02

Mais um dia se passou, no total, foram 4 e eu estava pronta para seguir em frente, sem continuar questionando ou relutando com a minha nova vida. Quero aproveitar essa oportunidade, mesmo eu não acreditando muito nessa situação em que estou enfiada.

Disse para minha babá Agatha, que estava disposta a me socializar com o mundo outra vez. A desculpa para eu me isolar esses dias em meu quarto, foi a minha saúde, que ainda estava duvidosa.

– Lis!

Eu estava na sacada do meu quarto, vislumbrando o vasto jardim da mansão em que agora é minha.

– Lis?

Alice tinha uma vida bem humilde e agora, pareço viver em um mundo em que minha vida é estravagante. Como vou lidar com tanta mudança assim?

Aqui parece ser um passado, é nítido, pelas roupas e decorações coloniais. A tecnologia aqui nunca existiu, então não sei como passar o tempo ou consegui sobreviver longe de meu celular e da internet.

– Lissandra!

Sinto uma pesada mão em meu ombro e uma voz grossa me chamando. Assusto-me e desperto do meu transe. Surpreendida, viro-me e fito os azulados olhos do homem loiro e bonito que estava com a mãe da Lissandra quando vieram me ver assim que despertei.

– Existe algo que te incomoda? – Ele me pergunta preocupado. – Eu te chamei algumas vezes...

Ele é o pai da Lissandra. Abel, o Duque de Griffin e também é o Primeiro Ministro deste país, Vangalô.

– Nad... nada não... – Balanço a cabeça nervosa em resposta.

É por isso que eu moro em uma mansão tão grande.

– Estou preocupado, se algo te incomoda. – Ele insiste e parece ficar muito sério.

O observo bem e sinto que ele está tão ansioso quanto eu.

O que devo fazer? Como Lissandra faria isso?

– É que você está tão calma e tranquila.

Agora eu sei como ela se comportaria. De forma mimada ou até mesmo agitada e estressada com tudo, mas eu não sou assim.

– Parece que você mudou de corpo com outra pessoa. – Ele tenta brincar para mudar um pouco o clima, mas não ajudou em nada, porque foi exatamente isso que aconteceu.

– De maneira nenhuma! Isso não poderia acontecer. – Respondo tremula e rindo de nervosa.

Ele sorri aliviado.

É tão difícil mentir...

– Lis! – Ele fala sério comigo. – Deixe-me saber tudo o que te preocupa. – Ele murmura e se inclina um pouco para ficar a minha altura.

Seus olhos azuis estão mais pertos de mim e consigo ver melhor. São lindos.

– Pode ser... – Falo envergonhada.

Meu pai estala os dedos e em um sobressalto, fala exaltado.

– É culpa da garota que você me contou da última vez, a filha do Conde de Ransey?

O que eu devo falar?

– Ela te incomodou de novo?

“Não! Ela é inocente.” Falo comigo mesma, com muita vontade de exteriorizar isso. Eu queria poder olhar no fundo dos seus olhos azuis e dizer que a única que estava incomodando os outros é a sua filha preciosa.

Agora eu consigo compreender porque a personalidade dela é tão deplorável... ele a mima demais.

Lissandra é uma verdadeira filhinha do papai.

Sinto um aperto em meu coração porque começo a lembrar dos meus pais, quando eu ainda era a Alice. Consigo ouvir em minha cabeça a voz da minha mãe me repreendendo apenas para fazer bonito na frente do meu pai, um homem escroto.

“Como se atreve a comer apenas o que você quer? Você é apenas uma menina!!” Ela dizia.

Meus pais tinham uma forte tradição de preferirem filhos acima das filhas, então eu era a escória da família.

“Você deve comer os acompanhamentos que seu marido deixar, quando você se casar.” Minha mãe me criava para ser a perfeita dona de casa, submissa ao marido.

Mesmo depois de me formar no ensino fundamental, eu não podia comer com meu irmão mais novo na mesa principal e sim na cozinha, sozinha.

Eu fui para longe estudar na faculdade como desculpa, porque eu queria morar sozinha, longe da minha família e por essa razão, eles não pagaram meus custos de mensalidades ou manutenção. Tive que estudar e trabalhar duro.

Sinto uma mão acariciar minha cabeça.

É o Abel.

– Eu não sei o que está acontecendo, mas como seu pai, eu sempre estarei do seu lado. – Ele sussurra cheio de orgulho e me acaricia mais. – Minha filhinha.

Esse era o tratamento que eu realmente merecia dos meus pais, mas nunca tive esse privilegio, que estou tendo agora no corpo na Lissandra.

– Oh! Ou talvez eu... – Abel para de súbito. – Eu fiz algo de ruim para você? – Ele pergunta já lamentando e com lagrimas nos olhos. – Você não me chama de pai desde que você acordou!

Abel parece ser um cara tão legal, mas por que ele pensa isso? Ele faria algo?

Eu não me sinto confortável, porque parece que estou mentindo para ele. Porém, eu agora sou a Lissandra.

– Você não fez nada... – Engulo em seco. – Papai!

Não foi complicado... ele sorriu orgulhoso e me puxou para um abraço.

Eu vou viver o resto da minha vida como Lissandra, a filha do Duque de Griffin, então posso me sentir confortável com isso? Talvez dessa vez eu possa receber amor dos meus pais e ser capaz de viver feliz.

O abraço de volta.

Lentamente um sorriso se forma em meus lábios.

Eu posso viver com essa felicidade?

Claro que posso!

Eu não farei mais nada de mal. Então ninguém vai me chamar de garota malvada novamente.

O Príncipe e a filha do Conde, podem amar um ao outro e eu posso viver pacificamente com os meus pais...

– Ah, tenho boas notícias para você. – Abel, meu pai, fala empolgado desfazendo o abraço. Nos encaramos. – Eu ia te contar no jantar, mas...

Uma boa notícia?

– Você está curiosa? – Ele pergunta cinicamente rindo. Balanço a cabeça em afirmação.

Ele vira o rosto e aproxima sua bochecha do meu rosto. Ele quer um beijo no rosto. Sinto meu rosto arder de vergonha. Beijar os pais? Nunca fiz algo do tipo. Respiro fundo e beijo sua bochecha. Vou deixar isso acontecer, já que ele é muito bonito.

Ele me surpreende com outro abraço, dessa vez mais exagerado.

– Ah, porque eu tenho que m****r minha amada filha para o palácio? Eu definitivamente ficarei triste. – Ele afirma cheio de amor.

O quê? O Palácio? Do que ele está falando? Eu não entendo.

Ele se afasta, segura em meus ombros ainda sorrindo.

– Você foi escolhida para ser uma Magna.

Magna?

O que é isso?

Flashs surgem em minha mente e agora eu sei o que é. Está nas memorias da Lis.

Magna é como uma Imperatriz Preliminar.

O Império Decraberom tem um sistema de hierarquia, mas a habilidade é mais importante que a sua posição. Em sucessão ao trono, a habilidade tem precedência sobre sua posição. Qualquer um que seja filho do Imperador pode ser o próximo monarca, contanto que eles possam testar suas habilidades e reunir apoiadores.

Sob a competição, o Príncipe Herdeiro também é frequentemente substituído. Nesse caso, outros irmãos e irmãs são os próximos na fila para o trono. É claro, a Imperatriz é escolhida através dessa intensa competição. Isso porque, junto com o seu marido, a Imperatriz escolhida se torna a governante do Império.

Tornar-se Magna é o primeiro passo do longo processo para se tornar a próxima Imperatriz.

Em outras palavras... eu estou condenada!

Meu corpo estremece e fica nítido em minha cara, meu desespero com tudo isso que está acontecendo. Meu pai percebe e fica também desesperado.

– Você... você não parece feliz, Lis...

Eu só quero viver uma vida pacifica, mas... meu futuro promissor me assombra.

– Eu me esforcei para que você pudesse ser escolhida, tem alguém que não quer você lá. Eu tive que fazer muitas coisas para inclui-la na lista. – Abel explica.

Minha cabeça começa a doer por causa de tantas informações que estou recebendo de uma só vez. Eu preciso administrar duas cabeças, a minha e a da Lissandra. São pensamentos e mundos diferentes e tudo está como uma maldita bola de lã, em que eu preciso desembaraçar rapidamente para continuar fazendo parte disso tudo, sem levantarem suspeitas ou me chamarem de louca.

Olho para todos os lados em busca de alguma resposta ou salvação, mas estou presa nesse mundo, nesse corpo e principalmente, nessa situação e agora tenho que usar todo o conhecimento das Lis e suas malditas memorias, para sobreviver.

Abel, meu pai, parece triste com minha reação. É como se eu estivesse nesse exato momento, jogando toda sua luta para me incluir na lista, no lixo. Talvez seja minha vontade, mas ver o homem que faz todas as minhas vontades com essa carinha de cachorro sem dono, acaba comigo.

– Eu acho que alguém conspira conta você... – Ele sugere preocupado e pensativo.

Eu acho que esse alguém está certo.

– Ou talvez você tenha ouvido as noticias sobre a Família Ransey? – Ele pergunta com cautela.

Ransey é... lembro-me do príncipe herdeiro ao lado de uma outra mulher... sua companheira, sua namorada. A Condessa de Ransey, Danielle. Ela foi escolhida também como uma Magna.

Faz sentido porque o Príncipe Herdeiro a quer, mesmo se sua família não vem de uma família respeitável. Isso não importa muito.

Beleza excepcional e um caráter amável e muito dedicada, Danielle é a melhor candidata para ser a Imperatriz.

O problema sou eu quem será deixada para trás.

Se eu não for selecionada como Magna, eu não poderia ir ao Palácio, mas eu não acho que há uma chance de eu me tornar a Imperatriz.

Fico imaginando o Príncipe e a Danielle juntinhos, trocando caricias e muito amor. Eu preciso morar com eles... como a segunda esposa?!

Meu corpo estremece.

De jeito nenhum!

– Eu acho que você foi rejeitada por causa daquela garota... – Ele fala um pouco decepcionado. – Bem, eu tentei o meu melhor porquê... – Paro de brigar comigo mesma internamente e presto atenção no Abel. – Você realmente queria ser... claro, nós realmente não queríamos m****r você para o Palácio, mas... – Ele foge do meu olhar e fica triste.

Seguro sua mão, o surpreendendo.

– Papai, não! – Afirmo convicta. – Estou muito feliz! – Minto. Ele abre um largo sorriso que alegra meu coração.

– É sério? – Ele questiona. Assinto sem graça.

Eu fui escolhida por uma ordem Imperial. Eu não posso recusar, mesmo que eu queria. Além disso, mesmo sabendo que ele vai ter o despeito dos outros. Ele conseguiu a oportunidade para mim... embora eu não quisesse.

É inevitável!

– Então vamos nos preparar para a visita imediatamente! – Meu pai falou todo empolgado saindo do quarto

Novos vestidos, joias... eu estou começando a gostar disso.

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