A ALFA - Segunda Parte: Alfas Furiosas e Casamentos
A ALFA - Segunda Parte: Alfas Furiosas e Casamentos
Por: Renata Ávila
16 ANOS DEPOIS

Constança dirigia com velocidade pela rodovia quase sem movimento, era início da manhã, àquela hora quase ninguém trafegava por ali. Acompanhava com um movimento de sua mão o ritmo da música que falava sobre um sujeito mau até os ossos, estava tentando se distrair com a velocidade e a música alta, seu humor não estava muito bom nos últimos dias. As brigas constantes com Samael, sua mania de tocar em assuntos ridículos nas piores horas, a deixava maluca, e não de uma forma boa. Descobriu que o Diabo era bastante ciumento e inseguro, e mesmo depois de 15 anos vivendo juntos, ainda se comportava como se fosse um menino.

O mais engraçado era que, de todos os amantes que já teve, ele era o melhor, o único que a fazia concordar com uma união de verdade, morava com ele, afinal, isso deveria servir para alguma coisa. 

Naquele dia, ou naquela noite quando saiu batendo a porta da grande casa onde viviam, a briga tinha se superado, o ponto alto foi, sem dúvidas, quando ele disse que ela não deveria mais ver Lucius, que deveria parar com aquele trabalho sem sentido na organização de sua família. 

Era muita audácia, realmente, como se ele pudesse decidir o que quer que fosse sobre sua vida. Ela deixou muito claro sua posição, quebrando alguns dos objetos extremamente caros que ele colecionava como um velho rico, atirou vasos da dinastia Ming e esculturas - presentes de alguns escultores bem famosos da história. - contra as paredes, derrubando móveis e por fim dizendo a ele que fosse se fuder, ela não precisava daquilo.

Sempre que fazia isso, ele costumava baixar a guarda, mas dessa vez ficou com os olhos vermelhos e inclusive abriu as grandes asas negras, como se a intimidasse com aquilo. Apertou os dentes pisando fundo no acelerador ao lembrar, ia passar algum tempo longe, talvez quando voltasse depois do gelo, ele começasse a repensar seu comportamento. 

Era estranho mas já faziam 4 horas desde que saiu brava, e Samael ainda não ligara, provavelmente também queria lhe dar um gelo. A verdade era que depois de algum tempo eles esqueciam porque realmente a briga aconteceu, e ficavam horas e até mesmo dias, sobre a cama e o chão de seu quarto.

Ela saiu da rodovia e entrou na rua arborizada e tranquila que a levaria a casa de Angelina, a sobrinha ia fazer seu ritual, finalmente, e a chamou para que a apresentasse, uma espécie de madrinha, cargo que já ocupava com bastante satisfação. Sua visita era para que fossem todas juntas, as mulheres da família ao menos, até a casa antiga onde deveriam apresentar suas filhas, a casa de Katarina na realidade, com mais de um século e cheia de lembranças e significados.

Estacionou e cumprimentou as seguranças de Lucius que guardavam a propriedade, estranhamente, não viu as meninas de Angelina em seus postos. Provavelmente estavam em missão em algum lugar, tocou a campainha e a funcionária que abriu parecia constrangida, Constança franziu a testa, normalmente ela era simpática e bem humorada. Logo começou a ouvir os gritos, ficou parada no hall da entrada sem saber se seguia para o interior ou saia de uma vez e voltava mais tarde.

Estava daquela forma quando ouviu a voz de Lisbeth, a sobrinha, alta gritando com o pai.

-Talvez se você parasse de ficar sonhando com minha tia, ela não faria isso! - A menina parou com seus olhos de duas cores arregalados em frente a tia, vestia um casaco e pegava sua bolsa enquanto caminhava e gritava com Lucius. - Tia Connie?

-Você me respeite, menina! Eu não lhe dei o direito de falar dessa forma comigo, entend… Connie, oi! - Lucius ficou vermelho como um pimentão e sorriu amarelo.

-Lindinha, Lucius. - Constança sorriu sem mostrar os dentes, coçou a cabeça e olhou em vota pedindo uma intervenção de alguma deusa protetora, para que um raio fosse jogado em sua cabeça naquele momento. - A Angie não está?

-Ela teve que ficar até mais tarde no escritório do centro, então dormiu lá mesmo, disse que você poderia levar a Lis e encontrar ela na casa de sua irmã. - Lucius pareceu ainda mais constrangido ao mentir sobre os motivos da esposa não estar em casa.

-Tá bem… - Olhou a sobrinha e respirou fundo. - Você está pronta lindinha?

-Pensei que íamos à tarde, marquei de estudar com uma amiga, como a semana vai ser agitada, e vou ficar fora, queria adiantar algumas coisas.

-Está bem, vai e nos vemos à tarde, eu vou resolver umas coisas aqui perto.

-Está bem, até a tarde. - Ela sorriu beijando a tia no rosto e rosnou para o pai, saindo apressada e entrando no carro reservado para ela, enquanto a motorista acenava para Lucius e Constança antes de arrancar.

-Você sabe que ela não vai estudar porra nenhuma, certo?

-Eu sei, e não sei quem é o namoradinho dela, mas pretendo descobrir e arrancar a jugular dele. - Lucius suspirou passando uma mão sobre o rosto. - Quer tomar café da manhã?

Constança queria era desaparecer dali, se enfiar em algum buraco, mas ele parecia precisar conversar, ainda era difícil ver qualquer traço de sofrimento no semblante dele, deu de ombros e entrou indo até a sala de estar, sentaram em uma mesa na varanda em frente a esse cômodo, trouxeram café forte e uma infinidade de pães e queijos, Lucius pegou sua vitamina cheia de coisas horríveis e saudáveis, e ela se limitou a uma grande caneca de café. 

-Você ouviu tudo? - Ele a olhou e depois baixou os olhos envergonhado.

-Ouvi pouco, e não entendi bem, mas essa menina precisa de mais limites, você sabe disso. Está mentindo para encontrar um namoradinho, e para uma menina de 16 anos isso é bastante normal, mas você precisa saber quem é. A Angie sabe?

-E quem sabe o que a Angelina sabe Connie? - Ele riu irônico.

-Que merda está acontecendo aqui, Lucius? - Ela fez um gesto com a cabeça procurando os olhos dele.

-Ela vai me deixar, está saindo com alguém, eu acho ao menos que está. Ou isso ou eu virei a criatura mais desprezível da terra, e ela não consegue mais ficar perto de mim. E minha filha não me respeita, porque descobriu que a tatuagem em meu abdômen é para você, tem seu nome, e tudo mais o que tivemos, ela já sabe. De alguma forma, descobriu, assim como sabe que a mãe dela não ficou trabalhando ontem a noite, eu tento explicar, esconder as coisas, mas ela sempre sabe quando estamos mentindo, é como você. 

-Eu sinto muito, de verdade. Posso falar com ela durante nossa viagem, explicar que tudo passou, que agora você ama a mãe dela, que era uma coisa infantil.

-Passou mesmo? - Ele se escorou na cadeira e deu de ombros a olhando e mordendo seus lábios carnudos. - Porque eu ainda sonho com você algumas vezes por semana, e ainda lembro de nós, de cada detalhe seu…

-Você tá puto porque a Angie pode ou não estar saindo com alguém, é apenas isso. Não faça essas declarações de merda, não me torne parte de um assunto de vocês, isso não é correto Lucius. - Ela fez o que sempre fazia, fechou a cara e pareceu brava, porque era doloroso ouvir aquelas coisas e não saltar sobre ele para arrancar suas roupas. - E remova a droga dessa tatuagem, por favor! - Riu para descontrair, não chutaria ele agora que estava no chão.

-Você removeu a sua? Ou a cobriu?

-Não, Samael pediu que eu fizesse, e por isso eu não fiz. - Riu acendendo um cigarro.

-Só por isso?

-Para com essa merda Lucius, por favor, vá atrás da sua mulher e resolva essa situação, mesmo que quiséssemos, não podemos voltar no tempo e fingir que nada aconteceu, então pare, pense em sua vida com ela, tudo o que construíram. Certo?

-Você lembra quando falei, há muito tempo, sobre o fato de que talvez, um dia, me arrependesse da escolha que fiz?

-Não! - Ela ergueu a mão e depois apontou o dedo para o nariz dele. - Não pense nisso, não ouse, você está me entendendo? Você não tem o direito Lucius, não tem!

Ele ergueu os braços como quem se rende, suspirou e concordou com um gesto de cabeça.

-Sinto muito, vou ficar quieto. - Fez uma careta. - Talvez você tenha razão, e por falar em você, como vai a vida com o senhor do submundo?

-Ótima! É como se eu morasse com um adolescente inseguro às vezes, mas ele é legal.

-Inseguro? Ele? - Lucius riu fechando os olhos e depois retomando um tom que tinha mais a ver com ele. - Você sabe que faz isso, lembra que eu também morria de ciúmes, e todos com quem você saiu, lembra-se do Damian?

-Ah por favor! Você vai mesmo puxar assunto sobre o Damian? Credo! E eu não faço isso coisíssima nenhuma Lucius, não tem cabimento pensar que eu causo insegurança, essa culpa vocês não vão colocar em mim.

-Vocês?

-Sim, vocês, homens de muitas espécies com quem eu já dormi, não vou admitir isso, está bem?

-Diga o que quiser para se convencer, mas você sabe que a forma como age, como reage, faz com que pareça, sempre, que vai abandonar tudo e fugir com algum amor novo que apareceu e você não contou. Você é incrível, mas também é má quando age dessa forma, com indiferença.

-Eu não sou indiferente! Isso é bobagem, vamos voltar a falar de você e seus problemas conjugais, estava mais divertido. - Arreganhou os dentes para ele e bebeu o restante de seu café.

-O que eu faço? O que devo fazer Connie? - Uma ponta de desespero, fechou os olhos e sorriu arrependido. - Sinto muito, você não precisa ficar me aconselhando, se tem alguém que não precisa fazer isso, esse alguém é você. Mas mesmo que isso pareça escroto da minha parte, que eu esteja maltratando você com essas perguntas, você é a melhor amiga que eu tenho, sempre foi.

-Não precisa se desculpar, olha Lucius, eu sei que você ainda adora a Angie, vá atrás dela, faça com que se abra com você, diga tudo o que quer, e ouça tudo o que ela tem para dizer. Pare de agir como se fosse ainda um garoto, você pode se parecer com um, mas tem uma filha adolescente, uma esposa maravilhosa, segure ela, porque você nunca vai ter alguém como a Angie novamente. - Não era exatamente o que queria dizer, mas o convenceu o melhor que pode, levantou e piscou um olho de forma divertida. - Você vai quando para lá?

-Amanhã, talvez depois de amanhã, hoje ainda tenho alguns assuntos para resolver. - Levantou quando ela também levantou, contornou a mesa e a abraçou apertado. - Foram palavras bonitas, e mesmo não tendo seus poderes, não sabendo quando todas as pessoas estão mentindo, eu ainda sei quando você faz isso. 

-Para de bobagem! - Riu e se afastou andando sem olhar para trás até a rua, entrou em seu antigo impala, arrancando apressada antes que fizesse alguma bobagem. 

Lucius a observou se afastar, ainda sentia uma certa dor a cada vez que ela andava para longe dele, com aquele jeito felino e misterioso, caminhando como quem é dona de tudo. O longo casaco de couro e a touca serviam mais para complementar o look do que de fato para se aquecer, ela era sempre quente, independente da temperatura externa. 

Sua próxima parada foi uma loja antiga de penhores, que também guardava joias usadas para lavar dinheiro dos negócios da família Pelasgo. Entrou com um copo descartável de café, que pegou em uma cafeteria no caminho, piscou para o jovem lobo atrás do balcão.

-Senhora Connie, bem vinda! - Ele era mau como ela gostava normalmente, sorria como se soubesse um segredo, era filho da proprietária, e definitivamente seus 18 anos não eram para o bico de Constança.

-E aí garoto, preciso acessar meu cofre. - Colocou uma chave pequena com 4 lados sobre o balcão e ele a pegou segurando sua mão, pouco antes de aumentar o sorriso. - Apenas me deixe passar e não provoque garoto, não quero problemas com sua mãe.

-Ela não está aqui, ninguém vai ficar sabendo.

-Obrigada, mas não, obrigada. - Riu piscando um olho e passou para os fundos da loja.

O deixou na porta da sala reservada a família com um lindo beicinho, mas era velha demais, ou ele jovem demais, para fazer aquelas bobagens. Não que não gostasse mais de fazer aquilo, ao contrário, mas ele era muito, muito jovem. 

Uma coisa era certa, seu ego era massageado sempre que ia até lá, tinha idade para ser a mãe dele, mas o garoto a estava cantando, ao contrário de a achar velha. Claro, não aparentava seus quase 40 anos, pois não envelhecia como as demais alfas de sua família, um processo que já era mais lento do que nas humanas por exemplo, nas lobas, nela e nas demais alfas furiosas, era algo impressionante.

Parou na frente do cofre grande de ferro, enfiou a chave e girou ao mesmo tempo em que digitava uma sequência de letras e números, o abriu e retirou algumas jóias, a parte que lhe cabia da herança de sua mãe, nunca teve coragem de usar nenhuma delas. Não se sentia digna. Pegou um bracelete com diamantes negros e ouro branco, sorrindo ao lembrar o quanto ficava bonito no punho delicado de sua mãe. 

Colocou em seu próprio pulso, mas não o manteve ali, parecia errado usá-lo. Por outro lado, seria um ótimo presente para a sobrinha. Combinaria com seus cabelos preto azulados, de pontas roxas, um bom presente de iniciação, não seria o único, ela era a tia legal, por isso, além da joia de família, cumprindo a tradição, daria uma viagem com mais uma amiga para uma tour na europa.

-Pegou tudo que queria, ou tem algo mais que precisa? - O garoto sorria se aproximando como um caçador, Connie achou divertido. - Porque sabe, você pode querer mais, eu estou disposto a dar tudo o que quiser, agora…

Constança o olhou apertando os olhos, depois os correndo pelo corpo cheio de músculos que apenas os 18 anos proporcionavam.

-Você é bem pretensioso, acha mesmo que conseguiria me dar tudo o que eu quero?

-Me teste.

-Daqui alguns anos talvez, quando sua mãe não possa mais me matar, com razão, se descobrir. - Riu e desviou dele andando até a porta.

O jovem apenas acompanhou sua caminhada, se escorando na parede e suspirando com todos os seus hormônios gritando dentro dele.

Saiu de lá direto para seu escritório, a manhã renderia muito, até porque, ela começou já na madrugada anterior. Seu primeiro compromisso não oficial do dia já a esperava, ela apertou os olhos para a vampira bonita e esnobe que aguardava sentada na sala de espera. Seu rosto não era estranho, talvez tenham dormido juntas no passado, ou fosse uma das soldadas dos dragões. Não… pensou observando o vestido bonito e caro, com aquelas roupas, não deveria ser uma traficante de drogas.

-Bom dia! - Entregou copos de café para parte de suas meninas que estavam por ali, teriam uma reunião em seguida. Olhou a vampira e esticou a mão, simpática. - Muito prazer, sou Constança Pelasgo.

-Sattine Dracul. - A mulher falou o sobrenome como se fosse um desaforo. Sorriu para a testa franzida de Connie. 

-E você tem uma reunião comigo? - A mulher acenou. - Me dê alguns minutos por favor, vou só chegar de verdade, e já conversamos.

Olhou fazendo um gesto com a cabeça e os olhos, a secretária deveria ter avisado, entrou em seu escritório e sentou acendendo um cigarro, tentando lembrar quem era aquela vampira afinal? Dracul, tinha o sobrenome deles, então seria um deles, a mulher de Damian? Mas porque parecia conhecer ela, se nunca conheceu a esposa dele?

Era muito bonita, e parecia pouco simpática também, aqueles lábios rosados como se fosse uma camponesa sexy lhe eram bastante familiares. 

Não a chamaria enquanto não descobrisse de onde a conhecia, poderia perguntar é claro, mas algo lhe dizia que ela não estava ali para cortesias e gentilezas, desde que o próprio Damian ainda nutria certa raiva de Constança, imaginou que sua esposa não fosse diferente. Esperou alguns minutos, tentando lembrar e fumando seu cigarro tranquilamente, bebeu seu café e somente depois, lembrou de onde a conhecia.

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