Capítulo 5

DAVID

Abri os meus olhos e não conseguia enxergar nada.

Que horas seriam? Não... Não... Não. Merda!

Saí da cama, como sempre tropeçando nos meus próprios pés e caindo de cara no chão. Ainda bem que no momento que começava a dançar tudo fluía bem. Na vida real meus pés não me ajudam nem um pouco. Respirei fundo, me levantando. Não que eu tivesse dois pés esquerdos, só que simplesmente o comando não chegava ao meu cérebro, principalmente quando acordava pela manhã. Ela estava deitada lindamente na cama, parecia um anjo de cabelos negros e boca rosada. Era assim que eu estava começando a enxergá-la. Thalía parecia ser o tipo de mulher que tomava suas próprias decisões, mas deitada ali, tudo que eu queria era tomar as decisões por ela. Por enquanto, ficava apenas no querer, já que eu estava atrasado e a considerava muita areia para o meu pobre caminhão. Tomei meu banho rápido, vestindo minhas calças e camisa sport, colocando minha mochila nas costas e assim que desço a escada sinto o cheiro do café.

— Só café puro? — me repreendeu Maria de braços cruzados enquanto eu desaparecia na porta.

— Atrasado Maria... Escola de Dança. Tchau! — ela sorriu e eu sumi.

Correndo feito louco para pegar o ônibus, já que o meu carro tinha feito o favor de morrer na garagem do prédio. O meu azar estava ainda por começar. Além de atrasado e carro quebrado, ainda veio a chuva. Em um momento o céu estava aberto e logo depois, sem explicação, o tempo se fechou por completo com direito a trovões. Droga! Agora eu estava todo encharcado. Ao menos pude pegar o ônibus antes que eu derretesse. Uma senhorinha me olhou e sorriu com simpatia quando sentei perto dela.

Já era quase meio dia. A chuva já havia sumido e o sol apareceu brilhoso em um céu limpo e azul. Minha aula havia sido cansativa, já que no próximo mês eu entraria em um concurso de dança para concorrer no campeonato nacional. Lá eu faria uma apresentação solo de tango antes do nacional. Estava sendo duro e cansativo. Eu tinha cogitado a ideia de me tornar dançarino em alguma boate, mas descartei-a quando descobri que seria difícil manter meus admiradores longe do meu corpo.

Hora de voltar para Srta. Bartinelle.

Ao entrar no prédio, vi um senhor elegante de terno, que tinha certeza que era bem caro, conversando com Jack, mas não me prendi ao assunto que eles estavam conversando e entrei logo no elevador. Quando comecei a morar com Lía, ela me entregou uma cópia das chaves do apartamento, o que não achei ruim.

Maria estava na porta me esperando.

— Oi... Maria. O que houve? — não estava gostando do jeito triste que ela me olhava — Você ainda está com raiva porque saí sem tomar café?

— Não... David. Não estou com raiva de você. Lía não está muito bem. Gripou. Ela é muito frágil. — percebi seu tom de preocupação. Maria realmente gostava de Lía.

— Como assim gripou? Ontem ela estava tão bem...

— Ela saiu para correr e a mudança de clima não ajudou muito.

— Onde ela está? — falei preocupado.

— No quarto... Deitada. O Dr. Patterson, o médico da família, já veio consultá-la — não espero ela terminar de falar, jogo a mochila no chão e subo correndo as escadas para vê-la.

Cheguei ao quarto e me deparei com uma cena, que se ela não estivesse doente, seria linda. Ela enrolada no edredom, deitada na cama, com a ponta do seu nariz vermelho, encolhida e com as mãos no queixo. Cabelos soltos e o brilho do sol batendo em seus cabelos. Seus olhos estavam entreabertos, acho que era devido ao fato de ela ainda estar com febre. Não fico parado. Sento-me ao seu lado e acaricio seu rosto de maneira terna e, sem pensar muito, dou-lhe um beijo casto no alto da sua cabeça.

Eu estava suado e com toda certeza, não estava o homem mais cheiroso da face da terra. Deixei-a deitada e corri para o chuveiro, de maneira desajeitada tirei o sapato, jogando de modo alheio no canto da parede.

Ela abriu os olhos me encarando, achando graça.

Seu sorriso se abriu de uma forma incrível, e tive a certeza que era por causa da febre, mas aproveitei aquele momento retribuindo com outro sorriso. Minha calça e minha camisa já tinham ido embora e não fazia a mínima ideia de onde tinham ido parar. Entrei no chuveiro e tomei meu banho. Ainda no banho escutei uma voz de homem no quarto. Peguei a toalha, enrolando abaixo da linha do meu quadril e saí do banheiro. Achei que ela havia ligado o aparelho de televisão, mas não. Era o senhor que estava conversando com Jack na entrada do prédio. Ele me olhou torto e arqueando uma das sobrancelhas. Deveria ter uns cinquenta anos ou mais. Cabelos grisalhos, moreno, alto e por um breve momento me fez lembrar alguém. Avaliou-me de cima a baixo, e eu ali, parado como um babaca, só de toalha. Sem jeito, tentei voltar para o banheiro, mas ele se levantou e veio na minha direção, já estendendo a mão para que eu o cumprimentasse.

Lía, de modo meigo e preocupado, me observava.

O que será que eu digo a ele?

Prazer, sou o garoto de programa da sua filha?

Ou prazer, eu sou namorado da sua filha?

Não sabia o que falar.

— Prazer rapaz — falou ele ao apertar minha mão — Você é o novo namorado da minha filha? Qual é o seu nome? — perguntou ainda segurando minha mão.

Ele era bem direto nas perguntas.

— Prazer Sr. Bartinelle. Meu nome é David Se...

— Ah pai... Ele é sim meu namorado — segunda vez que ela diz que sou seu namorado. — Pai não seja inoportuno — falou Lía se sentando na ponta da cama — Você nunca se preocupou comigo antes, e agora vem dar uma de pai preocupado? — na mesma hora ele soltou minha mão e baixou a cabeça.

— Nunca é tarde Thalía, para que um pai se preocupe com sua filha, já que essa filha é a única família que tenho.

— Não acho que seja uma boa hora para discutir isso. Vamos, me diga, para que veio até aqui? — ela, com jeito de cansada, se levantou, veio na minha direção e falou — Querido, ande, coloque uma roupa e vamos descer.

— Mas você deveria estar de repouso Lía — falei olhando para ela.

— Não discuta David. Ande.

— Igualzinha à mãe. Mandona. — falou seu pai.

— Não ouse falar ou mencionar minha mãe — rebateu ela, irritada — Você perdeu esse direito há muito tempo — senti que quando ele citou sua mãe ela ficou furiosa e vi que despertou algo que ela não queria lembrar — Acho que já está na hora de você se retirar, pai. Maria lhe mostra a saída, Sr. Bartinelle.

— Tudo bem. Eu cuido da empresa, enquanto você se recupera — informou ele saindo do quarto.

— Não faz mais que sua obrigação. Cuidar da sua empresa.

— Como queira — falou ele ao sair do quarto.

E eu ali, parado olhando aquela briga entre os dois e ainda de toalha. Quando ele saiu, ela desabou na cama, começando a chorar. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, acho que ela já tinha chorado antes. Sentei-me ao seu lado e a puxando para um abraço, ela se aconchegou nos meus braços.

— Vamos descer... Eu troco de roupa e colocamos um filme para assistimos juntos. O que você acha? — sugeri a ela, passando a mão em seus cabelos.

— Posso pedir uma coisa? — perguntou ela olhando para suas mãos.

— Pode.

— Deita comigo — a surpresa tomou conta de mim. Nada de sexo, ela está doente. Pensei — Você só precisa me abraçar. Você deita? — perguntou manhosa. Apenas assenti com a cabeça concordando com seu pedido.

Sem jeito, e ainda de toalha, me deitei ao seu lado, enquanto ela colocava a cabeça no meu peito. Seu cheiro era doce, com um leve toque amadeirado. Sua pele macia de encontro a minha era uma sensação incrível. Com o outro braço a envolvi e apoiei meu maxilar acima de sua cabeça. Senti como se ela estivesse apreciando e se sentido protegida. A visita de seu pai não tinha feito bem a ela.

Suspirei e a abracei com mais força, e ela também suspirou. Ali estava começando a brotar algo. Mesmo nu ao seu lado, e sentindo seu cheiro delicioso, não podia fazer nada além de dar carinho e afagos para ela. Passamos a tarde assim, juntos, mas sabia que não era o certo... Eu teria que mudar isso, pois este era um negócio e não um relacionamento.

Linda, pensei ao passar a mão em seus cabelos, me distraindo do meu destino junto a ela, e assim ficamos abraçados. 

THALÍA

Deitada com minha cabeça no seu ombro.

Suspirei.

Seu cheiro era magnífico, natural e arrebatador.

Seu peito liso e forte era uma fortaleza para mim. Não me atrevi a me mover do lugar nem por um segundo. A visão era fabulosa, suas pernas grossas à mostra, seu abdômen perfeito... Hum! Delícia.

Daria tudo para passear com minhas mãos por todo seu corpo, mas estava gripada e tinha que ficar de repouso. Tortura. Ele estava de olhos fechados e tinha um dos seus braços em volta do meu ombro. Ele quase pelado e lindo, deitado ao meu lado. Eu já estava começando a sentir borboletas dançando na minha barriga, pelo simples fato de ficar perto dele.

A quem eu estava enganando?

Eu o queria muito desde o primeiro momento em que o vi.

— Obrigada por ficar comigo... Eu sei que você não tem a obrigação de ficar me aturando — quebrei o silêncio.

— Lía... Não é uma obrigação. É um prazer ficar ao seu lado, ainda mais agora, que estou te conhecendo. Você me parece ser uma mulher frágil que quer ser forte — fiquei surpresa quando ele falou —  mas aí, logo depois, me surpreende mostrando ser realmente forte. Você é uma mulher fascinante — não conseguia soltar um som sequer, mas queria gritar e dar pulinhos de alegria. Alguém me achava forte, mesmo depois de tudo.

Levantei minha cabeça e fitei-o.

Ele abriu seus lindos olhos brilhantes. Não resisti, inclinei minha cabeça um pouco mais para cima ao encontro da sua, aproximando meus lábios dos dele, enquanto nossas cabeças se aproximavam lentamente. De leve, nos entreolhamos e aos poucos nos beijamos. Um beijo lento e de carinhos entre nossas línguas, que se acariciavam sem timidez. Senti uma de suas mãos envolver minha nuca e o enterrar de seus dedos nos meus cabelos ao me puxar para mais perto dele. Eu estava ficando sem fôlego... Droga! Eu estava sem fôlego mesmo. Porra de nariz congestionado, estragando meu beijo perfeito. Eu o afastei colocando minha mão em seu peito. Ele ficou me olhando como se não entendesse o porquê de tê-lo afastado da minha boca.

— Você não quer me beijar? — perguntou ele.

— Ah! Querer eu quero, mas o nariz não deixa... — não aguentei e comecei a rir como uma histérica — Não estou no meu melhor dia.

— Duvido muito... — suas palavras estavam cheias de segundas intenções quentes.

Ai meu Deus! Aquela boca carnuda e quente transmitindo desejo em apenas duas palavras.

Deixou-me totalmente desarmada. Como uma pantera, ele se apoiou ao meu lado, colocando uma de suas pernas acima da minha cintura e montando. Segurou meus pulsos acima da minha cabeça, e com um olhar lascivo e quente foi se aproximando cada vez mais da minha boca, me olhando, me devorando. Acho que dessa vez o meu sistema respiratório queria me ajudar, já que no calor do momento a respiração começou a fluir naturalmente. Meu remédio era ele. Tentei me desvencilhar, mas ele era forte e, na verdade, eu não queria realmente me soltar. Eu queria beijar cada parte do seu corpo, sentir sua pele na minha e tocá-lo sem pudores.

Podia até escutar ao fundo “Sexy Back”... Imaginei David cantando no meu ouvido “I'll let you whip me if I misbehave! It's just that no one makes me feel this way…”.

O calor era evidente entre nós dois. Eu não conseguia tirar meus olhos dos dele. Seu corpo pesado me afundava na cama e senti seu membro pulsar ao entrar em contato com minha pele. Ele estava pulsando de desejo por mim. A tensão entre nós estava ficando cada vez mais insuportável. Ele passou seu queixo, com a barba ainda por fazer, no meu pescoço deslizando lentamente até minha nuca e logo depois distribuiu beijos e mordidas no lóbulo da minha orelha, me fazendo sentir arrepios. Eu gemi.

Ele era quente.

Muito quente.

Minhas mãos estavam presas e eu fiquei impotente com seus ataques. Do nada ele parou, me soltou e saiu de cima de mim, simplesmente afastou-se como se nada tivesse acontecido, exceto pelo evidente desejo que ele também estava sentindo, bem visível na toalha.

Pensei: como assim ele parou?

Eu estava curada da gripe e ele saiu de cima de mim? Só pode estar brincando comigo.

Ele parou na porta do closet e suspirou.

Um suspiro longo e demorado, mas não se virou e continuou a caminhar para dentro do closet.

Eu me sentei na cama um pouco aturdida.

Que droga!

O que ele queria com isso?

Mostrar-me seu poder se sedução?

Ah... Então é isso.

Ele queria que eu me apaixonasse! Não podia negar que me sentia envolvida por ele, mas será que tinha percebido e estava tentando usar isso contra mim? Não iria deixar que isso acontecesse. Eu tinha que me impor e fazer valer o contrato, mas agora para o meu prazer e nada mais.

Será que eu conseguiria?

Eu estava fraquejando.

Eu não aguentaria ser iludida novamente. Não suportaria outro sofrimento. De querer que tudo ficasse bem, quando na verdade não estava. Pondo minhas mãos na cabeça, fiquei pensando no que fazer.

— Eu vou descer... — falou ele, já vestido com uma calça de algodão abaixo da linha do quadril e uma camiseta verde de manga, enquanto saía pela porta. Ele não olhou para mim. Minha cabeça estava dando voltas e mais voltas.

Mas será que eu poderia querer alguém tanto assim, em tão pouco tempo?

Ele era diferente de Cliff. Cliff não me olhava daquela forma. Não me olhava com desejo, e nem montava em cima de mim, segurando meus pulsos... Apenas para me deixar sem ar.

Depois de a minha cabeça dar voltas e mais voltas me questionando, eu sabia que não era assim que tudo iria funcionar. Arrumei-me ainda sem fôlego e totalmente sem forças – odiava ficar gripada –, tomei coragem para descer e encarar David com a minha melhor cara de “não estou nem aí”, mas teria que fazer muita força mesmo.

David estava sentado no sofá, sem jeito até, e achei melhor não tocar no assunto. Maria havia deixando tudo pronto. Maria a “perfeita” poderia ser o sobrenome dela. David não olhou para os meus olhos enquanto caminhava para a mesa enorme de dez cadeiras, e das dez ele escolheu ficar o mais longe possível de mim. Frustrante.

E comemos em silêncio.

                                                            

Não queria jogar em sua cara que tinha um contrato a ser cumprido, mas agora era, com certeza, a hora de fazer isso. Não poderia deixar que ficasse apenas como um contrato qualquer, que é assinado de qualquer jeito. Clifford iria, mesmo depois de sua morte, provar o gosto de ser traído. Vingança, doce e gostosa vingança.

— Que tal aumentar o período do contrato? — perguntei olhando para ele, que na mesma hora engasgou com a comida — aumento o valor — falei enquanto almoçávamos.

— Você só pode estar brincando né? — perguntou ele recuperando o fôlego.

— Não brinco com dinheiro Sr. Sebess — falei friamente — em alguns dias poderemos colocar o nosso contrato em prática, se não se importa.

— Tudo bem, negócios são negócios, afinal das contas não é? — acho que ele falou a contragosto, mas não estava me importando com isso. O clima havia mudado completamente entre nós dois.

— Vou chamar meu advogado para revolver as questões nas quais você tiver duvidas — falei seca, enquanto tomava meu vosne–romanée, saboreando cada gole delicioso — o que acha de mais quinze mil e mais trinta dias? — olhei de esguelha e ele estava com cara azeda.

— O dinheiro é seu, eu só tenho que fazer meu trabalho direito, mas acho que não precisa aumentar mais quinze mil para que eu faça meu “serviço” direito. Contudo se é a sua vontade... Pode aumentar não tenho nada melhor para fazer mesmo — falou ele comendo seu salmão e pousando o garfo à beira de seu prato. — Posso sair, minha senhora e dona? — falou ele fazendo pouco; não seria fácil ficar com ele assim. O mau humor dele não era um bom começo.

— David, não precisa fazer isso. — falei francamente olhando para ele. — não vai precisar me chamar assim, basta me chamar somente de Lía ou Thalía e nada mais.

— Posso sair da mesa Sra. Thalía? O objeto aqui precisa de liberdade agora, já que vamos dividir o mesmo espaço — falou um pouco exasperado.

Por que ele estava assim?

— Pode David. — suspirei. — Eu sinceramente não quero passar esses dias com você com esse mau humor — disse calma para ele.

— Não se preocupe com isso — falou ele. — eu tenho meu lado ator de Hollywood. — saiu da mesa — sei gemer e fingir que estou gostando de você.

Apesar de ser totalmente grosso – e que grosso –, eu já estava me divertindo com minha mais nova aventura. Sentia algo diferente quando estava com ele. Algo bom. Mesmo que não quisesse algo a mais, mesmo com várias dúvidas e questionamentos no assunto coração, eu estava querendo experimentar aquilo, ou ele.

Terminei minha linda refeição de salmão regada com vinho e subi para tomar meu banho, já que não poderia tomar nenhum tipo de remédio devido ao álcool ingerido; esperaria algumas horas e informaria ao Dr. Patterson. Há poucas horas estávamos juntos e suspirando e agora praticamente nos arranhávamos como cão e gato. Achei melhor deixar esse meu lado cansado e vulnerável de lado ou acabaria realmente apaixonada por ele, e não era exatamente isso que eu queria naquele momento.

Ou queria?

Já era tarde da noite quando o telefone tocou. Era Catharine me convidando para um jantar em sua casa, para comemorar minha presidência. Senti cheiro de falsidade saindo de seus poros até por telefone, mas eu era uma dama e não daria esse gostinho a ela de recusar o convite. Ela havia perguntando se eu iria acompanhada e confirmei. Agora era só ter que avisar ao mal-humorado que ele teria que me acompanhar a um jantar de hienas e pessoas de ego inflado. Subi para o quarto e não o vi na cama, com toda certeza ele não estava a fim de papo, mas era necessário. Desci as escadas e procurei nos outros cômodos do apartamento, até encontrá-lo na academia, sentado em um banco perto da esteira, sem camisa, suado e de cabeça baixa.

— David... — o chamei entrando na sala — preciso falar com você...

— Estou aqui — levantou a cabeça — o que minha senhora quer? — seu tom era de indiferença e até sarcástico.

— É serio isso? — perguntei séria, arqueando uma das sobrancelhas — você vai mesmo continuar com isso?

— Não. — suspirou — me desculpe. O que foi? — perguntou ele.

— Olha... — dei uma pequena pausa, antes de falar. — vamos ficar sessenta dias juntos e espero...

— Tudo bem. — falou ele passando a mão em seu cabelo. — eu já entendi.

— Vamos a um jantar amanhã. — falei cruzando os braços. — tudo bem para você?

— Eu vou ter que dar uma de namorado de novo? — perguntou ele se levantando e vindo em minha direção.

— Vai — sussurrei ao ver o quanto ele estava próximo — tem algum problema? — perguntei sem fôlego.

— Não — falou ele dando de ombros — você vê algum problema? — perguntou ele se aproximando de mim cada vez mais.

— Não. Não vejo — falei engolindo em seco com ele próximo ao meu corpo.

— Ótimo — falou ele pegando a toalha atrás de mim, e logo depois saiu me deixando sem chão novamente.

Segunda vez.

Era bem difícil manter uma relação com ele no momento, uma hora ele dizia que eu era uma mulher incrível e em outra me deixava com sede só em olhar para ele com aquele corpo perfeito e definido; aí do nada... surtava e ficava de cara fechada.

Quando subi para o quarto ele estava no banheiro, eu poderia entrar e simplesmente tomar banho, mas para ser bem sincera, não era assim que eu imaginava que seria quando resolvi fazer essa loucura. E agora tudo que eu queria era tirar ao menos um pedacinho dele, sentir seu cheiro, seu beijo...

Ah, seu beijo incrível, quente, delicioso...

Pare de pensar nisso Thalía. Pensei. 

Você não pode se deixar levar por isso.

Enquanto eu estava em meus pensamentos mais profundos, eis que noto a visão dos deuses em minha frente... Molhado... Gostoso e... e... Respira Lía... Respira. Meu subconsciente mandava. Meus olhos não respondiam e nem mesmo conseguia obedecer ao comando mais interno do meu cérebro naquele momento. Ele estava tão distraído que nem me viu sentada na beira da cama observando ele caminhar em direção ao closet. Quando ele saiu já devidamente vestido, ficou estático e me olhou firme, aqueles lindos olhos castanhos com riscos verdes brilhando para mim.

— E aí? — perguntou me olhando — vamos começar ou você prefere esperar mais um pouco?  — do que ele estava falando?

— Oi? — perguntei confusa.

— Transar — respondeu simplesmente, sem perceber eu estava de olhos arregalados e gaguejando.

— Co-Co-Como? — gaguejei sem graça.

— Foi para isso que você me contratou, não foi? — perguntou seco.

— É. Foi...

— Então... — gesticulou com a mão e olhando em direção à cama — você quer aonde?

— É-É... — gaguejei, novamente, sem graça — onde você achar melhor — consegui falar finalmente — você espera só alguns minutos... — falei levantando da cama indo em direção ao closet, pegando minha roupa de dormir e indo para o banheiro, enquanto sentia os olhos dele me seguirem.

Tranquei-me no banheiro, mas não passei a chave na porta, sem saber o que fazer. Olhei-me no espelho e vi minha cara pálida e sem vida. Minha respiração estava acelerada e meus pensamentos totalmente perdidos. Por fim resolvi tomar meu banho. Por que eu estava me sentindo assim? Passei a mão em meu corpo ajudando a espalhar melhor o sabonete e fechei os olhos apreciando a água quente que escorria, levando a espuma junto.

O susto tomou conta de mim quando senti sua mão em volta do meu corpo, me virei e encarei-o sem saber o que fazer.

Ele estava ali comigo... Debaixo daquele chuveiro.

Pisquei algumas vezes para ter certeza que não estava sonhando, e só quando ele me imprensou contra a parede voltei à realidade. Não era uma ilusão. Agarro-me em seu pescoço e sem pressa vou ao encontro da sua boca em um beijo longo e demorado, puxando seus cabelos enquanto ele passeava pelo meu corpo com suas mãos fortes e firmes. Nossos beijos se resumiram em gemidos e mais gemidos. Carícias e mais carícias. Seu membro duro contra minha pele era um convite que não poderia rejeitar. Mas ele parou e ficou me olhando para enfim me tirar do banheiro – eu tinha quase certeza que ainda existia espuma em algumas partes do meu corpo –, tropeçando e trombando no decorrer do caminho até que me jogou na cama e ficou parado me olhando por um tempo.

Ele veio em minha direção e se deitou na cama por cima do meu corpo, apoiado nos cotovelos, roçando seu nariz na minha nuca – O que era aquilo? Sentia correntes elétricas passar entre nós dois–, passando sua boca em meu pescoço até minha clavícula, provocando arrepios.

Estava ficando cada vez melhor.

— Eu vou algemar você — sussurrou em meu ouvido, provocando contrações no mais íntimo do meu ventre.

— Hum-hum... — foi só o que consegui resmungar, me contorcendo de prazer embaixo daquele homem, enquanto sentia seu membro pulsar contra minha pele.

— Não quero que se mexa, entendeu? — perguntou com uma voz rouca e sensual.

— Hum-hum...

— Hum-hum não. Vamos responda — falou inquisitivo em meu ouvido.

— Sim... Entendi — falei com a voz trêmula de excitação, enquanto o via levantar indo em direção ao closet. Quando voltou tinha em suas mãos uma algema, um par de chaves e um olhar lascivo e devorador.

Onde ele tinha achado aquilo? Algemas!

Ele levantou meu corpo para ficar mais perto das grades da cama, levantando meus pulsos prendendo-os nas algemas. Aquilo era muito excitante. Eu estava maravilhada com tudo que estava acontecendo. Ele nu, parado na minha frente, era um colírio para os meus olhos.

Sério e compenetrado, pegou uma venda que estava em cima do criado e colocou na minha cabeça, tapando meus olhos. Agora eu estava algemada e vendada, me contorcendo em cima da cama. Ouvi passos leves no chão e logo em seguida senti a cama afundar próximo aos meus pés, com ele se sentando. Senti suas mãos entre minhas pernas, alisando e dançando entre elas até chegar ao meu sexo, e o ouvi soltar um gemido quase imperceptível ao sentir meu sexo úmido de prazer.

Arrepios percorriam meu corpo, enquanto ele passava sua mão firme entre minhas pernas e chegando ao meu clitóris, fazendo movimentos circulares que eu retribuí com pequenos espasmos e abrindo minhas pernas na procura por mais.

Ele parou e senti seu corpo se mover mais um pouco para cima, até sentir sua respiração pairar entre minhas pernas e chegar ao meu sexo.

Senti sua boca quente e a sua língua passar entre os lábios do meu sexo, me deixando ainda mais louca por algo mais. Logo depois senti sua mão segurando meu quadril nervoso, enquanto fazia investidas lentas e deliciosas, enquanto eu, impotente e presa por uma algema, tentava me mover para apreciar mais tudo aquilo. Quando ele parou e saiu da cama, fiquei sem entender. Para onde ele teria indo? Ali estava eu, nua e presa ofegando de prazer, esperando sua próxima ação. Senti-o voltar à cama, e ouvi algo laminado sendo rasgado. O que seria? Ele pegou minhas pernas novamente e as levantou, apoiando-as em seu quadril; eu sabia o que viria pela frente, só não sabia que ele iria me torturar penetrando lentamente seu membro dentro do meu sexo. Tentei elevar mais meu quadril, mas ele me segurou para controlar as investidas lentas que fazia; era uma agonia não poder tê-lo por completo dentro de mim.

— Mais... — gemi — por favor — choraminguei implorando por mais dele dentro de mim.

— Mais o quê? — perguntou ele sussurrando ao me penetrar lentamente.

— De você dentro de mim — murmurei impotente.

— Você quer que eu lhe coma mais rápido, é isso? — segurou nos meus mamilos apertando-os de leve e eu gemi com a excitação.

— S-s-Sim... — gemi.

— Diga — falou ele com tom autoritário e soltou um gemido rouco.

— Você... dentro de mim... — implorei — Ah... Por favor — implorei novamente, e senti quando ele começou a estocar cada vez mais rápido, latejando dentro de mim, me fazendo sentir espasmos e me contorcer a cada movimento que ele fazia ao me penetrar, mais e mais rápido, gemendo e apertando meus seios. Eu já não estava mais aguentando aquele mar de sensações dentro de mim, e cheguei ao orgasmo mais esperado. Nunca senti tanto prazer ao chegar a um orgasmo como havia sentido naquele momento. David chegou ao clímax logo em seguida, explodindo em um orgasmo rápido, me estocando com força e vontade, parando em cima de mim com a respiração forte e acelerada. Não demorou muito tempo em cima de mim e quando saiu senti meu sexo ainda contrair com a sensação daquela força da natureza.

Quando ele tirou as algemas e passou as suas mãos no meu pulso, eu me senti maravilhada com a nova sensação e por ter gostado tanto de sentir tudo aquilo. A contragosto tirei a venda dos meus olhos, sentindo a luminosidade e procurando por ele, que para minha surpresa já não estava mais na cama. Escutei o barulho do chuveiro e tive que me controlar para não sentir a sensação de ter ficado sozinha, nua em cima de uma cama. Senti-me constrangida e envergonhada. Levantei-me e peguei meu roupão para me cobrir, e quando o vi saindo do banheiro, senti seus olhos sobre mim, me fitando e me observando. Eu estava sem graça. Não estava acostumada a me sentir assim, mas ao mesmo tempo estava satisfeita com o que tinha acontecido. Finalmente tinha chegado a um orgasmo pleno, rápido, mas pleno. A sensação de minutos atrás, de tê-lo dentro de mim, me fez sentir meu ventre contrair novamente, ao lembrar como havia sido bom fazer sexo daquela forma. Clifford não era e nem chegava perto de ser como David, ele se resumia a fazer, gozar e deitar logo depois. Era algo frustrante, mas que agora não fazia mais sentido para mim. Eu não me toquei que estava com um sorriso largo e bobo no rosto, e nem percebi que David me olhava com uma das sobrancelhas arqueadas em modo de questionamento, enquanto secava seu cabelo, e isso me fez ficar novamente sem graça.

Idiota, tire esse sorriso largo do seu rosto agora, pensei. 

Mas não dava. Eu estava muito satisfeita com o que tinha acontecido e ainda mais surpresa com David ter aparecido no banheiro me puxando para o quarto, me algemando e dando o que eu tanto queria. Prazer!

— O que foi? — perguntou ele sem entender.

— Não é para rir — adverti — promete que não vai rir? — perguntei.

— Prometo — afirmou ele.

— Foi a primeira vez que senti algo do tipo, ou até mesmo ser algemada na cama — confessei acanhada, e vi seus olhos se arregalarem de surpresa — obrigada — falei passando por ele, indo em direção ao banheiro e sentindo seus olhos me seguirem.

Não queria ficar ali para ver sua reação ao escutar aquilo.

Quando saí do banho, ele já estava deitado do lado direito da cama, de olhos fechados, e não tive coragem de falar mais nada.

Na amanhã seguinte seria um novo dia, ele iria falar com meu advogado à tarde e as alterações seriam feitas no mesmo dia; logo depois sairíamos para o jantar na casa de Catharine. 

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