AMIZADE

Acordei no sofá do escritório com Brenda me chacoalhando e repetindo meu nome diversas vezes. Enquanto ela reclamava sobre eu ter deixado todos preocupados por não ter ido para casa e meu celular estar desligado, eu tentava, a todo custo, me recompor. Recordando a noite anterior, me senti envergonhada diante de minha amiga que demonstrava tanta preocupação. Amaldiçoei Alexandra por me beijar e a mim por desejar que ela o fizesse.

Sentei atordoada, tentando organizar os pensamentos. Brenda, ao meu lado, me olhava curiosa e espantada. Ela esperava por respostas que eu não daria.

O telefone tocava sem parar e sem dizer absolutamente nada fui até ele.

— Alô! — Atendi de forma rude.

— Bom dia! Por gentileza, a Senhorita Sarah Mitchell está? — Uma voz feminina e nasalada perguntou do outro lado da linha.

— De onde fala? — Perguntei pronta para dar uma desculpa qualquer e desligar o telefone.

— Falo da Cleveland Clinic. O Dr. Richard Gartner precisa falar com a Senhorita Mitchell com urgência.

A resposta dada foi o bastante para me deixar em alerta.

Brenda se aproximou ao ver a minha reação e eu sabia que a partir daquele momento absolutamente nada a faria sair de perto de mim.

Expliquei com poucas palavras sobre a ligação: O Dr. Gartner havia informado sobre a piora na saúde da minha mãe.

Ela teve um surto, ficou extremamente agressiva! Ele disse que nunca havia acontecido nada parecido durante todo o tratamento dela. — Finalizei a explicação enquanto ela me dava um copo com água.

— Precisamos manter a calma, Sarah. Ele disse mais alguma coisa? — Brenda perguntou.

— Não! Mas não gostei do tom de voz dele. Brenda, eu acho que ela teve um surto igual aquele. — Minha amiga me olhou sem dizer nada.

Há três meses, voltando da terapia, acompanhada por Casey e Brenda, eu entrei em minha casa e levei um enorme susto. Estava devastada! Boquiaberta, eu observei os vários objetos quebrados, especialmente os porta-retratos. Minha mãe destruiu todas as fotos que tinham meu pai, além do notebook e do celular. Procurei imediatamente por ela e a encontrei em seu quarto, rasgando as roupas que pertenciam a ele. Casey a segurou para impedi-la. Quando perguntei o que estava acontecendo, ela começou a dizer coisas sem sentido. Demoramos a acalmá-la. Confusa e magoada, me entreguei aos prantos. Alguns dias depois, sem explicar o que levou a tomar essa péssima atitude, ela simplesmente decidiu retornar para a clínica. As poucas fotografias que restaram do meu pai estavam no porão. Minha terapeuta havia recomendado não mantê-las a vista até eu estar totalmente recuperada. Mas quem é que se restabelece inteiramente de algo assim? Nunca aceitei a conjuntura da sua morte. De modo nenhum acreditei na versão do suicídio, mesmo com a polícia afirmando. Recentemente, havia entrado na justiça para a reabertura do caso e estava aguardando o retorno da minha advogada.

Saí das minhas reminiscências com a pergunta direta de Brenda:

— Vai ficar parada aí? Não iremos a clínica?

— Vamos!

Peguei a bolsa e andei até a antessala.

— Janet? — Gritei para o nada.

Revirei os olhos e Brenda respirou fundo. Novamente a minha assistente não estava onde deveria. Parecia surreal tudo acontecer ao mesmo tempo! Comecei a ficar cansada de ser tolerante e de sempre colocar o bem-estar dos outros a frente do meu. Sem ter certeza de onde veio, fui propulsionada por uma força desconhecida e apenas obedeci aos meus instintos.

Em silêncio, acompanhada por Brenda, desci no quarto andar indo até o setor de produção. Entramos sem aviso na sala do Dylan Evans. Eu tinha certeza de que encontraria a minha assistente ali e não estava errada. Os surpreendemos aos beijos. Para piorar a situação, ela estava sentada em seu colo e quase caiu quando levantou para se recompor. Com passos largos, aproximei dos dois. Janet ruborizada e sem graça não conseguiu dizer nenhuma palavra.

— Você está demitida. — Eu disse, olhando para ela sem nenhuma piedade ou compreensão. Não precisei falar nada para o Dylan e se ele contestasse seria o próximo. Brenda prendia o riso com a mão direita sobre a boca. Eu quase pude ouvir os seus pensamentos me parabenizando.

Ainda com pressa, saí do edifício indo direto para o meu carro e acelerei a caminho da Cleveland Clinic.

Um dos meus muitos defeitos é agir por impulso. Isso geralmente acontece quando tem algo me incomodando. Todo o desgaste com a morte do meu pai, a situação com a minha mãe e o trabalho estavam me deixando a beira da loucura. Então, era provável que minha impulsividade saísse do controle. E foi sem pensar que, após parar no sinal vermelho e ver Alexandra entrando em um carro do outro lado da rua, praticamente gritei com Brenda.

— Você não precisava ter vindo! Eu sei cuidar sozinha dos meus problemas. Não entendo o porquê de tanta insistência para me seguir o tempo todo!

Minha amiga franziu o cenho e abriu a boca várias vezes sem dizer nada. Ela balançava a cabeça em negativo, umedecia os lábios e me encarava incrédula. Após dizer as palavras, desejei internamente que ela não me perguntasse nada naquele momento, porque eu diria a verdade. Eu diria que meu estomago revirou pelo simples motivo de ter visto a namorada dela de longe e que esse fato me deixou com raiva.

Ficamos em silêncio por quase meia hora.

A clínica ficava em Bayside no Queens e, infelizmente, precisei passar por ali. Definitivamente, aquele bairro não me trazia nada de bom. Arrependi de ter permitido a internação da minha mãe naquele local, mas, na época, foram detalhes aos quais ninguém se atentou.

— Sarah, vamos fazer uma parada? Preciso de um café! — Brenda pediu assim que entramos no Bayside. Faltava pouco para chegarmos.

— Claro! — Eu disse, estacionando próximo ao Waypoint Café. — Ah, eu quero um...

— Cappuccino. — Ela terminou a frase dando uma piscadela e saiu.

Encostei a cabeça no banco do carro, fechando os olhos e suspirando profundamente. Sabia que ela não estava me acompanhado apenas por preocupação com a minha mãe. Ela queria conversar, entender o que estava acontecendo com a nossa amizade, pois há dias, o clima entre nós estava pesado. Tinha pensado em conversar com ela quando retornasse, mas as coisas não estavam saindo como programado. A verdade era que eu não havia planejado nada! Ela voltou minutos depois, me entregando o copo. Percebeu que eu estava tensa com tudo aquilo e tentou abrandar o clima:

— Adorei o jeito como demitiu a Janet Stone. — Ela disse, querendo rir. — Demorou muito para isso acontecer. Você viu a cara dela? — Olhou para mim e gargalhamos.

— Verdade Brenda. Demorei mesmo! — Suspirei. — Tenho demorado em tomar decisões.

Voltamos a ficar em silêncio e depois de vinte minutos chegamos ao nosso destino. Parei o carro no estacionamento da clínica, mas antes que pudesse sair, ela me segurou pelo punho. Engoli em seco antes de virar e encontrar o seu olhar confuso.

— Sarah? O que está acontecendo com a gente? Por que está me tratando dessa forma? Diga o que fiz de errado para eu poder corrigir. — Ela perguntou com a voz fraca, quase que como uma súplica.

Nos últimos dias eu estava agindo como uma adolescente. A ligação com notícias da minha mãe me trouxe de volta a realidade. Eu precisava colocar as coisas em ordem e isso incluía minha amizade com Brenda. Fitei com sinceridade e ela sustentou o olhar.

— Precisamos conversar, mas não aqui e nem agora. Não é o momento. Vamos resolver isso hoje quando voltarmos. — Disse com firmeza.

Brenda apenas assentiu de leve com a cabeça.

Direcionamo-nos para dentro do lugar. Bonito e muito espaçoso, com muitas plantas e bancos de madeira espalhados por todos os lados, era mais parecido com um SPA. Passamos pelo imenso jardim e finalmente chegamos à sala do Dr. Gartner, que nos aguardava.

O homem de meia idade, alto, usando jaleco branco, óculos de grau no rosto arredondado nos recebeu com uma recepção calorosa. Ele nos convidou para sentarmos e, sem delongas, relatou os últimos acontecimentos:

— A Dra. Ellen Mitchell, a princípio, foi internada por causa do alcoolismo. — Eu assenti. — Você sabe que, após seis meses ela foi liberada, mas retornou por vontade própria. A boa notícia é que ela conseguiu abster o álcool. Porém, nos últimos meses, o comportamento dela tem mudado. Ela ficou em observação antes de ligarmos para a Senhorita, por isso que ela ainda não...

— Poderia ir direto ao ponto, Dr. Gartner? — Interrompi ansiosa.

— Claro! — Ele fez uma pausa. Analisando-me, passou a mão nos cabelos grisalhos antes de retomar a fala. — Recentemente, fizemos alguns exames toxicológicos e é provável que tenha alguma alteração sanguínea...

— Como assim? — O interrompi novamente, erguendo-me alarmada. — Está dizendo que a minha mãe está usando drogas? Aqui dentro?

— Não posso afirmar que seja isso, Senhorita Mitchell. O que estou dizendo é que a Dra. Ellen teve um surto agressivo, o que nos levou a fazer esses exames, mas ainda estão em análise. — Ele levantou-se para me encarar. — Não temos certeza, por isso vamos investigar todas as possibilidades. Estou informando porque, se não houver nenhuma alteração nos exames, então o problema dela é, possivelmente, psicológico.

Olhei incrédula para Brenda. Não conseguia entender como minha mãe levou tanto tempo para se livrar do álcool e, agora, encontrava-se nesse estado. Não fazia sentido! Dr. Gartner era um médico renomado e confiável, mas, mesmo assim, indaguei-o. Ele assegurou de que ela teria o melhor tratamento possível e que faria de tudo para descobrir o que estava acontecendo. Pediu para que eu aguardasse o resultado de todos os exames e ao questioná-lo sobre o que aconteceria caso não houvesse alteração, ele disse que o melhor seria encaminhá-la para a ala psiquiátrica. Não gostei da ideia, mas não tinha muito a fazer, então, concordei com ele e disse que gostaria de vê-la. Gentilmente, nos acompanhou até o aposento dela. Encontrei-a em uma poltrona, apática. Ao seu lado, Emily, a enfermeira que a acompanhava desde o seu retorno. O uniforme de enfermeira não escondia a sua beleza. Pele morena, cabelos castanhos ondulados, olhos negros puxados e um sorriso encantador.

Minha mãe parecia inerte: não respondeu quando a chamei, tinha o olhar distante e estava muito abatida. Fiquei imensamente preocupada com ela.

— Ela não estava assim na minha última visita. — Comentei, olhando para Emily, que sorriu solicitamente.

— Infelizmente, o quadro dela tem sofrido alterações constantes, mas estou aqui para garantir a sua melhora. — Ela respondeu serenamente. Não comentei.

Em seu retorno para o tratamento, solicitei a clínica que minha mãe fosse acompanhada por alguém. Uma moça simpática e muito atenciosa que estava nos seus primeiros dias de trabalho na Cleveland logo ganhou a confiança da "Dra. Ellen", como a chamava. Elas criaram uma espécie de amizade da qual eu não gostava muito, mas não me opunha. Não tinha nada contra ela, porém, era o tipo que, sem saber o motivo, eu não confiava.

Beijei carinhosamente a testa da minha mãe antes de sairmos do quarto.

— Dr. Gartner, o senhor confia nessa enfermeira? — Perguntei, indo ao estacionamento.

— A Senhorita Emily Rodriguez? Bem, ela tem se mostrado muito eficiente! — Olhou para mim com um leve sorriso. — Se não está confortável com ela, podemos substituí-la.

— Não... Não é necessário... E depois, a minha mãe criou laços com ela. — Respondi, tentando lembrar-me de alguma falha da enfermeira, mas não encontrei.

Brenda acompanhou tudo sem opinar, mas sabia que ela daria apoio para qualquer decisão que eu tomasse. De volta ao carro, comentei sobre minha cisma em relação à enfermeira. Ela me tranquilizou, lembrando que, durante esses anos, não havia acontecido nada de errado.

Se não gosta dela, Sarah, é só trocar.Ela disse encerrando o assunto e com esse pensamento fiquei mais tranquila.

A caminho do Upper West Side, ela ligou o rádio, na tentativa de uma distração até chegarmos à minha casa. Entre as várias músicas que tocavam, uma chamou a minha atenção e senti um leve incômodo: a melodia que eu havia dançado com Alexandra tomou conta do carro, e as palavras invadiram a minha mente: "Querida, apenas me beije devagar...". Ela tinha sussurrado para mim durante a dança. Mudei a música logo Brenda protestou:

— Eeeeiiii... Essa é linda! — Ela reduziu o volume e esperou eu falar alguma coisa.

É isso o que acontece quando você convive demais com alguém! Essa pessoa passa a conhecer tudo em você e era isso o que acabara de acontecer: ela sabia que havia chegado a hora de conversarmos. Engoli em seco algumas vezes, procurando a melhor forma para entrar no assunto e ela, como sempre, esperou com resignação.

Pensei em começar pedindo desculpas antes de qualquer coisa, mas hesitei. Iniciar comentando sobre o relacionamento dela com Alexandra não pareceu ser uma boa ideia. Talvez, parar em algum lugar primeiro fosse o melhor a fazer. Eu nunca tinha traído nenhum dos meus amigos, então, essa seria uma reação desconhecida para mim. Considerei que estar no volante poderia causar um acidente. Ao sugerir pararmos para fazer um lanche, ela disse que seria melhor conversarmos em casa porque no Queens, definitivamente, não era uma opção.

Foi algo que eu fiz? Ela perguntou. Eu neguei com a cabeça.

Ela desligou o som, claramente tensa, e voltamos em silêncio.

***

Luke Thompson me aguardava em casa com a Casey. Eu amava muito meu amigo, mas desde que se tornou policial, as suas visitas me causavam inquietação. Foi ele que, meses atrás, apareceu de surpresa com Brenda e Casey na faculdade para avisar sobre o meu pai. Há pouco tempo, foi promovido a Tenente e poucas vezes tinha tempo para uma simples visita. Encontrá-lo sem aviso em minha sala não era exatamente agradável.

Assim que entramos, Brenda pulou sobre ele, gritando "Lukes" e o enchendo de beijos. Após o falecimento dos pais, Luke quem cuidou dela até a maioridade. Os dois irmãos sempre foram muito apegados e era sempre bom vê-los juntos.

— O que houve? — Entrei perguntando assim que os vi. Joguei a bolsa num canto do sofá e o abracei carinhosamente.

— Olá para você também, Sarah! — Ele disse com sarcasmo e eu dei um sorriso sem graça. — Liguei várias vezes para o seu celular e passei na JKM. Onde vocês estavam?

Indiquei com a mão para que ele voltasse a sentar. Casey encarava Brenda de cara fechada. As duas ainda não estavam conversando como pessoas civilizadas, mas também não pararam com as provocações. Acomodei-me ao lado dele explicando, sobre o celular ter ficado sem bateria e ter acontecido o mesmo com o da sua irmã. Ele ouviu atenciosamente quando falei sobre os acontecimentos do dia, incluindo a demissão da Janet. Aguardei os três comentarem e rirem do Dylan a respeito do ocorrido, mas minha ansiedade me venceu e precisei interrompê-los.

— Então, Luke, o que aconteceu?

— O Sr. Miller, Chefe do Departamento, recebeu uma notificação da juíza Kara Cooper. Parece que vão reabrir o caso Jake Mitchell. — Ele respondeu com um sorriso no rosto e os olhos castanhos brilhando. Não era segredo para eles o quanto eu desejava isso. Depois de meses esperando, finalmente estava acontecendo!

— É sério? É verdade isso, Luke? — Fiquei extasiada.

— Sim. Mas essa é uma informação confidencial. Você precisa esperar sua advogada entrar em...

Abracei-o antes que pudesse concluir.

Eu acusava a polícia de ter sido negligente, pois tinha certeza absoluta de que meu pai não havia cometido suicídio, e eu queria justiça.

— Calma Sarah! — Ele disse, rindo e tirando os cabelos negros e ondulados da testa. — Precisa saber que o detetive Michael Curtis não está nada feliz com isso.

— Quero que ele se dane! O mais importante é descobrir o que realmente aconteceu! — Eu estava eufórica demais para dar importância a qualquer outra coisa naquele momento.

Mas o Luke tinha razão, eu precisava da confirmação da minha advogada. Atentando-me a isso, peguei com pressa meu celular, que ainda estava desligado na bolsa. Iria ficar de vigília esperando pela ligação.

Comemoramos a novidade. Finalmente, uma boa notícia! Pensei enquanto recebia o abraço afetuoso de cada um deles. Em seguida, Luke se despediu dizendo que precisava retornar ao trabalho e Casey fez o mesmo, falando que iria a um compromisso, o que fez Brenda revirar os olhos.

A noite fria da sexta-feira chegou e me vi a sós com Brenda. Enquanto analisava a melhor forma para o desenrolar da noite, ela pedia, por telefone, comida chinesa. Abri a garrafa de vinho, apanhei duas taças e me acomodei ao lado de Brenda, que estava sentada no tapete branco e macio da sala. Coloquei alguns aperitivos em cima da mesa de centro e nos servi, enquanto aguardava a entrega.

— Estou muito feliz por você, Sarah. Sabe disso, não é? — Ela perguntou e percebi que estava um tanto sem graça.

Brenda prendeu seus cabelos negros em um coque frouxo.

— Claro que sei. — Engoli em seco, encarando-a.

Apanhei a taça e dei um farto gole. Ela aguardava, fazendo o mesmo. Poucas vezes tivemos momentos assim. Brenda, muito extrovertida, não tinha dificuldade em começar a conversa, mas não era o caso aqui. No momento, eu é que precisava dar a iniciativa. Tentei ir por um caminho que me deixou menos apreensiva:

— Não temos conversado muito nesses últimos dias... Haamm... Fale sobre como estão às coisas com você...

— Como assim? O que exatamente quer saber? — Deixei-a confusa, e não era para menos. Devido a nossa proximidade, a pergunta não teve lógica, então, recomecei:

— Sempre acreditei que você e a Casey iriam acabar se entendendo e namorando. — Rir sem humor e ela franziu a testa, tentando acompanhar meu raciocínio.

— Era clara a tensão sexual entre vocês. Sendo sincera, ainda é. Então, quando você... Achei estranho, não que seja da minha conta, mas achei estranho quando você deu outro rumo para essa história... — Eu falava pausadamente, entre um gole e outro do vinho. Ela desviou o olhar.

— Você me conhece há anos Brenda. Sabe como sou e conhece meu caráter... — Precisei respirar fundo para continuar. — Eu jamais faria qualquer coisa para magoá-la, sabe disso, não é mesmo? Eu... Bem, eu queria ter uma explicação, mas para esse tipo de coisa... Você sabe como penso. Não existe nenhuma justificativa para o que eu fiz e eu sei disso, mas, Brenda... Não estou tentando justificar, só estou sendo honesta com você... — Me perdi nas palavras e balbuciei várias vezes.

— O que você fez? — Ela virou-se para me encarar.

Nunca funcionei bem sob pressão e, neste momento, era como me sentia. Precisei levantar para recuperar o ar. Não é exatamente fácil assumir nossos erros. Não gostava também de falar sobre a minha vida íntima, sobre os meus sentimentos que, a cada dia que passava, ficavam mais emaranhados. Portanto, o quanto antes acabar com aquilo, melhor.

Quando comecei a falar que não imaginaria que ela iria namorar a Alexandra Ayers, Brenda lançou um olhar completamente confuso em minha direção.

— Sarah, espera! — Ela levantou-se, em espanto. — Do que diabos você está falando? — Perguntou.

Foi a minha vez de franzir o cenho.

— Eu não namoro a Alexandra... Como?... Por quê?... — Ela balançava a cabeça negando. — Que história é essa?

— Casey mencionou, no dia da discussão que vocês tiveram aqui, após a festa... Você disse a ela que estava namorando! — Expliquei e Brenda riu em descrença.

Ela esclareceu que havia dito isso em um momento de fúria, para provocá-la, mas não pensou que ela acreditaria. Voltamos a nos sentar, dessa vez, ficando uma de frente para a outra.

Durante a segunda garrafa de vinho, e as caixas, com comida chinesa, espalhadas sobre a mesa de centro, continuávamos no mesmo assunto tentando encaixar as peças. Ela não conseguia admitir o fato de que Casey realmente acreditava que ela estava com outra. Confessou todos os seus sentimentos, os quais eu já sabia, por ela, apesar de estar o tempo todo a chamando de "idiota estúpida".

Esperei ela parar com os insultos. Brenda balançava a cabeça negativamente perguntando como eu pude acreditar que ela seria do tipo que conhece alguém em uma noite e começa a namorar no dia seguinte. Eu não tive resposta e apenas dei de ombros. Também estava pasma. Comecei a aceitar que tudo não passou de um desentendimento.

— Não precisa brigar com a Casey, Brenda. — Meu pedido foi sincero.

— Não pretendo fazer isso. — O semblante dela tornou-se fechado. — Me entendo com ela depois. Mas preciso falar algumas coisas para você.

— Diga.

— É compreensível a Casey ter ficado mal, me tratar de forma grosseira, mas e você? Quero dizer... Você falou que a conheço bem e sei como é seu caráter, mas amiga, olha suas atitudes! É verdade que não namoro e nem nunca tive nada com Alexandra, mas se fosse o caso, então, essa Sarah... Essa eu não conheço!

Ponderei e percebi que ela tinha razão.

— Por Deus, Sarah, você teria sido capaz de me trair! O que estou dizendo é que... — Suspirou mais uma vez. — Considerando tudo o que foi dito, você não ficou apenas interessada em uma mulher, você está sentindo algo por ela!

Ouvi, certa vez, alguém dizer que amizade é sinônimo de liberdade. Ao lado de um verdadeiro amigo, podemos ser livres, mostrar quem somos sem pudor, revelar nossos sonhos e segredos. Um amigo verdadeiro nos conhece melhor do que ninguém e não nos abandona, seja qual for a situação. Eu tinha a minha frente dois amigos exatamente assim: um excelente vinho, para ajudar baixar a guarda, e Brenda para me ouvir e aconselhar.

Não diria que ela estava certa em dizer que tenho sentimentos por Alexandra, mas não poderia deixar de concordar que existia algo. E tão vago quanto à palavra "algo" era meu entendimento para com tudo o que estava acontecendo. Não, eu não estava apaixonada por ela! Tudo o que sentia eram borboletas no estômago quando a via e uma vontade insana de beijá-la. Vontade essa que aumentou consideravelmente ao descobrir que ela estava disponível.

Nosso primeiro beijo foi suprimido de uma péssima forma. Fechei os olhos, sentindo o arrependimento me corroer ao lembrar que Alexandra, durante nosso segundo beijo, queria dizer algo e eu a impedi.

Voltei a fitar Brenda, que parecia compadecer-se com minha bagunça sentimental.

Ela deduziu que seria uma longa noite e abriu outra garrafa.

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