Capítulo 1 - Lembrar Você

Essas lembranças são como lâminas afiadas,

Mas eu não as vi, como lutarei com elas?

A sua falta dói e corrompe o meu corpo para você,

Desconfio de que a saudade pode ser a dor mais

Insensível que já senti.

Samanta

Estou andando pelo parque, já passa das dez da noite e eu não me importo com o frio, aliás, sinto-me muito feliz essa noite. Sento em um banco e observo as pessoas conversando e o vejo novamente olhando para mim.

Seus olhos são os mais lindos que já vi e o jeito que sorri me da vontade de viver, ainda não sei o seu nome, mas anseio por descobrir.

Sua presença torna tudo mais forte e quando se aproxima a mim, sinto o frio em minha barriga aumentar.

— Conheço você de algum lugar? - Indaga e eu sorrio.

— Não me recordo, mas tenho a mesma sensação. - Digo e coloco algumas mexas do meu cabelo atrás da orelha.

— Esta sempre neste parque? - Questiona.

— Não me recordo dele em outro momento, só me lembro do agora. - Explico e vejo o sorriso lindo em minha direção.

— Também não me recordo, mas gostei de ter vindo. - Fala e senta-se mais próximo a mim.

O arrepio percorre o meu corpo, instintivamente passo minhas mãos pelos meus braços e sou surpreendida quando o casaco dele está envolta de mim.

— Não precisa se dar ao trabalho de fazer isso. - Informo tentando deixá-lo à vontade.

— Não me incomodo, eu percebi que sente frio e quis esquentá-la. - Fala e sorri.

Sinto que estou ficando corada, com esses lindos olhos me encarando, disfarço e viro-me para o outro lado aproveitando para sentir o seu cheiro, meu Deus como é bom.

Acho que é o melhor cheiro que já senti, seu aroma é forte e encanta o meu corpo, parece que estou próxima à natureza e ao mar ao mesmo tempo, ele me refresca e me acolhe, fazendo com que eu me sinta em casa.

— Sou muito grata por isso. - Digo quando finalmente o encaro.

Seus olhos parecem me interrogar, como se quisessem tudo de mim, aproxima-se lentamente e passa os seus dedos em meu rosto, sua carícia é leve e marcante, não sei se um dia irei esquecê-lo.

Vejo aproximar o seu rosto do meu, sei o que vai fazer e desejo isso mais do que já desejei qualquer coisa. Respiro fundo e fecho os olhos esperando ele se aproximar, mas o beijo nunca acontece, abro os olhos tentando entender o que aconteceu e assusto-me com o que vejo.

Todas as pessoas estão desaparecendo, como se virassem neblina, ele esta quieto olhando para elas, não parece espantado, mas quando olha para mim vejo o medo em seus olhos.

— Eu não quero ir embora. - Diz segurando a minha mão.

— Também não quero que vá. - Exclamo, sentindo o medo dominar os meus sentidos.

— Isso é inevitável, nós não nascemos para ficar juntos. - Confessa, eu o encaro perplexa.

— O quê? - Indago quando ele se levanta.

— Sinto muito, mas não podemos. - Diz e se afasta, sumindo junto com a neblina.

Grito desesperadamente chamando por ele, mas já se foi. Quando a neblina se aproxima de mim, não tenho forças para fugir, deixa que faça o que desejar.

                                                                         ***

Acordo sentindo o suor tomar conta do meu corpo. Não acredito que tive outro sonho estranho com este homem. Posso sentir o cheiro dele em mim e isso faz com que aumente a saudade insuportável que sinto.

Como o universo pode ser tão perverso? Não conheço aquele homem, como posso me sentir tão bem por sonhar com um desconhecido? Isso parece uma piada e será assim que contar isso para alguém.

Faltam poucos minutos para que o meu despertador toque, então decido que ficar um pouco mais na cama não me fará mal. Aliás, qual o problema de chegar atrasada no trabalho? Todos chegam um pouco atrasados.

Coloco uma música para tocar e levanto, alongo um pouco o meu corpo e percebo que a paz que senti ao acordar esta sumindo dando lugar ao desespero. Isso sempre acontece.

Vou para o banheiro e resolvo tomar banho. Deixo o chuveiro ligado durante um tempo antes de me enfiar embaixo dele, quando o banheiro está embaçado decido iniciar.

Sentindo a água quente invadir o meu corpo fecho os olhos e permito que faça o seu caminho. Quero tirar esse cheiro delicioso de mim, ao mesmo tempo em que me traz vida, me destrói.

Quero que leve tudo embora para que algo seja renovado, por mais difícil que seja.

O fato de isso ter sido apenas um sonho e o homem que eu tanto desejo não estar comigo faz com que o ar falte dentro de mim, como se o meu motivo para respirar fosse apenas ele.

Desejo vê-lo e conhecê-lo com todo o meu coração, mas acho que isso é bizarro. Cada parte do meu corpo anseia pelo dele e isso me amedronta. Lembro-me do seu toque no sonho e encaro isso como a minha salvação.

Olho para a parede do banheiro e é com se visse os seus olhos quando foi embora, neste momento às lágrimas me invadem e saem desesperadamente. Chega a ser um absurdo sentir tanto desejo por alguém que não conheço.

Respiro fundo e me acalmo, desligo o chuveiro e sinto o frio arrepiar o meu corpo, por melhor que seja não quero ter outro sonho como este ao mesmo tempo em que quero sonhar apenas com ele.

Eu devo estar enlouquecendo. Amar ou desejar alguém que só vi nos meus sonhos, fruto da minha imaginação. Devo estar muito carente mesmo.

Será que posso amá-lo? Será que isso não seria uma perda de tempo? Ignoro esses pensamentos e volto para o quarto, após me vestir encaro a cama bagunçada pensando em tudo o que ela transmite para mim.

Respiro fundo, pensando em como isso tudo é frustrante, mas não posso ignorar que talvez se eu voltar a dormir posso vê-lo... Poderei tocá-lo e quem sabe ser dele para sempre.

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