Capítulo 2. A Garota Dos Meus Sonhos

E lá estava eu novamente, porém, aquele lugar era diferente de todos os outros em que já estive em meus sonhos. Eu me encontrava em uma montanha que não seria capaz de afirmar o lugar com exatidão.

neve caia livremente por ali, formando um belo caminho de gelo. Caminhei vagarosamente por aquela estranha montanha, até ouvir uma voz conhecida por mim:

 Henry, o que faremos? — Segui aquela voz meio sussurrada, parando em frente à uma assustadora caverna. A escuridão predominava por ali, me sendo capaz apenas de ouvir suas vozes.

Porém, apesar do medo que senti em relação a aquele lugar, entrei por entre a escuridão, tateando cegamente às paredes presentes naquela caverna.

No entanto, me localizei rapidamente ao ver uma pequena luz no meio daquele breu. Reconheci quase imediatamente as duas pessoas que se encontravam ali.

Henry estava sentado em uma pequena pedra que havia ali, com seus dedos emaranhados por seus cabelos. Ele parecia preocupado, abatido, com enormes olheiras sob seus olhos. Já Ayla estava em pé ao seu lado, parecendo impaciente. Seus olhos eram cansados, cabisbaixos. Ela suspirou pesadamente, exausta.

Tentei encontrar o bebê que havia visto mais cedo em meus sonhos, em vão. Ele não estava presente.

 Nós precisamos fechar a fenda que se abriu entre o nosso mundo e o submundo. Precisamos, caso contrário, todos irão sofrer com as consequências de nossas ações. — Henry respondeu à mulher, decidido. Tentei prestar o máximo de atenção naquele estranho diálogo, porém, não fui capaz de entender o que aquilo significava. Fenda? O que seria aquilo? E principalmente, como eles haviam conseguido fazer tal coisa?

 E como faremos isso? — Ayla o questionou, asgustiada. Ela se sentou ao lado de seu marido, apoiando sua cabeça sobre o ombro do mesmo.

 Eu não sei, amor! — Ele sussurrou. — Apenas sei que precisamos restaurar o equilíbrio natural entre o nosso mundo e o submundo. Com a fenda aberta, todos corremos perigo, principalmente nossa filha. — Após sua fala, lembrei-me de seu pequeno bebê que, por uma total coincidência do destino, possuía o mesmo nome que o meu.

 Eles tentarão mata-la. — A mulher ao seu lado afirmou tristemente, se aconchegando ainda mais ao lado de Henry.

 Ela não merece essa vida, amor! Nossa filha não merece ter sua vida colocada em perigo devido as nossas próprias ações. — O homem disse desolado, pensativo.

 Ela será especial, mais poderosa do que todos os que já vimos. — Ayla afirmou. Um pequeno sorriso enfeitava seus lábios, porém, suas feições ainda eram descontentes.

 Sim, a mais forte entre nossos mundos. — Henry murmurou orgulhoso.

 Precisamos protegê-la, a todo custo. — A mulher comentou decididamente, observando o homem ao seu lado.

 E nós vamos, amor! Mas precisamos dele para que isso aconteça, sabe disso. — Ayla o olhou contrariada.

 Não suporto ele, você sabe. — A mulher disse emburrada, arrancando um sorriso sincero dos lábios de seu amado. Henry passou seus braços ao redor de Ayla, puxando-a para mais perto de seu corpo.

 Eu sei, eu sei! — Ele murmurou risonho. — Mas precisamos da ajuda dele, infelizmente.

 E cadê aquele idiota? — Ela questionou retoricamente.

 Já deve estar chegando. Tenha calma, amor! — Henry comentou olhando ao seu redor. Quem eles estariam esperando naquele estranho lugar?

Me apoiei na parede ao meu lado assim que senti uma tontura jamais sentida por mim. Um enjôo se fez presente na boca do meu estômago, fazendo-me prender a respiração. Tentei me manter consciente para ouvir mais daquele diálogo, em vão.

Aos poucos, a escuridão tomou conta da minha visão, porém, antes de, finalmente cair na inconsciência, ouvi uma gargalhada sombria naquela caverna. Uma voz que eu conhecia. Hades. E aquilo foi a última coisa que ouvi antes de restar apenas o nada em minha mente.

[...]

— Será que ela está bem? — Ouvi uma voz feminina questionar. Era desconhecida aos meus ouvidos.

Abri lentamente os meus olhos, sentindo uma vertigem jamais sentida. Sentei vagarosamente naquela estranha cama em que eu me encontrava, porém, minha cabeça latejou fortemente, fazendo-me deitar novamente. Suspirei, tentando focalizar minha visão no teto sobre mim.

— Viu? Eu falei que ela ficaria bem. — Só naquele momento que pude ver claramente quem se encontrava naquele quarto junto à mim.

Eram quatro garotas, para ser mais exata. Havia uma que estava ao meu lado, segurando minha mão entre as suas e dormindo profundamente. Verônica. Sorri ao vê-la tão bem, porém, um vinco se formou em minha testa ao tentar entender como ela havia se curado tão rápido. Confusão subiu por minha mente, mas nada disse.

Uma das outras garotas se encontrava ao meu outro lado, olhando-me minuciosamente. Seus cabelos eram loiros, com pequenos resquícios de dourado. Não era um tom muito comum de se ver, mas não deixava de possuir uma rara beleza em seus finos traços.

— Prazer, meu nome é Allyson! — Apertei firmemente sua mão estendida em minha direção, comprimentando-a devidamente. Ela aparentava ter aproximadamente minha idade, assim como todas ali, porém, sua simpatia e bom humor haviam me ganhado de primeira. Sorri em sua direção.

— Você pode fazer que nem eu faço na maioria das vezes, apenas ignore-a. — Uma voz um tanto quanto sombria murmurou em algum lugar daquele quarto que julguei ser uma sala de hospital.

Ao encontrar a dona de uma voz tão incomum, me surpreendi com sua aparência. Ela possuía traços finos, bonitos. Não me foi possível ver seus cabelos devido a uma capa preta que a mesma usava, tapando todo seu corpo. Ela fumava alguma coisa, soprando tranquilamente a fumaça para fora de sua boca. Questionei-me como alguém a deixaria fumar em um hospital. Aquilo não era proíbido?

— Aquela mal educada é a Amy. — Allyson comentou, apontando na direção daquela mesma garota que usava uma estranha capa por seu corpo. — Não se deixe abater pelo mau humor dela. Ela não é muito amigável. — Allyson sussurrou ao meu lado, fazendo-me sorrir automaticamente. Porém, apesar do seu baixo sussurro, Amy pareceu ouvi-la, olhando-a estarrecida.

— Se não calar a boca, você vai ver aonde eu vou enfiar esse meu mau humor. Vai ser bem no seu... — Antes que ela terminasse aquela frase agressiva, um pigarro a interrompeu.

— Tenham modos, pelo amor de deus! Daqui a pouco a garota vai achar que somos loucas. — A garota do qual o nome ainda me era desconhecido, disse sabiamente.

— Eu pensei que ela já pensasse isso. — Amy comentou despreocupadamente, fumando seja lá o que fosse aquilo. A garota a olhou contrariada.

— Você é uma idiota, sabia disso?

— Ora, minha cara amiga, acho que já me falou isso umas cinco vezes só hoje. Olha só, bateu seu record. — O deboche embutido em sua voz apenas fez com que aquela bela jovem se irritasse ainda mais. Para não ocorrer uma briga mais séria, Allyson se colocou na frente daquela garota, impedindo-a de chegar até a Amy, a qual parecia estar o mais tranquila possível.

— Que tal pararmos com isso? Falando nisso, essa daqui é a Evelyn! — Allyson apontou para a garota que até aquele momento me era desconhecido seu nome.

— Prazer. — Evelyn me comprimentou ainda meio enraivecida, porém, não deixou de ser educada. Meneei suavemente minha cabeça, comprimentando-a. Mas algo tirou minha atenção daquela briga boba que ocorria à minha frente.

— Espero que não tenham assustado ela. — Ouvi uma voz rouca de sono pronunciar ao meu lado, surpreendendo à todas ali.

— Cheguei a pensar que estivesse morta aí. — Amy comentou provocativa, arrancando um pequeno sorriso de Verônica. Gostaria de saber de onde elas se conheciam!?

— E eu achei que a essa hora você já estivesse sido morta por algum demônio. — Amy gargalhou diante daquela provocação, murmurando logo em seguida:

— Você sabe que não é tão fácil assim de me matar!

— Infelizmente. — Verônica sussurrou brincalhona. Mas algo naquela conversa não estava certa, demônios? Desde quando haviam demônios em nosso mundo?

— Como assim demônios? Aonde eu estou? — Questionei confusa, sentando-me lentamente naquela cama devido a tontura ainda presente. Após minha pergunta, elas pareceram perceber que eu ainda estava lá, pegando-as de surpresa. Revirei os olhos discretamente.

— Você se lembra do que aconteceu? — Allyson quem havia me perguntado, fazendo diversas lembranças surgirem em minha mente.

— Você me salvou! — Disse firmemente, apontando em sua direção. Allyson afirmou lentamente, com um pequeno sorriso em seus lábios. Me sentei vagarosamente naquela cama, sentindo uma leve pontada na nuca com todas as lembranças que me assolaram. Massageei levemente minhas pálpebras. — Aquilo foi real? — Indaguei, estranhando o tom rouco que saiu por meus lábios.

— É gata, você arrebentou com aquela maldita fúria! — Amy disse alegremente, soprando tranquilamente a densa fumaça para fora de sua boca. Ainda me perguntava como deixavam ela fumar em pleno hospital, mas resolvi não questionar.

— Fúria? — Questionei, não entendendo sua fala.

— É, aquela coisa feia que você viu, se lembra?

— Amy! — Verônica chamou sua atenção. — Pega leve. — Amy levantou seus braços, em um claro sinal de rendição. Ela tragou mais uma vez o cigarro presente em seus dedos, jogando-o no chão e pisando fortemente, apagando o fogo que havia na ponta do mesmo. Amy se levantou e caminhou para a saída, porém, antes de finalmente sair, ouvi sua voz murmurar, sombria como a primeira vez em que a escutei:

— Deveriam contar a verdade para ela, sabem disso! — Dito isso, ela se virou e piscou sensualmente em minha direção. Arqueei uma sobrancelha para ela, ouvindo sua profunda gargalhada, observando-a sair logo em seguida daquela sala.

— Ela é ridícula! — A garota que me lembrei se chamar Evelyn, murmurou irritada.

— Nem me diga. — Allyson sussurrou baixinho, parecendo descontente. Porém, também pude notar uma certa tristeza em seu olhar. Me perguntei o motivo daquilo, mas não consegui pensar em nada.

— Tudo bem? — Perguntei, segurando em sua mão. Allyson me olhou rapidamente ao ouvir meu questionamento. Ela apenas afirmou suavemente com a cabeça, mas um sorriso triste enfeitava seus lábios.

Evelyn, parecendo notar o estado da amiga, caminhou até estar ao seu lado, abraçando-a pelos ombros.

— Bom, nós vamos deixar vocês duas conversarem! — Evelyn murmurou, se referindo à Verônica e à mim. Após isso, elas duas saíram da sala, deixando um silêncio desagradável naquele quarto de hospital.

— Preciso que veja algo. — Verônica quebrou o desagradável silêncio que havia se instalado ali. Ela se levantou rapidamente, estendendo uma mão em minha direção. Aceitei sua ajuda para me levantar, apesar de não ter certeza se o médico havia me dado alta.

— Vai me contar a verdade depois? — Questionei intrigada com tudo aquilo. Não me lembrava ao certo o que havia acontecido para eu ir para um hospital, ou apenas... Não era de minha vontade lembrar seja lá o que fosse. Não saberia dizer com exatidão.

— Claro, tudo que quiser saber. — Verônica me respondeu rapidamente, ajudando-me a levantar.

Dei uma breve olhada na roupa que eu vestia naquele momento. Não era um roupão de hospital, que seria o mais adequado levando em consideração o estado em que me encontrei ao chegar ali. Ao invés disso, eu vestia um pequeno short, que notei rapidamente não ser meu, juntamente com uma blusinha simples, cavada, devido ao calor que se encontrava naquele lugar. Franzi o cenho, confusa.

— Essa roupa é sua? — Questionei com um pequeno sorriso crescendo por meus lábios. Já que Verônica era bastante parecida comigo em relação ao corpo, aquela roupa me serviu perfeitamente.

— Bom, sim! Mas graças a Deus não precisei te trocar dessa vez. — Sorri instantaneamente com sua fala.

— E posso saber quem trocou minhas roupas? — Arqueei uma sobrancelha em sua direção, vendo um sorriso maldoso nascer em sua boca. Revirei os olhos.

— Não se preocupe, baby! Posso apostar que não foi ninguém que tirasse proveito desse seu corpo maravilhoso. — Gargalhei diante de sua estúpida brincadeira. — Se bem me lembro, foi uma senhora de quase oitenta anos que te trocou. A não ser que ela tenha algum fetiche com novinhas, eu não me preocuparia!

— Cala a boca. — Disse quase imediatamente, ouvindo sua gargalhada ao meu lado. Soltei um breve riso. Em fração de segundos, Verônica adotou uma expressão séria, parecendo se lembrar de algo, observando-me atentamente.

— Vamos, quero te mostrar o lugar em que passo a maior parte do meu tempo. — Ela disse enquanto me guiava para fora daquele quarto.

— Achei você passasse o maior tempo na minha casa. — Brinquei, vendo uma carranca se formar em seu rosto.

— Engraçadinha. — Ela murmurou contrariada. Sorri automaticamente.

— Para onde estamos indo? — Perguntei assim que senti suas mãos me guiando suavemente por aquele lugar ainda desconhecido por mim.

Passamos diretamente por o que julguei ser a recepção daquele hospital em que fui parar. Cumprimentei a moça que parecia estar trabalhando ali, recebendo um aceno da mesma quase imediatamente. Suas feições eram puramente surpresas. Estranhei aquilo, mas nada disse. Aliás, tudo por ali parecia anormal.

Verônica ainda não havia respondido ao meu questionamento, não até que finalmente havíamos saído daquele hospital. Ela murmurou logo em seguida, parada ao meu lado:

— Bem vinda ao meu lar, Eliza! — Me surpreendi com o que vi naquele lugar. Com certeza era diferente de tudo o que eu já havia presenciado durante minha vida.

Haviam diversos adolescentes vagando por ali, a maioria eu ousaria dizer que possuíam a mesma idade que a minha. Porém, algo diferenciava totalmente aquele lugar dos outros em que já visitei. Por aquele enorme acampamento, o nomeei assim devido à uma placa que vi escrito em grego e que, por algum motivo totalmente desconhecido por mim, consegui ler perfeitamente, encontravam-se diversas espadas antigas, arcos e flechas, e vários equipamentos para combate corpo a corpo.

"Acampamento para distintas criaturas", era o que estava escrito em letras bem definidas e desenhadas na placa logo na entrada daquele estranho acampamento. Eu não saberia dizer o significado de tais palavras, nunca havia ouvido falar sobre aquilo.

Aqueles jovens estavam lutando com expressões puramente sérias em seus rostos, o suor pingando pelo corpo de cada um ali presente. Alguns se enfrentavam com enormes espadas, que pareciam pesar uma tonelada. Talvez aquilo explicasse tanta beleza que vi em menos de meros segundos. Já outros, treinavam com arcos e flechas, mirando em alguns alvos que haviam ali, acertando-os perfeitamente. Perguntei-me como eles conseguiam fazer tal coisa. Eles simplesmente... não pareciam humanos.

— Que lugar é esse? — Minha pergunta saiu como um simples sussurro por meus lábios. Verônica me observou minuciosamente.

— Eu lhe disse que contaria a verdade, e assim farei. Este é um pequeno acampamento para pessoas especiais... — Ela disse cautelosamente, me olhando de soslaio. Fingi não notar seu olhar sobre mim, observando apenas para aqueles jovens que lutavam tão bravamente.

— Pessoas especiais? — Questionei após não ouvir uma explicação descente vindo dela.

— Bom, sim... Aposto que já ouviu falar sobre deuses e Semideuses, certo? — Afirmei lentamente, não entendendo aonde ela queria chegar.

— Já ouvi alguns boatos sobre esse assunto. Aposto que a maioria são apenas lendas para botar medo em criancinhas. — Soltei um breve riso debochado, porém, estranhei quando vi Verônica com uma expressão extremamente séria em seu rosto.

— Não são apenas lendas, Elizabeth! — Ela murmurou observando o treinamento de cada jovem ali. Odiava quando a mesma falava meu nome completo, sendo que, na maioria das vezes, havia algo de errado.

— Como assim? Não me diga que acredita nessa bobagem de Semideuses!? — Minha voz soou debochada, tentando aliviar o clima que havia se instalado entre nós duas, em vão, devo confessar.

Ao invés disso, Verônica segurou firmemente em meu braço, puxando-me em uma direção desconhecida por mim. Passamos rapidamente por entre alguns jovens que estavam treinando arco e flecha. Temi que alguma daquelas flechas nos acertasse, porém, eles esperaram pacientemente até que passássemos para voltarem aos treinos.

— Preciso que veja algo! — Verônica comentou após alguns segundos em silêncio, ainda me puxando por aquele enorme acampamento.

Paramos de frente para o que julguei ser um campo de treinamento. Quase não pude acreditar no que vi a seguir. Haviam dois garotos lutando seriamente, com espadas em suas mãos.

Porém, um deles, o loiro, sofreu um golpe do outro jovem, fazendo consequentemente com que sua espada caísse de sua mão, para bem longe de seu alcance. E com a espada fora de seus punhos, o jovem fez um breve movimento com as mãos, formando uma imensa bolha de água, jogando violentamente contra o seu oponente. Abri minha boca em choque.

Com aquele ataque surpresa, o outro jovem foi lançado brutalmente contra os pequenos fios que encontravam-se naquele campo de treinamento, que ficava há uns dez metros acima do chão, como um meio de segurança, eu diria. O garoto que havia sido atingido por aquela enorme bolha de água, apoiou sua mãos sobre o chão, tossindo fortemente, olhando raivoso para o loiro a sua frente.

— Você trapaceou! — O jovem que ainda me era desconhecido seu nome, afirmou irritado, apontando para o outro que havia lhe lançado uma bolha de água. O outro garoto apenas lhe deu um breve riso.

— Isso é real? — Meu questionamento saiu sussurrado por entre meus lábios, talvez temendo a resposta que me fosse dita.

— Sim... — Verônica murmurou ao meu lado, também observando aqueles dois jovens que, naquele momento, já haviam parado de lutar. — Aquele ali é filho de Poseidon, um Semideus, assim como a maioria aqui. — Ela apontou para o garoto loiro que caminhava entre brincadeiras e empurrões ao lado daquele que estava lutando com ele à alguns segundos atrás.

— Qual o nome deles? — Perguntei intrigada, os observando atentamente. Aquilo seria possível? Meu Deus, era loucura!

— O loiro é Nathan, já o outro, se chama Bryan. Por que a curiosidade? Se interessou? — Revirei os olhos diante de sua fala dita maliciosamente.

— Cala a boca! — Murmurei enquanto os observava vindo em nossa direção. O loiro, que descobri se chamar Nathan, possuía seus olhos em um perfeito tom de azul, assim como o mar. Ele me olhou inteiramente, fazendo-me corar diante daquele olhar. Vi que o outro lhe sussurrou algo em seu ouvido, fazendo-o sorrir automaticamente, o empurrando logo em seguida.

Já o outro garoto, Bryan, possuía seus olhos em um lindo tom de castanho escuro, capaz de queimar qualquer um apenas com seu olhar. Seus cabelos eram pretos, com uma linda mistura de dourado, refletindo à luz solar. Ele me sorriu suavemente. Os dois pararam à minha frente após alguns segundos. Seus olhares exibiam uma intensa curiosidade.

— É nova aqui, certo? — Nathan me questionou demasiadamente intrigado. Antes que eu pudesse respondê-lo, Verônica se intrometeu;

— Não, magina! Ela sempre esteve aqui, não se lembra, Nathan? — A voz dela exalou um sarcasmo jamais ouvido por mim. Corei com sua evidente falta de educação. Nathan a olhou irritado.

— Não me lembro de ter dirigido minha palavra à você, sangue ruim! — O loiro disse debochadamente à minha frente. Sangue ruim? O que aquilo significaria? Seja lá o que significasse, Verônica pareceu se irritar facilmente perante sua fala.

— Vamos embora, cara! — Bryan o puxou lentamente para longe de nós duas, caminhando apressadamente com seu amigo a sua frente.

— Idiotas. — Verônica murmurou ao meu lado.

— O que ele quis dizer com sangue ruim? — Questionei com uma curiosidade fora do normal, olhando-a em expectativa.

— É uma expressão que é usada com pessoas que não são exatamente Semideuses e que, por alguma razão, habitam aqui pelo acampamento.

— Espera... — Murmurei, perdida em pensamentos. — Se você não é uma semideusa como a maioria aqui, o que você é? — Verônica me olhou enigmaticamente, antes de caminhar lentamente por aquela região, parando de frente para o campo de treinamento.

— Bom... — Ela começou a falar, provavelmente sobre o que lhe perguntei recentemente. Porém, um perfume inebriante e totalmente adocicado tirou completamente minha atenção de suas palavras. Eu via sua boca mexer, mas não a escutava com perfeição. Franzi o cenho, confusa.

Dei alguns passos para trás, assustada com aquele perfume tão... diferente dos que já senti em minha vida. Era completamente diferenciado dos outros, causando-me diversos sentimentos jamais explicados pela ciência.

Mas, ao andar alguns passos para trás, colidi fortemente com outro corpo. Senti mãos gélidas segurarem firmemente em minha cintura, mas com o susto que levei diante de uma pele tão gelada entrando em contato com o meu sangue naturalmente quente, me virei rapidamente na direção daquela pessoa que, de certa forma, havia prendido totalmente a minha atenção.

Porém, ao me virar, com todo o meu desequilíbrio natural, acabei tropeçando em uma pequena pedra que havia no gramado daquele acampamento, levando nós duas ao chão. Eu sabia que era uma garota porque assim que caímos, meu rosto ficou entre as mechas do seu cabelo, sentindo aquele perfume inebriante de mais cedo. Corei violentamente com aquele desastre. Ouvi um resmungo da garota sob mim. Me levantei cuidadosamente, para não machucá-la ainda mais, apoiando minhas mãos sobre o chão. Suspendi meu rosto, e não pude acreditar em quem vi à minha frente. A jovem que ainda estava sob mim, me olhou surpresa, perplexa. Sua expressão refletia à minha. Era ela! Bem ali, na minha frente, estava a garota com quem eu tanto havia sonhado nos últimos meses. Meu.Deus. Como era possível?

Seus olhos eram exatamente como eu me lembrava, esverdeados, dos mais belos. Seus cabelos possuiam pequenas mechas de roxo, tornando-a se possível, ainda mais bela. Tremi levemente quando ela segurou em minha cintura, com as mãos gélidas entrando em contato com meu corpo extremamente quente.

Ao suspirar, vi pequenos flocos de neve saírem de sua boca. Era como se estivéssemos na antártica. Ela era completamente gelada e eu? Extremamente quente. Nós éramos, definitivamente, opostas. Mas algo sempre nos juntava, de diferente formas, como um ímã.

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