Capítulo seis

Estávamos conversando sobre a minha tarde louca quando avistamos dois pequenos furacões chamadas Bia e Luz entrando quase derrubando Rick no chão.

– Luz, você vai machucar o seu tio. – Advirto minha pequena e ela pede desculpa muito envergonhada.

– Para de ser chata Cindy, a menina está brincando com o dindo dela. Não é, minhas pequenas?

Luz abre um sorriso e abraça o tio. Depois Bia se joga nos braços do pai e Luz fica observando  a interação de pai e filha e sei muito bem no que ela está pensando. Nesse momento, uma lágrima escorre e eu tento limpar antes que ela perceba. Sei que ela gostaria de ter seu pai por perto e sei como isso é impossível, afinal, David deve estar casado e não vou procurá-lo. Ele nos rejeitou uma vez, nada impede ele de renegar a paternidade de Luz.

– Amiga, tá tudo bem? – Jô me olha preocupada e eu balanço a cabeça afirmando que sim.

Ricardo pega Bia no colo e estica o outro braço para pegar Luz também, que fica radiante com isso. Por mais que eu faça de tudo para mantê-la feliz, eu não posso lhe dar o que mais deseja que é ter seu pai ao seu lado.

– Cindy Laura, dá pra me explicar o que está acontecendo agora?

– Ah, Jô! Eu me sinto tão culpada por minha filha estar crescendo longe do pai. Nada que eu faça vai fazer com que ela esqueça isso. Tenho vontade de procurá-lo, não me importa se ele está casado ou tem outros filhos, eu só queria realizar o sonho da Luz de conhecer o pai. – Começo a chorar e antes que ela fale algo eu continuo. – Você acredita que a amiguinha dela do colégio disse que ela não pode participar da festa do dia dos pais porque ela não tem pai? Amiga, ela escondeu de mim com medo de me ver triste. Sabe, essa menina não existe.

Jô me dá um abraço e começo a chorar novamente.

– Eu sei que você está triste e que fica muito abalada com toda essa situação, mas pensa assim: A Luz nem existiria se você não fosse um “mulherão do cacete” para abandonar sua antiga vida e vir para uma cidade onde não conhecia ninguém, com pouco dinheiro e grávida. Muitas mulheres bem mais maduras que você, desistiriam, amiga. Mas você não se importou com dinheiro, luxo, nem nada disso, você se importou apenas com o serzinho que estava esperando e isso é maravilhoso Cindy, vou te confessar que não sei se teria essa sua força de encarar tudo que encarou sozinha. Comigo, mesmo tendo Ricardo ao meu lado, já foi tudo muito difícil. Luz é pequena e como toda a criança, quer ter o pai por perto. Deixa ela ficar maior e você conta toda a verdade sem omitir nenhum detalhe e se depois de ouvir tudo ela ainda quiser conhecer o pai, nós te ajudamos a procurar ele, mas não vai agora de cabeçada para não se arrepender e voltar mais machucada do que já foi e ainda machucar o coração da Luz nesse processo.

Todas as palavras que minha amiga me diz me dão o conforto que preciso e assim vejo que não estou fazendo nada de errado. As meninas vem correndo e eu disfarço rapidamente.

– Tia Cindy, tia Cindy, o meu pai vai na festa do dia dos pais pra mim e pra Luz. Eu disse pra Luz não ficar triste, agora ela pode participar da festa. – Abraço Bia, que sorri.

– Obrigada viu, Bia. Isso significa muito para mim e para a Luz.

– De nada, tia. Você estava chorando? Tá tristinha?

– Não meu amor, estou bem, de verdade. Estou chorando de felicidade por Luz ter uma amiga tão legal como você. – Ela me abraça novamente e depois vai brincar com a amiga, olho para meu amigo e me levanto para abraçá-lo.

– Obrigada por tudo que está fazendo por minha filha, Rick.

– Não precisa agradecer, vocês são parte da nossa família e nunca deixaria alguém da família na mão.

– Eu agradeço ao universo por ter me posto no caminho de vocês. – Jô se junta ao nosso abraço e ficamos conversando.

Luz e eu nos despedimos do pessoal e vamos para casa, no meio do caminho Luz me chama.

– O que foi, filha?

– Mãe, eu te amo, mas eu ia achar legal ter um pai como a Bia tem o tio Rick.

Minha vontade de chorar aumenta a cada vez que ela toca no assunto, a culpa não é dela, afinal, crianças querem ter os pais presentes. Poderia ter mentido dizendo que seu pai morreu, mas não seria o correto a se fazer, já pensou se um dia ela conhece o pai? Como iria explicar que menti? – Sorrio para ela obrigando-me a ser forte por minha filha.

– Filha, um dia você vai conhecer seu pai, eu prometo.

– Tudo bem, mãe. Um dia o papai vai voltar, eu sei disso. Mamãe, vamos brincar de chá de princesas quando chegar em casa?

– Claro que podemos brincar de chá de princesas, mas só vamos brincar se você prometer guardar todos os brinquedos que espalhar. – Ela levanta o mindinho e faço o mesmo. Brincamos até tarde e quando ela estava cansada, foi dormir.

 Na manhã seguinte, o sol traz esperanças e vou acordar Luz para nos aprontarmos. A deixo na casa de Jô e vou rumo ao meu trabalho. Chegando lá, converso com alguns clientes como seu Euclides, que tem cada história para contar... neste momento ele está contando como conquistou a sua primeira namorada.

– Minha filha, naquele tempo, para conquistar um broto era só usar uma lambreta, tinha que ver como elas ficavam doidas.

– Então é como ter uma moto hoje?

– Ah menina, as lambretas eram muito melhores. – Trabalhar no bar é cansativo, mas ao mesmo tempo é divertido.

A tardinha seu Zé e Dona Guta me chamam para uma conversa e fico apreensiva quando eles dizem que irão se ausentar do bar por um mês.

– Cindy, vamos passar um tempo na casa do Gustavo, mas não queremos te deixar na mão, sabemos que você tem suas contas para pagar e entre eles o colégio da Luz, então queremos saber se você está disposta a ficar no bar nesse tempo que estaremos fora.

– Vocês tem certeza disso? Eu ficaria com todo o prazer.

Dona Guta me explica que semana que vem eles partirão para Santo Antônio de Jesus, tirar umas férias e fazer um check up. E eu torço para que tudo dê certo para eles e para mim. 

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