Capítulo 7

Os dias passaram voando e lá estava eu indo buscar Thomas em minha casa para irmos ao shopping comprar nossas coisas. Ele já estava completamente adaptado com a nossa rotina e já tínhamos combinado que assim que essas coisas do meu pai finalmente acabassem, iríamos ver as gravadoras.

Chegamos ao nosso destino e fomos logo tratando de almoçar, para bater perna depois. Decidimos começar pela roupa dele, por ser mais “fácil”, mas foi o oposto disso. Toda vez que ele experimentava um terno, dava algum defeito. Ou era grande demais, ou a gravata não combinava, ou o botão era estranho...

Enfim, só para encontrar sua roupa levaram quase duas horas. Quando fomos procurar algo para mim, Thomas já veio pra cima, dizendo que queria ir para casa e eu sempre o lembrava do tempo que tinha perdido com ele, então ele teve fazer bico e aceitar.

Era completamente engraçado ver um homem nem um pouco acostumado a esse universo feminino, muito menos com Los Angeles. Era até bonitinho ter que explicar certas coisas para ele. Acabamos as compras, fomos tomar sorvete e voltamos para casa. Thommy quis voltar dirigindo e até que ele me surpreendeu – não tenho o costume de entregar meu bebê nas mãos de qualquer um. Assim que chegamos, cada um foi para seu quarto se arrumar.

***

Hoje ia ser um dia bem importante para a Kristie. Ela reencontraria Michael e veria o que faria. Sinceramente? Não gostava dele. Eu até poderia não ser apto a um relacionamento, mas o que não suportava era isso. O cara tinha a mulher dos sonhos e simplesmente fica com outra, deixa a sorte passar. O que me deixava pior ainda era saber que Kristie estava duvidando de si mesma. Ela não tinha espelho não? Enfim, eu tentaria mostrar que ela não precisava disso, e sinceramente tentaria mostrar que Michael não era o cara certo para ela.

Meu banho foi mais demorado do que previ e comecei a correr quando a mãe de Kristie bateu em minha porta, avisando que eles estariam indo na frente. Tá, dar nó em gravata deve ser fácil. Primeira, segunda, terceira. Argh! Pra que isso? Desisto. Coloquei a calça e a blusa por cima e fui até o quarto da frente.

  • Kristie? Preciso de ajuda.

  • Espera um pouco, to colocando o vestido! Ai merda, não consigo fechar. Pode entrar e me ajuda aqui! – fui entrando devagar em seu quarto.

  • Estamos enrolados mesmo! Sabe dar nó em gravata? – ela estava segurando seu vestido, de frente para mim. Estava linda demais de preto, cabelo preso e sapato alto vermelho.

  • Ah, estamos mesmo! Sei, mas fecha meu vestido, por favor? – ela se virou e vi suas costas brancas

com uma lingerie preta. “Sua irmã, sua irmã.” Era um mantra.

  • Você está linda de preto. Estamos combinando. – ufa. Graças que nada aconteceu.

  • Nós e metade da festa, né? Agora vem cá! Pelo jeito você não sabe abotoar camisa também, não é?

– olhei para baixo e vi que tinha pulado um botão. Kristie arrumou tudo em dois segundos e pegou a gravata da minha mão. – Abaixa seu pescoço aqui que mesmo com salto continuo infinitamente mais baixa que você.

  • Ah, nem tanto assim.

  • Devemos ter mais de vinte centímetros de diferença! Isso é coisa pra caramba. Deixa terminar e...

Prontinho. – ela beijou minha bochecha.

  • Você é uma ótima pessoa para dar nós em gravatas. Posso tirar isso depois da festa do seu pai, certo?

  • Vamos?

  • – descemos as escadas, com ela se apoiando em mim por causa do salto alto, entramos na garagem e fomos para o carro.

  • Olha, não sei se você sabe, mas meu pai é um dos melhores advogados aqui de Los Angeles, então não se espante te terem alguns fotógrafos ou coisa do tipo, tudo bem?

  • Por mim... Estamos juntos nessa, parceira.

Kristie dirigiu um tempinho até chegarmos a uma grande casa de festas. Tudo parecia estar bem elegante. Kristine deixou o carro com o manobrista e fomos em direção ao salão. Um dos repórteres tirou uma foto dela e pediu para tirar uma nossa. Não vimos nenhum problema e tiramos. Depois de andar um pouco, finalmente chegamos à festa. - que estava bem cheia. Ela tinha razão; eu, ela e metade da festa combinavam de preto. As mesas eram bem localizadas, perto do palco. Muitos garçons serviam bebidas e aperitivos enquanto outra parte servia um jantar. Tudo ali era muito formal. Fomos direto cumprimentar seus pais e tentar procurar uma mesa. Kristie me acomodou e saiu, indo na direção de algumas pessoas. A homenagem que prestaram para John não demorou muito e a família Thrue já se localizava no palco para os aplausos e fotos. Não tinha percebido o quão o sorriso dela era bonito. Quando Kristie esquecia aquelas preocupações, ela conseguia ser ela mesma. Assim que todas as homenagens foram finalizadas, Kristine voltou ao meu lado, revelando que o pai de Michael estava lá - e acabei descobrindo que John e ele trabalhavam juntos. Com isso, andamos pelo salão de festa de braços dados enquanto pegávamos uma bebida. Ela queria que o pai dele nos visse juntos e eu aceitei.

Quando completaram duas horas que estávamos na comemoração, nos despedimos e fomos para a tal boate. Kristie estacionou o carro, passou batom vermelho e soltou seus cabelos. Estava bem diferente.

  • Só uma coisa pra dizer... Você está linda.

  • Vamos ver no que isso tudo vai dar.

Logo de cara e pela música, senti falta do meu bom e velho Pub. Não que não seja bom dançar, mas entre ficar com meu copo de cerveja e os amigos para estar em uma balada... Nem preciso dizer mais nada. A boate estava a todo vapor, com várias luzes de inúmeros tipos de cores, fumaça e puffs. O bar era localizado bem à frente e as pessoas se amontoavam para dançar perto do ar condicionado. Já não fui com cara de metade daqueles garotos com cara de que tinham dinheiro. Escutei um berro estridente e senti Kristie sendo afastada de mim.

  • Ah, você veio! Quem é o gato? – escutei a garota de cabelo picotado falando no ouvido dela.

  • Esse é o Thomas, Hayley!

  • Mentira? Prazer! – ela me abraçou e Kristie riu. – Sou Hayley Foster, amiga de Kris desde sempre.

  • Eu basicamente a vi nascer! – ri.

  • Pode ir parando aí que o senhor é só três anos mais velho que eu!

  • Mas teoricamente eu te vi nascer, Kristie.

  • Chega disso, não sou a criança aqui. – ela riu. – Hayley é mais nova que eu!

  • Mas eu não conheço a Hayley desde que nasceu.

  • Você é um dos meus, Thomas.

  • Ok! Hay, fica com o Thommy que eu vou ali e já volto. – observei Kristine desaparecendo na pequena multidão que se formava naquele corredor escuro.

  • Foi bom Kristine ter saído. Me conte sobre Michael. – Hayley hesitou um pouco, como se quisesse editar o que contaria.

  • Ele é um babaca. Traiu a Kris varias vezes, mas ela só sabe de uma.

  • Então você também não é a favor dela voltar com ele, certo?

  • Com certeza. Morreu o assunto. – ela virou seu drink e sorriu.

  • Aqui, Thommy. Cerveja pra você e dois drinks pra mim.

  • Vou deixar vocês curtirem um pouco a festa. Vou lá ficar com o Paul.

  • Isso ainda vai dar casamento! Escuta o que to dizendo!

  • Vai com calma, Kris!

  • E o que está achando da boate, Thommy? – ela me cutucou, brincando comigo porque já tinha tomado sua bebida.

  • Você tem é que saber o que é um Pub! Uma londrina que não conhece um, olha a vergonha! Seus amigos sabem que você não é americana? Nem sotaque você tem mais!

  • Sabem sim, tá? Tenho orgulho de ter nascido lá.

  • E por que nunca mais voltou?

  • A rotina acaba consumindo as pessoas, Thommy. – atrás dela, um garoto de cabelo mais ou menos na altura do queixo, nos observava seriamente. Coloquei minhas mãos na cintura de Kristie e a movimentei de acordo com a música, grudando minha boca em seu ouvido.

  • Michael tem cabelo escuro até o queixo?

  • Tem, por quê?

  • Porque ele vai ter uma cena e tanto agora. – tirei uma mão de sua cintura, segurei seu rosto e a

beijei.

Instintivamente ou não, Kristie enfiou suas mãos em meu cabelo, enquanto eu explorava seus lábios vagarosamente. Eu não pretendia beijá-la, mas assim que percebi que aquele cara era o Michael, senti uma necessidade gigantesca de protegê-la, de agarrá-la e dizer que ela estava comigo – mesmo que fosse de mentira. Uma das mãos de Kristie foi para meu rosto, acariciando de uma forma que nunca tinha sentido. Aquela eletricidade percorreu meu corpo de uma forma que eu não conseguia parar; e também não queria, mas os nossos pulmões gritavam por ar. Terminei aquele beijo com um selinho demorado e encostei minha testa na dela.

  • Você acabou de realizar uma tremenda cena de ciúmes comigo, dona Kristine. – Sorri pra ela e fui retribuído com outro beijo.

***

Nunca esperaria essa reação de Thommy. Nunca mesmo. Eu não consegui levar o beijo de uma forma leviana, ou de brincadeira. No início, Thomas apenas brincava com meus lábios, de uma forma mais superficial, até eu me segurar nos ombros dele e me aprofundar um pouco mais. Correspondi como se não

tivesse fim. Não escutava mais a música ou qualquer coisa ao nosso redor. Eu gostei daquela paz e gostei de tê-la ao lado do Thommy.

O beijo não passou despercebido das pessoas que estavam na boate, principalmente aquelas que sabiam que eu e Michael éramos namorados há poucos meses atrás. Assim que Thommy finalizou o beijo, seus lábios estavam avermelhados. Eu não parava de sorrir e gargalhar. Não por eu estar bêbada, mas por estar feliz.

Nós dois continuamos no meio da pista, dançando, olhando um para o outro, mas não nos beijamos mais. Pelo que percebi, Michael foi embora um pouco depois que eu e Thommy fizemos o nosso “show particular”.

Meu relógio informava que já era mais de duas horas da manhã. Sussurrei no ouvido dele que queria ir embora e lhe entreguei a chave do meu carro. Já estava vendo muitas pessoas duplas e triplas, luzes estranhas e do teto girando um pouco. Thommy me colocou no carro e só senti o vento batendo no meu rosto.

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