - Olhou a parede de vidro ao lado da mesa, uma linda vista, e pareceu impressionada. - Você tem uma bela vista daqui.

-Eu gosto de observar o horizonte, e me sinto um pouco sufocada em salas fechadas. - Sorriu quando a mulher lhe deu um olhar sugestivo, como se a julgasse. - Fico feliz que você tenha vindo, desde muito tempo os negócios são fechados diretamente com minha irmã, mesmo que eu cuide das vendas.

-Os negócios são problema de Damian e seu Constança, ele não a perdoa por tê-lo trocado pelo Senhor do Submundo, e eu não tenho nada com isso, os motivos para estar aqui são outros.

-E quais são esses motivos? - Escorou as costas pesadamente na cadeira, era sincera ao menos, até demais, e parecia brava.

-Você lembra de mim? - A olhou erguendo o queixo. - Uma vez me disse que quando cansasse de Damian, poderia falar com você.

-E por acaso você se cansou? - Constança sorriu de lado.

-Muitas vezes nesses 15 anos, mas ainda o amo, e talvez fosse errado trair um dos meus maridos com a mulher que partiu seu coração.

-Você quem sabe. - Alargou o sorriso, poderia estar brava, mas parecia legal.

-É sobre meu filho e sua sobrinha que vim falar. - Constança apertou os olhos virando a cabeça de lado, ela suspirou desanimada. - Veja, Lisbeth é uma menina incrível, e adoramos quando ela vai até nossa casa, mas o que parecia um namorico de adolescentes virou algo bem mais sério, e minha sogra parece incentivar essas ideias. Eles são só crianças, não é correto que se prendam a seu primeiro amor de juventude!

-Ela está namorando com seu filho, com Damian… - Constança fechou os olhos coçando a testa. - Olha eu não tenho nada com isso, ela é minha sobrinha, mas tem um pai e uma mãe, que a amam muito, que resolvem esses problemas, e até onde sei, ao menos o Lucius não sabe que ela namora seu filho.

-Você já negou minha sogra, já disse não a essa prática ridícula de casamentos arranjados, e pode ajudar sua sobrinha, e meu filho, com isso!

-Casamento? - Constança foi para frente de sua cadeira. - Quem falou em casamento?

-Mina, com aprovação de Lisbeth e de meu filho, Damian segundo, disse que vai falar com sua família durante o ritual do final de semana. Fomos todos convidados, e parece que Damian, o pai, está adorando a possibilidade de ter uma alfa na família, finalmente!

-Tá bem… é, olha… - Constança levantou o dedo como se pedisse uma pausa, pegou seu celular e ligou para a irmã. - Angie? Preciso de você em meu escritório, agora, não me interessa, sei que você deve estar bem ocupada, mas venha, agora. - Uma ponta de reprimenda, não se importava com o que a irmã estivesse fazendo, mas também não queria ficar responsável por aquele assunto bizarro de casamentos de menores de idade.

-É a mãe?

-Sim, essa conversa deve acontecer entre as mães, eu apenas vou explicar toda situação, sei porque Mina e Damian falam desse casamento como se fosse uma coisa boa, mas vocês saberão os motivos e depois vão entender que não são mais tão bons quanto eram em minha época.

Sattine acenou concordando, a tal alfa de Damian tinha razão, não parecia tão terrível quanto ele dizia, nem tão teimosa quanto a sogra costumava falar. Conversaram sobre amenidades como o tempo e a política, algo para que não ficassem em silêncio, constrangidas, até porque, Angelina ainda demoraria uma hora para chegar, estava bastante ocupada, e em um local mais distante do que seu escritório. Entrou olhando para Sattine e franzindo a testa confusa.

-Angie, essa é Sattine, esposa do Damian… Dracul. E, mãe do namorado da Lis. - Constança falava devagar, tentando já apaziguar uma situação que poderia se tornar um incidente diplomático para os negócios, ou uma versão monstro de Romeu e Julieta.

-Ela me disse que estava com um menino da escola, não pensei que fosse… - Angelina sorriu apertando a mão de Sattine, depois encarou Constança como se quisesse matá-la, se recompôs e retomou o sorriso. - Muito prazer.

-O prazer é meu, Lis fala sempre de você, o quanto a admira, a você e a sua tia preferida. - Sorriu contida olhando de Angelina para Constança.

-Tenho certeza de que Katarina detestaria ouvir isso. - Constança riu e fez um sinal para que sentassem, ia continuar a falar mas Sattine a interrompeu.

-Eu lamento por não ter ido diretamente falar com você Angelina, mas este assunto seria melhor compreendido por Constança, pensei que poderia iniciar as conversas com ela. Não quis fazer nada por suas costas.

-Claro, eu compreendo. - Angelina e Sattine eram simplesmente as mulheres mais bonitas e intimidadoras que Connie já vira, e estavam em sua força total naquela manhã. - Qual o assunto?

-Nossos filhos iniciaram esse namorico, coisa de adolescentes não é mesmo? Ela tem 16 e ele 15, isso é normal, pensarem que vão se amar para sempre nessa idade. Mas me preocupei com a atitude deles, de minha sogra e infelizmente até mesmo de Damian. 

-Atitude?

-Falam constantemente em casamento, e todos parecem estar em alguma realidade paralela, quer dizer, como assim casamento? Certo?

-Minha filha, se casando com um dragão, é sério? - Angelina olhou Constança apertando os olhos, sua raiva começava a transpor a barreira da boa educação, encarou Sattine. - Como minha irmã mais nova costuma falar, nem por uma pica de brilhantes!

-Entendo que você esteja chocada com isso, também eu acho terrível a ideia de comprometer as escolhas e os futuros de ambos, mas de fato, não haveria vergonha em um casamento com um dragão, meu filho é um jovem promissor, bonito e inteligente, e…

-Tudo bem! - Constança levantou erguendo as mãos. - Antes que isso se torne pior do que já está, vamos acalmar nossos ânimos, Angie, ela está tão preocupada quanto você com essa situação, e Sattine, minha irmã não quis desprezar você ou nenhum outro dragão, mas sabemos o que acontece com mulheres de nossa espécie quando se casam com vampiros. Está bem? Vamos apenas focar no que é importante para o futuro dessas crianças.

-Mina quer esse casamento, diz que é o melhor para ele, e principalmente para Lisbeth, como ela fica a todo momento frisando que a menina precisa se casar com meu filho, pensei em vir até aqui e contar a vocês, afinal, se fosse o contrário não ia gostar que me deixassem no escuro quanto a essa situação. - Sattine parecia mesmo disposta a ficar calma. - Sei o que acontece com mulheres de sua espécie, e qualquer outra, quando se casam com vampiros, sei que Constança quase foi obrigada a um casamento com Damian, vim para que ela me ajudasse.

-É sobre as alfas furiosas, não é? Minha filha é como você não é Connie? - Angelina pareceu acusar a irmã, como se fosse a culpada pela menina ser uma das especiais.

-Sim, ela é. Mas a ameaça a ela não existe mais, Mina não acredita, mas eu garanto isso. 

-E você vai finalmente me dizer que merda de ameaça é essa? Que superpoderes são esses? Ela é minha filha, eu tenho o direito de saber!

Constança respirou fundo, levantou e serviu um copo cheio de uísque, ofereceu, mas nenhuma delas aceitou, bebeu goles generosos, e encarou as duas como se não quisesse falar a respeito.

-De tempos em tempos, nascem essas mulheres em nossa família, elas têm os olhos de duas cores, um azul e um verde, um verde e um castanho, enfim, são como eu, e como Lisbeth. Tem o corpo mais quente, são muito mais fortes, envelhecem mais devagar, conseguem derrotar quase tudo o que lhes ameaça. - Fechou os olhos, se corrigindo. - Eu consigo, derrotar quase tudo, e segundo minhas pesquisas, todas nos conseguimos.

-E por que tornar vocês menos poderosas as casando com vampiros afinal? - Sattine não poderia acreditar, era aviltante pensar nisso, por isso imaginou não ter entendido corretamente. - Vocês devem se casar com dragões para ficarem mais fortes?

-Não, nós ficaríamos mesmo mais fracas, perderíamos parte de nossa força apenas, mas ainda assim, seríamos menos fortes do que somos, e deixariamos de ser licantropas, é claro. Eu não sabia quando recusei o casamento arranjado, só queria ser livre e não deixar de ser quem eu sou. Não imaginava que deixaria muito do que sou se tivesse obedecido nossa mãe, e Mina.

-Por que nossa mãe queria isso? É absurdo Connie, ela jamais concordaria em enfraquecer uma de nós, aliás, nenhuma mulher. Ao contrário, sempre fez o impossível para fortalecer todas as licantropas, e demais fêmeas com quem convivia. - Angie pareceu muito brava. - Mina a enganou?

-Mas qual o interesse de minha sogra em enfraquecer licantropas fortes?

Constança virava seu copo de uísque, levantou um dedo e depois de secar o copo, serviu mais um. Bebeu mais um gole generoso, acendeu um cigarro e voltou a falar.

-Mina não enganou ninguém, e nossa mãe não queria me deixar fraca apenas porque era má, ela não era. Mas existia uma ameaça às alfas, porque… Bem, porque sua força e poder poderiam ser usados por seres “maus”, que poderiam ou não tentar nos conquistar e ter filhos, ou apenas nos levar para trabalhar para eles… para ele.

-Então elas não fizeram por mal. Foi para salvar você… - Angelina acenou com a cabeça.

-E Mina não quer apenas arranjar um casamento, para que sua vontade seja finalmente realizada. É necessário que eles se casem?

-Minha filha não vai deixar de ser quem é, me diga que forças são essas, e eu acabo com elas!

-Não! As ameaças acabaram, não se preocupem, esse casamento será um erro. - Tentou encerrar dessa forma o assunto, mas as duas ainda a olhavam curiosas, entornou o segundo copo tentando não precisar falar.

-Connie! Por que as ameaças acabaram?

-Porque, Angie, a ameaça não era assim tão ameaçadora, e eu estou morando com ela, com Samael. O Senhor do Submundo ia atrás das Alfa, para que trabalhassem para ele, veio atrás de mim, e explodiu um bando de ladrões no dia do seu noivado, apenas para conseguir minha atenção. O que ele teve, e depois teve muito mais, mas foi porque eu quis, agora ele tem a mim, e não vai atrás da Lis, eu garanto.

-Ele sabe sobre minha filha?

-Não, e não precisa saber, mas fica tranquila, eu juro para você, ele não vai fazer nada com ela.

-E como você garante isso?

-Porque se ele for, irmã, eu acabo com ele. Acredite em mim, tenho forças suficientes para isso. - Seu olhar pareceu mesmo assassino, assustador, o que fez com que as duas mulheres se escorassem nas cadeiras como se quisessem se afastar dela. - Por isso, diga que Mina e Damian, (ele sabe sobre a alfa especial, eu contei), não devem se preocupar, Lisbeth será como ela é, até que tenha idade para decidir o que quer ser, e seu filho não será obrigado a casamento nenhum.

-Eles ainda vão querer falar sobre isso no final de semana da iniciação, esteja pronta Angelina.

-Tudo bem, resolveremos. - Fez uma pausa e encarou Sattine. - Me diga, minha filha por acaso está na sua casa?

-Sim, eles foram estudar, na verdade ficarão a semana toda sem se ver, imagino que estejam se beijando ininterruptamente agora.

-Quando você chegar em sua casa, mande ela vir imediatamente para cá, por favor.

-É claro. - Levantou e apertou a mão das duas, parou diante de Angelina e deu de ombros. - Ela é uma ótima menina, tão inteligente e cheia de atitudes. Vejo que as mulheres dessa família são assim.

Quando estava na porta, Connie a chamou e piscou um olho falando com uma voz charmosa.

-Minha proposta ainda está de pé, não esqueça.

-Não competiria com o senhor do submundo nem por você, alfa furiosa. - Riu e saiu sacudindo a cabeça, mais tranquila do que entrou.

-Você estava mesmo flertando com a esposa de Damian depois de me contar toda essa merda? - Angelina a olhava com raiva. - Como você pode não me contar uma coisa dessas!

-Eu sinto muito, mas não contei porque não havia perigo, com o tempo você veria que ela é especial, e eu diria, mas eu queria que vocês não vissem ela como… - Suspirou e serviu mais um copo. - Nossa mãe sempre me olhou de uma forma estranha, como se sentisse muito por mim, com pena, e eu cresci querendo apenas que ela parasse de olhar para mim daquela forma, queria qualquer outro olhar, e consegui algumas vezes, uma raiva muito pequena, quando aprontava aquelas loucuras. Mas era por pouquíssimo tempo, e logo ela me olhava novamente como se eu fosse, sei lá, uma coitada!

-Eu não sou nossa mãe Connie, e você não tinha o direito, não tinha!

-Tudo  bem, sinto muito, muito mesmo. Mas se puder dar um conselho para você, sem que você me odeie enquanto pensa sobre ele, diga a ela, não a deixe sem saber, diga que é poderosa, forte e que pode fazer o que quiser da vida. E principalmente, diga não a ela, se quiser mesmo casar com esse dragãozinho!

-Mas é claro que direi não! A Kat sabe sobre isso?

-Boa parte, não sei se sabe sobre Lis, eu nunca falei, ela também não.

-Vamos conversar todas juntas então. - Suspirou parecendo cansada. - Você tem certeza que ele… Se ele souber Connie, não vai pegar minha menina?

-Bem, em primeiro lugar, eu duvido que ele me troque com tanta facilidade, em segundo lugar, se ele chegar perto da Lis, eu juro, por nossa mãe e por todas as deusas de nosso povo, acabo com ele. Entendeu? - Ela e Angelina se olharam concordando, como se isso fosse uma promessa.

-Vamos todas juntas então? Para casa.

-Pode ser, mas primeiro preciso passar no armazém principal, fiquei de dar algumas instruções para minhas meninas, elas estão me esperando. E acho que você vai querer ter uma conversa com sua filha, não estou interessada em participar. - Levantou e parou na frente da irmã. - Sei que não é da minha conta, mas quando você não dorme em casa, fazendo eu sei lá o que, e mente dizendo que vai trabalhar, sua filha sabe que você está mentindo. E como adora você, coloca a culpa no pai, isso não é justo Angie.

-E você vai seguir defendendo ele eternamente, não é mesmo? Ninguém pode fazer Lucius sofrer, nem por um momento, porque isso a torna sofredora com ele.

-Não faça isso comigo, você não tem o direito. Não me importa se você tem casos ou não, não me importa o que vai ser do seu casamento, mas a sua filha pensa que é por minha causa, e você sabe que não é.

-E quem disse que não é? - Angelina riu desanimada. - Ah Connie, você pensa que está alheia a tudo, vivendo sua vida com o senhor do submundo, mas o que você não sabe, é que aqui, neste mundo, suas atitudes e seu passado continuam repercutindo.

-Não ouse colocar uma culpa sobre mim, quando é você que não dorme em casa, e deixa claro que despreza seu marido. De todas as pessoas, a menos culpada por você viver sua vida com ele, sou eu Angelina. - Respirou fundo e se acalmou, ela não precisava saber. - Apenas faça o que quiser, traia, não traia, se separe ou não, mas não me culpe por suas atitudes, você não tem esse direito. E quando sua filha desconfiar de algo entre mim e o pai dela, tenha o bom senso de me defender, porque eu nunca toquei nele depois do noivado de vocês.

Saiu da sala sem esperar por respostas da irmã, não fazia sentido brigarem por causa daquilo, depois de todo esse tempo, mas Angelina a ofendeu, tremendamente, quando a culpou pela crise no casamento.

Vestiu o casaco enquanto chamava suas meninas para o armazém, faria a reunião enquanto mostrasse as novas caixas para que as armas ficassem completamente disfarçadas, elas precisavam conhecer tudo, porque a própria Constança fazia reuniões com clientes grandes, apenas os de mais alto escalão, enquanto que elas vendiam para os demais. Depois de explicar como tudo funcionava, as deixou treinando explicações para seus clientes. 

Atendeu o telefone sorrindo, sem ver quem ligava, pareceu decepcionada ao ouvir a voz de um cliente importante. Resolveu problemas escorada em seu carro, fumando um cigarro, desligou e observou o movimento do armazém, nada demais, os negócios iam muito bem ultimamente, vendiam armas para todo país, mais muitos clientes espalhados pelo mundo. Estava, na realidade, fazendo hora para não chegar em seu escritório e pegar o meio da briga, Angelina estaria certa em repreender a filha, mas tinha certeza de que Lisbeth revidaria a altura. Depois de duas horas fora, resolveu que já tiveram tempo suficiente. 

Quando colocava a chave na porta do carro, ouviu a voz bonita de barítono atrás dela, fazia mesmo muito tempo que não a ouvia.

-Que merdas você foi enfiar na cabeça da minha mulher Constança?

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