CAPÍTULO 10

                                                       Benjamin Padovanne

         - Eu sabia que você iria marcar esse jantar, só não imaginava que seria hoje Helena – digo após Helena aparecer me fazendo o convite para o tal jantar com seus pais e pedindo que eu convidasse a minha mãe para ir junto.

         A gente não tinha combinado de ir com calma?

         - Meu amor, meus pais estão doidos para te conhecer. Eu tinha que marcar isso o quanto antes.

         - Eu só...

         - Isso tudo é medo de eles não gostarem de você? Pode ter certeza que eles vão te amar, não tem como pensar de outra maneira.

         - Tudo bem – desisto de contestar. Com a convivência, descobri que Helena é um tanto insistente – Vou ligar para a minha mãe avisando – digo meio atordoado.

         - Está bem – sorri satisfeita me abraçando – O jantar será naquele restaurante de frutos do mar que adoramos tudo bem?

         - Está marcado para que horas?

         - Às 20h. Obrigada por aceitar meu convite, Benja – me dá um selinho rápido – Não sabe como fico feliz em acordar sabendo que estou pra casar com o melhor homem do mundo – me beija novamente e sai da sala animada.

         - Meu Deus, espero que esteja fazendo o certo.

         Antes de finalizar meu expediente, mandou uma mensagem para minha mãe avisando que passaria para buscá-la. Depois vou para a minha casa, me arrumo e depois passo para buscar minha mãe.

         - Benjamin, e toda a conversa que tivemos sobre ir com calma? – minha mãe diz entrando no carro me encarando assustada.

         - Assim como você ficou surpresa, eu também fiquei.

- Você conversou com ela sobre isso?

- Eu falei com Helena sobre isso, mas acho que ela não entendeu muito bem.

         - Você acha? Eu tenho certeza!

         - Eu sei! O que eu faço mãe? – a olho desesperado.

         - Agora nós iremos a esse jantar e tenta disfarçar esse desespero, não temos saída.

         Respiro fundo antes de ligar o carro novamente e começar a dirigir em direção ao ponto de encontro.

                                                           Vicente Guerra

         - Pensei que não viriam – mamãe diz me abraçando assim que abre a porta com um sorriso enorme..

         - Eu falei que viríamos – digo assim que ela me solta.

         Meu pai me olha estranho e eu entendo de cara que ele se questionava onde estaria a sua nora e seu neto, então nego discretamente e ele entende a mensagem assentindo chateado. Sua expressão fica um pouco decepcionada, mas logo ele disfarça.

         - Leandro, que bom ver você meu filho – meu pai o abraça.

         - Também é bom ver vocês - Leandro diz sério.

         - Sentem, a comida já está na mesa – mamãe sorri. Queria tanto não ter que fingir emoções agora.

         A cada minuto minhas suspeitas sobre Leandro parecem se confirmar e eu não sei como vou fazer para ajudar Maya. Eu preciso ter certeza de tudo antes de pensar em qualquer coisa, preciso ouvir tudo da boca dela.

         - Mas me contem como estão? – mamãe começa servindo a todos.

         - Eu estou bem. A empresa na Itália está crescendo bastante e tenho alguns planos para expandir.

         - Você continua próximo de Benjamin? Sinto saudades dele e da minha amiga – se refere à mãe de Benjamin.

         As duas se conheceram há alguns anos, quando meus pais foram me visitar na Itália, e se deram muito bem. Elas mantinham contato e minha mãe estava quase sempre mandando broncas  para mim por Joana.

         - Sim. Continuamos grandes amigos, inclusive ele está noivo.

         - Sério? – mamãe abre um sorriso enorme – Ainda espero o dia que você vai aparecer aqui para me dar uma notícia dessas.

         - Vamos com calma – digo rindo.

         - Não devem faltar pretendentes.

         - Com certeza sua mãe já te arranjou umas quinhentas aqui no Brasil – meu pai ri junto comigo.

         - Eu não tenho dúvidas, mas eu já disse que irei me encarregar disso na hora certa.

         - Só espero que essa hora certa não demore, quero entrar bonita na igreja e ter bastante tempo para curtir os meus netos – reclama.

         - Você já é linda mãe, não precisa se preocupar com esse detalhe.

         - E você Leandro? Como está? Andou bem sumido – meu pai direciona a conversa pra ele.

         - Muito trabalho na delegacia – Leandro dizia sem encarar ninguém em específico.

         - Mas eu tenho certeza que sua vida não se resume a esse emprego, não é? – meu pai pergunta tentando fazer com que ele tocasse no assunto.

         - Tenho me dedicado bastante para subir de posto. Quero muito me tornar delegado, quem sabe...

         - Tenho certeza que conseguirá, mas não se feche para as mulheres meu filho. Você pode estar perdendo um tempo muito valioso focando só no trabalho. Ser feliz, formar uma família, ter filhos e muito mais – meu pai diz claramente chateado.

         Ele, assim como eu, já tinha acabado de confirmar que Leandro estava mentindo. Agora só faltava a confissão de Maya e isso pode ser que eu consiga facilmente, só tinha que conseguir ficar sozinho com ela. Quero saber exatamente o porquê de ela estar compactuando com as mentiras dele.

         O restante do jantar passou normal, meu pai evitou ficar falando no assunto "amor" e acabou focando em outras coisas na nossa conversa.

Maya Costa

         - Eu não posso falar nada pra ele Sophie! – ela tinha me ligado para saber como estavam as coisas e eu acabei contando sobre a chegada de Vicente e que ele tinha percebido os hematomas.

         - Por que não? Ele é uma pessoa ruim do tipo Leandro?

         - Não, ele me parece ser bom. Inclusive me disse que está disposto a ajudar em qualquer coisa.

         - Então, por que não aproveita essa oportunidade? Ele pode te ajudar mais do que eu, ele está aí!

         - Mais toda vez que ele está aqui, Leandro também está. Até agora não tive a oportunidade de ficar 5 minutos sozinha com o cara e desmentir todas as histórias inventadas por Leandro.

         - Vou pensar em algo, mas, se eu fosse você, contaria tudo na primeira oportunidade. O que ele está fazendo aí afinal?

         - Eu não sei, não entendi direito quando Leandro me falou que ele vinha. É alguma coisa relacionada com o trabalho dele.

         - E você sabe onde ele trabalha?

         - Não, por quê?

         - Por que eu poderia conversar com ele no seu lugar, explicar tudo e tentar pedir ajuda.

         - Não sei, posso tentar descobrir algo, mas acho difícil. Eu já percebi que ele não tá caindo nessas desculpas que Leandro tá dando e está desconfiado. Ele até tentou falar comigo após Leandro ter inventado o assalto, antes deles saírem para o jantar, mas Leandro apareceu na sala e os dois saíram.

         - Como é que Leandro acha que um hematoma fica roxo por três semanas? Só sendo muito burro para dizer isso.

         - Eu inventei que tenho anemia e que todos os meus machucados sempre demoravam a sair.

         - Se esse cara for realmente inteligente, não vai cair nessa tolice.

         - Tenho certeza que não caiu e Leandro está confiante do seu plano. Isso dificulta ainda mais qualquer possibilidade que eu possa conseguir de falar com ele, Leandro vai ficar em cima toda hora.

         - Mas é sério, não fique sem falar. Não fique se submetendo a essa vida miserável, você merece ser feliz.

         - Tá, eu vou ficar te atualizando de tudo assim que ficar sozinha. Se eu conseguir conversar com Vicente, te digo.

         - Se perceber que não vai conseguir falar com ele, dá um jeito de descobrir onde ele trabalha que eu vou lá e converso.

         - Tá. Agora eu tenho que ir, não quero que Leandro fique me perguntando com quem estou falando.

         - Apaga a ligação do histórico de chamadas e fique segura, tente se fazer de boa moça para evitar que ele fique te machucando.

         - Ok, beijo.

         - Beijo, dá um beijo no baixinho também.

         - Viu – desligo.

                                                       Benjamin Padovanne

         - Mãe, essa é Helena – digo assim que chegamos ao restaurante e nos aproximamos da porta, onde Helena me aguardava.

         - Eu a conheço meu filho, esqueceu? Tudo bom querida? – se cumprimentam com um abraço rápido.

         - Tudo sim dona Joana.

         - Não precisa do dona, acho que já temos uma intimidade considerável.

         - Eu só falei, pois você a conhece como minha amiga e não como noiva – digo colocando a minha mão na cintura de Helena, que se encosta em mim.

         - Nesse caso, pode nos considerar devidamente apresentadas – minha mãe ri junto com Helena – Estou muito feliz com a notícia do casamento, espero que sejam muito felizes – abraça Helena mais uma vez.

         - Pode ter certeza que eu vou me esforçar para ser a melhor esposa para seu filho, que já me faz muito bem. Não sabe o quão contente estou com o seu apoio.

         - Mas antes quero saber algo, quando planejam me dar netos? – minha mãe brinca e deixa Helena sem resposta.

         - Mãe, acho que esse não é o momento para essa conversa e ainda está cedo para falarmos disso. Vamos?

         – Venham, meus pais já estão nos esperando – Helena vira nos levando ao local.

         - Não exagera né? – sussurro e minha mãe me olha feio.

         - Tenho que ser educada, ué!

         Entramos no restaurante com uma decoração bem clássica. É um ambiente escuro pelas paredes amadeiradas e por estar de noite, mas não deixa de ter sua classe com os grandes lustres pendendo dos tetos e mesas muito bem arrumadas. Adorava aqui por poder olhar a cidade pelas grandes janelas de vidro.

         - Benjamin, Joana esses são Dante, meu pai e Rita, minha mãe – o pai de Helena é um tanto sério, já sua mãe é bem mais simpática e fez questão de cumprimentar a mim e à minha mãe com um abraço.

         - Não sabe o quão ansiosa estava para te conhecer – a Sra. Rita diz após sair do abraço – Helena vive falando sobre você desde que te conheceu no hospital.

         - Espero que bem.

         - Claro meu amor, não tenho motivos para falar mal de você pra ninguém.

         - Helena sempre falou sobre como te admirava e como você é um bom médico - a Sra. Rita diz e  se senta novamente.

         - Ela é uma ótima profissional, eu só dou o meu melhor.

         - Você é o melhor de todos amor – entrelaça os nossos dedos em cima da mesa.

         - Papai, o senhor não vai falar nada?

         - Acho que a única coisa que tenho a perguntar é quais são suas intenções com minha filha?

         - Olha senhor, eu espero poder fazer Helena muito feliz e retribuir tudo que ela fez por mim quando precisei. Sou muito grato à Helena por tudo o que fez para salvar a minha carreira. Pode ter certeza que, se eu sentir qualquer insegurança, ela vai estar avisada para evitar vexame.

         O Sr. Dante parece ter ficado satisfeito com minha resposta, pois suavizou  consideravelmente a sua expressão carrancuda. A partir daí ele começou a falar mais e me perguntar sobre meu trabalho e sobre como me aproximei de Helena.

                                                                Maya Costa

         - Como foi o jantar? – pergunto assim que Leandro entra super irritado no quarto, bateu a porta com força e tudo – Pelo visto não foi muito bem.

         - Você falou alguma coisa para Vicente? – vem pra cima de mim irado.

         - Do que você está falando?

         - Responde! – diz me encostando abruptamente na parede com as mãos em meu pescoço, gemi de dor com o baque.

         - Falei o quê?

         - Você falou dessa farsa com meu irmão?

         - Claro que não! – digo tentando respirar direito.

         - Não mente pra mim e fala baixo! – diz entre dentes.

         Algo de muito errado aconteceu para ele chegar em casa desse jeito. Pelo visto não compraram essa ideia dele tão bem quanto ele estava planejando.

         - Se eu desconfiar...

         - Como eu poderia ter falado algo pra ele, se só o encontrei com você do lado? Você ouviu todas as minhas conversas com Vicente.

         - Eu não estive em casa o dia inteiro.

         - E nem ele. Vicente saiu naquela hora de manhã e voltou na mesma hora que você, além disso, eu passei a tarde quase inteira no hospital com Théo. Eu avisei que não iriam comprar essa história.

         - DROGA! – diz dando um soco na parede.

         Tive que conter meu sorriso diante da situação.

         - Meu pai ficou falando de relacionamentos o jantar quase inteiro. Era como se ele soubesse...

         - Com certeza Vicente deve ter comentado algo com ele quando o encontrou após o almoço.

         - Deve ter sido isso, mas eu neguei tudo.

         - Leandro, eles vão desconfiar. Vicente já me conhece e, se falou algo, sua família já desconfia. Quanto mais mentiras você inventar, pior fica. Então, me deixa ir. Eu juro que sumo da sua vida e não te procuro mais – me ajoelho à sua frente implorando.

         - Você acha que eu sou idiota? Você está presa a mim para o resto da vida! – segura meu rosto com força – Você é M-I-N-H-A.

         - Eu prometo que não te denuncio, não falo nada e até saio do Brasil, só me deixa ir com meu filho...

         - Se você tentar alguma coisa, eu mato aquele pirralho.

         - Não, não toca em Théo - levanto.

         - Eu estou falando sério, tenho recursos suficientes para fazer qualquer coisa com ele e nem deixar rastros ou levantar investigações.

         - Promete que não vai fazer nada com ele, eu vou ficar calada.

         - Então, acho melhor você começar a atuar um pouquinho melhor pra convencer meu irmão de que somos o casal mais apaixonado do mundo a partir de agora - segura meu braço forte.

         - Você é um idiota – me solto dele com raiva e vou me deitar.

         Deito na cama e me forço a dormir, mas era impossível quando Leandro estava ao meu lado, forçando uma aproximação que me dava nojo e mantinha meu corpo em alerta. Eu nunca conseguiria baixar a minha guarda do lado de Leandro, sempre fico com medo de uma possível mudança repentina de humor e do que ele poderia fazer.

         Quando já eram umas 3h da manhã, já estava ficando impaciente por não conseguir dormir e decidi que iria tomar um chá pra ver se me ajudava a relaxar. Vou até a cozinha e começo a preparar tentando fazer o mínimo de barulho possível. Tomo um susto quando vejo Vicente em pé na porta.

         - Deus do céu – digo baixo com as mãos na boca para evitar falar alto.

         - Sem sono? – sorri.

         - Sim, quer também? – aponto para o chá.

         - Não, obrigado.

         - Théo está te incomodando muito no quarto? Se quiser, posso arrumar a caminha dele no meu...

         - Não, ele é bem tranquilo e gosta de conversar, é uma boa companhia.

         - Tudo bem então.

         - Posso te fazer uma pergunta? – assinto – Você tem certeza que meu irmão estava falando a verdade hoje de manhã?

         Eu sabia que ele estava desconfiado, nenhum besta cairia naquela desculpa. Talvez seja uma boa hora para desmentir tudo.

         - Am...

         "Se você tentar alguma coisa, eu mato aquele pirralho". Essa frase vem à minha cabeça quando tento começar a falar a verdade. Mas, se eu falar, ele me ajudaria né?

         "Tenho recursos suficientes para fazer qualquer coisa com ele e nem deixar rastros ou levantar investigações". O pior era que esse miserável estava falando a verdade.

         - Sim, ele estava falando a verdade – digo, mas não consigo encará-lo. Mentir nunca foi meu forte.

         - Tem certeza? – diz levantando o meu rosto para encará-lo. Ele estava com os olhos cerrados buscando qualquer traço de mentira em mim – Se você me falar que é mentira, posso te ajudar e ele não vai nem desconfiar. Só preciso que confie em mim.

         Eu queria contar tudo ali. Ouvir o que Sophie tinha me dito e só contar, mas o medo me consumia. A vida do meu filho estava em jogo, não posso arriscá-lo desse jeito.

         - Sim, fomos assaltados e os assaltantes fizeram isso comigo.

         - Por algum motivo, isso não me convence.

         - É a verdade...

         - Você pode dizer isso, mas eu sinto que não. Uma das minhas qualidades é ser muito intuitivo, sabe Maya? – assinto engolindo em seco - Eu vou investigar e vou descobrir. Quando eu disse que estava disposto a te ajudar, não estava brincando – diz e sai da cozinha.

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