Capítulo Três

Dois anos depois – Cancun, México.

A mesma tarefa repetitiva, lavar copos, secá-los, guardar e organizar a bancada antes

que “Baila la Luna” abrisse. Não era muito vantajoso, mas dava para pagar as contas depois

que tive que fugir feito um rato.

Eu me divertia bastante quando a boate abria, pelo menos. As garotas dançando, os caras

babando e muito agito. Meu trabalho era fazer a mágica por trás do balcão e deixá-los bêbados

com as minhas misturas alcoólicas. De vez em quando aparecia Pitter, um dos seguranças que

não cansava de me perturbar. Meu coração já bateu por alguém, mas doeu e não deixaria doer

novamente.

A boate abriu, era um dia especial, pois um cantor famoso realizava um show para um

público mais reservado no camarote. Joana, uma dançarina, não parava de perturbar meu trabalho com suas perguntas.

— Vai, Mag, me conta quem está lá em cima. Preciso saber.

Servi mais uma dose para outro cliente e sem olhá-la nos olhos, respondi.

— Não sei, Jô, agora me deixe trabalhar.

Ela revirou os olhos e saiu. O trabalho foi tranquilo como quase sempre, até que um

homem de terno sentou no bar e ficou me encarando fixamente. Fingi não o ter visto e continuei

fazendo os drinks, mas ele permaneceu ali, sentado. O homem era bonito, alto e tinha uma

barba atraente, mas estava estampado em sua testa que era um agente da Interpol.

— Pode me dar uma dose de uísque?

A voz grave chegou em meus ouvidos, porém, não correspondi. Preparei um copo de

uísque com gelo e deixei na frente do sujeito.

— Obrigado. Como se chama? — O homem de terno perguntou.

Eu estava em alerta, pois era uma fugitiva. No passado meu noivo foi assassinado, não

sei quem fez aquilo, mas toda a culpa recaiu sobre mim. Minha única saída foi escapar deles.

Na minha opinião, havia o dedo de Kumicho, o plano era me incriminar, e deu certo. O que até

então eu não conseguia entender era o porquê da CIA, que me tinha como uma agente linha de

frente, não me ajudou. O sistema é falho e não podia esperar pra ver.

— Não que seja da sua conta, mas estou trabalhando e não tenho tempo para bater papo.

— Gritei por cima da música barulhenta.

O Sujeito sorriu. A boate estava escura com luz estroboscópica piscando, mal conseguia

identificar o homem, mas sentia um estranho formigamento na nuca, era como um aviso para

que ficasse em alerta e foi isso que fiz. No fim do meu turno levava o lixo lá para trás e já

seguia meu rumo. Minha casa era em uma rua próxima a praia e ao deck. Então, fazia meu

percurso a pé.

Estava próxima à minha casa quando notei que alguém me seguia. O medo já havia

sumido há algum tempo e mantive a calma, apressei o passo, virei a esquina e me escondi para pegar de surpresa quem quer que fosse. Quando o homem chegou perto, o ataquei. Dei uma chave de braço, o deixando sem ação.

— Ei, calma! Posso explicar.

— Então comece a falar antes que te mate!

O homem levantou as mãos para o alto em sinal de rendição, passei as mãos pelos

bolsos, costas, cintura e só quando desci para a canela pude sentir a arma, a puxei e apontei

para ele.

— Vire devagar e me fale de uma vez quem é você e o porquê está me seguindo.

Ele fez o que mandei, ficando de frente para mim. A primeira coisa que pude notar foi

o par de olhos azuis cristalinos, depois a bendita barba desenhada e o cabelo loiro escuro com

um corte Militar um pouco maior na parte de cima mais bagunçado.

— Sou Ethan, agente F99ederal.

— E?

— Estou aqui para falar do meu irmão.

— Não sei quem é seu irmão, só me deixe em paz.

— Claro que sabe, Trinity, ele era seu noivo. — ele disse me encarando dentro dos

olhos.

Senti o estomago protestar e uma leve tontura percorrer minha cabeça.

— Saia daqui, não sei de quem está falando. Meu nome é Mag.

Meu coração estava acelerado e minha garganta seca. Aquele homem em minha frente

estava mentindo, Locke não tinha nenhum irmão, eu o conhecia desde os quinze anos.

— Calma, Trinity. Sei quem fez isso com ele e só vim pedir ajuda para vingar sua morte.

Se você o amou como ele dizia que amava, vai querer o mesmo que eu, vingança.

— Locke não tinha irmão. — falei, sentindo as emoções percorrerem meu corpo.

— Trinity, escute. Abaixe essa arma e me deixa conversar com você.

Via em seus olhos que dizia a verdade, mas meu coração estava doendo demais. Tentei

apagar aquele dia da minha vida durante dois anos e, por mais que fosse impossível, consegui

ao menos trancar toda dor e lembrança em um baú no fundo de minha mente e jogar a chave

fora. E naquele momento um homem em minha frente me dizia que era irmão de Locke. Não

parecia fazer sentido algum, mas as perguntas começaram a girar em minha cabeça.

— Por que Locke nunca me falou que tinha irmão? Ele nunca mentiu para mim.

O homem se mantinha parado, com as mãos para o alto e o olhar grudado no meu, estava

calmo e parecia ter certeza de que eu não iria atirar.

— Trinity, sou filho do pai dele. Ele foi furto de uma traição, não sabia sobre mim até

um ano antes de morrer. Quando fui atrás, ele não quis contato e aos poucos fomos nos

conhecendo. Preferiria contar sobre ter me conhecido apenas quando contasse a ele sobre

trabalhar na CIA.

“O Que? Locke Sabia?”, pensei.

Abaixei a arma, tirei o pente e guardei as balas em meu bolso. Ele podia mentir, mas,

mesmo assim, queria saber o porquê disso agora. Eu teria que me arriscar e confiar.

— Saiba que se for mentira, irei te matar de algum jeito. — Falei, entregando a arma e

seguindo para minha casa.

Mesmo sem olhá-lo, sabia que estava me acompanhando. Parei em frente à minha casa

e dei uma última olhada para o sujeito, que estava ao meu lado. De algum jeito eu sabia que

dali em diante, minha vida que, até então se mantinha silenciosa e pacata iria mudar.

O barulho estava prestes a bater à minha porta de novo e dentro do meu peito estava

disposta a abri-la. O ódio ainda habitava em mim, o vazio que Locke deixou fora preenchido

com uma louca sensação de que um dia o vingaria. Chegou a hora de parar de fugir. Se tudo o

que Ethan me disse fosse verdade, teria um aliado para descobrir o real motivo por trás da

morte de Locke.

Abri a porta dando passagem para que ele entrasse e logo em seguida entrei trancando

a porta.

— O que deseja saber primeiro?

— Tudo, desde que seja verdade!

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