Capítulo 2

Cerca de dois dias depois, Marcondes teve a honra de receber em sua delegacia o secretário de segurança Ricardo que, sempre vestido elegantemente com um terno azul marinho, preocupava-se em prestar sempre o melhor serviço ao estado de São Merlim. Ricardo é um homem que tem por volta de quarenta e cinco anos. É alto, magro, de cabelos curtos e na cor castanho escuro, de pele clara e que está sempre de barba feita, pois é a forma o faz se sentir mais elegante.

A reunião dos dois maiores nomes do setor de segurança local foi a atração daquele dia na delegacia para discutirem os detalhes de como seria feita essa operação que se referia a um policial infiltrado na comunidade mais perigosa do município de Riópolis.

– Boa tarde, delegado Marcondes. O motivo da minha visita foi o seu contato, informando a respeito de uma carga que uma das facções que assombram a cidade de Riópolis está para receber. – Disse Ricardo, abrindo a sua pasta e retirando de dentro dela um papel onde tinham anotadas tais informações, a fim de que não se esquecesse de nenhum detalhe importante.

– Sim, isso mesmo. Eu te enviei um e-mail para que ficasse registrada a nossa necessidade de intervirmos nos planos dessa facção. Eles se sentem ameaçados de não conseguirem receber essa carga, pois executaram um homem há alguns dias e deixaram um bilhete, no qual se referiam a essa carga. Imagino que eles estejam se planejando, da melhor forma, para que nada fuja de seu controle no dia em que essa carga chegar. E para a minha imensa surpresa, um dos nossos policiais: o cabo Davi, teve a brilhante ideia de se infiltrar na facção, como se fosse um deles, para ter a possibilidade de coletar maiores informações e trazê-las para nós.

– É uma ideia muito funcional, porém de alto risco. Ele tem noção do que ele está propondo?

– Eu creio que sim, pois fizemos uma reunião recentemente a fim de coletarmos opiniões e de sabermos se há possibilidade de algum policial manifestar o interesse de se infiltrar, mas ninguém se prontificou, o que eu imagino que fez com que Davi entendesse que esse plano tem altas chances de dar errado. Inclusive eu falei a respeito disso para ele, mas ainda assim ele afirma que quer auxiliar no crescimento da cidade, dando até o próprio sangue, se caso acontecer uma infeliz descoberta por parte da gangue. – Disse o delegado.

– Tenho que parabenizar o seu cabo pela tamanha coragem, pois como o senhor mesmo já percebeu, não é qualquer policial que “daria a cara a tapa” nessas proporções. – Disse Ricardo, o secretário de segurança do estado.

– Então, podemos começar a traçar o planejamento a respeito desse início? – Perguntou o delegado, ansioso, pois se esse plano der certo, ele também ganharia muito prestígio em todos os estados brasileiros, visto que em todas as operações já feitas anteriormente, ainda que tivessem sucesso, não se tinha conhecimento sobre um policial que agisse de tal forma no estado de São Merlim, a fim de desestruturar a máfia local.

– Podemos começar agora mesmo.

Misturando o suspense à atmosfera da sala devido ao silêncio de Ricardo, que pairou no ar por alguns minutos, ele finalmente pegou uma folha de papel que estava guardada em sua mala, e através da tinta azul de uma canela, ele preencheu aquele papel com a esperança de que Riópolis pudesse ser uma cidade posteriormente pacificada por não ter mais a facção que atualmente dominava aquele lugar. Depois de muito escrever, ele parou as suas atividades, olhou para o delegado e fez uma observação, a qual era de grande importância e poderia ajudar no sucesso de seus planos.

– Antes de qualquer coisa, devemos nos certificar de que o cabo Davi não é conhecido por eles até o momento, pois se for, não vai dar certo. Eles poderiam matá-lo no mesmo instante. Antes mesmo de começar a colocar o plano em prática.

Com o olhar fixo na paisagem de montanhas verdes iluminadas pelos raios dourados do sol do lado de fora da janela lateral, o pensamento do delegado se perdia em meio às observações ditas pelo secretário e que alcançavam os seus ouvidos. Até que alguns instantes depois, ele o respondeu:

– Ele não é conhecido, pois ele acabou de chegar na nossa cidade e na delegacia.

– E o senhor conhece as procedências desse policial? Não haveria chances de ele estar propondo esse plano a fim de passar informações de sigilo da polícia para esses bandidos?

– Temos todos os documentos e todas as informações correspondentes de cada um dos nossos funcionários, e asseguramos que todos possuem um caráter exemplar. Pode confiar no trabalho do cabo Davi, pois ele passou por um curso preparatório. Por mais que ele seja um policial novato, tem se mostrado muito competente.

E novamente um silêncio quase palpável tomou conta daquela sala, o que fez o delegado Marcondes olhar o semblante do secretário e perceber, através de seu olhar perdido pela pilha de documentos que estavam sobre a mesa do delegado, que ele ainda não estava se sentindo muito confiante naquelas poucas informações que o delegado estava transmitindo a ele. Por isso, ele tentou esclarecer um pouco mais a situação: – Secretário, quando nós admitimos aqui na nossa delegacia um policial novo, nós recebemos também a sua ficha onde constam todas as informações dele nos locais que eles passaram até chegarem aqui. O cabo Davi foi um dos melhores alunos do curso de formação de cabo da polícia do estado. Vou te dar um exemplo, que eu soube que aconteceu em um dos dias de missão no curso. Toda a turma estava passando por diversas dificuldades, alguns estavam com muita fome, outros estavam sentindo dor, outros com um cansaço muito elevado, mas o cabo Davi, mesmo estando faminto ao longo do treinamento, ele sempre foi muito cordial com os seus colegas, ajudando a todos e fazendo tudo o que ele pudesse todo o tempo. Eu lhe asseguro que podemos confiar no cabo Davi e para termos a certeza de que ele vai fazer o possível para que esse plano flua da melhor forma.

Quando o delegado terminou de proferir essas palavras, ele foi observando o semblante do secretario ficando cada vez mais sereno e se mostrando mais relaxado, indicando que ele estaria mais confiante tanto no plano quanto no caráter do cabo Davi.

– Diante disso, tenho que concordar que ele é um bom rapaz e um profissional de confiança. Termos essas boas referências já nos ajuda muito no início.

– Sim. Então como vamos começar? – Perguntou o delegado.

– Creio que podemos fazer com que o cabo Davi conheça os rapazes dessa gangue através de um baile, o qual vai ser previamente registrado aqui em nosso sistema para que não haja operação policial enquanto ele estiver por lá, devido a sua própria segurança.

– Ótimo. O que o senhor acha de chamá-lo aqui a fim de expormos para ele o nosso plano? – Propôs o secretário.

– Pode chamar, fique à vontade senhor delegado.

O delegado tocou e envolveu o telefone em suas mãos, tirando-o do gancho e discando o ramal da recepção. Quando a Fernanda atendeu, ele disse: – Por favor, chame o cabo Davi e diga que ele venha até a minha sala. Diga também que eu e o secretário de segurança estamos aqui esperando por ele. – Disse o delegado, desligando o telefone.

Enquanto isso, o cabo Davi estava na copa, próximo a uma garrafa térmica, aproveitando os efeitos que uma xícara de café fazia em seu organismo com relação ao sono, pois ele estava cansado há alguns dias e somente o café era o líquido perfeito que o fazia despertar rapidamente. Quando ele viu que Fernanda estava vindo ao seu encontro, ele sentiu a adrenalina novamente invadir o seu corpo e agitar o seu coração, o que foi agravado quando ela disse a ele que o delegado e o secretário de segurança estavam a sua espera. Levando novamente a xícara até a boca e dando um gole de modo que bebeu todo o restante do líquido, ele foi caminhando até a sala do delegado. E cerca de dois minutos depois, eles ouviram alguém batendo na porta, e imediatamente o delegado respondeu: – Pode entrar.

– Licença, boa tarde! – Disse o cabo Davi entrando na sala do delegado.

– Deixe-me apresentar. Este é o Ricardo, secretário de segurança do estado. E este é o cabo Davi, o qual se propôs ao plano de ser um infiltrado. – Disse o delegado, apresentando os dois profissionais que estavam à sua frente.

Depois que eles se cumprimentaram com um aperto de mão, o cabo Davi se sentou ao lado do secretário para que ele ficasse de frente para o delegado, ouvindo as recomendações que seriam de suma importância para o sucesso da operação.

– É o seguinte. Nós chegamos a um acordo e você vai poder executar o plano. A nossa ideia é que você conheça os rapazes que compõem a gangue, através de um baile. Isso não é problema, pois todo final de semana tem um baile na comunidade, o qual é organizado justamente pelas pessoas que queremos que você conheça. Então você vai até esse baile, com uma identidade que não seja a de policial, óbvio.

– Sim, senhor.

– Você vai ter que mostrar interesse pelo serviço deles. Vai ter que fazer com que eles acreditem que você quer ser um deles. E que eles podem confiar em você. E a partir daí, você tenta conseguir todas as informações a respeito dessa carga e de todos os outros passos que essa gangue der. – Disse o secretário.

– Exatamente, e conforme você for se informando, você nos avisa assim que tiver oportunidade, mas sempre de modo cauteloso, pois não queremos que você se machuque. E como você mesmo sabe, é um jogo perigoso. A chance de dar errado e acabar na sua morte são de noventa por cento. Temos que ter muita inteligência, calma e cautela.

– Eu entendo todos os riscos, senhores. Mas podem contar com a minha discrição e com o meu comprometimento com tal missão. – Respondeu o cabo.

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