CAPÍTULO 7

                                                        Benjamin Padovanne

         - Mas por que você vai mesmo? – estava almoçando com Vicente em um dos nossos restaurantes favoritos daqui da Itália e acabamos entrando no assunto de sua viagem novamente.

         - Você sabe que eu dirijo o escritório daqui e os meus pais ficaram com o do Brasil, certo? – assinto – Meu pai disse que precisa de minha ajuda com um caso por lá.

         - Não existem outros advogados por lá?

         - É um caso de um amigo muito próximo de meu pai e ele exigiu que fosse alguém da família a resolver, então meu pai pediu que eu fosse para não dar conflito de interesses com os sócios do cliente, todos conhecem o meu pai

         - E quando você vai?

         - Eu faço tanta falta assim? Acho que deveria se casar comigo, já que está tão preocupado.

         - Não é isso seu idiota – rio junto com ele.

         - Estou querendo ir amanhã, mas não pretendo ficar na casa dos meus pais, então tenho que ligar para meu irmão e pedir para ficar na casa dele.

         - Não sabia que tinha um irmão.

         - Não falo muito com ele, não somos tão próximos. Eu sempre tentei me aproximar, mas ele nunca permitiu.

         - Qual o nome dele?

         - Leandro, meus pais o adotaram após minha mãe ter o encontrado abandonado em uma praça. Lembro-me dessa época, eu era doido para ter um irmão, mas minha mãe nunca conseguiu engravidar novamente por conta das complicações do meu parto.

         - Que gesto bonito.

         - Sim. Eu sempre gostei muito de Leandro, mas ele não é uma pessoa muito fácil. Sempre foi uma criança muito fechada e séria, era como se pensasse que não merecia uma família. Meus pais nunca estabeleceram diferenças na nossa criação, mas ele agia como se fosse. Meu pai queria muito que ele trabalhasse na empresa como herdeiro, assim como eu, porém ele não quis e decidiu seguir carreira como policial.

         - Deve ter sido muito difícil ser abandonado, por isso ele se sentia assim. Vocês conseguiram descobrir qual a história dos pais dele? O motivo dele ter sido deixado na praça?

         - Não, ele nunca disse e a polícia nunca descobriu nada, nem a psicóloga conseguiu fazer ele falar Então, acabaram concluindo que ele foi abandonado mesmo e adiantaram o processo da adoção.

         - Isso é complicado.

         - Sim.

         - Mas por que você não quer ficar na casa de seus pais? Eles com certeza devem sentir saudades suas.

         - Sempre que vou para o Brasil tento me aproximar mais de Leandro e essa é mais uma oportunidade. Eu sei que pode não dar em nada, mas nunca vou deixar de tentar. Além disso, confesso que quero fugir das perguntas de minha mãe sobre quando vai conhecer uma nora ou vou lhe dar netos – revira os olhos.

         - Nisso eu te entendo e muito bem – rio – Se bem que ultimamente esse papo não tem aparecido tanto.

         - Nunca vi tanta obsessão por esse assunto quanto minha mãe tem. Só falta me falar que já me arranjou uma noiva e que eu só tenho que ir assinar os papéis e "plantar a sementinha".

         - Pois é... E você vai ficar quanto tempo lá?

         - Acho que vai ser somente uma semana, no máximo duas. Agora, fugindo um pouco do assunto, você falou com sua mãe? Ela me ligou dizendo que você não atendia o telefone.

         - Sim.

         - Contou toda a verdade pra ela?

         - Contei – faz o sinal com a mão para eu continuar falando - Ela ficou um pouco chateada por eu não ter falado antes, mas me deu alguns conselhos.

         - O que ela disse?

         - Que eu ainda tenho tempo para pensar e devo fazer isso. Sugeriu até que eu tirasse umas férias do hospital e me afastasse.

         - Se você não acredita no que eu estava dizendo, pelo menos acredite nela que é a sua mãe.

         - Eu estou pensando no assunto.

         Talvez eu não esteja colocando todos os meus esforços para esse assunto, mas sim para descobrir quem é a tal mulher misteriosa dos meus sonhos ultimamente. Entretanto, o meu casamento ainda está entre uma das pautas dos meus pensamentos.

         - Acho bom mesmo. Bom, eu tenho que ir, ainda tenho que ligar para Leandro pra saber se posso ficar com ele nesse tempo.

         - Claro, meu horário de almoço já deve estar acabando mesmo.

         Pagamos a conta e cada um segue o seu rumo.

                                                             Maya Costa

         Acordo já sentindo uma dor enorme em minhas costelas, aposto que deve estar tudo roxo. Levanto sentindo uma pontada de dor e cubro minha boca para não fazer nenhum barulho e acordar Théo, que ainda dormia serenamente abraçando um dos meus travesseiros. Vou até o banheiro e confirmei minhas suspeitas: meu abdômen estava cheio de manchas roxas e estava muito sensível.

         Passo um pouco de creme para começar a tratar disso, pois sei que não vou poder ir ao hospital, e depois vou até a cozinha me apoiando nas paredes para fazer o meu café e o de Théo. Antes de entrar na cozinha, escuto a voz de Leandro na sala falando com alguém.

         - Am... Claro, você pode vir sim – ele não parecia muito animado com essa resposta – Não tem problema... – resolvo ignorar o que ele dizia e sigo para a cozinha.

         Resolvi fazer uma vitamina de banana com morangos e preparo uns ovos mexidos. Faço a mais para o caso de Leandro resolver fazer a mesma coisa que fez da última vez que fiz café só pra mim e Théo. De vez em quando, escuto Leandro reclamando de algo na sala e murmurando alguns xingamentos, porém continuo o que estou fazendo sem me preocupar.

         Deixo tudo pronto em cima da mesa e vou voltar até o quarto, mas sou impedida com Leandro na porta.

         - Preciso falar com você – diz sério.

         - Diga – respondi sem encará-lo.

         - Meu irmão está vindo para o Brasil e vai ficar aqui por um tempo.

         - Ta.

         - Eu quis dizer que ele vai ficar AQUI.

         - E eu disse tá.

         - Olha só – ele segura meu rosto fazendo encará-lo – Se você ousar tentar alguma gracinha, mínima que seja, eu acabo contigo.

         - Pode ficar despreocupado que eu não vou fazer nada.

         - Acho bom.

         - Vou acordar Théo, tenho que levar ele na escola e, mais tarde, preciso passar no mercado para comprar algumas coisas.

         - Não demore e não ouse fazer gracinhas. É de casa até o colégio e do colégio para casa. Além disso, preciso deixar algumas coisas bem claras quando voltar.

         Me solto dele e volto para o meu quarto para seguir as minhas coisas. Arrumo Théo, dou o seu café e depois saio para levá-lo. Depois de deixá-lo na escola, começo a fazer o caminho de volta, quando sinto pegarem em meu braço por trás.

         - Ai! – puxo meu braço de volta.

         - Quer dizer que você não ia nem me ligar? – vejo Sophie me olhando preocupada.

         - Sophie? O que você está fazendo aqui? – digo olhando pros lados com medo de algum conhecido nos reconhecer e comentar perto de Leandro que eu estava falando com alguém fora de casa.

         - Por que você voltou com ele Maya? Como foi que ele te achou?

         - Olha, eu não posso demorar. Leandro já está irritado e...

         - Você vai me contar tudo no caminho então – diz começando a andar em minha frente, mas eu fico parada – Vamos! Você não tem horário pra chegar em casa? Vou te acompanhar até lá.

         - Sophie...

         - Não pense que eu vou desistir Maya – pega em minha mão e me puxa para continuar seguindo, gemo em resposta – O que você tem? – para me encarando.

         - É que...

         - Ele te bateu de novo? – não respondo, mas ela entende pela forma que a olho – Você não deveria ter voltado com ele Maya, agora está machucada de novo. Vem, me deixa ver como ficou.

         Ela tenta tocar em minha blusa, mas eu me encolho para trás assustada. Eu sei que ela é minha amiga e não falaria nada sem a minha permissão, mas estamos no meio da rua e muita gente pode não concordar com os meus pensamentos agora.

         - Não Sophie. Eu te conto tudo, mas só até a gente chegar à minha casa.

         - Ta – diz claramente desapontada – Então, como foi que ele te achou?

         - Ele me rastreia. Leandro nunca me deixou colocar uma senha no meu celular e sempre manteve o meu GPS ligado sem que eu soubesse. Não seria muito difícil me achar.

         - A gente pode tentar de novo, dessa vez você não leva o celular.

         - Eu não posso Sophie! Ele quase bateu em Théo ontem - ela arregala os olhos e eu assinto - Imagina o que ele faria se eu tentasse de novo?

         - Amiga, eu não quero que fique presa naquela casa com aquele monstro para o resto da vida.

         - Talvez esse seja o meu destino, só tenho que aprender a conviver com isso. É difícil aceitar, mas no fim vai virar rotina e nem vai doer mais.

         - Nada disso! Você é jovem e tem tempo para ser uma pessoa bem sucedida e realizada. Pode se formar e ser feliz bem longe dele, só temos que achar uma forma.

         - Eu não quero que ele machuque Théo.

         - Ele não vai. Pode deixar que eu vou pensar em uma maneira mais certeira de ele não te achar.

         - Não acho que vá dar certo...

         - Vai sim, eu não vou desistir Maya. Agora isso virou questão de honra pra mim. Eu vou te tirar de lá – diz séria e bate o pé firme.

         - Tudo bem, mas, por enquanto, acho que tenho que seguir o que ele diz. Leandro está muito desconfiado e com certeza vai aumentar a vigilância sobre mim.

         - Tá bem, cumpra o seu papel, igual estava fazendo antes, enquanto eu vou pensar em uma maneira. Me informe sobre tudo e na primeira oportunidade eu te tiro de lá.

         - Acho meio difícil, mas vou acreditar em você.

         - Agora eu posso ver os seus machucados? Quero ver se não é algo mais sério.

         - Não se preocupe, eu vou por gelo e creme e logo irá melhorar. Ainda dói porque é recente, mas eu já me acostumei a lidar com essa situação.

         - Mas e se tiver causado alguma lesão interna mais grave?

         - Eu prometo que se a dor piorar eu te ligo. Eu realmente preciso voltar rápido.

         - Ta, se cuida.

         Abraço Sophie com cuidado e me despeço novamente. Aperto meu passo o máximo que consigo para adiantar meu caminho, não quero que Leandro arranje mais motivos para gritar.

                                                       Benjamin Padovanne

         - Amor, que saudades que eu estava de você! Não nos falamos muito nesses últimos dias – Helena diz entrando em minha sala tirando minha atenção do computador.

         - Desculpe, é que algumas coisas aconteceram e exigiram um pouco do meu tempo, eu devia ter ligado – vem até mim e lhe dou um selinho.

         - Está tudo bem agora? – franze as sobrancelhas.

         - Sim, não precisa se preocupar.

         - Falou com sua mãe?

         - Falei. Saímos para jantar anteontem e contei tudo a ela.

         - Ainda quero fazer um jantar com as duas famílias. Meus pais têm de te conhecer e quero conversar com sua mãe como sua noiva e não como uma melhor amiga.

         - A gente pode tentar combinar algo... – levantei da cadeira e saí de trás da mesa.

         - Você não me parece muito animado com isso.

         - É que...

         - Você quer cancelar o casamento? É isso? Está se arrependendo de ter aceitado o meu pedido? – vejo sua expressão entristecer e seus olhos começam a lacrimejar.

         - Helena... Confesso que estou confuso, minha cabeça ainda tenta assimilar tudo – sento-me no sofá e ela me acompanha.

         - Você não gosta de mim?

         - Eu gosto de você, mas quero ter certeza de tudo antes de entrarmos para um compromisso sério como esse.

         - E o que isso significa?

         - Vamos com calma. Um casamento é algo demorado e pode ser esse tempo que eu preciso para colocar tudo no lugar.

         - Então você não está terminando comigo?

         - Não, estou só pedindo para irmos com calma.

         - Meu amor, temos todo o tempo do mundo – se senta mais perto e pega em meu rosto alisando-o com os dedos – Eu te amo e tenho certeza que sente algo por mim. Não me importo de esperar para que esse momento seja perfeito.

         - Sério? Tem certeza que está tudo bem mesmo? Porque eu não quero te magoar…

- Benjamin, esse sentimento que tenho por você não vai embora só porque você quer ir com calma. Está tudo bem! Acho até ótimo irmos devagar, planejando os detalhes com calma e garantindo que será um momento lindo – sorri.

         - Obrigado, você é uma pessoa maravilhosa – a abraço.

         - Eu sei – rimos – Não é à toa que te tirei da fossa – rimos novamente – Não se preocupe, pois eu vou ensinar a esse coraçãozinho a me amar, é só você deixar ele com a porta aberta.

         Confesso que essa reação de Helena me surpreendeu. Não esperava que ela fosse levar esse pedido dessa forma tão compreensiva. Talvez pensasse que eu estivesse a enrolando.

                                                              Maya Costa

         - Precisamos conversar – é a primeira coisa que escuto ao entrar em casa.

         - Já conversamos hoje de manhã. Eu não vou falar pra ninguém sobre o que você fez e não estou nem aí para a sua vida, agora me deixa em paz, por favor – digo indo em direção ao meu quarto sem encará-lo, mas ele me segura pelo braço.

         - Não quero que aja dessa maneira, entendeu? Exijo respeito.

         - Respeito? Depois do que me fez ontem? – rio irônica – Acho um pouco difícil. Não consigo olhar na sua cara!

         - Pois vai ter que conseguir porque você vai ter que me ouvir agora.

         - Fala logo o que quer.

         - O meu irmão está vindo.

         - Isso eu já sei, você me falou de manhã. Não vou abrir minha boca pra ele, se é o que está pensando.

         - Acho bom mesmo, mas não é sobre isso que falo.

         - Então é sobre o quê? Eu não faço a mínima questão de saber sobre a sua vida, o que você faz ou deixa de fazer não me interessa.

         - Acontece que a presença dele aqui atrapalha tudo!

         - Atrapalha o quê? Você não faz nada o dia inteiro! Só fica sentado nesse sofá olhando para a televisão, não trabalha há anos.

         - Ele não sabe disso. Ninguém da minha família sabe que eu ganhei naquela loteria, que eu não trabalho mais e que você existe.

         - E o que quer que eu faça?

         - Você vai ter que o fazer acreditar em tudo.

         - Ahn?

         - Vai ter que se passar pela minha esposa.

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