Capítulo 5 - Realidade

Os meus olhos fechados são mais seguros,

Impedem-me de ver o que está em minha frente.

A algo de cruel nessa verdade escondida e eu

Quero ver apenas a luz, mesmo que seja mentira.

Samanta

Olho-me no espelho mais uma vez, analiso o meu corpo, minha roupa... Tento entender se esta bom desta forma, quando nada é bom o suficiente. Respiro fundo e desisto de me questionar.

Isa aguarda-me na sala, estamos fazendo um curso de aperfeiçoamento juntas e já me questiono se foi uma boa ideia, ela é pontual demais e eu, bom... Sou apenas eu, atrasada quase sempre.

— Sam, está pronta? - Indaga. — Vamos chegar atrasadas novamente. - Grita e eu respiro fundo. Não entendo como posso ser complicada para fazer qualquer coisa.

Minha amiga é impecável em sua responsabilidade, às vezes tento entender por que gosta tanto de fazer as coisas comigo, pois sou o oposto dela. Sua personalidade é marcante e isso me impressiona.

— Estou quase pronta. - Grito, pois estou no quarto. Tento acalmá-la de alguma forma, mas sei que isso será difícil. Confesso que sonhar com esse estranho está causando uma sensação divergente em mim.

Sem aguentar esperar mais ela entra no quarto. Observa-me enquanto encaro o espelho e sorri com compaixão.

— Você está linda, mas parece abalada... O que houve? - Questiona e continua me analisando, não me importo se ela me encarar, pode ver mais coisas em mim do que eu mesma.

— Estou bem, um pouco perdida, mas bem. - Confesso e sento-me na cama, ela me acompanha e sei que é a melhor amiga de todas.

— Não precisa mentir para mim. - Diz carinhosa.

— Não estou mentindo, eu só quero acreditar nisso. - Justifico e ela sorri.

— Por que vocês terminaram? - Pergunta. Isso é algo que não quero responder, mas não posso negar isso a ela quando está comigo em tudo o que preciso.

Sorrio ao perceber como se preocupa comigo, parece que a pressa para não chegar atrasada desapareceu. Ela deve me amar muito ou gosta mesmo é de uma fofoca, acho que são as duas coisas.

Como preciso mesmo desabafar, ignoro o curso e até mesmo sua importância indo para as profundezas da minha angústia e resolvo contar a ela.

— Não sei... - Falo e pelo seu olhar sei que espera mais, mas não consigo dizer.

— Fale comigo Sam, isso pode ajudar. - Pede e eu sorrio.

— Eu precisava de mais. - Explico.

— O que seria mais? - Questiona, levanto-me buscando as palavras para explicar.

— Não consigo afirmar, mas quando eu olhava para nós, pensava que merecia algo melhor. Não quero dizer eu ele era ruim, mas era pouco para mim. - Justifico. — Quero algo que me faça sair do comodismo, que me deixe com vontade de ser melhor, que queira ser melhor por mim. Digo e ela sorri levantando-se.

— Acredito que todos queremos isso. - Completa incentivando-me.

— Sim, eu gostava de estar com ele, mas sempre faltava algo. Conversei sobre isso com ele várias vezes, mas não vi esforço de sua parte e minhas tentativas eram inúteis. - Falo.

— Vocês pareciam felizes juntos. - Comenta e eu acho o seu comentário interessante, após pensar um pouco digo.

— Nós éramos, mas... Eu me sentia vazia. Não era justo com ele e comigo também não. Não posso aceitar menos do que acho que mereço e não posso dar menos do que ele merece. - Digo e ela me abraça confortando-me.

— Eu sinto muito. - Diz afastando-me.

— Obrigada, mas fiz o que achei melhor. - Explico tentando tranquiliza-la.

— Fico feliz que se sinta assim. Por um momento eu pensei que ele era o cara, o seu cara. - Comenta e eu sorrio.

— Acho que ele é o cara de outra pessoa. - Digo.

Omito o fato que sonhar com um estranho estava despertando coisas em mim que eu desconhecia. E a forma como o homem da minha imaginação fez eu me sentir, acabou por me fazer acreditar que mereço realmente me sentir daquela forma quando estiver com alguém.

Mas eu não posso afirmar que um dia terei isso, então estou em um grande conflito, não sei se me conformo com o básico ou se fico sozinha.

— Vamos fazer uma nova busca. - Brinca minha amiga.

— Acho que vou fazer uma pausa. Parar de procurar nos outros o que devo encontrar em mim. Talvez eu não encontre a pessoa certa agora, mas isso não tem importância, pois temos tempo. - Digo e vamos em direção à cozinha, abro a geladeira e pego um suco.

— Eu a admiro muito por isso, mas você já analisou de outra forma? - Indaga.

— Como eu poderia considerar? - Questiono servindo o suco para nós duas.

— Não sei, procure esse cara. Já pensou em quem você procura? - Pergunta e eu encaro os seus olhos.

Como contaria a verdade a ela, seria ridículo... Porém eu não sei qual é a verdade, ou como poderia descobri-la.

Sinto um vento forte invadir a minha casa e a imagem dele vem a minha mente. A forma como se aproximou de mim no sonho, ainda sinto o seu cheiro em mim. Seu sorriso parece dominar as minhas lembranças a todo o momento.

Às vezes quando estou caminhando penso encontrá-lo em cada canto da cidade, mas ele nunca está lá.

Ele só pode ser um sonho, um sonho que está me afetando de uma maneira que nunca imaginei... Seu sorriso ainda me encanta, de repente a neblina vem em minha mente levando-o para longe de mim.

— Não posso procurá-lo Isa. - Afirmo mexendo no meu copo.

— Mas por que não? Se desejar mais, então encontre isso. – Incentiva-me animada.

— Isso seria maravilhoso, mas eu não saberia nem começar a procurar...

— Podemos fazer isso, identificar algo a mais, não sei, parece interessante. - Fala e sorri.

Acho o seu entusiasmo conveniente e eu poderia acreditar que daria certo se não sentisse essa perda em meu peito quando me lembro desse homem.

É como se já tivéssemos ficado juntos em algum momento, mas fomos impedidos e que agora é tarde demais. Acho que estou enlouquecendo.

— Vamos lá Sam, me diz quem é ele... Quem você procura? - Indaga insistente deixando-me ainda mais confusa.

Encaro-a sentindo o meu rosto ficar quente, não deveria me constranger por uma loucura, deveria? Respiro fundo e a respondo, mas a minha voz sai em um sussurro mostrando a minha fraqueza em relação a essa história.

— Eu não sei.

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