Protocolo Revogus: O Início do Fim
Protocolo Revogus: O Início do Fim
Por: Gregory Vieira
Prólogo

A Cidade Baixa, um dos bairros boêmios mais famosos de Porto Alegre vivia dias de desalento fora do comum durante as semanas que se passavam. Acostumados a receber milhares de pessoas todos os dias, uma crise econômica abalou as estruturas não somente da cidade, mas sim do estado inteiro. Estranhamente, um fenômeno devastou algumas plantações na região norte do Rio Grande do Sul, encarecendo o preço e deliberando um esforço completo para recuperar a região. A alta do desemprego que saiu dos 8,5% para 12% afetou a área do lazer e entretenimento, o que consequentemente levou ao aumento de protestos contra o governo, cobrando atitudes que sanassem a sangria do estado e a resolução do problema na região norte.

Mesmo assim, o bairro conseguiu se manter com costumeiros visitantes. Os fiéis não abandonaram sua peregrinação semanal até os mais tradicionais bares e baladas noturnas de todos gêneros musicais possíveis, que muito já foram de reclamação dos moradores.  O intenso barulho e ruas inundadas de pessoas bebendo, foi substituída por grupos tímidos de baladeiros, que tomavam o bairro agora como um refúgio tranquilo após a tensa jornada de trabalho dos dias úteis.

Alguns males vieram para o bem, diziam muitos dos moradores mais velhos. A tranquilidade reinava com soberania ao longo dos dias, mas com a pouca presença de transeuntes, o bairro foi tomado por uma enxurrada de sem-teto. Essa porção da população fragilizada, se instalava em prédios abandonados e abaixo das marquises de estabelecimentos que funcionavam apenas aos finais de semana. Aproveitando-se disso, grupos mal intencionados aproveitavam para realizarem pequenos furtos e baterem carteiras sem serem notados. A alta da criminalidade, colocou os sem-teto como bode expiatório de grupos criminosos. O que ocasionou no também aumento da violência contra a população marginalizada.

Em uma quinta-feira, um grupo de jovens universitários se reunia em uma das mesas postas na calçada de um bar.

— Eu acho uma palhaçada toda essa encenação do governo, isso é tudo para se reelegerem novamente – afirmou uma jovem de cabelos cacheados e pele parda, trajada em um vestido floral.

— Ah, Denise. Vocês de humanas só pensam em teorias da conspiração – ele bebeu um gole da cerveja – Não sei quem é pior, vocês ou os terraplanistas – brincou Hugo, um rapaz muito forte de olhos azuis e cabelo curto ruivo. Vestia uma jaqueta jeans e camisa branca.

— A cinquenta quilômetros por hora, quem causa mais estrago, senhor físico? – A outra menina de cabelos platinado e rosto meigo perguntou sorrindo, sobre o torso usava uma camisa de alça branca quase transparente. Na qual, era possível ver o sutiã de renda negro que valorizava seus seios pequenos.

— Vocês estão muito engraçadinhos hoje, principalmente você Beatriz – Denise fez uma careta enquanto mexia no copo de cerveja pela metade com a sua mão direita cheia de bijuterias.

— Eu sempre estou – sorriu com desdém – não é à toa que fui Miss RS cinco anos consecutivos.

— Bom pra você – Denise bebeu dois goles da cerveja, quase esvaziando o copo – será que os rapazes vão demorar mais? André não estava nada bem – ela apoiou os cotovelos na mesa, fazendo com que o seu rosto redondo ficasse repousando na sobre as mãos.

— Aquele animal misturou cerveja, vinho e cachaça das mais porcas. Eu falei que bancava, mas né. Ele não ouve e continua tomando essas porcarias – acusou Hugo bebericando mais um pouco da cerveja gelada.

— É, eu não posso defender ele nesse caso – Beatriz que sentava do lado de Hugo, colocou a mão na sua perna.

— Não pode mesmo, é seu namorado dona Beatriz. E ele já não é mais criança para fazer essas cagadas – suspirou Denise. Hugo ergueu a sobrancelha tentando esconder a vontade de rir. Mas ele mantinha com Beatriz um relacionamento escondido, ao mesmo tempo que Beatriz e André namoravam. Hugo também tinha outro relacionamento, em prática namorava com Sara, melhor amiga de Beatriz. Mas, não era nada assumido até o momento.

— Eu sei, se a mãe dele não cuidou e não explicou o que é certo e errado. Não vai ser eu que vou fazer isso – ela riu mostrando os dentes perfeitamente brancos – eu sou graduanda em medicina, não babá – quando terminou de falar, Beatriz notou que Denise olhava para a entrada do bar, então colocou sua mão sobre a virilha de Hugo e apertou. Ele a olhou e sorriu de lado, retribuiu o olhar com uma face devassa.

Denise que prestava mais atenção, ouvia a voz de Roberto pedindo desculpas ao gerente pelo banheiro. Esperançosa pela volta do rapaz alto de pele negra e sorriso encantador, aguardava pensando nos dois em momentos íntimos. Ela nunca assumia, mas possuía uma queda, ou melhor, um abismo por Beto, apelido que ela mesma deu a ele. Mesmo em cursos distintos pela universidade federal, ela cursando filosofia e ele Letras, dividiam muito tempo no DCE. Entre um jogo de sinuca e outro, ela aproveitava o máximo para seduzir Beto de maneira desajeitada.

Hugo era amigo de longa data de Beto, os dois frequentavam a mesma academia no centro da cidade na época de ensino médio. Ambos tinham projetos distintos, mas ambos foram aprovados na federal. Em uma das festas para recepção de calouros, Hugo conheceu Sara e Beatriz que dividia algumas cadeiras com André, a quem tem um relacionamento. Assim, o grupo de amigos se formou, entre segredos, mentiras e verdades.

— Obrigado novamente, eu já volto para pagar. Só vou levar meu colega ali – dizia Beto sorridente.

— Por nada, senhor. Sem problema algum – sorria uma das atendentes vestindo uma camisa social preta e um avental da mesma cor.

Beto desceu os quatro degraus carregando André, o típico nerd de apartamento. Os óculos redondos, cabelo curto escuro como o carvão, o rosto perfeito para redes sociais e olhos cor de âmbar. Filho de um Senador da república, vivia com dezenas de regalias e como passava o tempo sozinho, aproveitava para fazer coisas que não poderia com a presença de seu pai, estilo playboy burguês. O corpo franzino era escondido por um moletom cinza, calça skinny preta e tênis branco devidamente vomitado.

— Bah, pessoal. Dedé fez uma merda gigantesca no banheiro – riu Beto ao colocar o amigo sentado – vou ali pagar e já volto – avisou.

— André tem algum problema sério, olha o estado dele – Hugo colocou a mão no nariz do amigo e viu que respirava – bom, pelo menos tá vivo – zombou para o restante do grupo.

— Beto, espera aí – pediu Beatriz ao ir para perto de André e tirar de seu bolso a carteira dele. Sacou um cartão e entregou para Beto.

— Sério? Tem certeza? – Ele perguntou sem jeito.

— Claro, esse bunda mole não sabe a vergonha que fez a gente passar. Não tem o que pague isso – ela revirou os olhos ao cruzar os braços – aliás, a senha é o aniversário dele.

— Bom, se você insiste – Beto deu de ombro e foi seguido por Denise.

— Eles deveriam ser um casal – disse Beatriz os olhando.

— Concordo, dariam um bom casal. Mas sabe o que é melhor? – Perguntou Hugo para a loira platinada.

— O que? – Ela curiosa, notou que André estava de cabeça baixa, meio morto e meio vivo por causa do álcool. Então, deu dois passos para trás e se encostou em Hugo.

— Você em cima de mim – ele praticamente sussurrou isso no ouvido de Beatriz, que o provocou levemente esfregando seu bumbum no ruivo.

— Sabe, eu preciso de um pouco disso. Depois dessa vergonha, preciso relaxar – ela respondeu com vilania nas palavras.

— A gente vai até meu carro que deixei no estacionamento 24 horas três quadras pra baixo, levamos esse animal pra casa e podemos ir para a minha. O que acha? – Hugo sugeriu passando o dedo indicador nas costas de Beatriz.

— Eu seria louca se negasse né – ela colocou a mão para trás, tocando a coxa de Hugo com indecência.

Beto desceu primeiro as escadas, sorria enquanto conversava com Denise. Mas ao ver a cena, dos dois praticamente se pegando diante André fora de si, fechou o rosto. Ele foi até a mesa e estendeu a mão para entregar o cartão.

— O de vocês três eu coloquei no cartão do André, o meu e da Denise eu paguei – ele disse sério.

— Por que você é tão teimoso, Beto? Sempre certinho? – debochou Hugo.

— Cara, eu nem vou perder meu tempo te respondendo – Beto avisou com o olhar sério ao erguer.

— Qualé Betinho, não me olha assim mano – ele gesticulou – o que eu fiz dessa vez? – Perguntou Hugo se fazendo de desentendido. Beto se virou e continuou caminhando. Denise que estava com ele foi até Beatriz e Hugo.

— Beto avisou que vocês podem ir, ele vai levar o André para o apê dele e depois vai me deixar em casa – Denise avisou.

— Eu deixei o meu carro no mesmo lugar que o Beto – Hugo respondeu desanimado. Denise deu as costas e acelerou o passo para ficar ao lado de Beto.

Em silêncio Hugo e Beatriz continuaram seguindo o trio a uma certa distância.

— Cara, eu preciso vomitar – disse André com a língua enrolada.

— Tem certeza cara? Falta pouco pra eu te levar pra casa – Beto parou em uma das esquinas, o lugar estava vazio. Além deles, apenas um morador de rua vinha cambaleante em sua direção.

— Tenho – André se soltou e se apoiando na porta metálica de uma loja fechada, começou a vomitar.

— André vomitou por todos nós hoje – Hugo chutou uma garrafa de água mineral que estava sob a calçada – para ser sincero, você deveria deixar esse inútil e ficar comigo – ele sugeriu com desdém.

Beatriz se manteve em silêncio e acelerou a passada para se distanciar de Hugo e acudir André. O ruivo não entendia a pequena loira platinada. Era tão simples parar de viver em um relacionamento infiel e ficar com ele, tantas noites que viveram e parecia um casal, mas ao que tudo indicava, não era nada além de prazer.

— Ei, Dedé. Você está bem? – Perguntou Beatriz acariciando os cabelos negros do garoto. Ele apenas gesticulou algo indecifrável.

— Melhor eu ir pegar o carro – avisou Beto – vocês me esperam aqui?

— Vai lá, a gente espera – sorriu Denise balançando seus cachos. Beto se despediu e acelerou o passo em direção ao estacionamento.

André continuava vomitando, Beatriz ao seu redor, Denise olhava para os lados buscando algum risco naquela madrugada. Apenas aquele trôpego morador de rua, vinha em quase zigue-zague pela rua adjacente. Bastante arborizada, as sombras das árvores e a sombra noturna pleiteavam cuidado para quem andasse sozinho naquele horário.

— Amigo, não tem nada pra ti aqui não! – Avisou Hugo atravessando a rua para ficar próximo de Beatriz e André.

Não houve resposta, o homem continuava vindo pelas sombras.

— Deixa ele, Hugo. É só mais um bêbado – disse Beatriz.

— Igual o seu namoradinho aí? Me poupe gata – sorriu de lado em zombaria clara.

— Hugo, você é muito estúpido algumas vezes. Credo – Denise o ofendeu enquanto mexia em uma das redes sociais no seu celular de última geração.

— Acha que eu ligo pra sua opinião? – Ele olhou de rabo de olho para a morena – se eu fosse você, me preocuparia com a gordinha do teatro que vem se aproximando do Beto. Ela é bem gata, pegava fácil – Hugo a provocou, colocando uma expressão de raiva em seu rosto.

— Filho da puta – ela murmurou franzindo o cenho.

O homem continuava a se aproximar, desta vez a luz o iluminava. Ele tinha sangue em suas vestes maltrapilhas. A touca escura escondia os cabelos grisalhos envoltos em dreads que caiam sobre seus ombros até o meio de seu torso.

— Amigo, eu já avisei pra sair! – Gritou Hugo dando dois passos à frente.

— Ele está machucado? Parece que levou uma surra – Beatriz continuava acariciando André, que estava tão branco quanto as nuvens. Praticamente desidratado já.

— Eu quero é que se foda! Eu avisei e ele não parou – Hugo caminhou contra o homem e desferiu um rosto em seu rosto, o derrubando – me escuta quando eu falo – o ruivo chutou o homem na barriga.

— Hugo, para com isso! – Beatriz correu para interferir, mas foi empurrada com raiva por ele.

— Sai daqui sua vadia. Vai com o teu namorado, ele mal consegue ficar em pé. Aliás, não é só ele que não consegue né! – Hugo irado, gritou no meio da rua. Se aproximou de Beatriz, que o olhava incrédula e assustada – você, você é uma pessoa horrível, Beatriz.

— Hugo – ela o chamou nervosa.

— Quer falar algo agora? Vai se defender por trair o namorado precoce? – Hugo irritado era amedrontador, seus olhos azuis tremiam de raiva. O grande rosto quadrado era valorizado pelos cabelos ruivos que precisavam de um novo corte.

— Hugo – ela deu dois passos para trás, tremendo.

— Hugo! Cuidado! – Gritou Denise.

O ruivo ao se virar, viu o morador de rua em pé. Como um animal, pulou em sua jugular com os dentes. Não teve tempo para se defender, a garganta foi aberta sem dificuldade. Mesmo sendo vigoroso, Hugo não conseguiu sequer empurrar o atacante. Se debatia enquanto era devorado. Em um último suspiro de vida, olhou para trás e viu Beatriz com as mãos na boca. Estava em choque, assustada com a cena grotesca que via. Antes de tudo turvar, conseguiu enxergar Denise correndo para ajudá-lo. Hugo tentou falar, mas era tarde demais para poder se desculpar.

Denise golpeava o morador de rua com sua bolsa, gritava para parar. André que via tudo girando, tento ajudar. Mas resvalou na descida do cordão e caiu de cabeça no asfalto.

— Beatriz, liga para a polícia! – Gritou Denise para a loira – rápido!

Catatônica, olhou para seu amante que era devorado. Sua amiga desesperada, tentava ajudar. André caído, inconsciente no chão e talvez estivesse ferido. As pernas tremiam, não sabia o que fazer.

— Garota! Faz algo – Denise gritou e essa distração, a fez ter uma de suas pernas agarrada. O morador de rua, pegou com a mão ensanguentada e fria a canela da jovem.

Assustada tentava se desvencilhar da forte pegada, com a sola do outro pé, tentou pisotear a cabeça. Mas não dispunha de força suficiente para sair. Para sua surpresa, os olhos de Hugo se abriram. O belo e destacado azul de suas írises, deram lugar a pupilas estranhamente dilatas e veias sanguíneas oculares em demasia irritação.

— Hugo? Me ajuda! Por favor! – Berrava a morena na luta para se soltar. Porém, sua inocência pela situação que passavam a fazia acreditar que aquele ainda era Hugo.

Denise deu um passo para trás e não tendo a noção do espaço, acabou por bater o calcanhar no meio fio, caindo de costas na calçada estava em desvantagem. Com soladas, atingia o rosto do estranho. Hugo que caído abaixo do corpo deste mesmo, esticava seu braço esquerdo na tentativa de apanhar a carnuda perna da morena. Seus maxilares batiam um contra o outro, pareciam desejar com frenesi abocanhar carne fresca.

O corpo de Hugo se arrastava cada vez mais, o sangue escorria sobre o asfalto. A jugular exposta formava quase uma macabra segunda boca. Denise entrou em pânico, quando o demônio canibal ruivo conseguiu agarrar seu pé, seria o seu fim. Ela fechou os olhos e um fuzilaria de pensamentos estralaram em sua mente. Se arrependia de não ter falado a real para Beto, por ter saído brigada com a sua mãe naquele dia. Por não ter deixado a marmita pronta do seu irmão mais novo, que por ventura, trabalhava em dois turnos para ajudar com o aluguel e o presente secreto de formatura – que ela descobrira sem querer – uma viagem para a Grécia por 10 dias, com tudo que se podia ter direito. Uma lágrima sincera corria de seu rosto e a baba tétrica das duas feras espirravam ao que abocanhariam suas pernas.

Ela não sentiu nenhuma dor, apenas um grito abafado pelo rosnar dos maníacos. Denise abriu os olhos e viu Beatriz na sua frente. A loira teve seus dois calcanhares mordidos ao invés de suas pernas.

— Levanta, garota – ela dizia com dificuldade, chorando involuntariamente pela dor alucinante que dilacerava a sua carne.

— Beatriz – a morena murmurou aos prantos.

— Pega o André – ela fez uma cara de dor – e acha o Beto. Eu me viro – ela ajudou a amiga a levantar ao passo que, sentia os dentes arrancarem sua carne e seus tendões – Corre!

Denise balançou a cabeça e correu para acudir André que ainda estava caído no asfalto, desacordado. Beto vinha dirigindo escutando rock indie, o seu preferido. Não parecia, mas além de fazer Letras, Beto possuía uma banda chamada Rock n Rains. Assoviava na medida que as notas iam alterando, acompanhando o ritmo de uma das tantas músicas que dizia como preferidas.

Quando virou a rua, os faróis do veículo iluminaram Denise tentando acordar André e Beatriz tentando se desprender das presas assassinas do estranho e de Hugo.

— Mas que merda está rolando aqui – ele falou para si mesmo. Abaixando-se, pegou a chave de roda que ficava escondida embaixo do banco do motorista.

— Beatriz! – o graduando em Letras correu para socorrer a antiga miss RS.

— Cai fora! Tira a Denise daqui – mandou ao conseguir se desprender de um deles. Os dentes do estranho arrebentaram as ligações do pé, que agora ficava pendurado. Ao tentar correr, uma parte de sua panturrilha foi arrancada por Hugo.

— Beto, escuta ela – chorava Denise – o André precisa ir para o hospital. A cabeça dele tá sangrando.

— Puta merda – Beto ficou hesitante, não sabia o que deveria fazer. Não conhecia muito sobre ferimentos, mas ao ver o estado de Beatriz, entendia que era grave demais para socorrer – me perdoe, Bia – as palavras de Beto saíram com pesar, correu de volta para Denise e André.

Beatriz sorriu ao conseguir sair mancando para o lado oposto. Não acredito que a pesquisa do Otávio podia ser real, japonês desgraçado ela pensou ao alcançar a metade da rua. Os dois canibais a seguiam, Beto e Denise já haviam ido embora.

Ao longe, avistou uma casa noturna ainda aberta. Pelo seu estado, seria difícil chegar até lá. Teria que se arrastar por mais cinquenta metros e atravessar uma rua, mal conseguia caminhar sem se apoiar em algo. Olhou para trás e eles estavam próximos. Uma casa antes do beco que desceria para uma galeria subterrânea de bares estava com a janela aberta.

Beatriz começou a sentir frio e a visão embaçava cada vez mais, uma fraqueza cavalar ia tomando seu pequeno e sedutor corpo. Gritou por socorro três vezes. Passou a ouvir as próprias batidas do coração, eram lentas e com intervalos cada vez maiores. Me perdoe, André. Eu não mereci você, pensou antes de tudo girar e ficar escuro, de vez.

Da janela, uma senhora de cabelos volumosos e curtos viu a jovem sangrando muito.

— Meu Deus! Erivaldo, liga para a polícia. Rápido – dizia a idosa rechonchuda com o roupão azul indo para a porta.

— O que foi Maria? O que aconteceu? – o idoso magro de seus setenta e todos com calça de moletom e flanela quadriculada, entrava no corredor assustado.

— Tem uma moça muito machucada na nossa calçada, vai rápido! – Maria abriu a porta e saiu na rua. As madrugadas eram sempre frias, mas como de costume, os gaúchos conviviam com o extremo climático regional.

O velho pegou o celular e puxou os óculos de cima da escrivaninha de carvalho, móvel tão antigo quanto o casal.

ligando pra eles já, meu bem – Erivaldo avisou, mas sua esposa não escutou.

— Menina, menina? – a idosa repousou o ouvido no peito de Beatriz e não ouvia nada. Olhou para os pés e viu o terrível estrago que foi feito. Assustada, virou-se para ver novamente o rosto. Os olhos estavam abertos, pupilas dilatadas e veias sanguíneas bem destacadas.

— Qual o seu nome? – Maria perguntou com inocência, Beatriz a olhou sem expressão alguma – que bom que você está consciente, continue olhando para – antes de terminar de falar, Beatriz avançou no braço da idosa, dilacerando o antebraço e logo saltando para a barriga. Hugo e o estranho, se juntaram ao banquete.

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