Capítulo 2

Felícia

- Nunca me falou deste tal amigo, por que eu tenho que fazer companhia a ele? - Questiono meu marido que ajeita a gravata em sua camisa social.

Gosto muito de quando ele viaja, assim eu posso ser feliz por alguns dias. 

- E quando que eu lhe dou satisfações das pessoas que eu conheço ou deixo de conhecer? Apenas faça ele se sentir em casa, creio que ele irá se instalar em algum hotel, mas quero que você insista para que ele fique aqui em casa, estou sendo claro? Ele é muito importante pra mim e eu lamento não poder recebê-lo pessoalmente, mas voltarei logo, enquanto isso trate o bem, entendeu? - Lucas me lançou um olhar daqueles que ele olha quando está me ameaçando, tudo tem que ser na base de ameaça para este endiabrado?

Eu o odeio!

- Sim, quando você volta? - Eu não quero ficar fazendo sala para uma pessoa que eu nem ao menos conheço, e amigo de meu marido ainda por cima, com certeza é da mesma laia.

- Em breve, não que isso seja da sua conta, é claro. - Estúpido!

Lucas saiu seis horas da manhã em viagem de negócios. O amigo de infância dele irá chegar às oito da noite. Lucas insistiu muito que eu o trata bem e o convide a se instalar em nossa casa, este tal Rodney deve ser muito importante pra ele. Não que isso me faça sentir algum pingo de simpatia por Lucas, mas é muito raro eu vê-lo preocupado com alguém, e bom, como eu sou muito educada irei hospedar o amigo de meu marido em nossa casa. E claro, porque meu marido me ameaçou também. Tenho nojo de dizer assim "meu marido" arg. 

Voltei a dormir em meu quarto, que aliás não é o mesmo de Lucas por escolha dele, e eu sou muito feliz por este detalhe, mas meu sono durou apenas alguns minutos.

- Oi! E então? Está animada para hoje? - Sete horas da manhã e como dito, Júlia está em minha casa.

- Como eu poderia estar animada se nem ao menos sei o que faremos? - Disse puxando ela para dentro.

Júlia sorriu exibindo os dentes brancos e bem tratados que ela deve a sua irmã Isabela que se formou em dentista e resolveu usá-la como cobaia.

- Dia de menina! - Ela diz animada enquanto sobe as escadas até o meu quarto.

- Como assim? Não somos meninas mais! - Eu estava ficando brava com toda a animação que ela estava sentindo, eu queria contar do tapa que levei na noite anterior.

- Vamos ao salão de beleza, ao shopping, vamos ao parque, vamos paquerar, vamos fazer tudo o que fazíamos antes de você se casar com o diabo. - Júlia disse tão convicta, eu quero pensar que ela está brincando, mas notei pela sua boca que fica levemente torta quando ela esta brava ou séria demais, que ela está falando sério. 

- Júlia, ontem eu tomei mais um tapa, por acaso quer que ele arranque a minha cabeça? - Perguntei, e me assustei com a possibilidade, pois da forma como o diabo é, realmente pode fazer isso.

- Ou você vai resolver as coisas do meu jeito Felícia, ou não somos mais amigas.

Júlia está muito magoada comigo, ela não gosta do que eu passo e me chama de fraca e covarde. Ela não entende, eu explico mas ela não entende! Tudo o que eu quero é apenas um ombro para me consolar no momento em que eu estiver mau me dizendo que um dia tudo ficará bem. Mas ela sempre vêm com as idéias de fuga, ou ir na polícia, e essas atitudes não fariam bem . Eu tenho um pai com problema no coração, que sonha em ter um neto, e eu como a sua única filha terei que lhe dar.

Tenho que manter a aparência no meu casamento pela minha família, meu pai passou todos os bens e ações que ele tinha no meu nome, ele sabe que quem comanda é o Lucas, ele confia no Lucas, eu não quero que ele tenha outro ataque no coração como o que ele teve no ano passado. Deus me livre ficar sem o meu paizinho. Tudo o que eu amo neste mundo é meu pai, minha mãe e minha melhor amiga. Não tenho mais ninguém por mim.

- Você não pode me propor isso Júlia! - Choramingo entre a cruz e a espada.

- Você é uma coitada que está deixando a sua vida passar bem ao seu lado e não a vive! Você já está com vinte e cinco anos, Felícia! Acorda para a vida! Já faz seis anos que você vive como uma senhora de oitenta e cinco! Olha só para essas suas roupas! - Olhei para mim mesma, o que tinha de errado com a minha saia longa cinza e com a minha camiseta com um pássaro pintado? - Você tem a escolha que eu acabei de lhe dar, escolha agora, neste momento, pois eu já estou cansada de te ver assim. Ou você toma atitude e faça o que eu disse, ou você que sofra sozinha. Você sofre porque você quer. - Concluiu com os olhos molhados.

Eu me silenciei. Eu já havia pensando em tudo isso que ela me disse. Tudo isso eu já sabia. Mas ouvir ela me dizendo, pareceu muito mais real e séria a minha situação. Apesar de eu querer muito dar a minha mão para ela me ajudar, tem algo dentro de mim que me segura.

- Sinto muito Ju. - Eu estou chorando, ela começou a chorar também e deu passos em direção a saída de minha casa.

Eu estou deixando a única pessoa que me apoia e me ouve, a única pessoa que sempre, tudo o que ela quis foi que eu me livrasse do Lucas, e por seis anos eu neguei isso a ela, e agora ela está indo embora. Eu sou muito covarde.

Eu tenho que fazer alguma coisa!

- Júlia! - Ando em passos rápidos em direção à ela que se virou para mim ainda chorando e me abraçou muito forte.

- Você vai conseguir! Nós vamos conseguir. - Acalmou-me.

E uma borboleta começa a voar dentro do meu estômago. Sinto medo, muito medo. Mas as coisas precisam mudar. 

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