4. Feras solitárias

Lana trancou-se em seu quarto e foi para a cama, chorando, perturbada. Já estava cansada de Dmitry sempre a controlando. Ela não podia fazer nada. Era refém em sua própria casa. 

O que mais a deixava infeliz era que Damir não fosse forte o suficiente para defendê-la de seu irmão. Talvez, se ele fosse como Daniel ou Abel…

 Daniel prometera ajudá-la a superar seu “problema”, mas era melhor se afastar dele, ao menos por enquanto. Não haviam feito nenhum progresso e ela sentia-se mal traindo Damir daquela forma.

Damir era um bom rapaz, apesar de não ser perfeito, e quando Lana fizesse dezoito, poderia se casar com ele e finalmente se livrar de Dmitry. Não seria feliz porque não faria Damir feliz, mas poderia respirar tranquilamente.

Ela suspirou e fechou os olhos. Talvez, dormir a fizesse esquecer seus problemas, mas ouviu uma batida na janela e sentou-se, ligeiro. Olhou para a janela e viu Abel fazendo gracinha, fingindo que ia quebrar o vidro com o cotovelo. Ele subira pela árvore ao lado.

Lana levantou-se e abriu a janela. Abel saiu da sacada e entrou no quarto dela.

— E aí, como é que você está? Aquele filho da mãe não encostou em você, não é? — Falou Abel. Ele não sabia o que Daniel sabia e, ainda assim, já odiava Dmitry, imagine se soubesse, então?

— Não. Eu estou bem. — Falou Lana, disfarçando.

— De verdade? Porque, qualquer coisa, sabe que pode me falar. O Dmitry é o diabo, mas não é dois e eu quebro ele. — Falou Abel.

— Eu sei. Você é forte! — Falou Lana, sorrindo sem graça.

— Você não parece nada bem. — Abel se aproximou dela e tocou seus ombros, a encarando, ainda, cismado.

— Eu… Estive pensando e… Vou dar um tempo. Chega de festinhas e… Tudo o mais. Vou me dedicar um pouco mais aos estudos. Minhas notas estão caindo ultimamente. — Falou Lana.

— E o Damir? Não é por isso que você sai com ele, para ele te ajudar? — Abel disse.

— É… Mas… — Lana disse.

— Cansou do Daniel, né? — Brincou Abel. — Mas estou aqui, viu? Não sou o cara mais popular do colégio, mas estou valendo.

 Os dois riram.

— Mas não vai desistir do canal, não, né? Nem vai esquecer os amigos? — Abel perguntou.

— Não. Talvez, não possa participar como antes, mas não vou abandonar nosso projeto. Eu vivo por isso. — Lana disse.

— Amanhã à noite, darei uma festinha no parque. Se aparecer por lá, será bem-vinda.  — Abel disse.

— Vamos ver, mas não prometo nada. — Lana disse.

— Então, tá. Eu vou indo. — Abel se aproximou dela como se fosse beijá-la, mas em vez disso, lambeu o rosto dela, como fazia sempre com suas amigas, só para deixá-las com nojinho.

— Ai, Abel! Que isso? Já te falei que isso não é um beijo! Eca! — Falou Lana limpando o rosto, rindo.

— Que bom! Eu te fiz rir! — Falou ele sorrindo e meteu a mão no bolso, pegou um pirulito e jogou para ela. Quando não estava fumando ou bebendo, ele adorava pirulitos.

— Obrigada. — Disse Lana.

— Aí, não fala para o Dan que estou mandando você chupar pirulito ou ele vai interpretar errado. Sabe que o cara é malicioso, né? — Abel piscou antes de ir embora.

Lana riu, balançando a cabeça. Só Abel para fazê-la rir mesmo.

                                       † † †

— Como ela está? — Daniel perguntou a Abel quando os dois se reencontraram no parque.

— Ah, Ela veio com um papo estranho, dizendo que ia dar um tempo. — Falou Abel.

— Aposto que aquele filho da… Tem a ver com isso. Desgraçado. — Falou Daniel, revoltado.

— O Dmitry bem que está merecendo uma lição, viu? — Falou Abel.

— Hmm… Também acho. — Falou Daniel sorrindo, maldoso.

— Então, fechou, cara. Vamos pensar em alguma coisa para ferrar com o loirinho. — Abel levantou o punho cerrado. Daniel levantou o punho igualmente cerrado e bateu no de Abel.

                                          † † †

Katya esperou Elizaveta voltar para casa e contou-lhe sobre o que Dmitry fizera mais cedo com Lana. Elizaveta não gostou nada e foi tirar satisfações com seu irmão.

Dmitry estava no quarto, lendo quando Elizaveta entrou sem bater à porta, furiosa, e disparou:

— Você ficou louco? Quem pensa que é para tratar a nossa irmã como um lixo? Não tem esse direito! Só porque está no comando nessa casa, não significa que possa agir como um tirano.

Dmitry riu, irritado, e disse:

— Pelo visto, a fofoqueira da Katya já foi correndo te contar tudo, né? Mas as coisas não aconteceram como está imaginando.

— Ah, é? E como aconteceram? — Elizaveta colocou a mão na cintura, o encarando, incrédula.

— Escuta? Não tenho de te dar satisfações de nada. Cai fora do meu quarto! — Dmitry deixou seu livro e levantou-se, aproximando de Elizaveta, a pegando pelo braço e a empurrando para fora de seu quarto.

— Não encosta em mim, seu nojento! — Elizaveta o empurrou e deu um tapa no rosto dele.

— Qual é o seu problema? — Gritou Dmitry a segurando pelos ombros e a sacudindo, com ódio.

Lana abriu a porta de seu quarto, e Katya veio correndo da sala.

— Dmitry, para! — Gritou Katya tentando puxá-lo para longe de Elizaveta.

— O meu problema é você! — Elizaveta respondeu a Dmitry. — Estou farta de você!

— Você pode ir embora quando quiser. Ninguém vai sentir sua falta mesmo. — Dmitry a empurrou, quase derrubando-a no chão. Então, pegou Katya pelo braço e a encarou. — Isso tudo é sua culpa! Por que tem de ficar fazendo fofoca? Mas, vou te ensinar a não se meter onde não é chamada.

Lana viu que Dmitry tentava arrastar Katya para a sala para bater nela e decidiu intervir. Geralmente, ela não enfrentava Dmitry, mas quando era para defender sua irmã mais nova, era diferente.

— Não! Deixa ela! Você não vai machucá-la! Não vou deixar! — Falou Lana, o enfrentando.

Dmitry soltou Katya e a encarou. Katya abraçou Lana, assustada. Elizaveta veio e ficou ao lado de suas irmãs. Dmitry ficou parado, encarando as três. Achou divertido como pareciam ratinhas com medo de um gato, e avançou rapidamente. Tal, como ele imaginara, as três recuaram, assustadas. Ele se afastou, rindo, e voltou para seu quarto.

— Desgraçado! — Falou Elizaveta com raiva.

— Posso dormir com você hoje? — Katya perguntou a Lana, e ela fez que sim com a cabeça.

                                         † † †

Medo. Se Branka Rozanova pudesse resumir em uma única palavra o que sentia por seu ex namorado, seria… Medo. Também, ele não era o bom rapaz que todos pensavam e, sim, um monstro, e ela estava com muito medo de ter de encará-lo novamente. 

“Se houvesse um jeito de não voltar ao colégio”, pensou, se beliscando, nervosa. 

Infelizmente, não podia mais continuar faltando a certas aulas porque os professores começavam a reclamar de sua ausência e, embora sua irmã mais velha fosse compreensiva, Branka sabia que precisava terminar o colegial para, se não ganhar uma bolsa de estudos na América, pelo menos, arranjar um emprego decente e ajudar a irmã a juntar dinheiro para ambas darem o fora daquele país. Elas odiavam a Rússia porque não se encaixavam lá… Frio demais, com pessoas sérias demais… E era mais difícil para Olga – sua irmã – que amava uma mulher e tinha de namorar em segredo só para não sofrer com aquela sociedade homofóbica. Aquele país era horrível com as mulheres e com os gays.

— Com licença? — Olga disse batendo na porta, que estava entreaberta.

— Sim? — Branka se levantou rapidamente, disfarçando sua raiva.

— A Yulia está esperando você. — Olga disse.

— Eu já vou descer. — Branka disse, pegando sua mochila e seguindo a irmã.

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