Capítulo 04

Lorenzo Rivera

 

Minha casa era tão silenciosa que às vezes não suportava ficar sozinho, todavia, naquela noite só queria ficar no meu quarto. Olhei para o relógio na parede, era quase meia-noite. Eu estava estressado devido a uma mulher. Nunca tinha visto alguém como a Garcia antes. Uma mulher que falava sem pensar nas consequências, de certa forma, me deixou surpreendido porque apenas meu pai falava o que pensava de mim. Não pensei que estaria vivo para ver uma mulher como aquela falar sem medo o que pensava de mim. O que eu esperava? Esperava no mínimo educação, porém, ela deixou claro que não tinha.

 

— Lorenzo, não pense mais nisso! — murmurei, sorrindo, enquanto recordava do quanto deixei a Garcia sem jeito. Por mais que ela tentasse desviar seu olhar, eu sabia muito bem pra onde estava olhando, provavelmente, nunca havia visto alguém tão lindo assim como eu! Não é querendo me gabar, mas sou um partido e tanto. A coitadinha ficou impressionada, só em suas fantasias ela conseguiria um homem como eu.

 

Levantei da poltrona indo em direção ao banheiro, assim que adentrei me aproximei da banheira, logo enchi ela d'água, depois joguei longe a minha cueca, entrando nela em seguida. Meu corpo logo começou a relaxar na água morna. Fechei os olhos e pensei em Marilu Blanco, aquela banheira espaçosa me fazia lembrar do seu corpo perfeito. O cheiro do seu corpo me deixava louco, ela era uma mulher de chamar atenção de qualquer homem. Olhos verdes, cintura fina e peitos bem fartos, simplesmente uma delícia, uma loira de deixar qualquer homem de quatro por ela.

 

Eu não saia com qualquer mulher porque tinha medo de ser vítima outra vez. Do que estou falando? Bom, uma vez alguém conseguiu me enganar direitinho, no entanto, Marilu não se encaixava na categoria de qualquer uma. Ela era formada em direito e de uma boa família, por causa disso, escolhi ela como parceira sexual. O que foi? Acreditou que era para um relacionamento sério? Bobagem isso! Era somente transas casuais entre nós dois. Não queria compromisso sério, ela era perfeita para saciar meus desejos e nada mais!

 

Ter um relacionamento para acabar como o dos meus pais não me atraía nenhum pouco. Era inevitável não lembrar dos homens que saiam da nossa casa. Mamãe não disfarçava suas traições, enquanto meu pai trabalhava pra bancar seus luxos. Um dia ela simplesmente nos deixou para ir embora com um dos seus amantes, mas durou apenas quatro meses até ser assassinada pela esposa do amante.

 

Meu pai nunca conversou do assunto, fingíamos que ela nunca existiu em nossas vidas. Sarah tinha nove anos quando tudo aconteceu, às vezes ela sentia que nosso pai nos tratava diferente. Talvez ele desconfiasse que minha irmã não fosse sua filha, mas eu nunca duvidei que ela era, bastava olhar para minha irmã pra ver tantas semelhanças suas.

 

Nunca ter me apaixonado por ninguém não me fazia menos homem, era uma benção não depender de alguém para ser feliz. Não entendia como as pessoas se arriscavam tanto por amor, isso quase sempre acabava mal, seus corações e vida moral eram destruídos. Eu não queria uma mulher para me fazer de capacho, um homem apaixonado se torna ridículo. Pra que ter um relacionamento? As chances de tudo dar errado são enormes.

 

Não ter que dar satisfações para ninguém era a melhor coisa de ser solteiro. Meus problemas pessoais ocupavam bastante do meu tempo, quase enlouqueci uma vez porque fiquei dois meses sem transar, meu corpo implorava por um sexo incrível. Como não seria? Além de bom cozinheiro realizava um trabalho excelente na cama! Elas nunca reclamaram dos meus serviços!

 

Um dos meus problemas era um segredo que guardava por anos, sentia vergonha do que fizera, portanto, não queria que ninguém soubesse, muito menos minha família, foram seis anos longos escondendo tudo. Um peso que carregava sozinho, no começo pensei que seria fácil, mas nunca foi.

 

Levantei da banheira de cabeça cabisbaixa. Peguei a toalha de banho e sequei meu corpo.

 

— Você não sabe amar ninguém além de si mesmo! — afirmei, em frente ao espelho, apoiando minhas mãos na pia.

 

Minha vida não era a mesma de uns anos atrás, ainda assim, eu insistia em mantê-la exatamente como sempre foi. Um quarto próximo ao meu, representava algo que negava para mim mesmo, deveria ser fácil fingir que não existia problema algum, entretanto, existia e isso me atormentava. Devido a uma mulher que cruzou meu caminho mudando tudo, nunca mais minha vida foi a mesma. Ela me envolveu direitinho em sua armadilha. E o que eu fiz? Uma péssima escolha, claro! Apesar dos anos ainda era perseguido pela vadia que queria me arrancar dinheiro. Meu advogado fez um ótimo trabalho ao me ajudar judicialmente contra ela, venci o processo como o esperado, valeu cada centavo que gastei. Minha boca estava seca, isso sempre acontecia quando lembrava daquela desgraçada.

 

Saí do banheiro do jeito que vim ao mundo.

 

— Preciso dormir. — sussurrei me arrastando até a cama. Gostava de me sentir livre, raramente usava roupas quando queria ter uma boa noite de sono. Deitei de bruços na esperança de conseguir dormir, mas não seria fácil.

 

[...]

 

No dia seguinte acordei cedo como de costume, preparei meu café da manhã. Manter uma cozinheira não havia necessidade, morava sozinho, quando estava em casa eu mesmo preparava o que fosse comer. Minha governanta cuidava de tudo que fosse necessário pra manter tudo em ordem. Não era porque eu tinha bastante dinheiro que gastaria à toa, ela cuidava das moças que contratava para limpeza e também dos pagamentos dos seguranças.

 

Quando terminei meu café da manhã decidi sair para o jardim. Um dos seguranças me cumprimentou formalmente. Não gostava de me misturar com qualquer um, por isso ignorei o que ele disse. Precisava fazer uma ligação, procurei o contato na agenda e telefonei. Chamou duas vezes até que alguém atendeu, era uma voz feminina.

 

— Pode passar para o dono do telefone por gentileza. — pedi educadamente. Ouvi a mulher gritar chamando meu patrão, eu precisava tentar ao menos fazê-lo desistir com a tolice de me obrigar a ser a babá daquela louca. A ideia de passar mais uma tarde com ela ao meu lado estava tirando minha paz.

 

— Oi, Lorenzo, aconteceu algo? — senhor Gerard parecia surpreso com minha ligação.

 

— Sei que concordei em ajudar aquele ser humano, mas ela é desajeitada, não leva jeito! É só mais uma incompetente, e também muito atrevida. O senhor tinha que ter ouvido as coisas que saíram da boca dela. Era cada absurdo. Não quero ela mais perto de mim! Me tire dessa situação. Pode me punir de outro jeito. Que tal ficar com meu salário por três meses?

 

Ouvi ele gargalhar como se eu tivesse falado algo engraçado, mas eu só queria não ter que lidar com aquela mulher outra vez.

 

— Filho, a moça mal começou. Não julgue assim, até porque não mudarei de ideia. Sinto muito, mas se não está satisfeito, assino sua carta de demissão!

 

Demissão? Ele estava falando sério! Comecei a sentir aflição.

 

— Preciso desligar. Tenho que pagar umas contas! Desculpe por incomodar essa hora. — inventei uma desculpa para encerrar a ligação, antes que iniciasse uma discussão com a pessoa errada.

 

— Até mais Lorenzo. — ele disse desligando a chamada. Senti vontade de quebrar meu telefone com as mãos, porém, contei até dez e me acalmei.

 

Na noite anterior sonhei com a Garcia, então, logo pela manhã tentei fazer um acordo com meu patrão. Eu tinha sonhado que estávamos quase nos beijando, acordei com o corpo suado, meu coração batia rápido, sentei na cama atordoado, tudo por causa daquele sonho de péssimo gosto.

 

Amira Garcia tinha que desaparecer, nunca sonhara antes com alguém tão repugnante. Como pude sonhar prestes a beijá-la? Não faço ideia! Não queria seus beijos nem em sonhos, aquele tipo de mulher bruta e sem classe, não deveria ter uma boa estrutura familiar, não sei porque estava pensando em sua linhagem insignificante.

 

— Estou apenas ansioso, aquela garçonete me tirou do sério ontem. — conversei comigo mesmo, não poderia dar importância para alguém que não ficaria muito tempo trabalhando ao meu lado, eu não deixaria isso acontecer.

 

[...]

 

Antes do horário habitual de ir trabalhar, resolvi fazer uma surpresa indo ao escritório de Marilu. Bati na porta, logo em seguida, ouvi sua voz doce dizendo entre.

 

— Lorenzo? — ela pareceu não acreditar, eu nunca fora por vontade própria em seu trabalho. — Nossa, meu chef de cozinha veio me ver!

 

Ela correu na minha direção quase caindo do seu salto alto, pulando no meu pescoço, beijou todo meu rosto.

 

— Espera um pouco, assim vai me sufocar! — resmunguei rindo e coloquei minhas mãos na sua cintura a puxando para mais perto. Seus peitos ficaram imprensados no meu peitoral, me dando uma visão ampla deles.

 

— Vou te sufocar entre minhas pernas a noite, se me convidar para sua casa! — Marilu era direta e deixou claro o que queria.

 

Estava tentado com sua oferta, contudo, logo lembrei ter um jantar marcado com minha irmãzinha.

 

— Adoraria, mas jantarei com Sarah hoje a noite! — ela fez biquinho e se afastou.

 

— Lore, por que não assumimos um compromisso? Sua família me conheceu no aniversário do seu pai, você me apresentou sendo sua “amiga.” — ergui a sobrancelha esquerda. Ela estava mesmo exigindo algo de mim?

 

— Que ideia é essa agora? Compromisso? Combinamos que seria sexo casual, nada, além disso! — comecei a ficar irritado.

 

— Faz oito meses que estamos na mesma, eu tinha esperança que pudéssemos evoluir essa relação. — fiquei surpreso com sua atitude, não recordava há quanto tempo estávamos saindo.

 

— É gostoso o prazer que nos proporcionamos um ao outro, mas não sou do tipo que se amarra! Esqueça essa ideia maluca de que deveríamos ter algo além do que posso oferecer. — após esclarecer as coisas entre nós, decidi ir embora sem olhar para trás. Marilu precisava me pedir desculpas pelo que fez, um homem como eu não era para qualquer uma, só o fato dela querer mais do tínhamos me irritou.

 

Em trinta e seis anos, ela não era a primeira a confundir as coisas. Por que não encontrava uma mulher obediente? Todas sempre estragavam as coisas boas que tínhamos. Eu poderia perder tudo, menos meu orgulho, jamais cederia as vontades dela, procuraria outra para saciar meus desejos sexuais, se fosse o caso.

 

Entrei no meu carro e dirigi em direção ao restaurante. Tinha como aquele dia ser pior? Sim, tinha, no entanto, estava preparado para o que viesse.

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