Cappuccino e croissant com geleia

Era uma manhã de quarta-feira, o sol estava caloroso, timidamente a primavera ia tomando seu formato, se reivindicando. Giulia acabava de tomar seu café da manhã no il tuo caffé, sentia-se mais sonolenta do que o comum para aquele horário. Ela bocejou novamente e Olivia sentou-se à mesa dando-a “bom dia”, Giulia nem ao menos havia percebido sua chegada e aproximação. 

Saindo de seus devaneios, ela desejou-a “bom dia” de volta e então o que deveria se seguir seria: Olivia tirar a pasta de cor amarela de sua mochila, tirar seus papéis da pasta e pegar sua pequena bolsa com canetas, lápis e borracha e voltar-se para isso. 

Entretanto, invés disso Giulia ouviu um gemido de insatisfação e rapidamente tirou o olhar de seu notebook e encarou uma Olivia com decepção em seu rosto, que naquela manhã se mostrava mais corado do que o habitual. 

— Algum problema? — Ela perguntou olhando-a e apenas então Olivia percebeu que havia chamado mais atenção do que de fato queria.

— Oh… — Ela começou parecendo um tanto quanto desconcertada. — Me desculpe. Eu devo tê-la atrapalhado, eu apenas esqueci meus papéis em casa. — Confessou se sentindo uma boba desatenciosa por ter esquecido de seus papéis.

— Não me atrapalha em nada. — Giulia admitiu. — Eu estava apenas checando e-mails. — Confessou.

— Você checa e-mails todas as manhãs? — Olivia questionou surpresa franzindo sua testa. — Tudo o que chega no meu e-mail são propagandas e ofertas. — Giulia riu deslizando sua mão esquerda pelo pescoço e Olivia apoiou seu queixo em sua mão sorrindo porque ela estava sorrindo.

— Não. Não checo todas as manhãs que estou por aqui, na verdade… Eu tento escrever algo todas as manhãs, mas eu estou começando a achar que, venho mais pelo lugar e pela comida do que para ter alguma inspiração. —Repentinamente os olhos verdes, antes remetendo certa melancolia, arregalaram-se num brilho notável que podia saltá-los.

— Escrever? Inspiração? Então você também escreve? É por isso que gosta tanto dessa mesa que, apesar de não significativamente distante das outras, é distante o bastante para ter uma privacidade privilegiada. — Olivia constatou como se estivesse respondendo a si mesma, invés de falar com Giulia.

— É exatamente por isso. — A mulher de olhos cor de mel admitiu admirando sua animação pura e Olivia parecia se sentir mais à vontade em sua presença. — Então o que você tanto faz com tanta atenção e devoção é escrever? — Giulia perguntou sentindo-se satisfeita em finalmente fazê-la aquela pergunta.

— Sim! — Olivia exclamou, aquele assunto parecia ser a chave que girava para destrancar sua animação, seu sorriso estava frouxo, seu entusiasmo não era desconcertante ou exagerado, era algo mais próximo de adorável. — Eu escrevo nas folhas, faço alguns rabiscos nelas e no mais tardar passo para meu caderno numa espécie de correção e quando tudo estiver no caderno, é só digitar no notebook.

A maneira como Olivia disse a última frase fazia parecer com que tudo fosse mais simples do que de fato era. Giulia a encarou em silêncio por algum tempo, enquanto ouvia os barulhos ao redor, naquela quarta, pois o il tuo caffé estava cheio.

— Você tem todo esse trabalho? — A reação incrédula de Giulia a fez dar uma risada nasal, Olivia jogou seu cabelo ruivo com leves ondas para o lado, deixando-o propositalmente revolto e sexy, segundo uma nota mental de Giulia.

— Eu gosto do processo e gosto de ser perfeccionista com isso. — Olivia admitiu. — É a única coisa na qual eu acho que sou realmente boa. — Admitiu sem qualquer pesar.

— É. Você parece amar fazer isso. — Giulia respondeu com um olhar de admiração, sim. Admirava o amor e comprometimento tão intenso que Olivia tinha com sua escrita. — O suficiente para ter olhos apenas para isso. — Ela completou e Olivia sorriu novamente após umedecer seus lábios com a ponta da língua.

— Eu amo. — Confessou o que não era um segredo. — Mas tenho percebido mais coisas do que minha história, aqui no il tuo caffé. Como você, Giulia dos olhos cor de mel que mora no Canadá.

As palavras de Olivia pregaram-na de surpresa, como quando se está prestes a levantar um objeto que espera que esteja pesado, mas ele está leve demais, ou quando se está tendo um bom tempo ao ar livre, mas um sopro forte do vento rebelde leva para longe o seu chapéu de praia.

Ou como quando Rafaela a beijou no banheiro da escola, após a aula de educação física na segunda, três dias depois de Giulia tê-la mandado uma carta expressando seus sentimentos e sumir da escola por mais três dias com uma vergonha colossal enquanto imaginava em sua casa que, Rafaela jamais iria olhá-la novamente. Depois de dizer aquelas palavras Olivia vira pela primeira vez o sorriso desconcertado de Giulia e decidiu imediatamente que ele era ainda mais bonito do que o educado.

— E o que você percebeu exatamente? — Giulia arriscou a perguntar, embora estivesse sentindo uma tímida e contida sensação nostálgica, não era uma nostalgia ruim, ela sabia disso.

— O olhar de uma turista muito bonita em mim. — Olivia respondeu parecendo descontraída com um sorriso que esperava estar charmoso, no entanto, sentia um sopro de insegurança em seu íntimo.

Não sabia se podia estar indo depressa ou longe demais, mas quando viu uma real oportunidade de em fato conversar com Giulia, não pôde perdê-la e por isso arriscava sem saber se os níveis estavam condizentes com o que pode se chamar de meramente sutil. 

Ela não havia esquecido seus papéis em casa propositalmente, jamais faria isso, mas com uma oportunidade tão natural diante de seus olhos se viu incapaz de desperdiçá-la. Olivia podia admitir para si mesma sem qualquer problema que a ideia de ter uma mulher tão linda olhando-a todas as manhãs a envaideceu e mais do que isso, a fez reparar nessa linda mulher também.

Então de repente, mas nem tão de repente assim se pegava constatando que se tivesse uma oportunidade natural de conversar com Giulia, o faria. Bem, ela podia tê-la chamado para conversar quando disseram o nome uma para outra, mas Giulia não prolongou o assunto que ela introduziu sobre a variante de seu nome e isso a causou insegurança imediata. 

— Para quem não olhava para nada mais além dos próprios papéis, você é bem observadora. — Giulia não quis dizê-la que notou sua presença ali apenas por causa da mesa e não achava que seria algo viável de se dizer naquela conversa.

— Na verdade, eu olhava para você também. — Olivia confessou ao perceber que Giulia não a deu “basta” em momento algum. Giulia baixou seu olhar por um segundo com um sorriso contido e Pietro logo chegou com o pedido de Olivia, era sabido que ela pediria o de sempre.

Olivia o agradeceu e olhou ao redor, com a casa cheia até Dante estava ajudando Pietro com os pedidos. Giulia sentiu-se desconcertada, Pietro alternou seu olhar entre as duas e Olivia retribuiu com um olhar que o pedia para se retirar. 

— Eu nem ouvi você pedir. — Giulia disse quando Pietro se afastou, por seus trejeitos Olivia pôde perecer que ela estava sem jeito e apesar de achar adorável, preferiu não se arriscar mais.

— Bem, eu sempre peço o de sempre e sou cliente antiga, então… — Deixou que sua frase morresse no ar propositalmente.

— Você não cansa de comer sempre o mesmo?

— Não. — Olivia respondeu com aparente prazer. — Você ao menos já pediu o cappuccino, croissant com geleia daqui? — Perguntou como quem a desafia, estreitando seus olhos e Giulia riu com certa elegância cruzando suas pernas debaixo da mesa.

— Na verdade não.

— Eu sabia. – Olivia disse com ares de quem acaba de ganhar uma aposta. — Amanhã eu faço questão de pagar cappuccino e croissant com geleia para você. — Ela comunicou parecendo bastante decidida.

— Eu posso pagar. – Giulia adiantou.

— Bem, desde que você beba e coma dessas delícias. — Olivia disse dando de ombros.

— Fechado. — Giulia respondeu, ao voltar para casa encontrou Robert tentando cozinhar e riu.

— É um prato bem simples e apenas por isso eu estou tentando. — Ele se justificou como se não quisesse que ela criasse esperanças sobre o fato de ele tentar realmente cozinhar, mas Giulia nunca se importou com isso. Quando ela não podia cozinhar, Robert pedia de algum restaurante ou algo assim.

— Eu não disse nada. — Respondeu levantando as mãos na altura de sua cabeça e nem quis saber qual era o nome da experiência que Robert estava tentando fazer e pela manhã! Mas ele era assim, pensava em muitas coisas apenas pela metade do processo.

Talvez fosse uma salada leve, afinal de contas a mesa estava colorida com aqueles tomates, verduras e coisas do tipo. Giulia pensou bem-humorada enquanto analisava a mesa com seu olhar.

— Viu o passarinho verde? O que aconteceu? Antes você parecia tão desanimada e agora está sorrindo como uma boba para tomates, eu sei que eles são lindos e parecem saborosos, mas não é para tanto! — Giulia suspirou como quem faz suspense e comprimiu seus lábios ainda sorrindo, então abriu os braços e Robert ficou a espera para saber o que aquilo podia significar até que ela disse:

— Estamos em Veneza! — Ele esperou por mais, no entanto, o “mais” não viera, fora apenas isso, o que o deixou confuso. Para Robert, Giulia estava esquisita em alguns pontos daquela viagem, primeiro falava de uma tal mesa e agora agia daquela forma após pedir para irem embora.

Ele voltou-se para o pepino que cortava pensando que, o mais provável teria sido Giulia sentir a magia daquele lugar novamente, bem como ela sentiu depois de chegarem ali pela primeira vez. A ideia o animou e apesar do empenho seu prato não saiu tão bem quanto o esperado e Giulia não se mostrou surpresa. 

Na manhã seguinte após tomar seu banho, Giulia percebeu a aliança em sua mão, reluzente. Lembrou-se rapidamente de Olivia, quem estava ansiosa para encontrar e experimentar, na sua companhia, sua bebida e comida favoritas do il tuo caffé.

Ela olhou para seu reflexo no espelho novamente, havia seriedade em sua expressão. Baixou o olhar para sua aliança outra vez e surgiu em sua mente que talvez Olivia não houvesse a visto ainda, afinal as mãos de Giulia estavam quase sempre cobertas pelo notebook que costumava estar sempre à sua frente.

Vez ou outra Olivia em si e trechos da conversa do dia anterior com ela vinham em sua mente, então seu olhar ficava distante e seus lábios beiravam a um sorriso e Giulia lembrava-se de Rafaela, porque estava sentindo coisa parecida. Aquela velha nostalgia soprando-a o coração, o estremecendo, não em temor, mas em expectativa como se ela estivesse trilhando um caminho no qual já esteve antes. 

Mordeu o lábio inferior num sorriso, as palavras de Olivia massageavam seu ego, mas também davam tropeços inesperados ao seu coração. E apesar disso, ela não se sentia receosa, apenas mais ansiosa para reencontrá-la como se tivesse que descobrir a todo custo no que aquilo tudo daria, os sorrisos, os olhares, as palavras e os elogios. 

Ela certamente não estava imaginando coisas, Olivia estava flertando. Não estava? Se perguntou, sentindo-se insegura de repente. Giulia sabia que ela estava flertando, porém às vezes quando a situação é com nós mesmos é natural que a insegurança faça coisas simples e claras parecem turvas e duvidosas pelo simples temor da falha e/ou rejeição.

Giulia respirou fundo e enquanto fitava os próprios olhos no reflexo do espelho tirou sua aliança. Foi uma sensação estranha, desde que a pôs nunca a tirou, mas ergueu seu queixo pensando que em uma situação como aquela haveria de se acostumar, os fins justificam os meios.

Ao entrar no il tuo caffé, percebeu que o lugar não estava tão movimentado quanto na manhã anterior, sorriu para um Pietro desperto e fizera o mesmo para um Dante com um sorriso largo e simpático.

Dante nunca estava sonolento, nunca parecia chateado, estar ali e ter aquele lugar parecia orgulhá-lo o suficiente para sempre estar feliz fazendo o que fazia. Giulia imaginava todas as pessoas que tinham um negócio próprio próspero exatamente daquela maneira, felizes no que faziam. 

Devia ser como quando ela parava para pensar onde havia chegado, esticava-se mais em sua cadeira macia recostando suas costas contra ela e cruzando suas pernas, olhando para sua sala em cada mínimo detalhe e saboreando os louros de uma jornada que exigiu-a bastante. 

— Bom dia. — Giulia disse após sentar-se à mesa, Olivia que já a olhava desde que ela havia entrado no lugar, sorriu.

— Bom dia. — Desejou de volta e Giulia percebeu que ela não carregava sua mochila, ou sua pasta, ou sua bolsa com lápis, canetas e borrachas.

— Esqueceu seus papéis novamente? E dessa vez a mochila? — Não pôde deixar de questionar, o sorriso contido nos lábios corados de Olivia aumentou gradativamente, ela pendeu a cabeça para o lado esquerdo sem tirar o olhar de Giulia.

— Eu não trouxe porque não costumo levá-los quando vou me encontrar com alguém. — Explicou naturalmente e Giulia sorriu sentindo um leve rebuliço no peito, como um terremoto em baixa escala. Era um encontro daquela vez, sim. Com certeza Olivia estava flertando, seu subconsciente respondeu todo ouriçado.

— Já pediu? — Questionou.

— Não. Eu estava esperando-a chegar. — Olivia disse e logo olhou para Pietro, ele parecia estar a postos, estava olhando-as, ou talvez fosse apenas um fofoqueiro na opinião de Olivia.

Enquanto Olivia pedia o de sempre, mas agora para Giulia também, Giulia escorregou seu olhar até suas mãos. Daquela vez ela também não havia levado seu notebook, talvez tenha compreendido que seria um encontro antes da confirmação da própria Olivia, ou desejou muito que o fosse e o bastante para não carregar seu notebook consigo.

Encarando suas mãos notou que, apesar de não usar aliança, a marca do objeto estava em seu dedo anelar esquerdo, ela não era muito notável, mas também não era tão suave. Balançou seu pé direito debaixo da mesa sabendo que aquilo expressava inquietude.

Vocês estão saindo?” Pietro perguntou fazendo apenas gestos com sua boca e Olivia não teve dificuldade alguma em fazer a leitura labial e o olhou como se ele fosse o ser mais estúdio dali, afinal de contas Giulia não falava italiano e ele poderia ter feito a pergunta sem que ela compreendesse. 

Não é da sua conta”, ela o respondeu de volta e da mesma forma para não chamar a atenção de Giulia. O fato de Olivia ser uma cliente recorrente do il tuo caffé gerou uma intimidade não só apenas entre ela e Pietro como também entre ela e Dante. 

Olivia já conhecera algumas mulheres e na fase dos primeiros encontros sempre as levava ao il tuo caffé, na maioria das vezes à tarde. Pietro vivia a implicar dizendo-a que ela deveria acabar com as esperanças de viver um grande amor, mas Olivia sempre o respondia com muito humor e Dante o mandava trabalhar invés de implicar.

As implicâncias bobas eram recorrentes mesmo, era algo que ambos tinham gosto em fazer como que se fosse um pedaço de sua amizade, uma forma de manifestá-la. Quando Olivia desapareceu por algumas manhãs por estar doente com um forte resfriado, uma turista que dizia morar no Canadá decidiu que sua mesa favorita era a mais agradável naquele lugar para ter uma ideia e inspiração que nunca vinham.

Pietro que notou que ambas tinham uma preferência pela mesma mesa divertiu-se com os desencontros e encontros, mas nada perguntou para Olivia a respeito das duas até aquela manhã na qual Giulia experimentaria, “o de sempre” de Olivia. Dante viu seu empregado se demorar e pigarreou alto, Giulia levantou a cabeça novamente e Pietro afastou-se rapidamente.

— Então… — Giulia disse, mas não sabia o que dizer exatamente e por isso apenas incitou Olivia a dizer algo.

— Então. — Olivia repetiu, mas seu tom de voz não titubeara. — Giulia que mora no Canadá, você escreve.

— Na verdade não, Olivia de Veneza. — Giulia respondeu umedecendo seus lábios com a ponta da língua. — Eu escrevia antes, quando muito jovem, muitas coisas, frases, textos e tinha muitas ideias de histórias. Meu pai restaurava livros e minha mãe era professora, você pode imaginar então que havia muitos livros na nossa casa.

Olivia se debruçou em seus próprios braços apoiando sua cabeça neles, com um pequeno e delicado sorriso singelo se mostrando disposta a ouvi-la. Depois de tanto tempo sem falar dos pais ou tocar em qualquer fragmento que fosse da sua jornada, ver alguém disposto a ouvi-la acalentou o coração de Giulia, pois ela estava se lembrando também de como era mágica a sensação de ter tantos livros e ter vontade de escrever como sua mãe a incentivou ao ouvir seu desejo. 

— Então eu tinha ideias e as anotava, fui muito apoiada, minha mãe cuidou para que eu aprendesse a ler cedo e se orgulhou ao ver que eu não neguei seu amor por livros. Mas após meus pais morrerem num acidente de carro em meio a uma chuva torrencial, eu perdi a vontade e o prazer em criar com minha escrita e tudo perdeu-se. — Giulia disse esfregando as mãos uma na outra lentamente. — Mas agora eu preciso escrever algo porque é o desejo de uma pessoa muito especial.

— Oh. — Olivia disse surpresa com suas sobrancelhas erguidas e Giulia sentiu uma repentina vontade de reparar o que havia dito.

Um amigo. Meu melhor amigo, na verdade. — Disse rapidamente e não estava mentindo quanto a isso, Robert era seu melhor amigo e assim o amava. — É um desejo dele porque uma vez comentei sem pensar que um dia já tive vontade de publicar algo, não quero decepcioná-lo. Talvez alguma ideia venha. — Sua voz não parecia carregar o otimismo das palavras na última frase.

— Eu sinto muito pelos seus pais. — Olivia disse e Pietro aproximou-se em silêncio com seus pedidos, após distribuí-los adequadamente na mesa se afastou silenciosamente com um sorriso educado. — Mas quem sabe seu prazer em escrever volta? — Olivia perguntou e Giulia sorriu outra vez.

— É. Quem sabe? Agora vamos experimentar seu famoso cappuccino com croissant e geleia. — Olivia arrumou a postura de repente mostrando suas expetativas. Observou-a experimentar, deu um tempo até que Giulia pudesse degustar da melhor forma de tudo.

— E então? — Perguntou com um ar convencido seguido de uma expectativa contida.

— É muito bom sim. Está aprovado. — Giulia disse finalmente.

— Claro que está! — Ela respondeu como se fosse óbvio e passou a se servir também.

— E sobre você? Eu falei de mim, mas e você? Escreve muito pelo que posso ver. — Olivia tomou mais um gole de seu cappuccino antes de respondê-la.

— Meu amor pela leitura veio das bibliotecas, não tive influência familiar. Minha mãe estava ocupada demais tentando agradar meu pai em casa para que ele não a agredisse com o pretexto do álcool. Então eu me demorava na escola, gostava da biblioteca, nos finais de semana eu frequentava a pública e levava tapas e empurrões do meu pai por não ter ficado em casa vendo quão abusivo e estúpido ele era, lá, sentado no sofá frente à TV como se fosse o rei do mundo e nós suas escravas. — Olivia tinha conhecimento de que poderia ter evitado dizer aquilo, que poderia tê-la dito sem citar o pai. 

Ainda assim fora impossível citar aquela época sem mencionar sua infeliz grande motivação para se demorar em bibliotecas, ainda havia rancor em seu olhar, mágoa e desprezo também estavam presentes. Giulia sentiu-se subitamente chateada por ela e esperava que não tivesse a olhando com pena. 

— Eu sinto muito. — Ela disse com uma voz delicadamente aveludada e propositalmente baixa.

— Eu sei. É de sentir mesmo. — Olivia respondeu como se não considerasse tal fato grande coisa. — Enfim, do meu amor por ler até a vontade de escrever foram passos rápidos. Eu escrevi algumas coisas, até histórias, porém nunca me senti segura o suficiente e quando minha segurança finalmente veio, eu pensei firme e disse a mim mesma que juntaria dinheiro para publicar algo e comecei a escrever dizendo para mim mesma que dessa vez não haveria insegurança e seria isso. — O olhar de admiração de Giulia impulsionava o orgulho de Olivia em contar quão estava empenhada e decidida daquela vez. 

— Uau. Você conseguirá, você está incansável. — Giulia disse se sentindo cativada pelo sonho de Olivia que o dizia com muito brilho em seus olhos verdes.

— Eu espero que sim. — Olivia respondeu com os ombros escolhidos e um sorriso naturalmente largo como se não coubesse em si mesma em expetativas em relação aos seus planos. Simplesmente adorável, Giulia constatou mentalmente.

— E sobre o que é sua história? — Giulia indagou com uma expressão sugestiva e a viu sorrir no canto dos lábios.

— Se quiser mesmo saber, terá que me ver num segundo encontro. — Ela sorriu de volta sentindo uma súbita alegria interna. — Que não seja no il tuo caffé. — Olivia acrescentou surpreendendo-a, no entanto, compreendendo onde aquilo poderia dar e cativada como uma mariposa encandeada com e pela luz, Giulia a encontraria onde quer que ela quisesse encontrá-la.

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