HALLOWEEN (PARTE 2)

Virei meu quarto shot de tequila após quarenta minutos, não que eu estivesse contando, desde que aquela linda mulher me encarou e desapareceu. Precisava relaxar antes de ir à sua procura. Sentada no banco alto do bar, ainda conversava com Casey que, mesmo insistindo, não disse o que havia acontecido entre ela e Brenda.

Chris apareceu pedindo a mesma bebida que a nossa e virando de uma vez antes de nos informar que havia encontrado o restante do grupo. Apontou para um lugar mais adiante e pude visualizar Luke e Haley, fantasiados de vampiros. Dylan era o Freddy Krueger e Janet estava de bruxa. Brenda não estava com eles. Chris disse que só a tinha visto no momento em que chegamos.

— Ok, Casey, agora estou preocupada! — Falei, encarando.

— Vamos dar uma volta e procurar por ela. — Ela respondeu subitamente me puxando entre o aglomerado de pessoas.

Chris sequer teve a chance de nos acompanhar e eu agradeci aos céus. Ele já estava embriagado e sabia que iria ficar tentando me beijar, então, era melhor manter distância.

Fiquei ansiosa quando pensei que poderia ver a mulher misteriosa novamente, então, aproveitei para olhar em volta, procurando por ela. Passamos de mãos dadas, desviando das pessoas, vasculhando o ambiente em busca da Brenda. Sugeri irmos até a parte superior e tive que ouvir uma piadinha da Casey sobre eu finalmente me interessar por uma mulher.

Ela é linda, devo admitir. — Riley afirmou, lançando-me uma piscadinha. Eu revirei os olhos.

Não encontramos Brenda e nem a mulher.

Notei, mais ao fundo, uma discreta sala. Mostrei para Casey e ela disse que provavelmente seria difícil a Brenda estar ali, pois era uma sala VIP.

Andamos com os braços entrelaçados até a grade onde vi a linda mulher pela primeira vez. A visão daquele local era ampla, alcançava toda a Lavo, incluindo o bar e os toaletes. Estando ali, tive dúvidas de que ela poderia estar mesmo me observando.

Vasculhei mais um pouco e, por fim, encontrei Brenda. Ela estava encostada na parede próxima ao toalete com um coquetel na mão, como se estivesse esperando alguém. Descemos para falar com ela e senti Casey apreensiva. Assim que chegamos, Brenda a encarou com fúria. Era clara a tensão entre elas.

— Ei! Brenda? E aí, tudo bem? — Aproximei, perguntando com cautela.

Ela me olhou e não respondeu. Fiquei extremamente confusa.

— Certo, meninas, o que aconteceu? — Perguntei, levando as duas a um lugar mais reservado.

Brenda deu um farto gole no coquetel antes de narrar à cena de ciúmes provocada por Casey.

Ao que parecia, um rapaz havia tentado beija-la e Casey não gostou, empurrando-o e segurando o punho de Brenda com força, enquanto a arrastava para fora da pista.

Quando percebi, as duas estavam discutindo novamente. Eu tentei, em vão, acalmá-las, então, o que pude fazer foi apenas observar e esperar. As brigas entre elas eram comuns desde que as conheci. Poucas vezes, era necessário intervir: da mesma forma que começava, esvaía-se. Porém, dessa vez precisei, separá-las, ou pelo menos, tentei. Brenda, depois de deixar a taça ir ao chão, pressionou Casey, literalmente, contra a parede. Como ambas tinham o gênio forte, era difícil contê-las.

— Me solta, Brenda! Você está bêbada. Não vou conversar com você nesse estado!

— Você não vai conversar não, Casey. Você vai apenas me ouvir! — Brenda mudou completamente o tom e percebi que as coisas estavam saindo do controle.

— Presta atenção, Casey... — Ela engoliu em seco. — Tem uma pessoa que estou... Com quem eu quero ficar. E eu juro que vou ficar com ela, Casey. Essa será à noite que você vai me perder, porque eu cansei de esperar você se decidir... Eu cansei! E quer saber, voc...

— Quem disse que estou interessada em você? — Casey interrompeu.

Imediatamente, Brenda a soltou e as duas ficaram se encarando. Eu também fiquei surpresa com a resposta. Era nítida a tensão sexual entre as duas desde sempre, portanto, aquilo foi realmente inesperado. E ficou ainda mais estranho Casey falar que estava confusa sobre seus sentimentos em relação a mim. Eu sabia que era errado ficar ouvindo a conversa, mas eu não estava acreditando nas coisas que Casey dizia. Foi, no mínimo, boçal ela ter dito isso.

— Isso é mentira, Casey. Você é tão covarde e orgulhosa! Deus! — Brenda ria raivosa enquanto balançava a cabeça de um lado para o outro. — Você acha mesmo que vou acreditar nessa merda? Você está me subestimando se pensa... — De repente, ela parou de falar e, de cara fechada, voltou a olhar para Casey. — Quer saber? Eu entendi o recado. Dane-se! Isso termina aqui!

Brenda saiu sem olhar para trás.

Eu estava sem palavras. Confusa em relação a mim? Pensei nas palavras da Casey sem entender de onde ela havia tirado aquilo, porque foi a pior das desculpas. Indaguei e ela disse que foi a única coisa que veio em mente quando Brenda confessou que estava interessada em outra pessoa.

Nesse momento, tive certeza de que o ciúme deixava mesmo as pessoas loucas. 

— Eu não vou sair por baixo dessa história. —

Foi o que Casey disse como argumento.

Comecei a pensar que ela não estava mesmo com as ideias em ordem. Então, ela estava me usando para não ficar "por baixo" de uma situação? Ainda bem que eu a conhecia há anos. Caso contrário, ela teria perdido de uma só vez o "ex-futuro amor" e uma amiga!

Casey estava, momentaneamente, desatinada e enquanto eu tentava entender o que havia acontecido, visualizamos Brenda, vindo em nossa direção abraçada com uma moça. A mulher tinha parte do rosto pintado como uma caveira. Era uma morena linda, com cabelos cacheados. Forcei minha memória para lembrar onde a tinha visto. Ela passou por nós, mas não disse uma palavra. Seguiu com a moça e desapareceu entre as pessoas. Olhei para Casey e notei que ela estava com os olhos cheios d'água.

— Ela está mesmo com alguém! — Ela disse, soltando um pesado suspiro.

Senti condescendência por minha amiga. Devia ser horrível gostar de uma pessoa e vê-la com outra. A noite estava indo de mal a pior.

Sabia que não era para ter vindo.Disse, arrastando Casey para a pista.

Ela não contestou e entendeu o que eu pretendia. Apenas comentou algo sobre procurar por minha garota. Eu simplesmente ignorei.

A pista estava lotada. Vários personagens pulavam e rodopiavam ao som das músicas. Juntamos com a nossa turma. Era hilário ver um vampiro dançando com uma bruxa. Próximo ao lugar onde estávamos Haley conversava com Dylan e Chris, jogados em alguns puffs. Pelo visto, Brenda não queria juntar-se a nós.

Continuamos dançando por alguns minutos e fizemos uma pausa para beber algo. Dessa vez, pedi um simples coquetel de frutas sem álcool. Achei melhor diminuir a bebida, pois ainda iria dirigir de volta para casa. Casey ignorou meu pedido para dar um tempo no álcool e continuou com a tequila. Percebendo o estado dela, achei melhor descansarmos um pouco e a levei para os puffs.

— E aí galeeraaa...

Olhamos todos ao mesmo tempo para o "Jason" que se aproximava com muita intimidade, fazendo uma dança desengonçada. Olhei para Luke e ele negou com a cabeça, informando que também não sabia quem era.

— Junte-se a nós — Dylan disse e o "Jason" se jogou em um puff.

— Adorei as fantasias! — Ele disse, tirando a máscara. Era o Jayden Ford.

— Eeeiii Jayden! — Falamos em uníssono.

O Jayden fazia parte da nossa turma há tempos. Quando meu pai ainda presidia a JKM, ele fazia parte da equipe de produção em conjunto com Casey e Dylan, porém, ele recebeu uma proposta tentadora da concorrência e acabou aceitando. Nunca conversei com ele sobre isso, mas sabia que estava indo muito bem. Ele reduziu as saídas conosco, alegando que precisava dar atenção para os colegas de trabalho e que seria ótimo se todos nós pudéssemos sair juntos algum dia. E parece que esse dia havia chegado, afinal.

— E aí, cara? Faz tempo que está aqui? — Luke perguntou.

— Faz um tempinho, sim. Acho que chegamos antes de vocês.

Ele nos contou que estava na parte superior com Brenda e os colegas do trabalho. Quando comentei que eu havia ido até lá a procura dela, ele disse que não os encontramos porque estavam na sala VIP.

Enquanto eles zombavam e gargalhavam, olhei para Casey. Ela não parecia contente com a notícia da Brenda, ainda mais, quando Jayden a chamava de rainha. Ela estava com um vestido curto vermelho, botas e luvas longas da mesma cor. A fantasia era para ser de diabinha, mas, de acordo com o Jayden, ela apareceu na sala há algumas horas sem o "chifre" que completava a fantasia. Jayden, portanto, apelidou de rainha vermelha.

— Por isso que não acho a minha irmã. Espertinha, ela! — Luke disse, fazendo todos rirem.

Com isso, Casey já estava de pé, me levando de volta para a pista. Considerei que a dor de cotovelo iria durar mais do que eu havia imaginado. Nenhum deles percebeu o incômodo dela, porém, Chris levantou-se, afirmando que iria nos acompanhar. Foi excessivamente rude com o Dylan quando o mesmo pediu para que ele ficasse, alegando que ele ainda não estava bem, devido à bebida. E mesmo o dispensando de forma clara, Chris nos seguiu. Fiquei aliviada quando ele nos deixou dançando e foi para o bar.

As músicas eram muito animadas, mas quando o DJ começou a alternar entre pop e baladas românticas, eu agradeci mentalmente. Estava muito cansada e como Casey não queria sair de lá por nada nesse mundo, era bom, ao menos, poder dançar com mais tranquilidade. E era uma música assim que tocava quando ela se jogou em mim, abraçando.

— Eu devia ir procurar por ela, Sarah. Eu preciso falar com ela. Eu quero vê-la. Aquela idiota... Estúpida. Eu preciso vê-la... Vamos procurar por ela? — Ela pedia quase como suplica.

— Tem certeza de que é uma boa ideia, Casey? Acho melhor deixar para depois.

— Sarah! — Ela se afastou um pouco para me olhar. — Eu preciso...

Antes que pudesse terminar a frase, Jayden a interrompeu, agarrando Casey pelo quadril e a girando para dançar com ele. Achei graça de como os dois tentavam manter-se equilibrados.

Decidi deixá-la com ele e ir buscar uma água.

Depois de alguns passos desvencilhando das pessoas, uma mão me segurou pelo antebraço.

 Olhei por cima do ombro e lá estava ela de novo. Aqueles lindos olhos verdes me encarando. Virei meu corpo para ela, completamente desconcertada. Todas as palavras que eu tinha pensando para lhe dizer quando a encontrasse sumiram. Como era possível me sentir dessa forma com uma pessoa que eu não conhecia? Romantismo não fazia parte do meu vocabulário. Sempre fui muito prática e não acreditava nessa besteira de amor à primeira vista. Mas quando a olhava, novos sentimentos surgiam e aquilo tudo era novo para mim. Talvez por isso mesmo eu tenha ficado tão curiosa.

— Olá! — Ela disse com meio sorriso.

— Oi. — Respondi surpresa.

Ela não disse mais nada. Ela era linda o suficiente para que eu a admirasse a noite inteira, mas eu não queria apenas isso. A forma com que ela me olhava despertou uma sinfonia de pensamentos desconexos em minha cabeça. Franzi a testa, confusa, tentando decifrá-la, e notei que ela fazia o mesmo. Ainda nos olhávamos enquanto eu aguardava a sua próxima atitude. Então, ela deu um passo à frente, aproximando-se e confidenciou em meu ouvido:

— Essa é a primeira música interessante que toca aqui e eu quero dançá-la com você. — Disse e afastou-se novamente, esperando por minha resposta.

Fiquei ainda mais curiosa. Mordi o lábio inferior, sem respondê-la. Ela abaixou a cabeça e ergueu apenas os olhos, como se pedisse meu consentimento. Meu Deus! Como eu poderia negar alguma coisa para aquele olhar?

Eu dei um sorriso de lado e ela deu outro passo.

Ela era alguns poucos centímetros mais alta que eu, 1,67 de altura, talvez, o que me permitia encarar aquela imensidão verde.

Notei que a música era Perfect, de Ed Sheeran, e as primeiras notas já haviam tocado quando ela colocou sua mão em meu quadril e uniu nossos corpos. Meu coração saltou uma batida. Coloquei meus braços em volta do seu pescoço e não desviamos o olhar um do outro em momento algum.

— Qual é o seu nome? — Perguntei, porém, ela apenas deu um milimétrico sorriso e negou com a cabeça.

Não gostei, mas não tive tempo para contestar. Ela voltou a se aproximar de mim, deixando nossos rostos colados, e começou a cantar partes da letra:

— Querida, entre de cabeça e me siga... Eu encontrei uma garota linda... — Sua voz era como um doce sussurro, e um arrepio percorreu meu corpo.

— Não vai mesmo dizer seu nome? — Insisti.

— Qual é o seu? — Ela retrucou. Não respondi.

Ela voltou a cantar:

 — Querida, apenas me beije devagar...

— Está fantasiada de quê? — Indaguei e ela se afastou, encarando tão intensamente que me arrependi de ter feito qualquer pergunta.

Ela olhou com repreensão e voltou para o mesmo lugar. Respirei aliviada por tê-la de volta ali. Senti seu delicioso perfume Chipre e esperei o momento certo para questioná-la novamente. Ela seguia cantando:

— Em seus olhos, você está segurando o meu. Amor, eu estou dançando no escuro com você entre os meus braços... — Ao cantar essa parte, com a voz angelical, ela apertou suas mãos contra meu corpo e eu correspondi, puxando-a ainda mais para mim.

— Você está perfeita essa noite...

Atenta à letra da música, compreendi que, talvez, ela quisesse dizer aquelas palavras para mim. Ela parou de cantarolar e beijou meu lóbulo, me deixando sem forças. Clamando por Deus, me perguntei o que estava acontecendo comigo. E outra vez, tudo se dissipou. Éramos apenas nós e as palavras que ela sussurrava. Por um momento, desisti de tentar entender o porquê de estar sentindo todas aquelas coisas e fechei meus olhos, me permitindo entrar naquele mundo perfeito que eram os braços dela. Há tempos eu não me sentia tão segura e calma com alguém. Sendo sincera, essa era a primeira vez. O problema é que eu não a conhecia!

— Eu encontrei um amor para carregar mais do que meus segredos... Querida, só segura minha mão e seja minha garota... — Ainda cantarolando, ela levou sua mão à minha, afastando nosso abraço e novamente, não gostei, girou meu corpo e me trouxe de volta aos seus braços. Então, voltou a fitar-me.

Sorríamos levemente uma para outra. Eu estava amando aquela aproximação, mas eu precisava esclarecer minhas dúvidas. Voltei a insistir:

— Diz para mim o seu nome. — Pedi.

— Diz o seu.

Era simples. Uma palavra: Sarah. Apenas isso. Mas eu não disse. Não achei justo eu revelar meu nome e ela não. E algo me dizia que ela não o faria. Ela parecia se divertir com minhas dúvidas.

— Fantasia? — Arrisquei novamente.

— Me fantasiei de "mim mesma". E você?

— Idem. — Se ela queria jogar, encontrou a pessoa certa.

Ela sorriu abertamente, mostrando todos os dentes, e jogou sua cabeça para trás. Como se pudesse ler cada pensamento meu, entendeu que eu havia entrado no jogo dela. Mordi o lábio inferior enquanto pensava na próxima pergunta. A música chegou ao fim e o DJ iniciou outra balada romântica. Notei vários casais, exatamente como nós. Ela observava cada um de meus movimentos.

— Por que veio a uma balada que não toca músicas interessantes? — Indaguei, tentando outra forma para abordá-la.

Outro lindo sorriso se formou. Ela finalmente abriu-se um pouco e falou que estava acompanhando um primo e a sua namorada. Confessou que não era o tipo de ambiente que frequentava, mas havia aberto uma exceção após a insistência deles. Não controlei um largo sorriso quando ela disse que tinha sido a melhor decisão em anos, pois havia me conhecido. Nossa conversa era, ao mesmo tempo, leve e provocativa.

— Minha vez de perguntar. — Ela disse e eu assenti.

Ela parecia procurar palavras ou o melhor jeito para me questionar:

 — A moça com você... É a sua namorada?

— Por que quer saber? — Respondi com outra pergunta. Foi a minha vez de gargalhar.

— Porque não quero entrar em uma briga depois de beijá-la. — Ela não sorriu desta vez.

Seu olhar ficou pervertido e ao passar a língua pelos lábios para umedecê-los, senti um leve pulsar entre minhas pernas. Reprimindo a mim mesma, respirei fundo, tentando me concentrar.

— E por que acha que vou beijá-la? — Provoquei.

— Eu não acho. Você vai.

Que cretina convencida!

Mas ela estava certa. Eu queria beijá-la. Merda, como eu queria beijá-la!

Estava ciente de que nada fazia sentido. Porém, acontecem coisas na vida que não temos nenhum controle. De repente, me vi em uma boate paquerando uma desconhecida. Nada de anormal, visto que já tinha feito isso antes por várias vezes.  Mas ela era diferente de todas. Pelo menos, de todas que tentaram ficar comigo. Aceitei o fato de que queria aqueles lábios carnudos desde o primeiro momento, mesmo sendo uma insanidade.

Seu olhar vagueava entre meus olhos e minha boca.

— Responda. — Ela pediu.

— Não. — Deixei meus pensamentos e voltei a dar atenção a ela.

— Não o quê?

— Ela não é a minha namorada. — Afirmei.

Seus olhos ficaram ainda mais brilhantes e ela deu um sorriso torto.

A música tomou outro ritmo. As pessoas pulavam a nossa volta e nós apenas nos balançávamos. Entramos em um mundo paralelo e eu não queria sair dele nunca mais.

Ela levou sua mão até o meu rosto, apertou de leve o meu queixo e desceu para minha nuca, me levando gentilmente para um beijo. Eu fechei os olhos. Meu coração batia violentamente contra o peito. Como eu queria senti-la! Seus lábios roçaram nos meus. Esqueci-me de respirar.

Com minha boca entreaberta, mantive meus olhos fechados, esperando por sua língua. Com a respiração ofegante, ela adentrou minha boca, enroscando nossas línguas em um beijo urgente. Parecia um sonho e como em um sonho, fui bruscamente arrancada por braços atrás de mim.

— Mas que porra é essa, Sarah? O que pensa que está fazendo? Você é minha...

— O quê? Mas que merda é essa?Eu demorei em entender.

Chris surgiu, me puxando ferozmente para ele, bradando absurdos e, em seguida, forçando um beijo entre nós. Eu tentava empurrá-lo, mas ele parecia ter, naquele momento, uma força sobre-humana. Ou era eu que estava completamente fraca?

Dando socos e soltando alguns palavrões, consegui, finalmente, livrar-me dele, limpando minha boca com as costas da mão. Procurei por ela, mas já não estava mais lá. Ainda a vi andando rapidamente entre as pessoas e fui atrás. O DJ anunciava as últimas músicas da noite e as batidas se intensificaram, fazendo com que as pessoas fossem à loucura, pulando e gritando cada vez mais alto. Com a confusão, eu a perdi.

Voltei furiosa para nosso ponto de encontro.

— Seu filho de uma puta, imbecil! — Disse, empurrando o Chris com tanta força que ele foi direto para o chão, espalhando bebida por todos os lados.

Luke e Casey levantaram-se, assustados, vindo em minha direção, enquanto Dylan e Haley tentavam levantá-lo. Luke me segurou, perguntando o que havia acontecido. Casey pareceu despertar instantaneamente com a briga, e mesmo sem saber o que estava acontecendo, foi para cima do Chris, lhe dando socos e o chamando de babaca.

A briga se intensificou quando Chris, após dar um soco no maxilar de Luke, segurou meus braços com força.

— Você beijou aquela mulher na frente de todo mundo e eu que sou o errado aqui? — Gritou.

— Não é da sua conta, seu imbecil! — Esbravejei de volta.

— É da minha conta sim, Sarah! Você é minha! É minha, Sarah! Eu não vou perdê-la, ainda mais para uma mulher! — Ele falava aos berros enquanto me segurava pelos pulsos.

— Para de ser idiota, Chris! Solte-a agora cara. — Luke voltou, tentando nos afastar.

Chris segurou com força minhas mãos contra o seu peito.  Encarava-me com ira, seus olhos estavam vermelhos graças à bebida e sua respiração, acelerada. Com verdadeiro ódio, lembrei-me das aulas de defesa pessoal e dei uma joelhada entre suas pernas. Ele voltou para o chão.

Fui para cima dele, mas Luke voltou a me segurar.

As pessoas já nos rodeavam, observando tudo.

Luke impediu que eu agredisse o Chris novamente. Casey me puxava para trás. Os dois se uniram para conseguir me segurar, tamanha era a minha fúria.

— Já acabou o show, pessoal, afastem-se, por favor. — Jayden pediu.

Janet e Haley tentavam diminuir a atenção que caiu sobre nós, antes que os seguranças percebessem e nos expulsassem. Chris continuava caído, gemendo de dor. Controlei minha respiração e proibi todos de o convidarem para a minha casa.

— Certo! Já entendemos o recado. — Jayden afirmou, batendo continência. Ele sempre conversava com brincadeiras, mas levava as coisas a sério.

Casey tentava me acalmar, enquanto arrumava meus cabelos. Depois da confusão, todos concordaram em ir para a sala VIP. Eu não queria ir, mas Luke me convenceu, dizendo que precisava ver como a Brenda estava e que queria leva-la para casa.

— O que mais falta acontecer, Casey? — Indaguei inconformada com o desenrolar do dia... E da noite.

— Depois disso? Nada. Não pode piorar! — Ela respondeu durante o trajeto para o piso superior.

A sala era aconchegante e diferente dos outros ambientes. Tinha um tapete branco, apoiando uma mesa de centro marrom e dois pequenos sofás cinza, onde estavam duas mulheres, com pinturas de caveiras, sentadas. Havia um homem com a mesma pintura no rosto e uma mulher, que estavam ao lado direito, sentados em duas das três poltronas brancas com almofadas azuis, encostadas em uma mureta com tijolos expostos, que realizava a separação da sala um pequeno jardim.

Por que estão todos fantasiados de caveira? Que falta de imaginação! Casey perguntou baixinho. Eu apenas ri.

No final da sala, havia um barzinho. Parecia ter mais alguém lá, mas com a falta de iluminação naquela parte, não tive certeza.

Jayden pigarreou, chamando a atenção de todos, antes de nos apresentar.

— Meus caros colegas, estes são Luke, Dylan, Janet, Haley, Casey e finalmente a nossa... Comandante da morte! Já que você, literalmente, quase matou um cara lá embaixo! — Ele disse, apontando para entre suas próprias pernas. — Todos riram e eu senti meu rosto corar.

— Essa não teve graça, Jayden — Respondi envergonhada.

— Teve graça, sim! Você, com certeza, queria matá-lo! — Luke ria sem parar.

— Espera, está faltando a... — Jayden dizia, procurando outro alguém com os olhos.

— Aqui! — Brenda gritou. A voz veio do bar.

Todos, menos eu e Casey, riram.

— Rainha, você é ótima e sabe que eu te amo, mas não me referi a você! — Jayden respondeu, em um tom mais alto e ainda rindo.

Após Jayden apresentar seus colegas Anya Wise, Suzy Hudson, Vivian Baker e Landon Russell, Casey aproximou-se de mim e fez um gesto discreto com a cabeça na direção de Vivian, a moça que estava, há algumas horas, abraçada com Brenda. Os beijos entre Vivian e Landon deixaram claro que eles eram um casal.

Tentei, novamente, lembrar-me de onde a conhecia.

Vivian começou a me olhar com curiosidade. Se ela era mesmo a namorada desse tal Landon, me perguntei com quem a Brenda estava ficando.

Tirando-me dos meus pensamentos, Casey disse que precisava conversar com a Brenda e me guiou para o fundo da sala. Senti Jayden vir logo atrás, nos seguindo. Mais alguns passos e consegui ver com mais nitidez a cena que me deixou estática.

Brenda Thompson, minha melhor amiga estava a centímetros de mim, abraçada com a linda mulher que eu havia beijado minutos atrás. Meu coração acelerou e tive a impressão de que todos naquela sala poderiam ouvi-lo.

Olhei incrédula para Casey, que estava igualmente boquiaberta, sem reação. E então, lembrei onde eu tinha visto a morena de cabelos cacheados. Era a moça que estava ao lado da desconhecida quando eu a vi pela primeira vez. Recordei, também, as suas palavras: 

"Estou acompanhando meu primo e a namorada". 

Deduzi que ela se referia a Landon e Vivian.

Eu balancei a cabeça negativamente e Casey apertou meu pulso com força.

Ouvi longe a voz do Jayden:

— Ah, você está aqui. E você não perde tempo mesmo, hein Brenda!

Ela estava sentada em um banco alto, os olhos fechados, com Brenda entre suas pernas, abraçando-a com as mãos sobre seu quadril. Brenda, ainda de costas para nós, estava agarrada a ela, com o rosto enterrado em seu pescoço. As duas pareciam inertes a situação.

Brenda moveu-se lentamente ao ouvir Jayden. Ainda sem olhar para trás, ela aproximou os lábios, beijando a outra e voltando para a mesma posição. Fechei os olhos, tentando apagar o que via. Virei minha cabeça para o lado, sentindo a garganta seca.

Olhei novamente a cena e o par de olhos verdes, então, me encarou, com o maxilar travado. Eu não consegui traduzi-los dessa vez. Confusão, raiva, surpresa, constrangimento, ironia, debocheEu não soube decifrar. Mas não importava mais. Ela estava com a minha melhor amiga, e isso mudava tudo. Eu encarei de volta. Ela não se moveu e não disse nada, tampouco.

Não pode piorar, é? Vão todos para o inferno! Sussurrei.

Saí da sala sem me despedir e sem olhar para trás. 

Como pude imaginar que ela era diferente? Senti-me ridícula por não ter gostado do que vi. Eu estava tão carente assim para sentir raiva de uma coisa tão sem importância? E me senti envergonhada por ter beijado uma mulher que era o novo relacionamento da minha querida amiga.

Casey me acompanhou em absoluto silêncio.

Ouvi mais alguma coisa dita por Jaydenmas ignorei. Meus passos eram firmes e largos.

Eu só queria ir para casa e esquecer tudo o que havia acontecido naquela noite.

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