Capítulo 9

Os meses foram passando e Henry e eu nos tornamos amigos, claro que sem o Bernardo saber... eu pedi a ele que mantivesse a nossa amizade em segredo pois Bernardo era muito ciumento e podia implicar e ele concordou... minha relação com Bernardo era a mesma, nada havia mudado, eu estava me sentindo tão mal, acho até que estava depressiva, todos os dias eu era submissa e fazia o que ele queria, mas ele não se importava com o que eu sentia... estava na varanda de casa sentada em um pequeno sofá de balanço suspenso pelo teto... abraçada as minhas pernas eu olhava o horizonte e chorava, pois minha vida não era nada como eu havia imaginado pra mim... eu estava vivendo em modo automático... de uma coisa eu sabia, me apaixonei por ele, mas não pelo Bernardo que ele era e sim pelo que pensei que ele seria se eu conseguisse fazê-lo mudar e só tinha uma saída para não sofrer mais, era ir embora... distraída nem vi Bernardo chegar.


- O que faz aí? Perguntou ele.

- Oi? Eu disse limpando as lágrimas.

- Estava chorando?

- Não, meus olhos estão irritados hoje.

- Hum... venha, vamos entrar.

- Está bem... me levantei e entrei, ele foi em seguida, subi pro quarto, tomei um banho, coloquei uma camisola pois iria dormir depois mesmo.

Bernardo estava na sala assistindo TV, desci e fui até lá.

- Eu fiz algo pra você comer... se você quiser... eu disse.

- Claro, vou comer... me acompanha? 

- Não, estou sem fome... eu disse.

- Porque? Está se sentindo mal? 

- Não, só sem fome mesmo.


Me sentei em outro sofá e ele foi a cozinha, depois de 10 minutos ele voltou.


- Estava ótima a comida.

- Obrigado.


Ele sentou ao meu lado e ficou me olhando curioso.


- O que você tem? Há dias você está assim calada, não me responde mais.

- Deveria está satisfeito, pois eu agora me comporto como você quer.

- Não é assim que quero, parece estar morta Manuela.

- Mas é assim que eu me sinto... disse e as lágrimas já escorriam em meu rosto.

- Manuela o que você quer, fala que eu te dou, pode pedir...


Me virei pra ele e olhando em seus olhos eu parecia implorar... - Quero carinho, quero abraço, quero um beijo que me faça sentir um frio na barriga, um arrepio na coluna, quero conversas bobas, quero risos espontâneos, quero me sentir uma mulher desejada com todas as forças e não uma boneca pronta pra ser usada e depois jogada de lado, quero paixão, quero amor, quero ser amada por alguém, protegida, cuidada, mimada, quero só amor... só isso... eu chorava e ele me olhava espantado... eu sei que você não pode me dar isso, mas eu preciso, por favor me deixa livre pra conseguir encontrar alguém que me faça sentir viva, eu vou morrer se continuar assim, morrer de verdade, eu pensei que poderia te fazer sentir algo por mim, mas não posso, a visão que tenho de você em minha mente e em meu coração é completamente diferente do que você é, e isso acaba comigo, eu inventei um Bernardo e me apaixonei por ele, mas esse não existe, eu te refiz como eu queria que fosse e acreditei que um dia pudesse ser assim mas nunca vai ser, por isso eu tenho que ir embora, por favor, me deixa ir, eu imploro a você... a cada palavra eu chorava mais, ele me observava atento e eu não ezitava em deixar as lágrimas rolarem em meu rosto.


Bernardo então levou suas mãos pro meu rosto e passou em minhas bochechas secando minhas lágrimas... me puxou pros seus braços e me envolveu, em seu colo ele me apertou e encostou seu queixo em minha cabeça, meu corpo tremeu, com a cabeça deitada em seu peito eu chorei, minhas mãos se apoiaram em suas costas, estavam trêmulas, eu o apertava, era o que eu queria naquele momento, um abraço, o abraço dele, sincero e de verdade, não forçado.


- Por favor, por favor, eu não aguento mais... eu disse.

Com uma das mãos ele levantou meu rosto me fazendo olhá-lo.

- Eu vou dar o que você quer... ele disse e meu coração disparou.


Seus lábios tocaram os meus calmamente, meus olhos se fecharam e eu senti meu corpo tremer inteiro, me deixei ser envolvida em seu beijo, era um beijo totalmente diferente, uma de suas mãos seguravam suavemente meu rosto, a outra me apertava a seu corpo, sua língua deslizava em minha boca, ele parecia se deliciar com meus lábios e eu com os dele pois era tudo que eu queria, um beijo sincero e com carinho, aos poucos fomos parando, sua testa encostou na minha e nossos lábios ficaram bem próximos, ainda de olhos fechados nós ficamos imóveis.


- O que você quer agora? Sussurrou ele.

- Me ame... com carinho, com cuidado, não me maltrate, não me machuque, me ame...


Novamente nos beijamos, com desejo, Bernardo me pegou em seus braços e me subiu as escadas comigo, ainda me beijando, me levou até o quarto e foi me deitando na cama, sobre mim ele se deitou e continuou a me beijar, suas mãos subiram calmamente pelo meu corpo, junto com minha camisola que ele tirou e jogou de lado, devagar foi dando beijos em meu decote, minha barriga, minhas coxas, meu corpo se arrepiava e eu estava sentindo ele queimar, tirando sua roupa ele voltou novamente pra cima de mim e desabotoou meu sutiã, seus dedos deslizavam sobre meus seios que criaram inúmeras bolinhas de arrepio, deslizando os dedos para minha barriga ele segurou em minha calcinha e foi puxando pra baixo, até tirá-la, voltamos a nos beijar, agora com paixão, um desejando o outro de verdade, ambos querendo um ao outro... e finalmente nos amamos, sem dor, sem força, sem palavras rudes ou pegadas que machucassem, fizemos amor, somente amor, eu estava maravilhada com cada toque dele, cada beijo, cada carinho, com sua delicadeza, com o cuidado que ele teve pra não me machucar, estávamos na mesma sintonia, ele apreciou o meu corpo e eu o dele, como um casal que está apaixonado.

Depois do amor nós ficamos abraçados, metade de seu corpo sobre o meu, sua mão segurava minha nuca e fazia carinho, a minha estava sobre seu braço, ambos de olhos fechados, em meu rosto se formou um sorriso, eu estava realizada, tudo que eu mais queria aconteceu, Bernardo me fez mulher e não submissa.


Abri os olhos e ele me olhava, um olhar sereno e puro.


- Foi maravilhoso... sussurrei.


Encostei meu nariz no dele e lhe dei um selinho demorado.


- Eu quero mais... ele disse e eu sorri.


E novamente nós nos amamos, e nos amamos e nos amamos a noite inteira.


No dia seguinte acordei com a claridade invadindo o quarto, o sol estava nascendo, eu estava coberta por um lençol que tapava meus seios e partes íntimas, procurei por Bernardo na cama mas ele não estava, olhei para a sacada do quarto e ele estava lá debruçado com os olhos fixados no horizonte, estava já vestido com seu terno de sempre. Me levantei da cama e vesti minha camisola.


- Bom dia... eu disse chegando perto dele.

- Bom dia Manuela... gostou da noite? Ele perguntou.

- Sim... foi inesquecível... respondi sorrindo.

- Que bom pra você... ele disse.

- Que? Perguntei.

- Você me pediu pra fazer amor com você e eu fiz, te amei, te tratei com carinho, não te machuquei, fui o mais perfeito cavalheiro, mas foi só uma noite... ele disse.

- Não posso acreditar nisso... eu dizia com uma tristeza enorme no coração, mas também com uma raiva imensa.

- Manuela você pediu amor e eu te dei, não está bom pra você?

- Como você pode ser assim? Tão cruel, sem coração, sem sentimentos, você fez tudo aquilo comigo como se fosse um jogo? Você fingiu o tempo todo?

- Não fingi, eu dei o que você pediu, carinho e cuidado, pra você se sentir melhor.

- Você é um monstro mesmo! Eu gritei... como pode brincar assim comigo? Eu pensando que você estava fazendo tudo isso porque gostava de mim, porque me queria de verdade.

- Eu fiz porque queria te ver bem, fiz por você, não me faça de culpado.


As palavras dele eram frias e diretas, como pode haver um ser humano sem sentimento algum? Ele não tinha coração, se ele soubesse o que acabou de fazer comigo, eu estava em pedaços por dentro, queria gritar, queria chorar, queria morrer, eu queria sumir daqui... 


Voltei pro quarto com as mãos na cabeça, ainda não acreditando em tudo que eu ouvi.

Bernardo veio atrás de mim.

Eu não dizia nada, nem conseguia, em minha garganta tinha um bolo enorme, eu estava quase que sem ar.


- Eu vou sair... disse ele... mais tarde estarei de volta... e saiu do quarto.


A única coisa que fiz foi cair no chão e chorar, chorei de tanta dor, de tanta raiva, de tanta tristeza que eu estava sentindo dentro de mim... porque tinha que ser assim? Porque ele era tão ruim? Porque ele fez isso comigo? Ele não tem coração, não sente nada por ninguém, se ele soubesse o quanto me destruiu, se soubesse que acabou comigo.

Reuni forças pra me levantar e colocar uma roupa, depois saí e fui para a praça onde eu sempre me encontrava com Henry... me sentei num banco esperando por ele, precisava desabafar com alguém, dizer tudo que eu estava sentindo, eu não aguentava mais essa situação.

Não demorou muito ele chegou, sentou-se do meu lado e me observava preocupado.


- O que foi Manu? Perguntou ele.

- Por favor, não me pergunta nada, só me deixa chorar... eu dizia já com muitas lágrimas escorrendo.

- Claro, vem aqui... disse ele me puxando pro seu abraço, eu o abracei forte e chorei, chorei muito.

- Chore Manu, pode chorar, eu estou aqui... dizia ele.

- Eu só queria me livrar dessa dor Henry, essa dor horrível que eu estou sentindo, eu fui usada, eu sou usada todos os dias por alguém que só me quer por puro capricho, para satisfazer suas vontades, ele não me ama, não me quer bem, não se importa com nada que eu sinto, que eu penso, nada nada... eu disparei, estava desesperada, me via num buraco imenso que não tinha volta, jogada lá dentro pra morrer.

- Porque está com ele? Se ele te faz mal deixei ele e fique com quem te quer bem...

- Não posso Henry, é complicado, eu não posso deixar ele, estou condenada a essa vida até quando ele não quiser mais...

- Eu não entendo Manu, por que isso? 

- Por favor não me pergunta nada, eu não posso te dizer...

- Manu deixa eu cuidar de você, deixa eu te dar o que você precisa, me deixa fazer você feliz, fica comigo, eu gosto de você, gostei desde o primeiro dia que te vi, me deixa te mostrar a felicidade de verdade... disse Henry e eu fiquei olhando ele de olhos arregalados.

- O que? Não, não Henry, você não pode se apaixonar por mim... 

- Porque não? Você não é propriedade dele Manu.

- Eu sou sim... não posso nem me aproximar de outra pessoa, outro homem, ele me mataria se soubesse.

- Meu Deus, o que você é desse homem Manu, pra ele fazer o que bem entender com você? Perguntou ele desesperado por uma resposta.

- Eu sou submissa! Ele me ganhou, eu sou dele, não posso ser de mais ninguém.

Henry me olhava assustado e eu ainda deixava as lágrimas rolarem.

- Eu não queria isso, eu te juro, mas eu não tive escolha, foram consequências de um passado muito triste, fui dada a ele como pagamento de uma dívida de meu pai que era alcoólatra.

- Manu isso é loucura, como pode alguém dá uma pessoa a outra...

- Mas foi isso Henry, eles me deram a ele, agora sou dele até ele se cansar de mim, ele pode fazer o que quiser comigo.

- Não Manu, isso não pode ser, olha... vem comigo, eu te levo pra bem longe dele, vem comigo, eu cuido de você, vamos agora mesmo... disse ele.

- Não! Está maluco, ele mata você, mata nós dois, ele nunca pode saber que somos amigos, que nos falamos, nada disso, ele é o pior homem do mundo Henry.

- Eu não tenho medo, eu quero te ajudar, eu quero cuidar de você, te dá amor, carinho, atenção, te mostrar o que é ser feliz, te mostrar o lado bom da vida, te dá tudo que você merece Manu... 

- Você é maravilhoso, mas eu não posso arriscar a sua vida, eu não me perdoaria nunca se algo acontecesse com você.

- Eu não posso deixar você nessa situação, deixa eu cuidar de você... disse ele pegando com as mãos em meu rosto, se aproximando de mim e lentamente tocando nossos lábios, eu estava tão carente, precisando me sentir amada e desejada, então não recuei, nos beijamos lentamente, com carinho, os lábios dele pareciam acariciar os meus, era um beijo tão bom, cheio de paz, coisa que eu não tinha com Bernardo... Bernardo, me lembrei do que ele é capaz e fui parando o beijo com Henry.

- Não posso Henry, por favor não me procura mais, é melhor pra nós dois... eu disse me levantando e correndo pra casa.


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