Capítulo 5 - Viagens e Famílias em Colapso!

P.O.V Ana- (ATUALMENTE)

É acho que já deu pra perceber que minha família não é das melhores, e realmente, eu tinha vontade de internar meu tio em uma casa de reabilitação, mas não era tão fácil quanto parecia e eu não tinha cabeça pra forçar aquilo, pelo menos não naquele momento.

Vocês devem estar se perguntando o motivo de ele entrar em uma discussão com a ex esposa e com a filha! O negócio é que minha prima é lésbica, e meu tio é do tipo de religioso que finge seguir os ensinamentos da bíblia e abomina a comunidade LGBTQI+!

Por quê de eu dizer que ele finge? Bom, além dele ser um alcoólatra sem buraco, um revoltado que quase nem a própria família aguenta, ele é um preconceituoso sem escrúpulos e bota todo o ensinamento de "amar ao próximo como a si mesmo" no chinelo.

É, é bem difícil lidar com ele, mas ele também não é o único, acho que por isso nunca cheguei a me abrir com minha família sobre minha sexualidade, não por medo ou qualquer coisa, porque não me interessa o que eles pensem, mas porque quero evitar os sermões e tentativas de fingir que me aceitam, por isso, apenas fiquei calada!

Está bem, mas porque essa explicação toda? 

Primeiro, porque eu realmente não aceito tudo isso, e por muitos anos ouvi insultos repugnantes vindo das pessoas que eu mais admirava, então acho que é uma hora boa pra falar.

Segundo, porque como o próprio titulo fala, minha família estava em colapso, e com os anos isso só piorava, talvez por isso eu evitasse visitas.

Terceiro, bom, vocês descobrirão com o tempo!

                                                                                       ***    

2032 São Paulo-

Cara, eu estava cansada, não tinha tido muito tempo pra descansar nos últimos dias e estava completamente estressada porque minha mãe estava me ligando freneticamente para saber se eu iria visita-la aquele mês, mesmo que eu já houvesse dito que não sabia!

E o pior, as coisas ficaram uma bagunça pelo problema com os caminhões e agora Lima estava cobrando ainda mais de todos nós - não que eu o culpe, liderar uma empresa como essa, sendo metódico e responsável como ele é, não é fácil - e isso meio que estava nos fazendo entrar em colapso e já faziam umas três semanas!

O bom nisso tudo é que pelo menos nós assinamos o contrato com as empresas do México, e hoje nós teríamos uma reunião com Lima e alguns outros sócios sobre o andamento do contrato e tudo mais.

-Tá com uma carranca, hein! - falou Adri quando entrou na minha sala.

-É, minha mãe não para de m****r mensagem, parece que esqueceu que eu já sou de maior e que estou trabalhando! - falei um tanto irritada.

-Bom, que bom que eu não tenho esse problema! - falou ela rindo.

-Talvez porque você tenha trago sua mãe pra morar com você aqui?! - perguntei irônica.

-É pode ser! - falou e nós rimos.

-O que precisa, abuela? - perguntei mais calma.

-Só vim te trazer esses papéis da reunião, Lima parece nervoso hoje, ele não está deixando ninguém entrar na sala dele! - falou ela revirando os olhos.

-Acho que é a idade! - falei e ela riu auto.

-É, com certeza! - soltou um suspiro pesado. - Tente falar com ele, parece que ultimamente só você o acalma! - falou me olhando.

-Não é isso, é só que eu ameaço ele, aí fica fácil! - disse e ela sorriu. - Pode deixar, vou falar com ele, mas vê se relaxa, ele só está sobrecarregado com tudo isso! - falei a acalmando.

-Tem razão! Bom, vou deixar você trabalhar, não se esqueça, as duas hein! - falou se dirigindo a porta.

-Está bem, vovó! - falei e ela sorriu pra mim saindo em seguida.

Eu não estava tão preocupada com a reunião, mas tinha uma coisa que não saia da minha cabeça: O problema repentino dos caminhões, e a aceitação tão simples dos mexicanos mesmo com o atraso! 

Qualquer um no lugar deles ficaria extremamente irritado com o atraso, e talvez nem aceitassem a entrega, mas não, eles agradeceram e disseram que as vendas foram ótimas!

Aquilo sem dúvidas era algo a se pensar, mas tentei não me deixar levar por ideias malucas, apenas aproveitei a tranquilidade que a aparição dos caminhões nos trouxe e deixei esse sentimento meio de lado, por hora!

Já estava dando meio-dia, então resolvi sair para almoçar e voltar mais cedo pra empresa para me preparar pra reunião sem pressa.

                                                                              ***

Eu havia voltado para empresa logo após um almoço um tanto conturbado, minha mãe me ligou dizendo que queria que eu fosse visita-la porque minha irmã também viria e que seria uma reunião de família, e apesar de explicar a ela a situação, a mulher num arredou o pé da decisão, teria que averiguar direito a minha situação no trabalho para tentar ir, não queria mais confusão com minha família, nem com minha mãe!

Estava entrando na sala de reuniões agora, sabia que estava carrancuda e que o pessoal havia percebido, suavizei minha expressão e lhes direcionei um sorriso gentil.

-Olá, senhores, bom vê-los de novo! - falei calma.

-Olá, Ana, bom vê-la de novo! - respondeu Santiago, ele sempre era um dos primeiros a chegar, e praticamente o último a sair, se dedicava bastante aos negócios, acho que o admirava tanto por isso.

-Bom, acho que podemos esperar uns cinco minutos pelos outros, enquanto isso eu gostaria de conversar com você, Ana. - falou Lima, um tanto sério demais.

-Está bem! - falei e me levantei, sendo guiada por ele até o canto da sala.

-Escute, eu prefiro falar sobre isso com você antes para não causar tanto impacto, eu até tentei te ligar, mas você nunca me atende! - falou ele um pouco baixo, mas o bastante para eu ouvi-lo e revirar os olhos.

-Eu estava tentando debater com minha mãe! - falei me justificando. - E fale logo que merda foi que eu fiz! - falei meio impaciente.

-Você não fez nada! É que... bom... - percebi que ele estava nervoso e me irritei, Lima não era assim, bem que Adri me avisou.

-Se quer me pedir em casamento, faz logo, que coisa! - falei irritada, mas com um tom de zombaria na voz.

-O que? - me olhou surpreso, pude perceber uma coloração em suas bochechas e achei super fofo.

-Você parece tão nervoso, que parece que quer me pedir em casamento ou algo do tipo! - falei explicando. - Olha, seja direto como só você sabe ser, está bem? - falei o vendo relaxar e sorrir.

-Bom, eles querem algum representante da nossa empresa lá no México, um pra cada cidade que tem filiação, que no caso são quatro, pensei bastante, e mesmo que vá me sentir meio mau de perdê-los pros mexicanos, vou m****r você e mais três dos principais sócios daqui. - falou rápido e eu demorei alguns segundos para absorver a informação, ficando incrédula, mas antes que pudesse falar qualquer coisa ele exclamou. - E se fosse para pedi-la em namoro, casamento, o que fosse, não faria na empresa com um monte de gente trabalhando! - disse isso e piscou para mim com um sorriso ladino.

-Já planejou? - falei o provocando, mas não podia me distrair. - Primeiro, por que diabos eles nos querem lá? Segundo, por que eu? E terceiro, você já falou com os outros? Eles concordaram com isso? - falei rápido, o vendo tomar aquela postura poderosa que ele carregava com orgulho, e que confessando aqui, me fazia ter borboletas na barriga as vezes!

-Olhe, o porque eu não sei, eles apenas conversaram comigo falando ser um protocolo da própria empresa, e que não duraria muito, oito meses, um ano no máximo! E o motivo de eu escolher você? O motivo é simples, você é umas das melhores que tenho nessa empresa, é de muita confiança, trabalha muito bem em ambientes diferentes, por se adaptar bem, e você fala espanhol quase como se fosse latina de verdade, ou seja, mesmo que eu saiba que me fará uma falta enorme aqui, preciso que vá para ser minha mensageira, quero ter alguém para me passar a forma de funcionamento de lá! - falou ele calmo, mas firme.

-Quer que eu vá porque sei a língua deles, e para ser seu pombo-correio? - perguntei irônica.

-Sabe que não é isso, você ouviu o que falei no começo? Confio em você, claro, confio muito em todos, mas sabendo das possibilidades que rondam minha cabeça, não posso me deixar distrair! - falou sério. - Preciso de você, Ana! E do seu trabalho! - me olhou intensamente, e quase não percebi o ar fugindo dos meus pulmões, eu nunca havia visto aquele olhar, nem escutado aquele tom de voz, mas podia deduzir ser um pouco de tudo, e até um pouco de súplica, podia não saber o que o estava transtornando tanto, mas se minha ida ao México o ajudaria, eu o faria.

-Está bem, mas não pense que vai ser fácil para o senhor me retribuir, sabe que odeio deixar aquela casa e as pessoas loucas que vivem nela sem supervisão! É capaz de que quando eu volte, todos tenham sido presos, ou a casa esteja só as cinzas! - falei séria, vendo ele rir baixo.

-Pode deixar, me encarregarei de que ninguém tenha problemas! Aliás, Sofia, Renato e Abner vão com você! E antes que pergunte, sim, eu já falei com eles, só faltava você! - falou sorrindo.

-Você deixou pra dizer isso pra mim só agora? Sério? - falei olhando pra ele incrédula.

-Eu não tive muito tempo essa semana, sinto muito! - falou calmo.

-Quando nós vamos? - perguntei rápido.

-Em duas semanas! - falou já prevendo o que eu iria dizer.

-Eu odeio você! Eu quero uma semana de folga, de preferencia essa agora! - falei e ele me olhou surpreso. - Preciso resolver uns assuntos com minha família, minha mãe vai me deserdar se eu não aparecer lá esse final de semana! - falei fazendo uma careta desgostosa.

-Certo, apenas trate de colocar alguém no comando pra substitui-la, pedi para os outros quatro fazerem o mesmo, pode faze-lo...

-O Marcos, ele já é meu braço direito mesmo, Adri e Cris podem ajuda-lo a se acostumar! - falei rápido, o cortando.

-Parece que planejou isso, não que me surpreenda, você sempre foi boa em decisões assim! - falou ele sorrindo aberto, eu já não estava tão feliz.

-É, queria saber tomar certas decisões com a minha vida pessoal como faço no trabalho! - falei cabisbaixa e me virei para voltar a mesa, todos estavam lá, nos encarando, e por algum motivo me senti estranhamente incomodada, os olhares pareciam estranhos, quase de julgamento, eu me senti enojada, era muito diferente aquilo. 

Me controlei para não demonstrar nada do que havia sentido, percebi ser algo da minha cabeça, me sentei no meu lugar enquanto Lima começava a reunião.

Enquanto falava eu podia sentir a tontura me confundindo, parecia que a voz dele se tornara um zumbido e me deixou com uma dor de cabeça terrível, aquilo estava começando a me assustar, mas não podia simplesmente passar mau ali, era uma reunião importante, com os sócios, e passar mau não era uma opção!

Quando ele falou da nossa ida para o México, todos ficaram meio surpresos, mas aí ele explicou brevemente a situação e todos concordaram, chegou minha vez de falar e quando eu me levantei, tudo girou rapidamente, não sabia o que estava acontecendo, mas não era nada bom, respirei fundo e me firmei na mesa, falei o que tinha que falar praticamente o tempo todo de olhos fechados, sabia que estavam estranhando, mas não conseguia abrir os olhos, parecia que todos me olhavam como zumbis, era terrível o que estava sentindo.

Falei o mais rápido que pude, me sentei em um baque, e senti meu estômago se revirar, aquilo não estava certo, porra, que coisa horrível! 

-Bom, acho que assim finalizamos os assuntos pendentes, que bom que aprovaram a transferência deles, faremos uma última reunião por vídeo, antes deles irem! - Lima falou sério, e quase gritei para que ele calasse a boca, aquele zumbido me irritava, aqueles olhares me davam medo, tudo aquilo estava errado, eu queria fugir!

-Certo, então encerramos aqui, ficamos felizes em nos encontrar novamente, e boa sorte aos que irão! - Santiago falou e eu senti uma imensa vontade de pular no pescoço dele e enforcá-lo.

Abri os olhos e vi todos levantando e apertando as mãos, me levantei apoiando as mãos com certa força a ponto de até empurra-la um pouco. Sai correndo dali, estava enjoada, com medo, queria gritar e não entendia bem o que acontecia, estava perdida demais.

Cheguei no banheiro e vomitei até o que não havia comido, suava como se estivesse correndo, sentia minha garganta arder, e minha cabeça parecia pesada demais para sustenta-la.

-Ana?! - ouvi uma voz, não um zumbido, agora era realmente a voz dele.

-Saia! Sai daqui, não quero que me veja assim! - falei mais alto do que necessário.

-Por Deus, você está quase desmaiando, como espera que a deixe aqui, venha, venha passar uma água no rosto, vou chamar a enfermeira do prédio! 

-Lima! Por favor, não, não quero ficar sozinha, não com eles! - ele me olhou em um misto de preocupação e confusão. - Os olhares, de todos, era para eu ser ótima, para ser o orgulho deles, o de vocês! - falei em total desapontamento.

-Ana, se acalme, você é meu orgulho, claro que é! - falou amenizando o tom de voz.

-Não me deixe aqui, não me deixe ir, não quero ficar entre eles, eles não me querem lá! - falei transtornada.

-Querida, se está falando de ir para o México, não precisa ir, não vou obriga-la! - falou assustado.

-Não, eu não quero ir pra casa, eles não me querem mais lá, minha vida não é mais em torno deles! Por favor! - falai derramando lágrimas incessantemente.

-Escute, você precisa se acalmar, ninguém fará mau algum a você, jamais vou deixar, estou aqui, por favor não chore! - falou ele me abraçando forte.

~~Ana~~

Não, não vou, não vou me soltar dele, ele não deixará me machucarem.

~~ANA, POR DEUS, ACORDE!!!~~

///////

Me levantei bruscamente, ofegando, sentindo um fio de suor descer por meu rosto olhei para o lado e vi a figura de minha mãe.

-Mãe? - perguntei assustada, ela me olhou confusa. - Ow! Devo ter te acordado desculpe! - falei me localizando um pouco. Estava na casa da minha família.

-Filha, você estava gritando, achei que estivessem te matando! - falou ela meio assustada ainda.

-Gritando? Eu estava tendo um pesadelo, eu acho! - falei passando a mão por meus cabelos.

-É, gritou até o nome de Lima, fiquei horrorizada, você parecia com medo, perturbada! - falou me entregando um copo d'água.

-Ah, não foi nada demais, acho que só foi o cansaço, tenho dormido pouco, deve ter me deixado inquieta! - falei agradecendo pelo copo.

-Quer que eu leia algo pra você? Costumava pedir isso quando era criança! - falou calma.

-Não, não, você está cansada, vá dormir, eu vou ficar bem! - falei me deitando.

-Tem certeza? - perguntou limpando algumas lágrimas que nem percebi estarem caindo.

-Claro, estou bem! - falei e forcei um sorriso para ela.

Quando me acomodei novamente na cama, minha mãe depositou um beijo em minha testa e hesitando um pouco saiu fechando a porta com cuidado.

Já fazia uns quatro dias que estava na casa da minha família, e havia encontrado quase todos meus familiares, sempre ouvindo as mesmas coisas, as mesmas perguntas, e os mesmos comentários!

Talvez isso tivesse causado meu pesadelo, não sei, mas sabia que precisava de alguma coisa pra voltar a dormir. Amanhã seria meu último dia aqui, iria ter um almoço, eu já havia conversado com meu tio, e como sempre ele estava parcialmente sóbrio.

Aquilo tudo estava me matando, eu sabia, sempre foi assim, desde que me entendo por gente minha família está em constante colapso, aquilo me irritava constantemente, e muitas vezes, me tirava do eixo, muitas outras me afundando num poço sem fim, o que me salvou foi aquele bendito grupo de conversas com as pessoas mais doidas e maravilhosas que podia ter conhecido!

Pra falar a verdade, não queria participar desse almoço, mas será meu "almoço de despedidas", então meio que eu deva comparecer por respeito!

Entrei no W******p, olhei algumas conversas aleatórias, imaginei que Ju estivesse com o "peguete" dela, então mandei mensagem pra quem eu sabia que estaria sozinho, e milagrosamente, acordado!

Liguei pra ele, após poucos toques ouvi sua voz um tanto cansada, sorri ao ouvir o som da tevê ao fundo.

~~Alô?~~

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