Capítulo 2 | Mudanças (Part.2)

Fechando o zíper da última bagagem ouço o som da porta abrir, Nana com seu perfume doce me acalma com sua presença me arrancando um leve sorriso, seu rosto redondo não demonstrava as marcas do tempo nem da idade, a muitos anos serve a família sendo uma serva de confiança que considero uma terceira avó para mim, que tantas vezes me escondia em sua cozinha esperando suas guloseimas serem preparadas ou apenas seus afagares carinhosos.

— Seus irmãos e avó estão esperando. - Noto as pequenas lágrimas formadas no cantos de seus olhos claros, o que me faz sorrir triste.

— Ah Nana, por favor não chore, sabe que sempre voltarei não é?

— Minha menina. - Suas pequenas mãos acariciam minhas bochechas. — Esse castelo ficará tão silencioso sem você! - A abraço firme, como ela fazia comigo sempre que me encontrava triste depois de brigar com meus irmãos.

— Amo você Nana e vou sempre vir visitá-la! - Sorrindo triste ela desce me ajudando com as malas.

Desço a grande escadaria olhando já com saudade cada detalhe do lugar que até então chamei de lar, sinto o ardor em meus olhos, mas trato de afastá-lo piscando rapidamente, prometi não chorar e o farei.

Ao pé dos degraus minha família me espera, ao menos parte dela, abraço minha avó que beija minha bochecha me desejando boa sorte prometendo visitas.

— Vou sentir sua falta pirralha! - Alex me abraça e retribuo, por mais que me aborreça sei que meu irmão me ama.

— Até logo pequena, venha nos ver logo! - Sorrio largo para Diego e selando sua bochecha antes de me virar para sair.

— Vovô onde está?

— Meu amor, peço que o perdoe, Victor está trancado no escritório, disse que não queria vê-la partir! - Responde minha avó.

— Certo, diga a ele que eu o amo e que sentirei saudades!

Andando de cabeça baixa mal percebo chegar aos jardins do castelo, no carro guardo o que vou levar pronta para seguir meu destino.

— Já de saída? Não vai se despedir? - Ouvindo a voz feminina logo a reconheço, sorrindo largo, olho para Laisa a minha frente, seus cabelos castanhos brilhando na luz solar e seus olhos amendoados acentuando sua pele clara, abraço apertado seu corpo pequeno coberto em um belo vestido.

— Perdão, estava tão avoada que esqueci muita coisa. - Olho ao redor procurando minha amiga e guarda pessoal, Vivian. — E onde está Vivian? Pensei que seguiria caminho comigo.

— Ela está em treinamento, você sabe que como futura general da guarda real cada minuto é precioso para melhor desempenho. - Concordo levemente.

— Sim, mas você sabe que desde de o fatídico término dela e de meu irmão, ela tende a exagerar, principalmente pelas  brigas constantes com aquele novo namorado.

— Você não gosta mesmo do rapaz não é?

— Sinto uma aura negativa vindo dele, você sabe que não sou a única! - Laisa concorda tristemente.

— Sei como se sente, Noah exala qualquer coisa, menos confiança, mas não quero tomar muito mais de seu tempo, boa sorte minha querida, vá me visitar! - Sorrindo a vejo afastar-se para ir de encontro com o noivo, príncipe Guilherme Martínez Sanders, filho de Paul Sanders e Alicia Martínez rei e rainha do terceiro reino, Laisa faz parte de uma poderosa família vampira, não de anciãos originais mas seus descendentes anciãos conselheiros garantiram a sua família e a ela um importante papel no império.

Entro em meu carro o ligando, seguindo estrada ao meu novo lar, decidi por um lugar um pouco afastado da civilização concentrado dentro de um bosque, dentro das terras de minha avó Cristina já que o lado norte, onde moraria atualmente, e leste pertencem atualmente aos lobos pelo tratado de paz acinado com a união de meu pai e mãe enquanto os lados sul e oeste ao império vampiro dividido entre as três famílias anciãs originais e seus respectivos conselheiros, sendo minha família o centro principal e dona legítima por sangue da coroa.

Notando o quão longe me encontrava passo a examinar a paisagem cada vez que adentro mais a pequena estrada de chão, o vento assobiava sua melodia balançando meus cabelos negros os bagunçados a medida que a velocidade do carro aumentava, minhas bochechas já coradas pelo vento frio que pela minha natureza sobrenatural não me afetava em tanta abundância como em um humano.

Diminuindo a velocidade vejo minha casa ao longe o verde ao seu redor era belo, o cheiro da floresta já acariciando minhas narinas e toda sua fauna e flora vivente há me davam olá com suas fragrâncias únicas.

Descendo do veículo caminho em direção à porta, mas a sensação de estar sendo seguida põe-me de guarda alta, aguçando bem meus sentidos ouço os batimentos cardíacos daquele que se esconde entre as árvores arredores, agindo normalmente volto a andar, meu olfato captura um perfume floral em sua mistura continha os cheiros da floresta e sua vegetação rasteira e o cheiro característico de lobisomem o que indicava que minha ilustre visitante acabara de voltar a sua forma humana.

Deixo meu oponente agir em primeira mão, sempre gostando de brincar com minhas "vítimas", espero cuidadosamente o menor de seus ruídos e não demora muito para me deferir o primeiro ataque afobado a qual é defendido rapidamente sem me causar o mínimo arranhão, pulando em minhas costas ao tentar me derrubar acaba por ser derrubada por mim não pouco esforços em mostrar minha força superior.

Prendendo os braços de minha adversária em suas costas monto sobre suas coxas impossibilitando seus movimentos, seus olhos brilhantes e amarelos me fazem rir.

— Anos se passaram e continua perdendo, Mary! - Rio mais ainda a soltando de minha força.

— Eu a avisei, mas continua teimosa como sempre! - Logo reconheço a voz de Katherine e solto Mary para abraçá-la.

— Seus treinos valeram a pena! - Ela gargalha ao se ver suja pela terra, mas isso não a incomodava e nem a mim. — Devo dizer que seus reflexos melhoraram muito desde a última vez.

— Estará me devendo uma luta Mel! - Sorri Katherine.

— Sim, devo agradecer isso à meu avô que me treinou nisso pessoalmente e quanto a sua luta senhorita Kate, aceito com prazer. - A vejo sorrir.

— Victor, e como anda a múmia velha?

— Mary!

— Perdão, ele ainda é seu avô!

— Poderia me explicar finalmente sua animosidade com meu avô?

— Po favor Mary, vamos deixar isso de lado! - Katherine a segura a olhando nos olhos, mas irredutível Mary me olha e começa a falar.

— Por ter feito Cristina e Alistar sofrerem tanto com a falta da única família que ainda tinham e ter me tirado minha melhor amiga! - Vejo a dor da mágoa em suas palavras, a abraço passando conforto, no fundo não posso deixar de concordar, fui criada pela alcateia desde o início de minha vida, mas talvez tudo tenha começado a desandar a partir de uma parte de minha vida que não me lembro, as vezes deito no travesseiro tentando me lembrar mas parece que partes de minha infância foram bloqueadas de minha memória.

— Eu sei, entendo seu lado, e espero que um dia entenda o dele, me doeu muito, muito mais do que posso imaginar, mas a morte de minha mãe e meu tio levaram consigo uma parte dele também, mas por favor não vamos falar mais nisso, é um assunto difícil que não gosto de relembrar.

— Sim, certo, tem razão, vamos, viemos lhe ajudar com suas bagagens e sua mudança.

— Obrigada Mary, Kate!

Entro finalmente em minha casa admirando seu interior arrojado, tão acolhedor e aconchegante que rapidamente poderei chamar de lar.

Me acomodo em meu quarto, grande e espaçoso como o antigo e sua grande varanda me dá uma bela visão de toda floresta, olho atentamente por entre as matas sem conseguir controlar um sorriso, até notar um grande lobo negro, olho firme em seus olhos que não desviam dos meus nem por um segundo, não me infligiam medo mas sim uma intensa curiosidade de vê-lo mais de perto e descobrir o que fazia em minha propriedade, seu cheiro era marcante e característico, com toda certeza um alfa, desço as escadas em passos rápidos no intuito de seguir o grande lobo, mas sou impedida por cachos negros que me chamam no andar de baixo.

— Mas me diga, soube que não irá viver aqui sozinha. - Mary quebra o silêncio me tirando de meus pensamentos.

— Sim, morarei com Vivian, você a conhece, as reuniões no castelo, filha do general da guarda real, futuramente ocupará o cargo do pai. - Olho pela janela da sala, mas não o vejo mais, nem sequer sinto sua aura imponente, se foi como o vento.

— E uma vampira morando perto de nós é algo bom a se pensar? - Katherine a repreende, das duas Kate sempre foi a mais compreensiva.

— Mary! - A repreendo. — Vivian é minha amiga assim como você e Katherine e seu preconceito afeta um lado meu, sou uma hibrida, parte minha é vampiro.

— Mas é diferente, você é você!

— Só porque tenho sangue lobo não anula o sangue vampiro que também corre em minhas veias, minha avó concordou com isso e não seria a primeira vez ou se esqueceu da primeira vampira a por os pés dentro do território lupino?

— Não, sinto muito, é um pouco difícil para mim, entenda, farei um o possível ok? Agora que já está bem colocada vou voltar ao vilarejo e avisar sobre sua chegada, provavelmente Cristina irá preparar uma pequena festa de boas vindas.

— A conhecendo tão bem como conheço, sei que sim, mas agora vão, não quero tomar mais de seu tempo. - A vejo sorrir e me abraça para se despedir, abraço Kate e as vejo saindo pela porta, me encontro totalmente sozinha neste enorme casarão, olho no relógio, nem sinal de Vivian, então uma vontade louca me invade, saio da casa correndo em direção à floresta, usando meus reflexos sobrenaturais desvio de galhos de árvores no meu caminho, pulo, salto e corro a toda minha velocidade, com a liberdade que a tempos não sentia, ao chegar em uma pequena clareira apuro meus sentidos, talvez o lobo tente me surpreender e preciso ficar alerta, lentamente retiro minhas peças de roupa uma a uma e quando me encontro totalmente nua me transformo, meus olhos assumem uma coloração carmesim e meu corpo agora coberto por uma grossa camada de pelos brancos como a neve, ando em minha nova forma que a tempos não assumia, segurando as peças de roupa em minha boca volto a correr novamente entre a floresta densa, me lembro que próximo daqui existia um rio que costumava ir com Mary quando crianças e depois de nossas caçadas nos banhávamos nas águas frias.

O caminho por mim não foi esquecido e como se nunca tivesse deixado de ir deixei minhas quatro patas me guiaram a meu destino, o que não demora já que uso minha velocidade para chegar o mais rápido possível, o som das águas logo é captado por mim e me tranquilizo, deixando minhas roupas sobre a grama verde ando em direção à margem e bebo da água fresca quase gemendo de prazer, o que seria mais um grunhido de um grande lobo branco.

Penso no lobo que andou perto de minha casa, o que queria e o que esperava? Seus olhos brilhantes tão expressivos, em qualquer um causaria medo, mas em mim tiraria apenas uma boa gargalhada, ele tentou me intimidar isso foi óbvio, o encontrarei novamente e agradecerei a visita, seu lobo é forte isso se nota ao longe, mas graças a minha natureza dupla e por ser de descendência Alpha, minha natureza lupina tende a ser mais forte que a de um lobisomem comum, apenas um idiota me enfrentaria daquela forma.

Volto a minha forma "humana" aproveitando para mergulhar nas águas do rio, deixo que a correnteza leve todas as minhas preocupações e não penso em nada, apenas nado e mergulho molhando minha pele.

Ao sair me visto novamente indo a caminho de minha agora casa, deixo para andar calmamente e aproveitar a estrada longa, vejo que já é tarde e o céu alaranjado deixa o cenário ainda mais belo, espero que Vivian já tenha chegado, sei que vai me matar por ter saído sem avisá-la.

Andando sem pensar ouço ruídos não muito longe, assim como pela manhã por Mary, estou sendo seguida e duvido que meu perseguidor no momento seja algum amigo, espero paciente o primeiro movimento mas nada vem, apuro minha visão e consigo notar quem me segue, um rapaz, forte, alto de cabelos bagunçados escuros, seu semblante fechado me diz que não está para brincadeira, bem, nem eu. 

Subo em uma árvore rapidamente e o vejo atordoado por me perder de vista, assim que o vejo em um ponto estratégico pulo de meu esconderijo e o imobilizo, meu aperto é seguro em seus braços fortes e minhas garras crescem pela raiva o que acaba por cortar a pele de seus pulsos.

— Está louca?

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