#3 - Quando as coisas começaram a ficar estranhas

Joatinga, Rio de Janeiro

Dib jogou a chave sobre mesa. Esfregou os olhos, abriu a cortina. Daria tudo para estar lá embaixo, no mar, surfando...

Tinha que dormir. Não fazia isso há quarenta e oito horas. Agora que Lucas estava na cola de Mari Esteves, talvez pregasse o olho por umas duas horas. Seu corpo reagiu de imediato.

Mari.

Tinha ficado louco para atacar uma agente federal daquele jeito! Lembrou de como tudo aquilo tinha acabado. De como tinha sido posto para fora do apartamento dela. Droga de mulher!

Depois que as coisas se acalmaram, ela o empurrou. Olhou para ele de um jeito... como se estivesse acordando. Meio apavorada.

— O quê...?

Ela pegou a toalha caída no chão, se enrolou nela correndo. Fugiu dele. Parou do outro lado da sala. Numa hora, parecia estar louca por ele. De repente, ficava uma fera.

— Saia daqui.

— Mari...

Ele ajeitou as roupas depressa. Estendeu a mão para ela.

— Saia da minha casa, Dib. Ou seja lá quem você for!

— Ei! O que deu em você?

Boa pergunta. O que tinha dado nela? Tinha acabado de transar com um cara que mal conhecia! E de quem ela não gostava!

Ai, que ódio!

— Acho que fiquei maluca! — Ela abriu a porta — é isso! Deve ter sido aquela coisa fedorenta que jogaram em cima de mim pra me lavar. Efeito colateral, sei lá! Só quero que você saia daqui!

Ele tentou uma aproximação. Foi malsucedido.

— Não está maluca. Não me pareceu maluca, — ele teve a audácia de sorrir — só excitada. Como eu.

A voz era mansa. O sorriso felino. Ele avançou. Mari colocou o sofá entre eles. Tremendo, pediu.

— Por favor, vá embora.

Ele notou a tensão dela. Estava prestes a explodir. A desabar. Mas não acreditava que aquilo que tinha acontecido tivesse sido só efeito da tensão, do choque. Era mais que estresse. Era uma química louca. E poderosa.

— Eu vou — viu que ela suspirava, aliviada — mas depois volto. Pra conversar.

Mari balançou a cabeça. Assustada. Com ele. E consigo.

— Nada de conversas. Passou. Esqueça.

Com dois passos, parou junto dela. Agarrou seu braço. Falou baixo. Segurando a raiva.

— Nem morto. Não saio por aí transando com toda mulher que encontro, tira. E aposto que você também não age assim com o primeiro cara que te aparece pela frente. — Ele riu — Não. Isso foi diferente. Desde que botei o olho em você, que encostei em você, foi diferente. Sabe disso, Mari Esteves. Não faça parecer que eu a forcei, pois você disse sim. Estava tão louca por aquilo quanto eu. E agora, vou querer saber o que vem depois.

Quando ele a soltou, ela teve que se apoiar na parede.

Ele saiu e bateu a porta. Arrancou com o carro e não conseguiu mais tirar o cheiro, o gosto e a imagem daquela mulher do corpo e da cabeça.

Dib soltou a cortina. Caminhou para seu quarto. Arrancou a camiseta de malha e o jeans. Droga. Só de pensar naquela mulher, estava duro. Pronto para ela.

Banho. Gelado. Abriu a ducha no máximo. A água gelada desceu em cima dele. Apoiou as costas largas na parede de cerâmica. Fria. Precisava esfriar. Tinha que esfriar de algum jeito!

Tinha anos de serviço. Emoções não contavam. Ele era sempre frio, direto, objetivo. Por isso era chamado naqueles casos. Por isso seu nome era o primeiro da lista dos solucionadores de encrencas. Concentrou-se no problema. A maleta. A maldita maleta. Onde estaria aquela merda?

Aquilo não podia cair em mãos erradas. Principalmente de gente ligada ao narcotráfico. Era todo o poder de que precisavam.

Desligou o chuveiro. Pegou a toalha. Secou-se. Jogou a toalha em cima de uma cadeira. Fechou bem as cortinas do quarto. Largou-se na cama king size. Feita para ele. Sob medida.

Mari caberia ali. Junto com ele. Embaixo dele...

O corpo respondeu. Imagem erótica demais para quem queria descansar. Precisava descansar!

— Merda!

Enfiou a cara no travesseiro e obrigou-se a dormir. Sonhou com olhos ambarinos.

Lagoa, Rio de Janeiro, 4:15PM

A porta do apartamento se abriu.

— Olá, coronel.

O homem forte e grisalho sorriu. Fez a cadeira de rodas avançar.

— Oi, agente Esteves.

Mari abraçou o pai. O coronel Luiz Carlos Esteves ainda era um cara bonito. Pena que não andasse mais. Ou andasse a cavalo. Ficar paraplégico aos cinquenta anos não era uma boa forma de se aposentar.

— Se não fosse meu pai — ela deu a volta. Conduziu a cadeira até a varanda — eu te paquerava, sabia, coroa?

— Bah! Deixe de bajulação, menina! — Ele apontou um dedo — pensa que não sei que se meteu em confusão?

— Pai!

Bem, devia saber que o coronel Esteves já estava de pijamas, mas não estava morto.

— Edu ligou.

— Linguarudo!

Ela sentou no balanço de vime. Agarrou uma almofada. O coronel foi direto.

— Quero você longe de William.

— Quem?

— Dib. William Dib.

Hum. Então o ursinho Dib tinha um nome de gente...

— Quem é ele, pai?

— Encrenca. Fique longe. Não quero minha filha metida com um cara como ele.

Ah, pai... se você soubesse o quanto tua filha já se meteu com ele...

— Ele é do time dos mocinhos ou...

O coronel olhou a filha nos olhos. Olhos iguais. Ambarinos.

— Depende do jogo, Mari.

Ela se mexeu. Inquieta. Repetiu a pergunta. A voz traindo a tensão. Com quem ela tinha se metido afinal?

— Quem é ele, pai?

O coronel esfregou o rosto. Olhou a filha.

A cara da mãe. Linda. Quando Mari nasceu, Stella e ele ficaram radiantes. Depois de quatro garotos, tinha nascido uma menina. Os irmãos adoravam Mari. Morriam de ciúmes dela. E ele também, para falar a verdade. Era sua caçula, sua princesa. Quase tinha ficado maluco quando ela passou no concurso da Polícia Federal. E mais ainda quando Edu ligou. Por que ela e Henrique tinham ido até a Fundação?

Agora a filha estava ali, abatida. E Henrique, um garoto bom, que ele conhecia há anos, estava morto. Sua filha também poderia estar. Droga!

— Pai?

— Hã...

Ela fez uma careta.

— Pai, eu tô perguntando quem é esse cara. Quem é esse tal de Dib?

— Dib é um... free lancer, digamos assim.

— Mercenário.

— Não usaria este termo, filha.

O coronel avançou a cadeira. Olhou a rua lá embaixo, e a lagoa Rodrigo de Freitas. Continuou a falar.

— Ele foi militar. PQD, Forças Especiais, curso de Comando, Operações, força de Paz no Timor Leste...

— Começou no berço...

— Quase isso. De qualquer forma, ele pediu baixa há uns anos atrás.

Mari estranhou. Com um currículo daqueles?

— Por quê?

O coronel olhou para ela.

— Um acidente num treinamento. Dib não aguentou a pressão. Sumiu e depois de um tempo, voltou. Trabalhando para quem pagasse mais.

Aquilo foi tudo. Mari não perguntou mais nada também. Ficou em pé, ao lado do pai. Olhando a Lagoa ao entardecer.

Trabalhando para quem pagasse mais.

Devia ter ficado na ignorância.

Uma semana depois. Centro do Rio, 1:15PM

— Está irritado.

— Não estou não.

— Está sim.

Dib rangeu os dentes.

— Vá amolar outro, Lucas!

O parceiro esticou o corpanzil na cadeira. Dib sabia que era alto. Mas Lucas conseguia ser maior ainda. Parecia que ia quebrar a cadeira do restaurante onde os dois tinham ido almoçar. Notou que as mulheres que entravam olhavam para a mesa deles.

Lucas, além de grande, era bonito. Parecia modelo de capa de revista. Cabelo claro, bronzeado. Olhos azuis. Quando estava trabalhando, metia medo. À paisana, era um moleque crescido. Os dois surfavam juntos. Quando dava tempo. Ele chegou para frente. Riu e falou.

— Isso é frustração sexual, pura e simples. Você tá pensando naquela federal pavio-curto. Pensa que eu não sei?

Dib apertou a garrafa de tônica. Era assim tão óbvio?

Mas que droga! Depois daquele dia, ele não tinha mais conseguido tirar a maldita Mari Esteves da cabeça. De nenhuma das duas! Acordava pensando nela. Dormia e sonhava com ela. Logo ele, que nunca tinha se amarrado à mulher nenhuma!

— Nem tanto — ele falou — transei com ela.

— O quê?

— Fala baixo, Lucas — Dib riu — o mulherio tá te olhando.

Lucas lançou um olhar de desprezo ao redor. Falou baixo.

— Aqui só tem patricinha. Nenhuma mulher que me atraia. Mas estamos falando de você. Transou com a federal? Quando?

Dib contou.

— Cara, eu sabia que você era doido, mas isso... — agora sabia por que o amigo estava daquele jeito.

— Agora eu não consigo tirar aquela mulher da cabeça.

— Relaxa. Logo vamos achar a porra da maleta. Aquilo não pode sumir. Vai chamar atenção demais. Alguém vai acabar dando com a língua nos dentes.

Dib bufou. A garçonete trouxe os pedidos. Olhou descaradamente os dois. Saiu rebolando. Ele não deu atenção. Estava congelado. Olhando a porta do restaurante.

— Dib? — Lucas tomou um gole de suco. Não respondeu. — William!

— Hã? — Nunca era chamado de William. Só quando havia encrenca a vista.

Lucas seguiu o olhar do parceiro. Mari Esteves estava ali. E ao lado dela... foi a vez de Lucas parar no tempo.

— Rapaz...

Dib finalmente focalizou Lucas. Estava de boca aberta. Ia xingá-lo por olhar Mari daquele jeito. Mas depois entendeu. Não era bem para Mari Esteves que Lucas olhava. Era para a mulher ao lado dela. Diferente da policial como a água do vinho.

Muito alta, pele bem branca e esguia. Cabelos lisos, longos. Pretos, muito pretos. Andava com elegância. Parecia uma atriz de cinema. Usava uma camisa branca de corte impecável e uma saia preta, simples. Sapatos de salto pretos. Bem altos. Sentou-se numa mesa com Mari.

— Uma dupla e tanto — resmungou Dib.

Já tinha perdido a fome. Ao menos pela comida. Mari estava ali, do outro lado do restaurante. Sentou ao lado da mulher com cara de atriz. Usava jeans e camiseta. Como da primeira vez em que se viram. Uma regata preta, colada à pele. O jeans marcava cada curva. Os sapatos pareciam botas, de cano curto. Pretas. Estava despenteada. Com o capacete embaixo o braço.

A mulher já era sexy. Em cima de uma Harley, então... sua mente trabalhou. Fantasiou. Mari, nua, ao luar. Em cima da Harley. Ele em cima de Mari.

— Quem será aquela mulher?

— Quem?

— Aquela, ao lado da federal.

Só então Dib prestou atenção nela. Onde tinha visto aquele rosto? Lembrou.

— Promotora. Ministério púbico ambiental.

— Encrenca? — Lucas rezou para ter que seguir aquele monumento dia e noite. Que mulher!

— Depende do que as duas estiverem conversando — baixou a cabeça. Não queria que Mari os visse. Apesar de ser meio difícil não serem notados. — Vou ficar na cola da Esteves hoje — decidiu de repente — diga a Rodrigo para ir para casa.

— Ela ainda está suspensa.

— Ótimo. Quero essa mulher longe de encrenca.

Ele mesmo tinha mexido os pauzinhos para conseguir aquela suspensão. Ia fazer mal para a ficha de Mari. Também ia deixar a agente longe do fogo cruzado. Foi só fazer um pouco de pressão em cima do chefe de Mari. Mostrar umas fotos um tanto quentes dele com a amante, e pronto! Mari Esteves estava fora de ação há uma semana. Fora do caminho deles.

Lucas contou que ela soltava fogo pelas ventas. No dia da suspensão, tinha saído do prédio da PF como uma louca. O parceiro tinha seguido Mari pessoalmente. Segundo ele, ela tinha ficado horas sentada na beira da praia, olhando o mar.

Sabia como ela se sentia. Assim como para ele, o trabalho de Mari Esteves era sua vida. Se ela soubesse que ele tinha arranjado aquela suspensão... na certa seria um homem morto.

— Fica calma, amiga — Suzana consolou — logo tudo vai se esclarecer!

— Eu não aguento mais, Su! — Tomou um gole de suco. — Uma semana e já tô ficando louca! Não foi justo! Meu parceiro morre em serviço, e me suspendem como se eu fosse a culpada!

Suzana ajeitou o cabelo. Tomou um pouco de café. Reparou no louro alto que olhava para ela. Ignorou-o.

— Qual foi a justificativa?

— Sei lá! Quando Pedro começou a falar eu meio que saí do ar... — Reparou no olhar de Suzana, para um ponto atrás de si — o que foi?

— Aquele cara, ali atrás. Não para de me encarar.

Discreta, Mari virou. Voltou-se depressa. Branca como cera.

— Dib.

— O que tá me olhando?

Suzana já sabia de tudo. Mari tinha desabafado com ela. Sabia que a amiga morria de raiva do tal Dib. E que também estava mais do que perturbada com o que tinha acontecido.

— Não. O outro. O moreno na frente dele. — Brincou com a medalhinha de São Dimas, presa ao pescoço. — Merda. O Rio de Janeiro é enorme! E com tanta gente pra eu encontrar, tinha que ser justo com esse cara?

Suzana abaixou a cabeça. Botou a mão na testa. Tomou mais um gole de café. Resmungou.

— Ai, eles levantaram. Disfarça, amiga. Os dois estão vindo pra cá.

Fazia muito calor àquela hora. Olhou para o céu. Ia chover no fim da tarde. Tanto melhor. Quanto mais confusão no Rio, melhor para tirar a mulher do mapa.

Olhou a moto estacionada ao lado de um sedã prata. A garota tinha bom gosto. Harley Davidson. E era uma gata, pensou Zeca. Pena que não ia dar tempo de conhecer melhor a tira. O chefe queria o serviço pra hoje. A chave estava com ela.

Terminou o cigarro e jogou no chão. Apagou com o pé. Olhou o relógio. Fez sinal para outros dois capangas. Voltou a vigiar a porta do restaurante.

— Boa tarde.

Mari não olhou. Não depois de se arrepiar toda com aquela voz. Sabia que Dib estaria rindo. Droga de homem!

— Boa tarde, senhoritas — Lucas aproximou-se e sorriu para Suzana. A agente logo levantou o rosto.

— Gente! — Debochou — o gorila-robô fala! E ri!

Lucas fechou a cara.

— Mari! — Suzana ficou vermelha.

Dib puxou uma cadeira e sentou.

— Ei! Eu não te convidei.

— Nem respondeu ao meu "boa tarde".

— Talvez porque a tarde tenha ficado péssima de repente.

Lucas ignorou Mari. Deu a volta. Sorriu pra Suzana, meio bobo.

— Posso?

Gente, como ele é alto!

Suzana era alta. Mais de um e oitenta. Por isso, era a maior dificuldade arrumar até mesmo companhia para uma festa. Às vezes, até achava um carinha bonitinho. Mas tinha que sair sem salto, porque senão, ficava maior que o coitado. E ela não gostava de baixinhos.

— Claro — respondeu — à vontade.

Ele sentou. Enorme. Sorrindo. Olhos azuis. Cabelo queimado de sol.

— Sou Lucas Lacchesi.

— Suzana Prado. — Estendeu a mão. Ele apertou. Firme. Sem machucar. Apenas firme e quente — é um prazer. Aceitam um café?

Dib apenas fez que não com a cabeça.

— Não obrigado, — Lucas sorriu — vem sempre aqui?

A conversa fluiu entre os dois. E o silêncio pesou entre Dib e Mari.

— Não vai perguntar como estou, tira? — Depois de um tempo.

— Não me chame assim — ela sibilou — não convidei você e seu amigo, já disse. Aliás, quer me dizer por que ele ficou andando atrás de mim a semana toda?

Ele ficou surpreso. Apenas por um instante. Logo se recuperou. Ela era esperta. Atenta. Claro que tinha percebido. Até porque ele tinha falado da vigilância naquele dia.

— Ele faz parte da equipe que mantenho atrás de você. — Foi honesto.

— Por quê?

Como dizer que ela corria perigo? Isso, sem entregar toda a operação. Sim, porque, se dissesse algo, ela ia querer saber do resto.

Motivos. Implicações. Perguntas que ele não podia responder. Que não queria responder.

— Faz parte do meu trabalho.

Mari respirou fundo. Ajeitou-se na cadeira. Sua perna roçou a dele. Os dois se olharam. Pensamentos eróticos passaram pela cabeça dela. O jeans áspero entre suas coxas, a boca de Dib na sua. As mãos dele em seu traseiro. Ele dentro dela.

Os dedos apertaram o copo. Os olhos verdes ficaram travessos. Será que lia seus pensamentos? Corou.

— Cada um deles — ele sussurrou.

Ela arregalou os olhos.

— Você... ?

— Não, tira. Claro que não. Mas estava escrito na sua cara.

Ele não queria que as duas tivessem visto ele e Lucas. Mas o parceiro tinha olhado um bocado para a promotora. Elas acabaram notando os dois. Claro que ele não resistiu a provocar a Mari Esteves. Ou a ficar do lado dela.

Mari contou até dez para não dar na cara dele. Pegou o capacete e as chaves. Levantou. Suzana acordou.

— Mari?

— Olha, eu já vou, tá? O ar aqui — olhou para Dib — ficou irrespirável.

— Mas... — Suzana ia levantar. Olhou para Lucas, que também parecia decepcionado. — Tá. A gente se fala então. Eu te ligo de noite.

Dib se levantou também.

— Telefono depois, Lucas.

Correu até a porta. Mari já saía por ela.

— Ei! — Gritou.

Ela apertou o passo. Parou ao lado da Harley. Um carro entrou no estacionamento. Ficou entre ele e Mari. Ia dar a volta, quando as portas do carro se abriram. Dois homens saíram. Um deles avançou sobre ela.

— Mari!

O homem a agarrou por trás. Segurando os braços dela junto do corpo. Coitado. A agente firmou o pé no chão. Virou o jogo. Derrubou o homem. Viu que procurava a arma no coldre. Esqueceu que estava suspensa. Sem arma. A faca surgiu na mão dela.

Dib saltou o capô do carro. Pegou o segundo cara.

— Corre, Mari!

— Nem morta, ursinho!

Outro homem saiu do carro. Armado. Dib socou seu adversário. Jogou-o em cima dele. A arma disparou para cima. O cara que Mari tinha derrubado, se levantou. Foi de novo em cima dela. Os seguranças do restaurante apareceram.

— Vamos! — Um dos três gritou, o armado.

Entraram no carro e sumiram.

— Merda! — Ela berrou.

Dib pegou-a pelo braço. Subiu na Harley.

— Vamos embora.

— Desce daí, só eu piloto minha preciosa.

— Me dá a chave Mari!

— Não. Pra trás.

— Mari! Eles vão voltar.

— Pra trás, porra!

Irritado ele obedeceu.

Mari subiu na moto. Enfiou a chave e deu a partida. Dib agarrou sua cintura. Ela pensou no que seria pior enquanto subia o viaduto. Ter mandado ele para a garupa, colado no seu traseiro. Ou ter deixado ele pilotar, e ficar agarrada nele.

— Saia do viaduto, — ele berrou atrás dela — estou sem capacete. Aqui costumam ter blitzens. Podem nos parar.

— Tá com medo da polícia, Dib?

Ironizou, mas desceu. Só Deus sabia porque confiava naquele cara.

— Quem eram aqueles caras?

— Depois. — Notou que ela se encaminhava para a Tijuca. — Pra sua casa não. Pegue a Usina, e depois o Alto da Boa Vista. Seja evasiva. Use ruas menos movimentadas.

— Para onde? — Ela fez uma curva fechada e Dib segurou firme nela. As pernas dele apertaram as suas.

— De lá, pra Joatinga.

Quase uma hora depois, entravam num condomínio fechado. Dib saltou da garupa e falou com o vigia. Logo, subiu de novo e indicou o caminho. Pararam numa casa grande, na beira da encosta. Ele desceu e mostrou onde estacionar a moto.

— Que lugar é esse? — Ela perguntou, já com o capacete na mão.

Ele sorriu. Ela achou o sorriso muito parecido com o do gato que tinha comido o canário.

— Minha casa.

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