Capítulo 2

DAVID

Mais um dia sem trabalho. Estava ficando difícil pagar meu curso de dança. Meu amigo Dean estava querendo que eu entrasse na agência na qual ele estava trabalhando como garoto de programa, ou melhor, agência de acompanhantes. Eu tinha que enviar dinheiro para minha mãe que estava doente de câncer já fazia dois meses. Os remédios estavam cada vez mais caros e ela só tinha a ajuda do dinheiro que eu enviava para ela. Apesar dos meus princípios, aceitei.

Ainda me lembro do meu primeiro trabalho. Minha cliente era uma senhora que tinha idade para ser minha mãe e depois que terminei, senti repulsa por estar fazendo aquele tipo de trabalho.

Ela me chamava de urso, gostoso, delícia e gritava a cada movimento de dança que eu fazia para agradá-la.

Ela me lambia e passava a mão no meu pau, e se não fosse a ajuda do remédio mágico não teria como terminar o serviço.

O pessoal da agência estava sempre me sacaneando, me mandando fazer trabalhos como esse. A senhora para a qual eu estava fazendo esse “serviço” me parecia ser uma boa pessoa. Cabelos tingidos de vermelho, olhos castanhos, já com rugas de expressões nos cantos, demonstrava ter boas condições financeiras. Não era tão em forma, mas tinha certo charme; no entanto meu olhar só a via como uma senhorinha de meia idade que estava pagando um homem mais novo para satisfazer seus desejos ocultos.

Há não muito tempo havia escutado dentro da agência sobre uma ricaça que estava querendo os serviços de alguns dos acompanhantes, mas nenhum teria aceitado tal contrato que ela oferecia.

Poucas pessoas poderiam saber sobre isso. Não sabíamos o nome ou a idade, mas sabíamos que era mulher. Dean era um dos que teriam negado o contrato, mas teria feito o serviço.

Penny Gadelha era a dona da agência. Devido ao seu conhecimento vasto do mundo dos ricos e políticos, nunca era importunada com perguntas sobre a agência ou suas atividades.

— David... Entre, feche a porta e sente-se. Acho que você já deve estar sabendo sobre uma das clientes mais importantes para a nossa agência pelos corredores... Gostaria de saber se você quer pegar esse trabalho — perguntou Penny sentada em sua cadeira estilo executiva, com os cotovelos apoiados na mesa e as duas mãos no queixo. Olhava-me seriamente — Sei que você não anda muito satisfeito com as clientes que estamos lhe passando. Então... O que me diz?

— Por que você acha que eu aceitaria? Porque eu devo acreditar que essa cliente não é mais uma das que você me repassa?

— Ora David… Eu sei sobre tudo que você está passando… E acho que seria uma ótima oportunidade de juntar o útil ao agradável. E pode acreditar em mim, você vai gostar dela, e acho que ela de você.

— Não sei… Acho que não seria uma boa ideia, vai que ela seja parecida com a última que você me recomendou… Não foi você que teve que trepar com ela e ouvir aquelas coisas... — estremeci, ao lembrar a forma como a senhora de cabelos tingidos agia comigo.

— Você é bonito, inteligente e sei que não vai recusar. O que me foi repassado é que será um contrato de trinta dias. O advogado dela não me passou mais informações.  Eu sei que você está cansado de transar com as senhorinhas ricas de Manhattan, mas essa seria uma boa oportunidade para ganhar muito dinheiro.

— Certo. Mas só estou fazendo isso porque realmente estou precisando.

— Eu sei querido, é por isso que eu estou enviando você para ela.

Ao chegar ao prédio enorme…

— Apartamento 610. Por favor — informei ao porteiro do prédio enorme e com janelas escuras.

— Seu nome senhor? Perguntou ele educadamente.

— David... David Sebess.

— A Srta. Bartinelle está lhe esperando — avisou, indicando o elevador.

Nossa, a mulher deveria ter muito dinheiro mesmo.

O saguão do prédio era luxuoso, bem no estilo europeu.

Portas grandes e lustres de cristais no centro do teto. O meu maior medo era de que ela fosse uma mulher bem mais velha. Eu realmente não estava a fim de transar com uma mulher que poderia ser minha avó.

No andar só tinha um apartamento.

O dela.

Bati e logo aquela porta enorme de madeira trabalhada foi aberta. Era uma mulher linda. Acho que tinha vinte e dois anos, no máximo vinte e cinco anos. Pele branca, corpo pequeno e escultural, cabelos escuros, lisos e longos, que iam até abaixo da linha dos seios. Olhos castanhos e meigos. Boca carnuda e muito, mas muito sensual. De vestido longo, azul, que marcava sua cintura e que quase cobria seus pés descalços. Extremamente elegante no seu jeito de andar e tive a certeza que era ela a contratante. Pediu que eu entrasse e assim que me apresentei, percebi logo de cara que ela não estava a fim de conversa fiada. Aqueles olhos meigos eram apenas para enfeitiçar e enganar.

Entregou-me um documento e já foi me hostilizando.

Adoraria comê-la ali mesmo no chão.

O apartamento era grande demais para que ela morasse sozinha ali. Quadros caros pendurados nas paredes azul-marinho. Sofá de seis lugares no canto da parede na cor bege. Uma lareira no lado esquerdo e um bar no canto da sala com bebidas caras. Falei que ela só poderia estar brincando comigo quando li uma parte do contrato, mas vi logo que não era brincadeira.

Quando ela começou a falar percebi que tinha muita amargura em sua voz. Disse que tudo se tratava de um negócio e não haveria sentimentos. Que seria apenas sexo e nada mais. Quando olhei o valor no final do contrato, fiquei de boca aberta. Cem mil dólares por um período de tempo tão curto para ela, que só me queria como objeto sexual. Que mal faria? Sentada ao meu lado, não pude deixar de sentir seu perfume. Doce, mas ao mesmo tempo com um toque cítrico.

Levantei e fui para a sacada, com o documento cheio de cláusulas e esquisitices nas mãos. Nessa hora pensei na minha mãe e em como esse dinheiro iria ajudar em seu tratamento. Queria muito que minha mãe melhorasse. Eu estava me vendendo como um objeto e a riquinha queria que eu fosse o objeto particular dela. Apesar de ser muito bonita e atraente, não sabia se era o certo a fazer.

Saber que ela era viúva há tão pouco tempo tinha me deixado desconfortável, mas pensei na minha mãe. Não faria questão de usar os carros ou as dependências do apartamento, não estava interessado. Faria o meu trabalho e pegaria o dinheiro, sumindo da vida dela para sempre, e também daquela vida que eu levava.

Olhei para o bar e vi uma caneta de ouro, ali estava a ferramenta para fechar o contrato. Depois de assinar a chamei para que fizesse o mesmo. Ela levantou elegantemente do sofá e assinou o documento. Por um instante nossos olhares foram de encontro um ao outro.

Eram apenas negócios.

Minha saudade falou mais alto naquela manhã. Já fazia mais de três dias que não ligava para minha mãe. Não era hábito meu ficar tanto tempo sem falar com ela. Ainda mais na situação na qual ela se encontrava. Minha mãe era uma mulher com uma tenacidade inigualável. Nunca tinha visto alguém tão forte quanto ela.

Essa era minha mãe, Kate Sebess.

— Oi mãe? Como você está? Os remédios… Você está tomando direito?

— Oh! Meu filho... Você sempre preocupado comigo...

— Sra. Sebess… Sempre vou me preocupar com você — escutei-a gemer de dores ao fundo da ligação.

— O que aconteceu? — perguntou minha mãe, que sempre teve o dom de perceber quando não estou bem — tem algo estranho na sua voz, meu querido...

— Não mãe... Não se perturbe com meus problemas. Em breve estarei aí em Dover... Prometo.

— David… Não gosto quando você fala assim… É uma mulher? É por causa de uma mulher que você está assim? — ela e sua bola de cristal.

— Pode-se dizer que sim. Mas, não quero falar disso.

— Quero conhecê-la. Faça um favor para sua mãe, eu sei que não tenho muito tempo, encontre alguém que o ame e que saiba lhe dar o seu devido valor…

— Está certo… — prometi com um pouco de tristeza em minha voz — Tenho que ir. Te amo mãe.

— Também te amo, meu filho.

Era de cortar meu coração todas as vezes que falava com ela e percebia que não estava bem. Naquela manhã, quando acordei, não tive coragem de me olhar no espelho. Já era o dia em eu que teria que me mudar para a casa da Srta. Bartinelle, assim ela me pediu para chamá-la “Srta. Bartinelle”. Podia ser mandona, mas era gostosa. A única coisa que eu não poderia era me apaixonar por ela.

Sabia que quando chegasse ela não estaria em casa, pois deveria ir a uma reunião na parte da manhã. Eu seria recebido pela Sra. Cortez, governanta dela.

Minhas roupas já estavam arrumadas e prontas para sair.

— Boa sorte Man! — desejou Dean, me socando no ombro — Cuidado para ela não lhe enterrar no quintal…

— Que quintal Dean? Cara, você é muito otário… — brinquei sorrindo — Vou sentir sua falta esses dias — Falei abraçando meu amigo.

— Cara!!! Você vai transar com uma ricaça muito louca e gostosa. Vai fundo, Brother!

— Olha o termo de sigilo Dean… Vai que a senhora dona do mundo resolve lhe processar — caí na gargalhada.

— Ah… Droga… Vou falar baixinho, imagine só se tem escutas na casa... — Dean fez um olhar desconfiado para os cantos das paredes da casa.

— Até mais… — falei balançando a cabeça e achando graça nos gestos obscenos que ele fazia enquanto eu saía para colocar minha mochila no carro.

— David… Come com força — gritou Dean, com um sorriso idiota. A senhora que estava ao lado dele, regando as plantas, balançou a cabeça em desaprovação e jogou água nele. Ele realmente era um babaca. Mas era meu amigo.

Ao chegar ao prédio alto de janelas escuras, parado ali, observando. O Sr. Jack já havia sido informado sobre a minha presença. Recebeu-me com um largo sorriso.

— Bom dia Sr. Sebess...

— Bom dia Jack... Você poderia avisar a Sra. Cortez que já estou aqui em baixo?

— Não precisa avisar Sr. Sebess...

— Jack... Pode me chamar de David...

— Infelizmente não vou poder atender ao seu pedido Sr. Sebess. Ordens da Sra. Johns... Srta. Bartinelle — disse ele de forma séria.

— Caramba... Que mulher hein...

— Ela é um doce de pessoa Sr. Sebess, só está um pouco... Danificada pela dor. Mas, tenho certeza que vocês dois formam um belo casal — falou Jack. Fiquei constrangido ao perceber, e escutar, o jeito que ele falava sobre ela. Me deu até vergonha o que eu quis insinuar sobre a sua patroa ser uma “controladora”. E, com toda a certeza, não éramos um casal, nunca seríamos um.

— Obrigado pelo aviso Jack... Vou me lembrar disso. Prometo — Falei entrando no elevador.

A música ambiente do elevador não era das melhores, mas quem ligava para isso? Estava tão nervoso que minhas mãos estavam suando. Não saberia como seria meu “relacionamento” com ela, mas esperava que fosse algo além, uma amizade talvez.

— Bom dia Sr. Sebess, vou lhe apresentar o seu quarto. Venha, é por aqui.

De volta a onde tudo começou. A sala agora estava mais iluminada e as paredes azuis eram mais bonitas devido à iluminação. Um corredor largo mostrava, de um lado, uma cozinha enorme, e do outro lado, duas portas, as quais não saberia dizer o que tinha lá naquele momento. Do lado direito tinha uma escada em espiral em aço cromado e com laterais de vidro. No andar de cima tinha cinco quartos, o meu seria com certeza, o que ela dormiria.

A Sra. Cortez abriu a porta e fiquei tonto com a beleza do quarto. Não seria difícil me acostumar com o luxo, principalmente se esse luxo viesse com uma mulher linda como ela. Que é isso Sebess? Já está imaginando coisas?

O quarto tinha uma enorme cama em madeira, e o colchão estava coberto por um lençol tão branco, que acho que ficaria cego se ficasse olhando-o por muito tempo. Uma sacada enorme, e janelas grandes com cortinas, azul-claro. Tudo naquela casa era grande demais para uma pessoa só. Me peguei pensando nela, sozinha naquela casa, enquanto seu marido saia para os braços de outra. Ela deveria ter sofrido muito ao saber de tudo. David... Acorde. Isso não é dá sua conta. Você está aqui para “servi-la” e nada mais.

— Sr. Sebess... Seu lado do armário será esse... — indicou a Sra. Cortez abrindo o enorme closet de portas brancas — Ali era o lado que ela guardava os objetos do marido, e será o seu lado agora durante sua estadia aqui — caramba que coisa mais mórbida. Pensei.

— Sra. Cortez pode me chamar de David mesmo, não me importo...

— Certo Senhor... David. Mas, a menina Lía não vai gostar que lhe chamasse assim... — disse ela séria, mas logo depois continuou — Mas, vou ver o que posso fazer por você — que mulher mandona — Espero que esteja tudo ao seu agrado. Se quiser, tem uma piscina no terraço, e qualquer outra coisa pode me chamar que eu lhe atenderei.

— Muito Obrigado Sra. Cortez...

— Agora você vai me chamar de Maria — falou ela em um sorriso simpático — E não se preocupe com nada. E David... Ela é uma mulher muito boa e com um coração enorme... Só está... — falou ela saindo do quarto.

— Danificada... É, já fui informado — eu disse entendendo o que ela quis dizer. A “Menina Lía” dela só precisava de tempo para colar os pedaços que restou do seu coração. Seria eu essa cola? Não sei, mas por mais que aquilo não passe de um contrato, acho que estava começando a gostar dela, apenas em ouvir “Ela é uma mulher muito boa e com um coração enorme. Ele apenas está quebrado”. Mas era apenas gostando, e talvez ela não fosse tão megera assim. — Obrigado Maria. Você é maravilhosa.

— Olha a bajulação Sr. Sebess... Ops... David — falou ela sorrindo e saiu.

Olhando o grande closet, fiquei imaginando como seria ele... O tal marido falecido dela. Cara rico. Acho que deveria ser bonito, pois para estar casado com ela, com certeza tinha que ser boa-pinta, porém, ainda assim não lhe dava amor. Que cara burro. Idiota. Um filho da puta, para ser mais exato.

Pegando minhas camisas de dentro da mochila e colocando no armário, tive a nítida impressão de que não seria apenas sexo para ela. Eu deveria lhe oferecer mais que isso, não só pelo fato dela inconscientemente ajudar a salvar a vida da minha mãe, mas sim para ajudá-la a colar os cacos que restaram do seu coração; eu só tinha que tomar cuidado para não me apaixonar por ela.

Não queria sofrer, e não queria fazê-la sofrer.

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