3. Cerveja e amigos

Fazia bem mais de uma semana que não via o Vitor, era uma sexta- feira e fazia um calor medonho. Enquanto caminhava para o ponto de ônibus Percy parou o carro ao meu lado e sua irmã desceu correndo na minha direção.

Não vou esconder o fato de que fiquei com medo, tomei um susto daqueles e quase gritei por socorro ou sai correndo pela rua escura.

Por sorte eu percebi quem era antes de fazer um enorme estardalhaço. A mulher com longos fios dourados e olhos azuis como o céus me abraçou como se fôssemos grandes amigas que não se viam a anos.

_O que está fazendo aqui nessa rua escura? Onde estava indo? - Ela pergunta com interesse.

_Estava indo para o ponto de ônibus atrás da avenida.

_Porque não vem de carro? - Acho engraçado a pergunta dela.

_Eu não tenho carro, e, se pegar um dos ônibus que passam em frente a faculdade terei que pagar duas por passagens.

_Estava indo para sua casa? - O que será que causa tamanha curiosidade nela?

_Sim... Por que?

_Eu vi você e pensei que talvez poderia me acompanhar, para uma comemoração! - Ela quase grita com empolgação.

_E você vai comemorar o que exatamente!? - Eu perguntei totalmente desconfiada.

_Minha permanência no Brasil e meu casamento!

_Ah, nossa, parabéns!!! - Fiquei realmente muito feliz! Eu realmente estava feliz, Yvi era uma garota muito bonita e parecia gostar de mim por qualquer motivo não aparente. - Eu só não posso demorar, tenho que fazer janta para o meu pai.

_Nós mandamos a janta! Mas hoje seu pai que me perdoe, você é minha!!! - Sorri com o jeito dela.

...

Quando cheguei no lugar da "comemoração", uma churrascaria muito bonita e conceituada, me senti um estranho no ninho. Mas Yvi me trouxe para perto, me abraçou, me apresentou a seus tios, avós e sua irmã mais nova de sete anos.

A menina era linda, muito linda mesmo! Seu sorriso tímido e seu jeitinho meigo, fiquei simplesmente apaixonada por ela.

Durante a comemoração, Yvi foi pedida em casamento novamente e me chamou para ser uma das damas. Achei uma decisão precipitada ainda assim gostei muito da ideia.

Edgar chegou algum tempo depois, ele estava acompanhado de uma garota baixinha e de olhos puxados. A garota tinha uma beleza simples. Ela não falou quase nada, sorria tímida e corava quase todo tempo. Mas todas as vezes em que ela falou mostrou-se muito inteligente.

_Que horas seu pai estará na casa? - Yvi perguntou de forma enrolada, talvez por ainda estar aprendendo o meu idioma ou talvez por já estar meio leve.

Eu sorri pela forma que ela perguntou.

_Hoje ele deve chegar meia noite, meia noite e meia no máximo. Ele não está de plantão.

_Plantão? - Ela pergunta claramente perdida.

_É quando ele tem que trabalhar a noite toda ou o dia todo. Ele é enfermeiro.

Percy falou algo com ela em inglês, depois olhou para o relógio, respondeu alguma coisa que ela havia perguntado. Ambos olharam para mim. Fiquei um pouco constrangida, principalmente pelo jeito que ele me olha.

_Peça alguma coisa para levar para o seu pai. Percy vai te levar em casa.

_Não precisa, acho que dá tempo de fazer alguma coisa... - Olho para o relógio na tela do celular, passava das onze e eu com certeza não conseguiria fazer nada.

_Não faça pouco, é meu noivado! Como é aquela palavra PJ? -;Ela pergunta ao irmão.

_Desfeita. - Ele responde sorrindo e olha pra mim.

_Isso!!! Você é um idiota, não deveria rir de mim. Sabe que ainda estou aprendendo! E você não faça desfeita comigo. É meu noivado, mas seu pai ainda estará com fome. Se não escolher eu mesmo escolho! - Yvi diz de forma petulante.

_ Do it, she's not going to choose! Edgar diz para Yvi e eu acho muito estranho. Porque ela simplesmente levantou e saiu.

_O que você disse?

_Que você não iria escolher. Eu conheço você!

_Você já foi melhor... - Digo e mostro língua para meu amigo.

O melhor de tudo é que mesmo depois de todo esse tempo Edgar e eu voltamos a ser amigos como se nada tivesse acontecido.

Os velhos hábitos voltaram naturalmente, e eu agradeço muito por ele ter agido da mesma forma.

_Não sei como consegue aguentar ele Akemi. - Digo para a garota lançando um olhar mortal para meu amigo.

_Eu não lhe disse meu nome... - Ela olha para ele buscando alguma resposta para a pergunta silenciosa.

_Ela é a Isabella. Bella a mais chata e feia. Edgar fala e todos na mesa acham graça da cara engraçada que ele faz.

_Ah, sim Isabella. Nós já nos falamos algumas vezes, me perdoe por não me lembrar de você.

Enquanto Edgar paquerava a garota de descendência chinesa que morava em Ohio eu sempre estava no meio tentando ajudar. Acabamos nos tornando meio que amigas, naquela época, mas nunca nos vimos de fato. Conversamos sempre por e-mail, porque eu tinha que usar o tradutor para tudo.

_Eu disse que você deveria fazer inglês... - Edgar sorriu.

_Eu preferi espanhol e sabe muito bem o porque! - Eu disse um pouco contrariada.

Eu era bolsista na escola Santo Antônio por isso tinha trabalhar duas horas todos os dias na biblioteca. Obviamente que não tinha tempo para conseguir estudar fazer trabalhos, ficar na biblioteca, cuidar da minha casa e deixar a comida pronta para o meu pai e para mim e ainda fazer as seis horas de aula semanais mais duas de conversação e claro, duas aulas de reforço que eram as aulas disponíveis para aquela matéria. Só nessa brincadeira eram mais dez horas adicionadas ao meu dia, quando com espanhol eu simplesmente fazia quatro aulas na semana, uma hora de conversação e nada de reforço!

Eu só tinha que me desdobrar as as terças e quintas, fazia a janta e limpava a casa correndo! O resto da semana dava até para ler um pouco.

Edgar sempre me dizia a importância do inglês. Agora ele não deixaria de falar, já que todos na mesa eram fluentes e eu ficava a ver navios na maioria do tempo até alguém me incluir na conversa mudando o idioma.

_É eu sei... Mas a minha opinião continua a mesma....

_Eu sei Ed. mas... - Falo na intenção de lembrá-lo que eu era bolsista na escola dele.

_Vamos mudar de assunto! Como está seu pai? E a casa?

_Meu pai está bem, ele pergunta por você as vezes, minha casa continua a mesma.

_Ainda louca por chocolates? - Ele sorri tirando do bolso uma pequena embalagem do meu chocolate preferido!

_Nesse quesito eu piorei. - Puxo rapidamente o chocolate das mãos dele. Ed da outra embalagem para a namorada.

_E vocês? - Aponto para os dois numa conversa paralela a todos na mesa.

_Estamos namorando. Ele diz cheio de orgulho. Na verdade mais que isso um pouco...

_Como assim?

_Akemi veio morar comigo, estamos planejando um casamento, no civil, sem muita coisa. Já inclusive demos entrada nos papéis, estaremos oficialmente casados daqui a duas semanas.

_Uau! Vocês são rápidos! Se eu ficar mais um ano distante é perigoso você aparecer com três crias e um cachorro! - Brinco.

_Duas dessas crianças já estão forno, não vai ser difícil arrumar mais uma e um cachorro.

_Ela está grávida? Você está grávida? -  Falo um pouco mais alto do que seria educado.

_Sim... - Edgar sorri. - Mais fale mais baixo, o restaurante não precisa saber.

_Estou com doze semanas... - Akemi coloca as mãos na barriga e sorri, os olhos dela brilham como uma estrela.

_Meus parabéns!!!! - Me levanto e abraço os dois.

_O que eu perdi? - Yvi pergunta.

_Ed e Akemi estão grávidos! - Digo com empolgação.

_Isso é notícia velha. Meu casamento é notícia nova. Pare de roubar a atenção da minha dama! - Yvi diz brincando.

_Ela está com inveja porque o noivinho dela não quer bebês antes do casamento. - Ed debocha.

_Estamos praticando! - Yvi diz algo para noivo que responde e depois da gargalhadas, ambos falam em inglês, traduzindo não entendi nada, apenas sorri de modo educado.

_Vocês são amadores... - o noivo de Yvi diz com deboche ele fala em português e eu sorri, apesar de falarem no meu idioma eu estou perdida na conversa.

_Inveja é um sentimento terrível Trevor... - Edgar alfineta e o homem sorri balançando a cabeça.

Me sento no lugar e pergunto para o Percy se ele pode me levar agora pois está ficando tarde, mas ele fala com irmã na língua natal de ambos e eu fico sem entender.

_Parece que falar de mim sem que eu entenda virou uma mania... - Murmuro para que só ele entenda.

_A janta do seu pai. - Percy aponta para o garçom que trazia três recipientes de isopor.

_Isso é muito! Tem muita coisa mesmo!

Todos me ignoram,  meu motorista apenas pega a sacola e anda a minha frente me deixando com cara de tacho. Se eu não tinha motivos para odiar Percy ele acaba de me dar um!

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