As Habilidades de Luid

— Me solta! — Bradou o garoto de olhar agressivo. 

— Insolente, acha que pode me dar qualquer ordem, escuta garotinho, sua vida não é da minha conta e não preciso de autorização para te matar, então se quiser ver aqueles que ama novamente algum dia sugiro que comece a me obedecer. — Pierre engrossou um pouco mais a voz ao declarar as ameaças.

Luid não falou nada, apenas continuou com o olhar agressivo para o mais velho.

 " O garoto é durão, vai ser bom ter alguém assim aqui" — pensou o ruivo devolvendo a encarada mas com um sorriso ladino.

— Me fale algo que saiba fazer, algo realmente relevante... E eu posso garantir que seja libertado próximo ao lugar que foi encontrado. — Pierre falava em um tom suave, e queria persuadir o garoto, vendo que o mesmo era valente, seria bom ter o mesmo como membro fixo da tripulação.

— Eu... Sei manipular a pólvora, e Consigo fazer explosivos... Vai mesmo me libertar? — O garoto recuou um pouco de sua agressividade.

— Liberto... Se me obedecer, agora volte para aos porões da tripulação... — falou dando de ombros quando escutou os passos do mais novo indo atrás dele. — Tem uma voz muito boa para o canto, vim até aqui guiado pelo som. — comentou se lembrando de que foi acordado pela cantoria.

—Mama, cantava todas as noites, dizia que enquanto ela cantasse nenhum mal se aproximaria, mas naquela noite ela dormiu e não cantou e papa me sequestrou... Ela não queria morar na Inglaterra...— Luid tinha a voz angelical ao falar da mãe, e ao se lembrar da mesma até mesmo a raiva que sentia dentro do seu coração mediante aquela situação toda parecia amenizar.

— Uma visão romântica das crises familiares, sua mãe queria ir... Mas seu pai a abandonou e resolveu te levar, pois em sua mente sua mãe teria uma conduta duvidosa, é isso o que os adultos fazem. — Deduziu o mais velho se lembrando de varias vezes que já tinha escutado as conversas dos piratas que navegavam com ele, e também seu capitão já tinha deixado algumas damas pra trás.

— Não foi isso que papa e mama falaram... — Luid fez menção ao fato, pois tinha escutado a conversa dos pais no dia em que foi sequestrado e os pais haviam falado com ele com a mesma versão, mas deixou quieto, não queria seguir naquele assunto.

— Mas é isso que aconteceu, é assim que os ingleses gostam de agir, as damas são úteis em seus aposentos, e as que são respeitadas perante seus cargos na sociedade essas servem para uma apresentação formal. — Concluía sua linha de raciocínio olhando diretamente para o mais novo.

— Você teve mãe? — Luid indagou devolvendo ao mais velho um olhar doce, muito diferente do olhar que tinha direcionado ao mais velho a minutos atrás.

—Não, quando Brian me resgatou estava perdido com os porcos nos fundos de uma taberna em Nassau, não tenho muitas lembranças antes disso. — colocou o indicador da frente da boca como quem acabava de ter uma grande ideia, apenas reforçando suas expressões divertidas ao falar.

— Hn, eu queria que você tivesse uma mama, se um dia eu voltar pra casa te empresto a minha e ela pode cantar pra você também. — Luid era bravinho, mas tinha um pequeno coração gentil, quebrou o Pirata de cabelos vermelhos o deixando sem fala.

— Uma mama... mas antes de te liberar... Vai me mostrar como são as explosões e a manipulação da pólvora e se não for útil, acredite vai ser descartado. — Na cabeça de Pierre o garoto seria totalmente inútil, mas por alguma razão estava gostando mais do que deveria de manter aquele pequeno dialogo. — Mas agora entre no porão, aproveita que a noite esta calma e não tem nenhuma tempestade a vista e durma com os outros, precisa de alguma coisa?

— Eu estou bem, não tenho necessidade de nada. — Mentiu para não se enfiar em nenhum problema com os mais velhos ali dentro. 

Pierre acompanhou o mais novo, e o colocou envolto a alguns trapos que a tripulação geralmente usava como cobertores.

— Amanhã venho falar com você junto com o capitão, esteja atento. — Deu o aviso e retornou a saida, deixando o garoto pra tras.

Uma coisa que Pierre notou foi que não tinha uma alma viva acordada, e isso era raro de acontecer, passou por um dos vigilantes e se sentiu extremamente Irritado. 

— Acorde seu saco de merda, acha que está aqui de guarda para dormir? Mais uma vez que te pegue fazendo corpo mole vai levar um castigo e eu me orgulho muito de deixar os ossos a mostra. — Falou em tom ameaçador estapeando a face do homem.

— Entendido Primeiro!.

O homem não entendia como tinha caído no sono profundo, mas entendeu que se o imediato havia lhe ameaçado é por que estava de bom humor, em outra situação ele teria ganhado uma bala na testa, e ele já tinha visto isso acontecer várias vezes.

Aquela noite foi calma, nenhum ataque em quilômetros, e ali a única coisa que se tornava barulhenta era o assovio do vento, Pierre ja dentro da cabine a qual dividia com o capitão, se deitou e ficou encarando o uma mesa a sua frente, a mesma era um pouco rara feita de salgueiro branco, e ele olhava os detalhes entalhados na mesma e imaginava padrões desconexos até ser dominado pelo sono.

Acordou com o barulho que o capitão fazia ao jogar agua no rosto e logo tratou de falar sobre os eventos da madrugada, enquanto tomavam um café da manhã por assim dizer, o dia estava ainda com a mesma calmaria da noite, então podiam se dar ao luxo de ter um momento mais preguiçoso por assim dizer, como tomar um café da manhã antes de ir averiguar as coisas no conves.

—  Então me diga Pierre vai recrutar e treinar esse bastardo? — A pergunta saia mais como um insulto da parte do mais velho.

— Qualquer filho de meretriz merece um pouco de sangue nas mãos, eu vou treinar essa criança, ele demonstrou ter bastante agressividade no olhar, sabe que gosto de pessoas com atitude para colocar na tripulação. — Falou enquanto esmigalhava uma massa que tinha acabado de ser assada.

— Se as explosões forem realmente significativas, podemos ganhar a frente do Gared, aqueles malditos se gabam do fogo que lançam a quilômetros, se tivermos explosões do nosso lado podemos ter uma vantagem muito superior. — O homem ponderava a respeito gesticulando bastante com as mãos e com um sorriso ladino.

Pierre se levantou e foi até a entrada da cabine e o primeiro diabo que viu chamou e ordenou que buscasse a criança que havia sido resgatada a cerca de duas semanas, o homem não se aproximou muito do imediato, apenas acenou com a cabeça e saiu apressado, o mesmo homem que por ventura era o mesmo que tinha levado algumas bofetadas naquela madrugada.

O Pirata que fazia a guarda das entradas do porão e cabine encontrou o garotinho limpando o convés de joelhos no chão e parecia estar exausto, e esse detalhe até lhe assustou, o mar estava calmo e sem nenhum inimigo por perto, e só tinha o pequeno ali limpando, os outros pareciam que estavam se esbaldando com a comida.

— Você! Garoto! Vem comigo... AGORA! — Elevou um pouco a voz ao se dirigir ao garoto.

Luid se levantou e bateu as minúsculas mãos nos joelhos a fim de fazer a sujeira desgrudar do tecido, o que era praticamente impossível. Luid acompanhou aquele homem e ali percebeu que nunca tinha entrado naqueles lados do navio, até parecia um lugar decente, não havia sujeiras como no porão, não que isso fizesse alguma diferença já que o mesmo sempre se acolhia em algum canto do convés.

Se aproximou de uma porta de madeira com detalhes sombrios entalhados na mesma, até parecia que ao atravessar aquela porta iria direto para um portal do submundo.

A porta foi se abrindo e logo dentro da sala estavam Brian e Pierre, um do lado do outro, estavam mesmo esperando o pequeno garoto entrar.

— Entra, não precisa ter medo. — Pierre ordenava com sua voz um pouco mais áspera do que o normal.

— Devagar escorpião... ou vai acabar matando a criança de medo. — Brian falou segurando no ombro de Pierre, vendo que o mesmo estava um pouco mais alterado.

Luid entrou e a porta foi fechada pelo guarda que o havia levado até ali, Luid olhou a cabine e ficou encarando os artefatos dourados, de todos os lados havia ouro, as duas camas separadas por um biombo feito com estrutura de palha, acima de sua cabeça o lustre que parecia ser feito de pequenas gotas de agua da chuva em um dia ensolarado de tanto brilho que elas emitiam.

Seus pés descalços sentiam a macies da pele de um animal e aquela mesma pele se estendia por todo o cômodo em que estava, era na coloração preta, a macies parecia que estava acariciando seus pés de tanta delicadeza, olhando curioso a tudo em sua volta logo parou seu olhar nos dois seres a sua frente.

— Tem uma garrafa com pólvora naquela mesa — Brian indicou o local apontando com o indicador — Se conseguir fazer daquela porcaria algo útil, pode começar a ter um tratamento um pouco mais saudável.

O garotinho andou na direção da mesa com a garrafa, se sentou na cadeira toda envolta pela mesma pele de animal que era vista no chão.

Pegou a garrafa e retirou a rolha do bocal e analisando um pouco nas mãos e cheirando a mesma logo entendeu que aquilo se tratava de uma pegadinha, mas ele não se deixaria ser enganado ou feito de besta, tinha um alto conhecimento e fora ensinado por sua mãe desde os cinco anos de idade.

Levou a garrafa para o lado de fora da cabine andando um pouco apressado Brian e Pierre acompanharam o garoto para ver aonde o mesmo iria.

— O que acha que ele vai fazer? — Brian perguntava apoiando a mão no ombro do escorpião enquanto andavam.

— Não faço a mínima ideia, eu só conversei com ele, vamos ver o que ele pode fazer. — o mais novo ria um pouco da cena que via, um garroto com uma garrafa nas mãos que parecia bastante nervoso.

Antes de alcançarem o lado de fora o guarda se aproximou do capitão e falou algo em seu ouvido, sobre apenas a criança estar trabalhando.

— Se o garoto foi útil como imaginamos, vamos dar um tratamento melhor, se não for, que seja o alimento do primeiro tubarão que encontrarmos. — Brian não era muito de se preocupar, Pierre tinha sido a unica criança que ele sentiu empatia e a adotou como seu filho, logo o treinou com a mesma veia de maldades em alto mar.

Luid foi para um dos canhões e pegou um pavio e assim que o puxou usou uma de suas habilidades ali, algo que tinha aprendido com sua mãe, se não tiver nada em mãos recicle, então ele pegou a porcaria ineficaz da garrafa e misturou aos restos do pavio que havia acabado de pegar, mas é claro que tem a magia das sereias envolvida e por mais que não soubesse de suas origens ele sabia fazer aparecer e desaparecer assim como sua mãe, e diante dos olhos de Brian e Pierre criou uma pólvora tão potente que assim que colocou fogo na ponta do pavio e o ligou aquela garrafa a mesma se explodiu em milhares de pedaços fazendo cair uma chuva de pó de vidro em sua cabeça, os outros tripulantes ficaram assustados com a pequena explosão, deixando Brian sem entender nada assim como Pierre.

— Como fez isso garoto? — A voz de Brian era perigosa, qualquer um se sentiria ameaçado com aquela entonação forte e grave.

Luid gentilmente pegou o pavio de outro canhão e mostrou ao Capitão Brian.

— A pólvora da garrafa era velha e estava úmida, mas eu coloquei a nova no fundo da garrafa e a velha na borda, fazendo a pressão dentro da garrafa se intensificar e causar a explosão... — Luid deu um sorriso amável, nem sabia se tinha logica a explicação fajuta que tinha dado, mas ele não podia dizer que usou um truque aprendido com sua mãe.

— Esperto... Pierre!? Pode treinar essa criança, creio que tenham feito um acordo sigiloso, não descumpra com sua palavra Escorpião.

— Tem minha palavra de que não descumprirei uma única linha do acordo... — Pierre respondeu em um tom frio.

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