Capítulo 2

— Alô! Papai. — Comecei a chorar. — Eu matei um cara.

Sabe, quando você começa em uma escola nova, nunca, jamais em sua vida você imaginaria que no primeiro dia de aula você mataria um cara. Bem, apesar de ser uma caçadora, vinda de uma família de caçadores, aquilo era bizarro.

— Querida, se acalme e me conta o que está acontecendo. — A voz tranquila do meu pai desta vez não conseguiu me acalmar nenhum pouco.

— EU MATEI UM CARA. — Gritei para o telefone. Ouvir meu pai do outro lado da linha dizer algo para alguém.

— Querida, estamos indo para ai, onde você está? — Perguntou meu pai.

— No banheiro feminino. — Respondi. Caminhei até as pias e sentei debaixo dela e agarrei meus joelhos. — Papai... — Choraminguei.

— Estamos indo para ai docinho. — Meu pai desligou.

Eu já tinha matado vampiros, lobisomens, metamorfos, capelobo, nossa esse último deu trabalho. Mas nunca tinha matado um humano. Ainda mais do jeito que aconteceu. Eu devo ter comido a alma dele.

Escutei o alarme de incêndio tocar, não me movi do meu lugar. Sabia que quem tinha feito isso era o meu tio Alex. Quando estávamos em apuros, era totalmente normal desviar a atenção de onde estávamos para que a equipe de salvamento viesse nos pegar.

Eu com toda certeza iria para a cadeia. Não tinha como me safar desta. Apesar que meu tio Alex poderia dar um jeito em tudo, mas como ele ia dar um jeito em minha cabeça? Eu matei um cara, um gostoso e maravilhoso cara. Isso era bem típico de mim. A primeira vez que sinto atração por alguém eu o mato.

Deitei minha cabeça em cima dos meus joelhos. Lá fora escutei a baderna do povo saindo por causa do falso incêndio.

Aquilo era tudo culpa do meu pai. Se eu tivesse ficado em casa estudando por lá, como toda a minha vida eu tinha feito, isto não teria acontecido. Neste momento estaria com o tio Jack fazendo alguma experiência com explosivo, ou estudando alguma forma de hackear sistemas com o tio Alex, ou então rindo das tentativas do meu pai ensinar a mim e minha mãe cozinhar. Mas não, estava neste momento presa no banheiro com um cara morto.

A minha vida até aquele ponto tinha sido muito feliz. Desde pequena eu treino de tudo um pouco para combater as criaturas da noite. Chamamos elas assim porque a maioria das vezes saímos para caçá-las a noite, porém não quer dizer que são somente da noite.

Uma vez saímos para caçar um curupira que estava matando todos que chegasse perto de sua casa no meio de alguma floresta no Mato Grosso do Sul. Se ele tivesse se mantido somente nos homens do desmatamento, a equipe nem tinha prestado muita atenção nele, daremos uma chamada e explicaremos que ele tinha que maneirar nas mortes para não chamar muita atenção, mas a criatura ficou louca e matava geral. Matou uma mãe que estava apenas colhendo algumas frutas para que seus filhos tivesse algo que comer.

Aquela tinha sido a minha primeira missão. Com doze anos, fui a mais jovem caçadora. Me orgulhava tanto disso. Aquela noite foi perfeita, saímos todos para caçar, até o tio Alex foi junto, geralmente ele não gosta de sair em bando. Rastreamos, preparamos uma armadilha e bingo, pegamos o danado. Matar ele, foi difícil, o bicho era ligeiro, no fim, tio Jack o distraiu o tempo suficiente para que eu cortasse a cabeça dele.

Ai vai uma dica de graça, quando você lida com alguma criatura da noite o mais certo é sempre cortar a cabeça para que ela não retorne e venha te encher o saco depois. Ouvi a porta do banheiro se abrindo e por ela passando minha família, primeiro papai, depois mamãe e por último tio Jack.

Meu pai veio até mim, seu rosto tranquilo não expressava nenhuma recriminação. — O que foi que houve docinho?

— Eu matei um cara. — Me lancei em seus braços e comecei a chorar novamente. Eu raramente chorava, desde pequena fui ensinada a ser forte e a batalhar pelo que eu queria, seja por causa de um doce ou de uma nove milímetros com cabo de marfim data de cem anos atrás, ou seja, tinha algo muito errado comigo.

— Não matou. — Tio Jack que estava do lado do meu cara falou. — Ele só está desacordado. — Olhei por cima do ombro do meu pai e vi meu tio tirar os dedos do pescoço dele.

— Três minutos. — A voz do tio Alex foi auditiva pelo rádio que estava na mão da minha mãe.

— Vamos sair daqui. — Meu pai falou.

Sequei as lágrimas com a mão e levantei. Agarrei minha mochila e jaqueta. Meu tio e meu pai pegaram o menino e saíram do banheiro, minha mãe veio até mim e me abraçou a cintura. Saímos do prédio da escola pelos fundos. A van da empresa do meu pai estava estacionada com as portas abertas. Todos nós corremos para dentro e meu Tio Alex saiu cantando os pneus.

— Tem certeza que ele está vivo? — Perguntei em dúvida para o meu tio.

Todo mundo estava olhando para o garoto deitado no assoalho da van, Meu pai e meu Tio Jack de um lado e eu e minha mãe do outro.

— Tenho sim. — Tio Jack apontou para o peito do garoto e eu percebi o movimento de inspiração e expiração dele. Um alívio me percorreu.

— Docinho. — Meu pai chamou a atenção. — O que foi que aconteceu?

Olhei para ele e depois para o meu tio, e sentir meu rosto esquentar. Como eu iria falar para todos ali que eu estava dentro do banheiro dando uns pegas em um cara que eu nem sabia o nome. Que se tivesse acontecido tudo aquilo, provavelmente eu estaria naquele momento perdendo minha virgindade com um completo estranho.

— Eu não sei. Foi tudo meio confuso. — Disse abaixando a cabeça e encarando os meus jeans.

— O safado ai te atacou? — Ouvir um rosnado do meu tio Jack.

— Não. Quem atacou foi eu. — Lembrei da maneira que me agarrei ao corpo dele e o beijei e meu embaraço ficou ainda maior. Ficamos todos em silencio, podia sentir os olhares para mim. Queria me esconder.

A van parou e eu olhei. Tio Alex que virou para nós. — Chegamos, vou me certificar que ninguém viu a gente.

— Certo. — Meu pai abriu a porta da van. — Vamos levar este rapaz para dentro e entender o que está acontecendo. — Sentir um frio na barriga quando ele olhou para mim.

Observei eles levando o meu cara para dentro de casa. Comecei a andar ao lado da minha mãe e quando os rapazes saíram da linha de visão eu agarrei o braço dela e a parei.

— Eu o beijei. — Disse nervosa. — Eu simplesmente o ataquei. Sentir meu corpo estanho e precisava, não sei. — Comecei a andar de um lado para outro balbuciando as palavras que nem para mim fazia muito sentido. — Meus olhos ficaram violetas. Meu corpo pegando fogo e ele estava ali na minha frente e falando comigo. A voz dele. — Olhei para minha mãe em desespero. — Que voz, rouca parecendo a de um cantor de rock.

— Lari. — Minha mãe colocou as mãos em meus ombros e me parou. — Respira querida. — Eu fiz o que ela me mandou. — Agora me conte desde o começo. — E eu contei tudo para ela, desde o momento em que o tio Jack me deixou na escola até o momento em que eu liguei para eles.

— Foi isso. — Dei de ombros. — Eu só o beijei. — E nós demos um belo de um amasso. Ainda podia sentir aquela mãos grandes apertando os meus seios, os lábios beijando meu pescoço e aquela ereção dele pressionando a minha entrada.

Ouvimos barulho de vidro quebrando e xingamentos masculinos vindo de casa. Corremos as duas para dentro, já pegando nossas facas dentro de nossas botas nos preparando para o pior, mas nada nos preparou para o que virmos no meio da sala de estar.

Meu pai e meus tios estavam parados na sala olhando o meu cara, este estava sem camisa, mostrando o peitoral gloriosamente nu dele. Eu até levei a mão na boca para verificar se não estava babando, porque ele era lindo demais, queria lamber tudo aquilo e realmente era muita loucura. Definitivamente eu estava pirando. Que um bom motivo para justificar aquela conclusão? O garoto na minha frente tinha asas.

Isso mesmo galera, lindas e perfeitas asas de um branco puríssimo, quando a luz batia nelas dava um reflexo de arco-íris, a coisa mais linda e impressionante que eu já vi na minha vida.

— Ai meu Deus! — Exclamei surpresa. — Você é um anjo.

— E você um maldito demônio. — Ele veio em minha direção meio que voando ou saltando e me atacou, saímos rolando da sala em uma confusão de pernas, braços e asas e fomos parar no meio do hall de entrada da casa.

Meus anos de treinamentos com os homens da minha família me deram grandes vantagens sobre o meu cara, quando paramos de rolar eu estava em cima dele com a minha faca em seu pescoço e lutando com a urgência e beijar aquela boca carnuda. Meu corpo traidor estava começando a reagir a ele.

— Sai de cima de mim demônio. — Ele rosnou e tentou se levantar, rangi meus dentes para segurar o gemido. — Que porra você é? — Ele me perguntou mais uma vez.

— Ela é uma súcubo. — Minha mãe disse ao se aproximar da gente. — Acho bom você não fazer movimentos bruscos. — Ela estava apontando uma arma para ele. — Ou então terei que limpar seu cérebro do meu chão e isso vai me deixar muito puta da vida, já que fiz minhas unhas ontem.

O cara olhou primeiro para mim e depois para minha mãe e largou a minha blusa que estava agarrando. Estendeu as mãos para cima em rendimento. Endireitei a minha postura, mas ainda não sai de cima dele, uma que eu estava gostando de onde me encontrava e outra que seria mais fácil de contra atacar se ele lançasse um ataque contra a gente.

— O que é você? — Foi a minha vez de perguntar.

— Sou um Nefilim.

— Um meio anjo e meio humano? — Ele balançou a cabeça em afirmativa. — Não sabia que vocês existiam.

— Eu não sabia que um demônio vivia no meio de humanos. — Ele retrucou.

— Meio humana e meio demônia para você. — Dei um sorriso doce e mordi meu lábio, vi com intensa satisfação as pupilas do meu anjinho dilatarem. Ah! Prevejo confusão pela frente.

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