Capítulo IX

João Felipe

Estava terminando de me vestir e ainda não sabia como faria para pegar a Viviane sem que a colocasse em uma situação desconfortável. Não poderia simplesmente pedir para que ela me esperasse na esquina! Jamais faria uma sugestão como essa para ela. Tampouco poderia arriscar todos os meus planos para o futuro, me colocando em uma situação em que algum conhecido pudesse nos flagrar juntos.

Que saia justa!

Ainda estava em frente ao espelho, analisando toda a situação e tentando chegar a uma "solução" para meu impasse, quando mamãe entrou em meu quarto.

- A porta estava aberta, mesmo assim eu ainda bati e você não me ouviu. - Ela explicou ao ver minha expressão questionadora. - Está muito pensativo esses dias. Algo na empresa?

Minha mãe era uma belíssima mulher, na casa dos seus cinquenta anos e sempre foi muito elegante. Ela vinha de uma família muito tradicional, assim como papai. Acredito que este era o motivo para ela insistir tanto em que me casasse com alguém do nosso meio, para manter "a linhagem".

- Nenhum problema. - Falei me voltando novamente para o espelho e tentando esquecer o problema com a Viviane e focar no que minha mãe tinha para dizer. - Afinal, me preparei para ocupar a presidência do grupo e esse cargo não requer muito de mim. Então posso garantir que está tudo tranquilo, mamãe.

- Me sinto tão orgulhosa por você, meu filho. - Falou exibindo um sorriso enorme. Mas sua expressão mudou ao continuar. - Tão diferente do João Pedro!

- O que o João Pedro fez dessa vez, mamãe? - Falei já sorrindo. Mamãe sempre insatisfeita com meu irmão e eu tinha certeza que ele não se importava nenhum pouco com isso. Éramos praticamente opostos nesse quesito, mas eu amava meu irmão assim mesmo. Respeitava suas escolhas, por mais que discordasse da maioria delas.

- Ele ia saindo de braços dados com a filha dos empregados! Eu sei que já deveria ter me acostumado, mas...

Não estava mais ouvindo o que minha mãe falava.

Como assim a Viviane estava de saída com o João Pedro?

-... eu sei que é uma boa garota, mas não é companhia adequada para seu irmão!

- Mamãe, podemos conversar melhor em outro momento, tudo bem? Estou atrasado para um compromisso.

Beijei o rosto de minha mãe e saí apressado, para ver se ainda conseguia encontrar com eles na nossa garagem. Deduzi que faria pouco tempo desde a cena que mamãe descreveu ter visto.

Não tive essa sorte e entrei no meu carro batendo a porta com força.

Como ela havia combinado comigo e iria sair com o meu irmão? Não conseguia acreditar que ela havia feito algo assim!

Resolvi m****r uma mensagem para a Viviane, cobrando uma explicação, quando percebi que ela já havia me enviado algumas e que eu não havia percebido.

Viviane: Vou sair com o João Pedro.

Viviane: Não tinha como eu recusar, sem causar suspeitas.

Viviane: Combinamos para amanhã?

Olhei o horário das mensagens e percebi que havia sido há mais de quarenta minutos atrás. Eu estava tão centrado em encontrar uma forma de encontrá-la sem que alguém nos visse, que nem prestei atenção as mensagens que chegavam.

Mandei uma mensagem para meu irmão e perguntei onde ele estava. Ao receber a sua localização, decidi que iria para o lugar em que estavam e depois decidiria como proceder.

Eu não aguentaria passar mais um dia sem beijar aquela garota, era tempo demais longe.

Eu havia chegado à conclusão, depois de muito pensar em toda a história com a Viviane, ou falta dela, que quanto mais a gente transasse, mas rápido eu conseguiria superar esse sentimento maluco que eu tinha por aquela garota, tenho certeza.

Segui em direção a boate Evoluction, local onde eles já estavam, pelo que pude entender e passei pela portaria, depois de pagar um alto valor pela entrada para a área VIP.

O local era bem espaçoso, sua iluminação era difusa e com jogos de luzes, como a maioria das boates e estava repleto de pessoas, em sua maioria jovens.

Ao subir para área VIP, logo consegui localizar um grupo bem animado, composto por umas cinco pessoas, entre elas estavam meu irmão e a Viviane.

Ela estava ao lado de um cara forte, da sua altura mais ou menos e bem-apessoado. Ele estava abraçando-a pela cintura e aquilo me irritou de tal forma que eu tive que me controlar, fechando as mãos em punho. 

Uma vontade insana de esmurrar a cara daquele sujeito, mas não faria isso de forma alguma. Não haveria explicação plausível para tal atitude e eu não iria me expor desta forma.

João Pedro foi o primeiro a me ver chegar e logo mostrou um sorriso de satisfação.

-Irmão! Que surpresa você entre nós. - Brincou, me puxando e passando o braço por meus ombros, me levando para junto de todos na mesa.

O tempo todo fiquei olhando para a Viviane, prestando atenção para ver qual seria sua reação a minha presença na boate.

- Garotas, acho que vocês não conhecem meu irmão, o João Felipe. - João Pedro continuou, me apresentando as duas garotas que se encontravam na mesa, além da Vivi.

A quinta pessoa na mesa era o cara que estava abraçando a Viviane e logo o reconheci dos tempos de colégio, era o César, ele frequentava a mesma sala que o JP e a Vivi.

- Felipe, essa é a Júlia - O João Pedro fez as apresentações, apontando para uma morena de vestido curto de um tom de rosa claro - e essa é a Cecília, falou apontando para uma garota de corpo bem definido em uma calça preta de material brilhante e uma blusa de alças também preta, que deixava a barriga chapada à mostra.

As duas eram belas mulheres, mas eu apenas as cumprimentei com um aperto de mão rápido e voltei meus olhos para a Vivi, que continuava abraçada ao César.

- E você, César? Como está? - Falei já esticando a mão em um cumprimento, ao qual ele respondeu sem soltar a Viviane de seus braços.

- Estou ótimo, como pode perceber. - Ele falou apertando ainda mais a Viviane em seus braços. - Há quanto tempo não nos vemos, não é mesmo?

- É verdade. - Respondi apenas.

Tentei esconder meu desagrado. Iria aguardar o momento apropriado para falar com a Vivi. Não iria chamar a atenção das pessoas sobre nós.

Logo eu estava com um copo de bebida na mão e todos trocavam uma ou outra palavra entre si. Era complicado entabular uma conversa mais longa devido ao som alto dentro da boate, apesar de estar em um volume bem menor que no salão inferior, onde também havia a pista de dança.

As horas passaram e eu não consegui nenhuma oportunidade para falar com a Viviane de forma discreta. Já estava pensando em ir embora e adiar nosso encontro para amanhã, como ela havia sugerido por mensagem, afinal, não poderia colocar tudo a perder por gestos impulsivos, quando a Vivi se aproximou do João Pedro, que estava ao meu lado e pude ouvir claramente o que ela falava.

- Vamos embora João Pedro. - Falou e fez um gesto para o relógio em seu pulso. - Já passa das duas horas e sabe que não gosto de ficar até mais tarde que isso.

A Viviane estava um pouco contrariada, dava para perceber pelo seu jeito de falar. Não pude entender o motivo, apesar de não ter tentando falar comigo em momento algum, nem eu tampouco com ela, eu havia ficado atendo aos seus movimentos e não vi nada que pudesse ter causado o seu aparente mau humor.

- Você ficaria muito chateada se eu implorasse por mais trinta minutos? - Meu irmão falou sorrindo e juntando as mãos como em uma súplica. - Por favoooorrr...

A Viviane acabou sorrindo com a expressão de cachorrinho que meu irmão estava fazendo e naquele momento eu vi a oportunidade que estava esperando por toda a noite.

- Pode ficar à vontade irmão. Eu já estou de saída mesmo, posso levar a Viviane para casa. - Falei de maneira despreocupada, como ar de enfado e mesmo assim meu irmão me olhou ressabiado.

- Tem certeza que você não se importa de levar a Vivi em casa?

- Não preciso que ninguém me leve em casa. Eu vou esperar por você, JP. -  A Viviane falou me olhando com uma expressão chateada. Nem parecia a garota apaixonada que tive em meus braços uma semana atrás.

Tentei conter meu temperamento, não gostava de ser contrariado, e disse apenas: - Você que sabe. Não seria nenhum problema para mim, afinal moramos na mesma propriedade. - A olhei de maneira firme, de forma que ela entendesse o recado.

- Vai com o Felipe, Vivi! Qual o problema? Eu sei que vocês não são os melhores amigos do mundo, mas é apenas uma carona. - João Pedro insistiu, me ajudando sem nem mesmo saber.

- Gente, estou indo embora. Quer uma carona Vivi? - A garota por nome de Júlia falou, me deixando extremamente chateado. Por que ela tinha que aparecer justo agora com esse oferecimento?

- Você está indo embora com o cara que você conheceu aqui na boate? - Viviane perguntou para a amiga. Pela expressão em seu rosto e pela forma como fez a pergunta, entendi que ela não havia gostado da ideia, o que acabava sendo algo bom para mim.

- Sim, amiga. Mas não precisa se preocupar, ele mora no mesmo prédio que eu. Olha só que coincidência! - Falou toda animada.

- Não gosto da ideia, Júlia.... Vocês acabaram de se conhecer! Quem garante que ele realmente mora no seu prédio? E mesmo que more, isso não garante que seja uma boa pessoa. Melhor você pegar um Uber. Eu posso te acompanhar.

- Ai amiga! Você é tão certinha! Eu vou com o Max. Já decidi. E você, vai conosco ou não?

Enquanto as duas debatiam, eu e meu irmão apenas ouvimos sem interferir. Aguardamos a Viviane decidir, sem pressioná-la, por maior que fosse a vontade de me meter e decidir pela Viviane, não era o correto.

Fiquei bastante aliviado quando ela finalmente disse para a amiga:

- Vai com o Max então. Eu vou com o João Felipe. Ele já está de saída e você não precisa sair de seu caminho para me deixar em casa.

A Júlia se despediu de nós e também do César e da Cecília que estavam dançando perto de nós e foi embora acompanhada pelo tão Max.

- Vamos Viviane? - Chamei, quando vi que ela conversava com os seus amigos, acredito que se despedindo deles, pois logo ela estava abraçando o César e sua amiga.

- JP, você tem certeza que não vai embora agora? Você nem mesmo está bebendo hoje! Por quê vai continuar aqui? - Viviane questionou o meu irmão e eu estranhei seu comportamento.

Afinal, era ótimo que o João Pedro ficasse na boate e que fôssemos só nós dois embora. Assim teríamos o nosso momento a sós sem despertar suspeitas.

- Estou de olho em uma gatinha que vi próximo ao bar. - Meu irmão explicou sorrindo.

- Mas eu só te vi conversando com seu amigo Jack!

- Foi exatamente nessa hora que vi a gata, Vivi.

- Entendi. Tudo bem então. Cuide-se!

- Falou Viviane, abraçando e beijando meu irmão como se eles não se vissem todos os dias, pensei contrariado com a demora da Vivi.

Me despedi do meu irmão e de seus amigos apenas com um aceno de cabeça e enfim saímos da boate.

Fomos em silêncio, comigo direcionando a Viviane pela cintura, mas ela parecia arredia e eu apenas a tocava levemente, somente para indicar o local onde estava meu carro.

Quando já estávamos dentro do carro, a caminho da mansão, resolvi então quebrar o silêncio, pois já estava me sentido desconfortável.

- Por que você está chateada? 

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