Amor a Primeira Vista

Sonhei com Cristian, e acordei nas nuvens. Mal conseguia prestar atenção na aula. Sabrina não parava de me perguntar por que estava tão aérea. Nem eu saberia como responder. Não tinha visto Cristian durante toda a manhã e isso estava me matando.

Mal consegui dormir a noite, o rosto de Belinda inundava os meus pensamentos e até um simples cochilo, tornava - se palco de sonhos românticos e eróticos com ela. Fui pegar no sono, já passava das quatro da manhã. Quando acordei meu corpo denunciava o sonho erótico que acabara de ter com uma certa morena. Olhei no relógio e vi o quanto estava atrasado. Fui para o banho e desci em cinco minutos. Ainda com a camisa nas mãos. Passei na mesa do café e peguei uma fruta.

-Toma café direito, menino!

-Atrasado mãe- disse batendo no pulso como se houvesse um relógio ali.

Quando cheguei a faculdade, boa parte dos alunos já haviam ido para as salas, não consegui encontrar Belinda nem mesmo nas trocas de sala. No intervalo vi que ela estava distraída. Até me ver. Vi seu rosto corar e ela sorriu. 

-Oi.

-Oi.

-Sabe que o pai dela te proibiu de falar com ela, não sabe?

Notei quando ela fulminou a prima com o olhar.

-Só estava brincando.

-Eu não tenho medo do pai dela, minha família tem problemas com ele, eu não. 

-Vou deixar vocês conversarem.

-Opa! Até que enfim - disse Belinda. 

-Nossa Belinda, era só ter dito que eu saía- Falou enquanto saía pisando duro.

-Sua prima e tão dramática. 

-Você não sabe o quanto. O que queria me falar?

-Queria te conhecer melhor.

-Está me chamando para sair?

-Sim. Bem... É que...Deixa para lá. 

-Diga.

-É que...Não consegui tirar você da cabeça. 

-Você diz isso para todas?

-Na verdade sim, mas com você é diferente.

-E isso? Você também diz para todas?

-Vou te provar que sou diferente. Você me fez diferente.

-Você me conheceu ontem.

-Fala para mim que você também não está interessada em mim?

-Posso até dizer, mas não muda o fato de você ser um conquistador.

-E isso é problema para você? 

-Não - Disse sorrindo.

O sinal tocou e caminhamos juntos até a sala de anatomia, onde Belinda teria aula naquela hora.

-Nos vemos na saída? 

-Sim.

-Tchau.

-Tchau.

Fui bem devagar e beijei o canto da boca de Belinda, que fechou os olhos.

Ela me queria. Tanto quanto eu a queria.

Quando Cristian me beijou. Bem... Na verdade não foi bem um beijo. Mas quando aconteceu, algo se acendeu dentro de mim. E eu notei que não fora só ele que não conseguira me tirar da cabeça. Eu também estava assim. Minhas distrações durante a aula, todas elas tinham nome: Cristian Montesano. 

Na hora da saída ele me esperava encostado numa BMW. Eu não tinha carro. Ia sempre de carona com a Sabrina, que apesar de estar no mesmo ano de faculdade que eu ( que estava bem adiantada por conta do que estudei na Europa), era dois anos mais velha, então podia dirigir já que já tinha dezoito anos. Parecia que também era o caso de Cris. 

-Oi.

-Oi. Este carro é seu?

-Sim. 

-Hum.

-Algum problema?- Perguntou abrindo a porta para que eu entrasse.

-Não. Só não imaginei que tivesse idade para dirigir.

-Já tenho dezenove.

- Acho que só eu nessa faculdade que tenho como ter um carro mas não tenho um. 

-Menor de idade?

-Teoricamente você é um aliciador de menores.

-Por enquanto não. 

-Por enquanto?

-Sim. Por enquanto.

-Você é tão seguro de si, não é? 

-Diga - me uma coisa. Se não quisesse nada comigo, estaria dentro desse carro agora?-Perguntou enquanto saía do estacionamento da escola.

-Suponho que não - Disse sorrindo, enquanto desligava o celular.

Cristian dirigiu durante duas horas. O nosso destino era desconhecido para mim. Ele pegou a serra e eu soube que era o litoral. Minha mãe ficaria maluca com meu sumiço, então liguei novamente o celular e liguei para Sabrina.

-Onde você está sua maluca?

-Com Cristian...Na praia.

-PRAIA! Sua mãe já ligou duzentas vezes. 

-E o que você disse?

-Eu não atendi.

-E o fixo? Ela não ligou no fixo?

-Ligou, só que também não atendi. Sorte sua que minha mãe não tá em casa.

-Se ela ligar diga que eu estou na praia com você. 

-E o fixo?

-Sei lá dá um jeito.

-Já sei vou para a casa do Bryan.

-Isso aproveita para namorar um pouco.

-Boba. Até logo.

-Até e valeu prima.

Desliguei e disquei o número de mamãe. 

-Alô. Mãe? 

-Belinda Gabrielly de Mônaco e Castro, onde raios você está? 

-Estou...Na... Praia com Sabrina.

-Você sabe que não pode sair assim sem avisar. 

-Foi num impulso mamãe, ela chamou e eu aceitei.

-Seu pai não vai gostar disso. Não depois do que houve ontem.

-Talvez, mas se a senhora disser que permitiu...

-Ainda quer me envolver nisso?

-Está bem mamãe, vou voltar.

Cristian fechou a cara e os seus dedos ficaram brancos, demonstrando a pressão que exercia sobre o volante.

-Que dia pretendia voltar?

-Voltar?...

Olhei para Cristian e ele respondeu sem som.

-Talvez amanhã, ou depois mamãe. 

-Amanhã ou depois?

-Depois.

-Humpf! Esta bem, Belinda, espero que isso não cause problemas para nós duas. Comporte-se. 

-Sim, mãezinha. Obrigada.

-Está bem, Belinda, já chega. Até logo.

-Até mãe. 

Desliguei o telefone com um sorriso enorme no rosto. Cristian relaxou um pouco. Chegamos a casa trinta minutos depois. Ficava em uma área privativa da praia e era praticamente toda feita de vidro. Podia - se enxergar a praia. Ela ficava mais alta em relação ao mar. Suponho que por conta da mãe natureza que não se importa que haja uma casa ali.

No único quarto da casa, o chão também era de vidro, e Cristian contou, que quando a maré subia, era possível ver os peixes nadando ali em baixo. 

No banheiro havia uma banheira, que ficava próximo a parede de vidro, quem tomasse banho, era capaz de observar a movimentação do oceano. Não se sabia onde terminava o mar e começava a banheira. Era lindo.

A casa toda parecia surreal. 

Após me mostrar cada centímetro da casa, Cristian me chamou para a piscina.

-Não trouxe biquíni

-Tem um monte deles naquele armário - Disse apontando o móvel. 

Arqueei as sobrancelhas e caminhei até o armário. Quando abri, vi que havia uma quantidade absurda de roupas de banho ali.

-Para que tantas?

-Eu trago amigos aqui as vezes...De surpresa.

-E amigas?

-Amigas também, nunca escondi de você quem eu sou.

-Eu sei.

Escolhi um biquíni de cortininha com bojo, ele era branco com flores vermelhas. Olhei para ele esperando e ele se tocou que era para sair.

Quando Belinda saiu do quarto fiquei paralisado. Apesar de jovem, ela tinha um corpo escultural. Nada exagerado. Mas era perfeito. Não aparentava ter as curvas que tinha vestida de jeans e camiseta.

Levei-a até a piscina, que era de água do mar. Era como se o mar fosse uma continuação da piscina. Ela ficou deslumbrada.

Eu sou acostumada ao luxo, tenho tudo o que uma garota da minha idade gostaria de ter. Mas aquela casa não era luxuosa, era bonita e acolhedora. Seria o lugar que provavelmente eu gostaria de passar o resto da vida.

Cristian se aproximou de mim.

-Você não vai entrar?

-Talvez, mas você pode entrar primeiro. 

Ele aproximou seu rosto, que ficou a centímetros do meu. Eu podia olhar diretamente nos seus olhos e sentir seu hálito doce.

Cristian colou seus lábios aos meus, no nosso primeiro beijo. No meu primeiro beijo. A experiência foi mágica. Eu sentia como se partes do meu coração tivesse migrado para o peito dele. Não me sentiria mais completa sem ele. E isso significava uma coisa: guerra.

Minha família jamais o aceitaria. E eu teria uma briga enorme com eles. 

Geralmente , uma garota da minha idade, sendo da família a qual pertenço, estaria brigando com a família por causa de alguma amizade ou por conta de um garoto que a família julgue oportunista.

Mas com Cristian é diferente. A família dele é tão rica quanto a minha, e justamente o que nos mantém afastados é o dinheiro.

O beijo foi doce e carinhoso, mas não durou muito, meu celular tocou, interrompendo. No visor piscava mãe. 

-Oi mãe. 

-Filha você precisa vir.

-O papai não autorizou?

-Não, não é isso.

A voz de minha mãe era pura aflição. 

-É o Martin. Ele foi... Ele foi espancado. Will estava com ele e agora...

-O que houve? Diga de uma vez!

-Will está morto... E Martin corre risco de vida.

-Sim, estou indo mamãe. 

Desliguei o celular e liguei para Sabrina. 

-Alô. 

-Oi prima, você já soube?

-Já. Você está onde? 

-Ainda no Bryan. Soube pela mamãe. Mas como sabia que você estava com o Romeu aí, fiquei aqui.

-Vou te encontrar aí. 

-Sim. Te aguardo. Tchau.

Apesar das circunstâncias, eu precisava manter a mentira. 

Cristian me dirigiu um olhar de quem não havia entendido nada.

-Martin e Will foram espancados. Will está morto.

-Meu bom Deus, que horror.

Para mim não era novidade que Will e Martin eram namorados. Meu irmão era gay. E eu me orgulhava muito dele. Mas existiam pessoas que achavam(ainda acham) que ser gay é algum tipo de crime, ao qual tem que se pagar por ele com a vida. 

O que essas pessoas não entendem, é que cada um tem direito a sua liberdade, particularmente, quando Martin me ligou na Europa para contar, eu realmente fique chocada. Achei que meu irmão fosse se casar com uma mulher e ter filhos. Mas esta é uma decisão que não é minha. E não obstante, existem pessoas que acham que podem decidir por ele.

Cristian dirigiu até a São Paulo e me deixou na casa do Bryan. Peguei a Sabrina e juntas fomos de táxi até o hospital.

Na sala de espera, minha mãe estava abraçada a meu pai, que lançou um olhar de fúria e veio na minha direção. 

-Onde você estava?- Disse me pegando pelos ombros e chacoalhando.

-Eu... Estava na praia, com... A Sabrina. 

Meu pai fez algo que eu nunca esperei que ele fizesse. Deu um tapa em meu rosto.

Involuntariamente coloquei a mão no lugar. Meu olhar ficou vidrado. Olhei para ele com lágrimas nos olhos. Meu pai jamais havia me batido em toda a minha vida. Mas eu sabia o significado desse tapa: desespero.

No momento em que a lágrima escorreu. Meu pai caiu em si e me abraçou. 

-Oh! Meu Deus, minha filha. Perdoe-me.

Eu não respondi. Minhas mãos não subiram para o abraço, permaneceram ao lado do meu corpo.

Quando ele se afastou, eu procurei o rosto de minha mãe. 

Aos quarenta anos, minha mãe esbanjava beleza, seus cabelos loiros e longos, sempre presos em um coque comportado, a deixavam ainda mais bonita. Mas naquele dia, seu coque estava desgrenhado e seus olhos verdes, inchados de tanto chorar.

-Como ele está? 

-Mal, querida.

-Eu quero vê-lo.

-Agora não é possível. 

-Eu quero vê-lo. Meu irmão, vocês não podem me impedir.

Eu já não via mais nada. Queria que Cris estivesse ali para me abraçar. Senti minhas pernas ficarem bambas e meu pai foi quem me segurou para que eu não caísse no chão. 

-Martin! Eu quero vê-lo.

Uma crise nervosa teve início, eu já não era capaz de coordenar os meus movimentos. Uma enfermeira foi chamada e veio com uma injeção. Ela quase não consegue aplicar o medicamento. Mas assim que atinge minha corrente sanguínea eu vou sentindo o calmante agir aos poucos. Não durmo, mas é como se eu não fosse capaz de falar ou reclamar.

Mas eu ainda queria ver o meu irmão. Após muita insistência de minha parte, o médico liberou cinco minutos ou eu não me responsabilizaria pela minha sanidade.

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