— Sra. Thompson! — chamou Janet, com o dente recuperado nas mãos. Perguntas precisavam ser feitas e não tinha ideia sobre o tipo de resposta que teria.
— Sra. Thompson! É a Janet!
Deu três batidas na porta branca de madeira. Estava impaciente. Olhou em volta e deparou-se com uma imensa samambaia pendurada por correntes no teto. Como não tinha visto aquilo? Sua folhagem descia até o chão e ali depositava-se, formando algo parecido com um ninho. Lembrou-se de que a Sra. Thompson havia comentado sobre aquilo, mas Janet não havia dado a mínima. Continuava não sendo um caso para a polícia resolver, mas a planta possuía um aspecto sinistro que a deixava desconfortável.
— Sra. Thompson! Preciso falar com a senhora... Assunto da polícia!
O silêncio ainda pairava pela casa. Levou a mão à maçaneta e a girou lentamente.
Henry Stock estava deitado com os olhos voltados para o teto do seu quarto e com as mãos atrás da cabeça. Amélia dormia tranquila ao seu lado, sem incomodar-se com a turbulência que o deixava inquieto. Ficou assim até ver as primeiras luzes do dia passarem pela persiana e o alarme tocar.— Bom trabalho, amor — desejou a esposa, como sempre fazia.Henry deu-lhe um beijo na testa, colocou o uniforme e saiu. Antes de entrar no carro, pegou o celular e conferiu, mais uma vez, se não havia nada comprometedor nas mensagens ou fotos. Estremecia só de pensar que pudesse ter deixado alguma ponta solta. Mas aquela havia sido a última vez. Era uma promessa — como havia feito tantas outras vezes. As imagens das algemas na parede e o chicote pendurado atrás da porta lhe arremeteram de súbito e precisou conter a excitação.— Bom dia, Sam.— Bom dia, s
Callab Watson aguardava, com visível ansiedade, em sua sala-esconderijo as notícias sobre o desenrolar das investigações. Estava certo de que havia um louco à solta em Melford, e quanto menos colocasse o rosto largo à mostra, melhor. Apesar de, por muitas vezes, ter desejado que algo ruim acontecesse consigo próprio — principalmente na época da separação —, queria viver, mesmo que fosse na companhia dos chocolates e frituras. Seu telefone estava em cima da mesa, desligado. Na parte da manhã havia tocado sem parar e o nome do capitão estampava a pequena tela trincada tal qual um letreiro iluminado em uma viela escura. Não tinha o que e nem como falar com Henry. No mínimo, ficaria com a orelha vermelha de tanto que seria xingado. Como se não bastasse o celular, o telefone fixo esperneou irritado. Como ninguém ligava para aquele número, Callab havia esqueci
Durma, Criança!Ele está chegandoTrazendo os velhos sonhos roubadosDos tortuosos caminhosEle não entendia aquele olharO que havia naquela janela para tanto espiar?Vislumbrava o futuro incertoOu o passado que teimava em ficar?Durma, Menino!Ele já vai chegarTrazendo os velhos sonhos roubadosDos tortuosos caminhosAcordou como de súbitoEncontrar a mulher de branco era o seu intuitoNa floresta deparou-se com o momento fortuitoOnde os pés delicados flutuavam muitoApontavam os dedos miúdosE escancaravam os dentes pontudosBrincavam, zombavam e batia
— Tio Oswald, eu não quero ir para escola...— Eu sei que não, mas seus amigos querem te ver... — respondeu, coçando atrás da orelha.— Não querem, nada. Eles são todos uns mentirosos! — disse em voz alta e voltou a colocar o travesseiro por cima da cabeça.— E os desenhos que eles fizeram para você? Se esqueceu?Peter olhou pela brecha do travesseiro em direção à parede onde Oswald havia colado os desenhos que havia recebido do colégio, no intuito de amenizar o luto que ainda pesava sobre o menino. Após a morte de Justine, Oswald tornou-se mais do que um simples amigo da família. Agora ele era A família de Peter. Ao menos, era o único que se importava com ele. A última aparição de Barney havia sido no mês passado, justamente no velório da esposa. Falava alto e pisava torto dev
— Você compreende que o grande problema não é aquilo que acontece à sua volta, mas o modo como você lida com ele?— Eu sempre acreditei que esse fosse o meu jeito. Esse... defeito que tenho na minha cabeça.— Sim, tornou-se seu, mas não é você. Você é um reflexo daquilo que almeja, e não o que os outros dizem ou apontam.— Mas como posso ser eu de verdade, se tudo o que vejo quando me olho no espelho é um espantalho? Por mais que eu queira, não consigo sair do lugar.— Agora chegamos a um ponto comum — respondeu a Dra. Anna, com os dedos das mãos entrelaçados e o cotovelo apoiado na mesa. — Você tem que “viajar” para dentro de si mesmo e voltar ao ponto de partida.— Viajar?— Sim, arrume as malas e aproveite a viagem.— Mas ir aonde?
A paisagem pacata e tediosa de Melford ganhava outros tons com o avanço furioso dos tentáculos que vinham da floresta. Os animais domésticos — aqueles que tiveram a sorte de não terem adoecidos — latiam, miavam e piavam de forma enlouquecida para algum tipo de inimigo invisível do outro lado da porta trancada, como se quisessem afastar o anjo da morte da casa de seus donos, que em sua maioria permaneciam recolhidos embaixo das mesas e camas, do modo que aprenderam pela televisão em como agir nas situações de perigo, como tiroteios ou desastres naturais. As revoadas dos mais diversos tipos de pássaros cobriam o céu da cidade à procura de um lugar mais seguro para construírem seus ninhos.O pequeno Norton W. Jenkins foi o primeiro dos locais, que se trancafiaram em suas simplórias residências, ao notar a sombra que cobria a janela do quarto, mesmo o sol ainda flutuando n
Charles Emery limpava o balcão de sua lanchonete no momento que os primeiros gritos ecoaram pelo bairro. Viu seu assíduo cliente, sargento Callab, passar veloz com a conhecida viatura — rebaixada pelo peso do dono — caindo aos pedaços. Imaginou que o homem devia estar com a corda no pescoço para ir trabalhar com tanta dedicação. Do outro lado da rua avistou o casal Fitch discutindo. Falavam alto e com rispidez. O modo como Antony berrava com sua esposa causou grande desconforto em Charles. Talvez fosse uma discussão corriqueira? Talvez a sua intromissão piorasse as coisas para a mulher? Segurou o cabo do taco de beisebol — que continha uma falsa assinatura de A-Rod, feita pelo seu tio, no seu aniversário de 12 anos. Charles soube pouco tempo depois que o taco era tão original quanto seu boné velho d
— Fico feliz que tenha voltado — disse Anna, com a caneta entre os dedos.— É, digamos que o nosso primeiro encontro.. quero dizer, não “encontro”, né? — respondeu Peter, sem jeito. — Nossa primeira conversa foi intrigante.— Posso dizer que você decidiu mudar? — Anna inclinou-se à mesa e deu algumas batidinhas com a caneta em cima do caderno, deixando inúmeros pontinhos azuis na folha branca. — Lembre-se de que não será fácil. Está pronto?— Eu... Sim. Estou pronto — disse, tentando sustentar a convicção em sua voz, enquanto pressionava os dedos da mão esquerda por debaixo da mesa.***Eles pagariam pelo que fizeram e pelo que deixaram acontecer. Pelo que viram e por fecharem os olhos. Pelo que ouviram e por taparem os ouvidos. Um a um. N&ati