Capítulo Seis

Tess acordou com um barulho de metal contra metal. Ela abriu os olhos, alerta, e se levantou. Ignorou a dor no abdômen e olhou ao redor.

Atrás do sofá onde estava, ela podia ver Alek na cozinha. Como se algo o chamasse, ele olhou na direção dela.

"Com fome?" Ele perguntou.

Como se esperasse o momento, seu estômago roncou alto. Tão alto que o garoto ouviu da cozinha.

Ele riu. " Venha comer."

Ela se levantou. Por um milagre, a dor na barriga e nas costelas havia diminuído consideravelmente.

" O que colocou nessas bandagens?" Ela tocou a barriga.

" Uma pomada para dor. Sou aprendiz de curandeiro. E você? "

Ela riu com amargura. " Ladra de jóias. "

Ele levantou as sobrancelhas. " Verdade? Bem, então vou adorar ouvir a história sobre o que aconteceu com você ontem, para que ficasse nesse estado."

"Está tão ruim? " Ela gemeu.

" Olhe você mesma." Ele estendeu uma frigideira para ela, cujo fundo de metal formava um espelho. Ela sentiu vontade de chorar quando viu a mancha roxa no queixo, um corte no lábio e outro na sobrancelha.

" Poderia ter sido pior. " Ele deu de ombros.

Ela se sentou na mesa de dois lugar minúscula e esperou pela comida.

Ela contou a história da noite anterior, sem deixar detalhes de fora. Eles comeram torrada, manteiga e ovos. Alek a interrompia às vezes para fazer comentários que a faziam rir, e ela sabia que ele fazia isso para quebrar o clima tenso da história.

Quando chegou à parte em que Hernest batia nela, a expressão do garoto ficou sombria. Por fim, ela perguntou o que ele fazia ali tão tarde da noite.

"Bem, eu estava numa peça de teatro ali perto, Rosalie e Went, já ouviu falar?"

Ela riu. " Sim, mas você não parece o tipo de cara que gasta sua noite vendo Rosalie e Went. Mas não respondeu minha pergunta completamente. "

Ele mordeu o último pedaço de torrada. " Para a sua sorte, aquele era meu caminho habitual. Um pequeno atalho do teatro até aqui, em Saldara, para evitar a avenida principal. "

Ela assentiu e comeu um pouco dos ovos que estavam um pouco sem sal. Ela gostava de Alek. Ele era engraçado, divertido e tinha um brilho estranho nos olhos dele que a faziam se sentir confortável.

" Bem, a que horas posso voltar para casa?" Ela perguntou, cansada de tanto comer.

Ele riu. " Dê uma olhada na janela."

Ela se levantou e andou até a minúscula janela. Pequenos flocos de neve se prendiam ao vidro e parecia especialmente frio do lado de fora. Do lado de fora, uma camada de neve de pelo menos quarenta centímetros impedia que abrissem a porta, tanto do lado de dentro quanto de fora.

"Não acredito nisso. Meu irmão deve estar tendo um ataque. " Ela choramingou.

" Ei, anime-se. Passaremos um tempo aqui enquanto não limpam a rua ou até que a neve derreta. Nada mais divertido. " Ele riu.

Não posso passar meu aniversário de dezoito anos com um estranho! " Ela gemeu.

Ao se lembrar que no dia seguinte ela finalmente seria maior e poderia beber sem ter que subornar os atendentes ou se esconder de todos, ou até mesmo roubar algumas garrafas.

"Está brincando, certo? " Ele se inclinou sobre a mesa, encarando-a. Ela negou com a cabeça e um dar de ombros. " Não posso acreditar. Então, Tess, você terá o melhor aniversário de todos."

Ela riu. " Claro que vou."

Ele se levantou. " Estou falando sério ou não me chamo Alek Fyodor." Ele jurou e estendeu a mão para a garota. " Venha, no meu aniversário de dezoito anos, um amigo me fez beber durante a véspera toda e no dia acordei com a pior ressaca da minha vida!" Ele gargalhou, o som aquecendo as entranhas de Tess.

Os dois passaram o dia em frente à lareira, jogando cartas e tomando goles de uma garrafa de vinho que Alek tinha.

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Ambos estavam quase bêbados antes do almoço. Eles riam sem saber porque examente entavam rindo, faziam piadas totalmente sem graça mas que fazia o outro rir enlouquecidamente.

Alek ganhava a maior parte das partidas dos jogos de carta, até que Tess jogou todas as cartas para o alto e se jogou no chão, encarando a lareira que crepitava.

" Cansou de perder?" Alek perguntou, rindo e tomando mais um gole da garrafa azulada.

" Você está roubando. E quero fazer alguma outra coisa." Ela protestou.

" O que quer fazer, milady?"

Ela jogou um braço sobre os olhos e gemeu. A cabeça rodava de um jeito estranho que a desagradava. Por fim, tomou a garrafa da mão do outro e bebeu um grande gole que a fez engasgar.

" Quero saber um pouco de você. Me conte sobre porque exatamente mora sozinho." Ela pediu, encostando a base do pescoço no sofá ao lado da perna do garoto.

" Bem, é uma história longa e miserável que eu vou encurtar para você. Quando tinha quatorze anos, meu pai morreu, então minha mãe se isolou com sua tristeza interminável. Por isso, peguei minha parte da herança e me mudei para Holirya. É com esse dinheiro que sobrevivo até hoje."

"De onde você era?" Ela perguntou.

" Varinth, no sul. Meu pai era barão de um pedaço de terra lá. E você? "

"Sou de Chrases, no norte. " Ela disse, com a garganta apertada.

" Chrases não é a cidade-divisa com a terra dos Assassinos de Ferro? "

" É. E foi na mão de um bando deles que meus pais morreram." A voz dela não era nem um sussurro.

Alek engasgou com o vinho. " Sinto muito. Quantos anos você tinha?"

" Dez. Meu irmão tinha dezessete, então me criou a partir de lá. De Chrases fomos para Pertrin, então para Joraele e então viemos para cá. Estamos aqui há quase dois anos."

"Fico feliz por ter seu irmão. Pelo menos tem alguém. " A amargura na voz do garoto foi tanta que Tess se encolheu e não foi capaz de responder nada.

Depois de mais um tempo conversando, ela pegou um livro para ler enquanto Alek cozinhava o jantar.

Foram dormir cedo com a promessa de que o dia seguinte seria melhor.

Mas quando soou meia-noite, como a última peça de um quebra-cabeça se encaixando, as almas de Tess e Alek foram ligadas.

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